quinta-feira, 30 de junho de 2011

Cântico negro

José Régio, um dos meus poetas preferidos, nascido em Vila do Conde, terra que adoro e da qual tenho saudades.
O seu livro "Poemas de Deus e do Diabo" foi dos primeiros que li na minha adolescência.
Aqui, um dos seus extraordinários trabalhos: Cântico Negro.


"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"? Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou.
Sei que não vou por aí!





Pequena biografia:

José Régio, pseudónimo literário de José Maria dos Reis Pereira, nasceu em Vila do Conde em 1901. Licenciado em Letras, em Coimbra, ensinou durante mais de 30 anos no Liceu de Portalegre. Foi um dos fundadores da revista "Presença" e o seu principal animador. Romancista, dramaturgo, ensaísta e crítico, foi, no entanto, como poeta. que primeiramente se impôs e a mais larga audiência depois atingiu. Com o livro de estréia — "Poemas de Deus e do Diabo" (1925) — apresentou quase todo o elenco dos temas que viria a desenvolver nas obras posteriores: os conflitos entre Deus e o Homem, o espírito e a carne, o indivíduo e a sociedade, a consciência da frustração de todo o amor humano, o orgulhoso recurso à solidão, a problemática da sinceridade e do logro perante os outros e perante a si mesmos.

Voltar à terra para superar a crise

(artigo que publiquei em O Comércio da Póvoa, edição de 2 de Fevereiro de 2011)

 

 1. Numa intervenção pública que fiz em Maio de 2005 (1) referi-me aos espaços de floresta, que têm de ser ordenados correctamente, e à importância da agricultura que ocupa a maior extensão territorial do concelho onde vivo. Já então me era óbvia como actividade de inúmeras pequenas empresas familiares e objecto de algumas associações de produtores com importância regional e até nacional. E por isso, defendi que era urgente potenciar a Agricultura e o mundo rural criando um Departamento Municipal do Desenvolvimento Rural. Os objectivos e a acção de uma tal estrutura teriam como objectivo o correcto ordenamento do território, a defesa dos recursos naturais e a sustentabilidade dos ecossistemas e da paisagem, a contribuição para a criação de um banco de terras destinado aos novos agricultores, a formação e o aconselhamento técnico, a promoção da agricultura biológica, a valorização e divulgação dos produtos de cultura mediterrânica, a canalização de apoios à agricultura familiar, o estímulo ao sector cooperativo agrícola e a criação de condições para o estabelecimento local de unidades ligadas à indústria agro-alimentar. Nesse desiderato caberia fazer a ligação entre a agricultura e a educação, criando uma Quinta Pedagógica, mas também, a ligação entra a Agricultura e a Saúde, porque, como alguém disse, “nenhuma actividade humana, nem mesmo a medicina, tem tanta importância para a saúde como a agricultura”. Nesse contexto esse Departamento Municipal do Desenvolvimento Rural teria um especial cuidado no acompanhamento e apoio à implementação de sistemas de Análise de Riscos e Controlo de Pontos Críticos nos locais de produção, com vista a contribuir para a segurança alimentar.
2. Nessa altura era a leitura de uma realidade local, das suas fragilidades, mas também das suas potencialidades que me motivavam. A seguir a leitura alargou-se, olhando para o país e para o nosso quotidiano e fez-me perceber com maior clareza a importância do regresso á terra como condição de desenvolvimento!
Ao ler uma reportagem de José Manuel Rocha, no jornal Público, a par de algumas escassas boas notícias, confirmou-se a tendência preocupante do abandono da terra que se traduz na perda de 500.000 hectares de espaço arável e no desaparecimento de 112.000 empresas agrícolas, no período compreendido entre 1999 e o ano passado!
Não é de estranhar por isso a nossa insuportável dependência alimentar no estrangeiro: o défice da balança alimentar cresceu 23,7 % na mesma década.
A conclusão é óbvia: sem independência alimentar não há independência nacional. Pedro Queiroz, director-geral da Federação das Indústrias Portuguesas Agro-Alimentares (FIPA), reconhece que este é um problema de soberania alimentar (que decorre das opções feitas ao tempo dos governos de Cavaco Silva e seguidas em grande parte pelos governos seguintes, digo eu) e que se materializou em “anos e anos de uma política agrícola comum que nos fez desinvestir na produção".
A situação é preocupante mas na sua resolução pode estar uma parte importante da superação da crise que vivemos.
3. Em Junho de 2003, o Presidente Lula foi à Cimeira do G8, em Evian, sugerir a criação de um fundo mundial de combate à fome, prioridade do seu programa político interno, depois de ter levado o projecto ao Fórum Mundial de Porto Alegre e ao Fórum Económico Mundial de Davos. O objectivo era reunir num fundo global todos os recursos de ajuda ao desenvolvimento dispersos em vários projectos.
Depois disso, Lula manteve a coerência no discurso e na prática. Entretanto, no passado dia 10 de Maio, o presidente do Brasil voltou a afirmar que a pobreza só será vencida se a agenda política lhe der prioridade na elaboração do orçamento de cada país. Lula argumenta com a evidência: “Se a gente espera sobrar dinheiro do orçamento para cuidar da fome, nunca vai sobrar, porque os que têm acesso ao orçamento são gananciosos, querem todo o dinheiro para eles e não fica nada para os pobres”. Neste sentido, “se os dirigentes políticos do mundo não estiverem, quotidianamente, comprometidos com as pessoas que estão em pior situação, fica mais difícil tomar decisão em benefício dos mais pobres”. “Somos eleitos pelos mais pobres”, afirmou o presidente, “mas quando ganhamos as eleições, quem tem acesso aos gabinetes dos dirigentes não são os mais pobres – são os mais ricos”.
Estas declarações foram feitas na abertura da reunião Diálogo Brasil/África sobre Segurança Alimentar, Combate à Fome e Desenvolvimento Rural, no Palácio do Itamaraty, na qual participam representantes dos países africanos, ministros e especialistas. O encontro teve por objectivo debater alternativas para promover a agricultura, a segurança alimentar e o desenvolvimento rural, de modo a intensificar a cooperação entre o Brasil e os países africanos.
Lula insiste que “Precisamos garantir o café da manhã, o almoço e a janta porque quem tem fome não pensa. A dor no estômago é maior do que muita gente imagina, e a pessoa que tem fome não vira revolucionário, vira submisso, pedinte, dependente. A fome não faz o guerreiro que gostaríamos que fizesse. A fome faz um ser humano subser-viente e humilhado, sem força para brigar contra seus algozes, que são responsáveis pela fome”.
4. Em Portugal, onde a pobreza vai silenciosamente mordendo cada vez mais pessoas, é triste ver que, apesar das excepcionais características físicas e climáticas do território, depois de cedermos a políticas que, ao contrário de levar à superação dos diversos condicionalismos que atrasavam o desenvolvimento da agricultura e das indústrias agro-alimentares (ao nível das mentalidades, da propriedade fundiária desadaptada do interesse comum, da inexistência de instrumentos legais eficientes, das erradas políticas de subsídio que destruíram o sector produtivo primário…), para ceder aos interesses de outros países da União, Portugal depende hoje, de forma assustadora e insustentável, do estrangeiro.
Há muito que é para mim incontornável voltar à terra. Será mesmo, não apenas um caminho indispensável do desenvolvimento sustentável, mas uma condição de sobrevivência. E talvez se encontre aí, se quisermos, uma oportunidade para um projecto mobilizador, um desígnio nacional, neste tempo de falta de esperança e de tristeza colectiva. (2)
Se os Governos se dispõem a empregar fartas verbas do erário público na construção de auto-estradas, aeroportos e transportes de alta velocidade, porque não reorganizar as prioridades do investimento público e dedicar uma parte desse esforço para criação de unidades de produção agrícola piloto, disseminadas por todo o território nacional de acordo com as características e as vocações dos lugares, aproveitando o conhecimento e a tecnologia existentes, e estimulando deste modo o regresso à terra? Estou convicto de que um tal movimento poderia dar o impulso necessário ao aproveitamento dos recursos nacionais, físicos e humanos, criando uma fonte sustentável e estrutural de riqueza colectiva.
5. Uma das razões do sucesso do Brasil contemporâneo está em não descuidar as potencialidades internas, a qualidade de vida das suas populações e as actividades relacionadas não apenas com o comércio, a indústria e os serviços, mas também com os negócios agrícolas. Nesse sentido vem apostando na agro-indústria, voltada para o mercado internacional e para o fornecimento local, prossegue a Reforma Agrária e cuida da agricultura familiar como instrumento ao serviço da inclusão social de milhões de brasilei-ros.
Por cá, depois de termos desprezado as nossas potencialidades e arrastado para as periferias urbanas tantas pessoas vindas do campo, levados estupidamente por subsídios ao abandono da terra, na lógica de uma política agrícola desenhada à medida dos interesses dos grandes produtores dos países ricos, estamos perdidos numa insustentável dependência alimentar em relação ao exterior. Por isso, não há tempo a perder se queremos reduzir o deficit e relançar a economia em bases sólidas. Um dos caminhos é fazer com a agricultura e as pescas, por exemplo, o que se está a fazer, com previsível vantagem, no sector da produção de energia, desenvolvendo as energias renováveis, eólica, hídrica e solar (térmica e fotovoltaica), num país dotado pela Natureza de excelentes condições de vento, de rios e de tempo e quantidade de radiação solar, elementos gratuitos que, devidamente aproveitados, reduzem o consumo de recursos, contribuem para a qualidade ambiental e ajudam-nos a diminuir a actual dependência energética do estrangeiro, fazendo-nos colectivamente menos pobres.

Arquitº Silva Garcia


(1) J.J.Silva Garcia, in Discurso de Apresentação da Candidatura à Presidência da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim Auditório Municipal da Póvoa de Varzim . 13 de Maio de 2005;
(2) J.J.Silva Garcia, in Discurso de apresentação do livro HORIZONTES . Reflexões políticas, de José Luís Carneiro), Póvoa de Varzim, 19 de Maio de 2010.

Obrigada, querido amigo, pela partilha  http://ca-70.blogspot.com/

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Hipocrisia, barbaridade e negociatas.


A propósito do que vi e li na página do FB dos Unidos Contra as Touradas:

“(…) "festas do Montijo em honra do santo padroeiro desta cidade, S.Pedro. E como em todos os anos mais feridos, mortos e incapacitados para o resto da vida. Cultura e tradições de arrogância, ignorância e desrespeito pela vida” 

"Um blog apresenta mesmo uma filmagem de turistas estrangeiras (nos Açores), que saíram da praça de touros a chorar, afirmando que se tratou de “um espectáculo horrível”(...)"

"Cavalo morre em plena tourada. (...) Nas últimas Sanjoaninas, em que um cavalo morreu e um touro perdeu um corno. As imagens, que foram lançadas há dois dias no youtube, são dramáticas (...)"


Hipocrisia, barbaridade e negociatas. Parece que vale tudo em nome da Igreja, da doutrina da Igreja e do culto da Igreja católica! Festas religiosas com touradas como principal atracção! Vale tudo. Tudo, até faltar descaradamente aos valores que apregoa e os católicos dizem cumprir, incluindo o respeito pelo OUTRO e pela VIDA, “reassumindo” grande parte deles, socialmente mas não espiritualmente, todos os domingos, quando vão à missa ou mesmo quando rezam, palavras e uma fé que não engana ninguém e até nos envergonha.  
Cada vez mais apostada no lado profano e não no sagrado, a Igreja Católica, tirando as devidas excepções e gente fantástica que sempre admirei e continuo a admirar, caso dos (verdadeiros) missionários e dos que se sacrificam mesmo pelos outros, assumindo inequivocamente os seus votos de pobreza e humildade e a sua entrega à comunidade e aos valores cristãos e não à vida social e às páginas coloridas dos jornais e revistas, com reformas estranhamente milionárias… aos párocos que, pela sua coerência, formação moral, cívica e intelectual são um exemplo para os seus fiéis…tirando estes, que sobra?
Educa-se pelo exemplo!
Não basta dizer mas provar na sua prática diária que se faz aquilo em que se acredita.
Seguiremos  “o mestre” pelo exemplo do mestre.
E que exemplo vem destas iniciativas “religiosas” ou com a bênção da Igreja católica, caso da TVI, das Santas Casas da Misericórdia & Cª Lda?
Que tem feito a Igreja católica para acabar com este massacre? Por que razão não toma posição relativamente a isto?
Com as suas abençoadas e santas touradas, gulosos do dinheiro e do poder mediatizado, embriagados pela ideia de riqueza a qualquer  preço, esta Igreja tem sido sempre cúmplice dos lobbys tauromáquicos e também tem as mãos sujas de sangue. Sangue inocente. De seres inocentes.
Pecado? O que é isso?  
Tal como os cavaleiros, armados em desportistas, como se fosse alguma vez possível alguém equiparar hipismo com esta espectáculo degradante… com o seu cheiro a naftalina e bazófia...marialvismo... arrogantemente montados nos cavalos que sacrificam...mascarados com o ridículo barroquismo das fatiotas que envergam, com gestos ensaiados que tresandam a cobardia e pedantismo... Tal como os valentões que, a pé mas armados e protegidos, desafiam o touro em patéticas poses de falsa virilidade… Tal como os forcados, numa atitude pretensiosamente corajosa, acagaçados numa fila ridícula de provocação, uns atrás dos outros, chamando pelo nobre animal depois de horas e horas de violência sobre o mesmo, ferido, enfraquecido pela tortura e perdas de sangue … tortura aplicada MUITOS DIAS ANTES E NÃO SÓ AGORA, NA ARENA.
E as pessoas a assistir, cínicas, brutais, excitadas com a visão de uma morte anunciada e com o cheiro do sangue quente e inocente que escorre do pobre animal, num cenário macabro e aterrador.
Dos pobres animais, incluindo os cavalos, também eles sacrificados em praça pública e humilhados.
 Sou contra as touradas do mesmo modo que sou a favor da dignidade e respeito incondicional para todos os animais, humanos e não humanos.
 Estive e estarei sempre do lado dos que sofrem, neste caso, do touro, como estive e estarei sempre ao lado dos que mais precisam.
 Ao lado da RAZÃO. Contra o SADISMO, a BARBÁRIE e as tradições desumanas.  
Contra os que pagam para ver sofrimento e injustiças e as defendem em nome de uma superioridade do Homem que arrotam sistematicamente. Com boçalidade.

Nazaré Oliveira

terça-feira, 28 de junho de 2011

Em 2008-2009 fiz este poema!


Para os meus queridos alunos do 12ºF da Escola Secundária de Bocage (antigo Liceu de Setúbal), que comigo estiveram desde o 10º Ano (2006 a 2009), uma recordação da sua Professora de História e Directora de Turma.





Pela beleza dos vossos corações

Sorrindo

Num doce e terno olhar




Pela serenidade dos vossos rostos

Brilhando

Com as palavras tecidas de luz




Guardados ficareis

Para sempre

Florindo nos meus gestos




Como o puro amanhecer na Serra

Para sempre

Abraçando o mar





 Nazaré Oliveira

Entre la razón y el corazón: La importancia de la emoción en la toma de decisiones.



La razón y la emoción, por separado, se convierten en procesos que pueden perjudicar nuestro futuro por medio de decisiones desacertadas. Somos capaces de valorar una decisión, a pesar de su racionalidad, como inadecuada (“matar a uno para salvar a muchos”). También somos capaces de advertir decisiones inadecuadas por lo exagerado de las razones que las motivan (“no viajar por el miedo a volar”). En definitiva, nos valemos de un equilibrio entre lo racional y lo emocional para decidir de manera correcta, proceso éste que se ha ido conformando gracias a nuestra experiencia vital.





¿Qué es una decisión acertada? En principio la respuesta parece fácil: es aquélla que mayor beneficio nos aporta. Pero esta cuestión no siempre está clara. Cuando nos enamoramos las emociones toman el mando y dirigen nuestras decisiones, y una vez hemos salido de este estado de ensimismamiento nos preguntamos cómo es posible que actuáramos así, sin tener en cuenta más opciones que las que dicta el corazón, incluso desatendiendo los consejos de personas que apreciamos y tenemos en alta estima. Frases populares como “el amor es ciego” nos advierten del poder que las emociones tienen sobre estas cuestiones, pero no ha sido hasta fechas recientes que la emoción se ha considerado un elemento determinante en los procesos racionales.
En el libro “El error de Descartes” (Damasio, 1994), se retoma el caso de Phineas P. Gage, un obrero de ferrocarriles, quien en 1848 estaba trabajando en la construcción de una línea en Vermont, Nueva Inglaterra. Tras una explosión, una barra de hierro le atravesó la mejilla izquierda lesionando la zona frontal de la cabeza (véase la Figura 1). Esta terrible herida afectaba, entre otras, a la corteza orbitofrontal. Phineas sobrevivió milagrosamente sin deterioros físicos evidentes, pero su personalidad cambió de manera drástica. Su comportamiento social se desinhibió, y pasó a ser un individuo de dudosa moral.
 
Figura 1
Figura 1.- Localización de las lesiones producidas a Phineas P. Gage: la barra de hierro entró a su cráneo por la mejilla izquierda, justo bajo el pómulo, y salió por la parte superior despúes de atravesar el cortex frontal, siguiendo el trayecto indicado por la flecha (adaptación realizada sobre fotografía de protocolsnow, (cc) Algunos derechos reservados).


 Precisamente las decisiones basadas en juicios morales evidencian de manera muy clara el papel de la emoción dentro del contexto social. En algunos lesionados en la corteza orbitofrontal las emociones parecen haber dejado de interactuar correctamente con la razón. Esta región modula el funcionamiento de la amígdala, que es el origen más primitivo de nuestros impulsos y emociones más ingobernables. Estos pacientes pueden explicar las normas sociales, pero no dudan en quebrantarlas si creen poder obtener beneficios. En un reciente trabajo se planteó una serie de preguntas a sujetos con lesiones en la corteza prefrontal ventromedial. Estas preguntas estaban referidas a dilemas morales como “dejar morir” a un individuo con la finalidad de salvar a un grupo mayor de personas (Koenigs y cols., 2007). Los resultados evidenciaron respuestas muy racionales en las que se prefería salvar a la mayoría mediante el sacrificio de uno.
¿Qué pensaríamos de alguien que es capaz de tomar una decisión de este tipo sin apenas dudar? Seguramente que es poco de fiar, y esto resulta paradójico, ya que la racionalidad en una persona es, en principio, un rasgo que todos esperamos de alguien confiable. Pero lo cierto es que nuestra capacidad de percibir la emoción en los demás como un motivador de la conducta humana nos hace ser más confiados ante las personas que son empáticas, ante aquéllos que son capaces de sonreírnos o emocionarse frente a nuestro dolor.
Volviendo al principio, ¿quiere decir todo esto que enamorarse es como si te atravesara una barra de hierro por el cráneo? Muchas veces resulta igual de doloroso, pero no es exactamente eso. Cuando nos enamoramos las emociones adquieren un peso mayor, lo que sin duda, condiciona nuestras decisiones. Diversos autores (p.ej., Adolphs, 2004) proponen que las emociones se pueden controlar, pero esta autorregulación depende de la maduración de la corteza prefrontal, lugar donde se ubica la mencionada corteza orbitofrontal. Esta región madura de manera tardía (Gogtay y cols., 2004), y en la adolescencia todavía no se habría conformado totalmente, lo que estaría explicando el comportamiento propio de esta etapa de la vida (Oliva, 2007), donde la toma de decisiones es un proceso muy complicado y de especial preocupación para los padres. El proceso de maduración de esta región se basa principalmente en la interacción que el sujeto tiene con su entorno, que se almacena como experiencias que nos permiten afrontar las dificultades futuras.
Pero ¿qué papel juega la emoción en este proceso de aprendizaje, y en concreto a la hora de tomar una decisión? No siempre las opciones están claras, y en este caso, el concepto de Marcador Somático (Damasio, 1994) nos permite, por fin, dar entidad a la emoción como guía de nuestra decisiones. Los marcadores somáticos son sentimientos que pueden presentarse a modo de intuiciones cuando nos sentimos indecisos (p.ej., no sabes por qué, pero tienes una “sensación” extraña justo antes de pasar por una calle y decides tomar la siguiente), y que nos ayudan a decidir qué opción será la más beneficiosa para nuestros intereses. Esta intuición se ha generado a partir de situaciones similares acontecidas en el pasado y de su conexión, no siempre de manera consciente, con las consecuencias que nos depararon, y que ahora afloran para “advertirnos“ del camino a seguir (quizá hace unos años sufriste un atraco en una calle parecida a esa, pero apenas lo recordabas ya, salvo por la sensación o intuición que te sobrevino justo al verla).
Es tranquilizador pensar que disponemos de un mecanismo que en último término nos “advertirá” de lo que es más adecuado para nosotros. Pero no siempre es fiable esta advertencia, e incluso hay trastornos psiquiátricos en los que se ha desvirtuado tal función hasta el punto de advertirnos de peligros inexistentes, como en fobias y ansiedad. Por suerte, junto a esta intuición siempre hay un proceso racional que nos permite sopesar los pros y los contras, y en esta dualidad es en la que nos movemos a diario, entre lo que dice el corazón y lo que dice la mente. Quizá sea esto lo que hace la vida interesante y lo que convierte al ser humano en dueño de su propio destino, capaz de equivocarse y, aun con todo, seguir adelante y mantener la esperanza.

Fernando Gordillo (a), José M. Arana (a), Lilia Mestas (b) y Judith Salvador (b)
(a) Dept. de Psicología Básica, Psicobiología y Metodología, Universidad de Salamanca, España
(b) Facultad de Estudios Superiores Zaragoza, Universidad Nacional Autónoma de México, México

Referencias
Adolphs, R. (2004). Emotion, social cognition, and the human brain. En J. T. Cacioppo y G. G. Berntson (Eds.) Essays in Social Neuroscience. Cambridge, MA: MIT Press.
Damasio, A. R. (1994). Descartes’ error: Emotion, rationality and the human brain. New York: Putnam (Grosset Books).
Gogtay, N., Giedd, J. N., Lusk, L., Hayashi, K. M., Greenstein, D., Vaituzis, C., Nugent, T. F., Herman, D. H., Classen, L., Toga, A. W., Rapoport, J. L. y Thompson, P. M. (2004). Dynamic mapping of human cortical development during childhood through early adulthood. Proceedings of the National Academy of Sciences, 101, 8174-8179.
Koenigs, M., Young, L., Adolphs, R., Tranel, D., Cushman, F., Hauser, M., y Damasio, A. (2007). Damage to the prefrontal cortex increases utilitarian moral judgements. Nature, 446, 908-911.
Oliva, A. (2007). Desarrollo cerebral y asunción de riesgos durante la adolescencia. Apuntes de Psicología, 25, 239-254.

Era uma vez um país





Quando intervim numa palestra sobre o tema da GUERRA COLONIAL, com a presença do Sr. Professor Fernando Rosas, da Universidade Nova de Lisboa, decidi iniciar a minha intervenção recorrendo à Arte e à Poesia, concretamente, ao cartaz que, para mim, é dos mais lindos e mais expressivos sobre o 25 de Abril, de Vieira da Silva (aqui presente - A poesia está na rua), bem como, a excertos de um poema de José Carlos Ary dos Santos (que publico) e a um poema de Sofia de Mello Breyner Andresen.
Com Ary dos antos, o retrato, a história do nosso país durante o fascismo, a repressão, o medo, a miséria, a guerra, um povo amordaçado, injustiçado, lutador. Com Sofia, a alegria da madrugada sonhada que rompera, enfim, a noite vivida. 
Com a Revolução acontecida no dia 25 de Abril de 1974, a conquista da liberdade para o povo português, do respeito, do seu lugar na comunidade internacional, traçando desde logo um novo rumo na sua governação, procurando alicerces democráticos e impulsionando o país na senda da paz e da igualdade social.

De José Carlos Ary dos Santos:
Era uma vez um país
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz
dos povos à beira-terra.
Onde entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo se debruçava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.
Era uma vez um país
onde o pão era contado
onde quem tinha a raiz
tinha o fruto arrecadado
onde quem tinha o dinheiro
tinha o operário algemado
onde suava o ceifeiro
que dormia com o gado
onde tossia o mineiro
em Aljustrel ajustado
onde morria primeiro
quem nascia desgraçado.

Era uma vez um país
de tal maneira explorado
pelos consórcios fabris
pelo mando acumulado
pelas ideias nazis
pelo dinheiro estragado
pelo dobrar da cerviz
pelo trabalho amarrado
que até hoje já se diz
que nos tempos do passado
se chamava esse país
Portugal suicidado.
Ali nas vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
vivia um povo tão pobre
que partia para a guerra
para encher quem estava podre
de comer a sua terra.
Um povo que era levado
para Angola nos porões
um povo que era tratado
como a arma dos patrões
um povo que era obrigado
a matar por suas mãos
sem saber que um bom soldado
nunca fere os seus irmãos.
Ora passou-se porém
que dentro de um povo escravo
alguém que lhe queria bem
um dia plantou um cravo.
Era a semente da esperança
feita de força e vontade
era ainda uma criança
mas já era a liberdade.
Era já uma promessa
era a força da razão
do coração à cabeça
da cabeça ao coração.
Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.
Esses que tinham lutado
a defender um irmão
esses que tinham passado
o horror da solidão
esses que tinham jurado
sobre uma côdea de pão
ver o povo libertado
do terror da opressão.
Não tinham armas é certo
mas tinham toda a razão
quando um homem morre perto
tem de haver distanciação
uma pistola guardada
nas dobras da sua opção
uma bala disparada
contra a sua própria mão
e uma força perseguida
que na escolha do mais forte
faz com que a força da vida
seja maior do que a morte.
Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.
Posta a semente do cravo
começou a floração
do capitão ao soldado
do soldado ao capitão.
Foi então que o povo armado
percebeu qual a razão
porque o povo despojado
lhe punha as armas na mão.
Pois também ele humilhado
em sua própria grandeza
era soldado forçado
contra a pátria portuguesa.
Era preso e exilado
e no seu próprio país
muitas vezes estrangulado
pelos generais senis.
Capitão que não comanda
não pode ficar calado
é o povo que lhe manda
ser capitão revoltado
é o povo que lhe diz
que não ceda e não hesite
– pode nascer um país
do ventre duma chaimite.
Porque a força bem empregue
contra a posição contrária
nunca oprime nem persegue
– é força revolucionária!
Foi então que Abril abriu
as portas da claridade
e a nossa gente invadiu
a sua própria cidade.

domingo, 26 de junho de 2011

Não resisto!

Uma história de amor verdadeiro!


A disciplina de História é essencial.


Numa altura em que os meus alunos do 12º ano de História A se preparam para mais um exame nacional (amanhã), lembrei-me de rever as prioridades da Política Educativa no nosso pais, constatando mais uma vez como é e seria importante, efectivamente, colocar a educação no papel central que nunca lhe deveriam retirar para a modernização e desenvolvimento do nosso país.
Sobretudo, para a formação do nosso povo no âmbito de uma cultura política e social de responsabilidade, designadamente, na cidadania activa e  intervenção cívica, tão pouco visíveis e actuantes num país que viveu sob uma ditadura de 48 anos mas que já completou 37 de democracia.
Apesar da legislação referir que as principais prioridades da política educativa do  XVIII Governo Constitucional assumiam o papel central de educação e qualificação dos portugueses na coesão social, no crescimento económico e na modernização do país, que promoviam a igualdade de oportunidades no acesso à educação e ao conhecimento e o progresso do sistema educativo, estabelecendo objectivos que orientavam a acção governativa nos domínios da educação e do ensino, muita coisa não foi e devia ser repensada e levada à prática.
É o caso da disciplina de História: deveria ser obrigatória até ao 12º ano, quer nos cursos científico- tecnológicos quer nos científico-humanísticos.
Não seríamos os únicos a fazê-lo! Na vizinha Espanha, por exemplo, todos os alunos de todas as áreas têm exame nacional a História no fim do secundário. É fundamental a aprendizagem da História e fundamental o seu ensino.
Não podemos cair naquele discurso falsamente vanguardista de que o conhecimento das TIC & Cª Lda. são o passaporte para o sucesso do país e para a sua modernização no seio das nações. E que, embora no nosso país haja uma alta % de utilizadores de telemóvel ou utilizadores de Internet, isso não é sinónimo de desenvolvimento! Não. Não é por aí.
Escreve-se mal, fala-se pior e pensa-se menos.
De que vale tudo isso se o aluno, a pessoa, não interioriza a importância do conhecimento histórico, passado, presente, no plano político, económico, ideológico, cultural...se não tiver capacidade crítica de se auto analisar como peça importante no caminho traçado pelo seu país, reconhecendo também que é responsável pelo funcionamento das instituições democráticas, pela política, pelas questões transnacionais, pela sua identidade europeia?
O ensino da História é imprescindível e a  sua aprendizagem cada vez mais necessária nesta "aldeia global".
Sendo a disciplina por excelência da análise diacrónica do mundo, das sociedades e do Homem, numa abordagem privilegiadamente multidisciplinar, a História é mais do que útil na formação dos indivíduoa: é essencial na sua formação como cidadãos do Mundo.

Senhor Professor Nuno Crato, mãos-à-obra!

Nazaré Oliveira

ver  também https://wcd.coe.int/wcd/ViewDoc.jsp?id=234237

Mikhail Gorbachov - político de causas nobres

Texto escrito a propósito do "Conselho de Estado" em Arcos de Valdevez para a Agência Lusa. Infelizmente, Milkhail Gorbachov não esteve presente por motivos de saúde:

"Os adversários políticos de Mikhail Gorbachov criticam-no quando faz publicidade a pizzas ou malas de viagem, mas o antigo Presidente da União Soviética responde que o objetivo é conseguir meios para apoiar causas nobres.
Depois de ter abandonado o cargo de Presidente da URSS, em dezembro de 1991, Gorbachov criou uma fundação com o seu nome, que realiza um intenso trabalho de investigação histórica, nomeadamente no campo da publicação de documentos relativos à história da “perestroika”, processo de reformas ocorrido na URSS entre 1985 e 1991.
Gorbachov, que este fim de semana é homenageado em Arcos de Valdevez, participa também numa série de programas humanitários e ecologistas na Rússia e no estrangeiro.
Em 1993, Gorbachov criou, na Suíça, a Cruz Verde Internacional, análoga da Cruz Vermelha, mas no campo da ecologia.
A organização coloca como objetivos: “prevenir e resolver conflitos que surjam devido à deterioração da situação ecológica, prestar ajuda às pessoas que sofram devido a consequências ecológicas de guerras, elaborar normas jurídicas e éticas que se tornem a base da criação de um mundo ecologicamente seguro”.
A mulher do reformador soviético, Raísa Gorbachova, morreu de leucemia. Gorbachov decidiu criar uma Fundação para financiar o tratamento de crianças com cancro e investigação no combate a essa doença.
Entre 2006 e 2010, conseguiu juntar mais de 10 milhões de euros que foram empregues na aquisição de aparelhos modernos para dois hospitais pediátricos em Moscovo e São Petersburgo (este último com o nome de Raísa Gorbachova).
Parte do dinheiro foi entregue à Fundação Marie Curie, organização que se dedica a combater o cancro.
Iniciador da liberdade de imprensa na União Soviética, Gorbachov apoia alguns órgãos de informação independentes na Rússia, nomeadamente o jornal Novaya Gazeta, onde trabalhou Anna Politkovskaia, conhecida jornalista assassinada em 2007.
Mikhail Gorachov está também na origem do Fórum da Nova Política, organização criada em 2010 com vista à análise informal dos problemas internacionais.
A primeira assembleia do FNP realizou-se em Outubro do ano passado na Bulgária."
 
Obrigada, Zé Milhazes, pela partilha - http://darussia.blogspot.com/

sábado, 25 de junho de 2011

João Abel Manta - cartoon de intervenção

Sempre admirei os seus cartoons.
Autênticas lições de História de Portugal, particularmente, sobre o Estado Novo e sobre a Revolução de 25 de Abril de 74.

Alguns desses trabalhos notáveis:




riachos

Sempre adorei pequenos riachos desde criança. Ficar ao pé deles, sentada, vendo-os correr e saltar por entre as pedras macias e o verde feliz à sua volta.
A água límpida e fresca que passava, num cenário sublime de beleza e poesia, ligavam-me cada vez mais à deusa-mãe e ao fascínio da terra. 
Nos meses de Verão, na minha infância, nas minhas férias grandes, sentir esta frescura, esta melodia, seguir até perder de vista os "barquinhos" que passavam, ouvir rãs, pássaros, o silêncio, sentir o cheiro dos pinheiros e da terra acabada de regar...foi um privilégio!

(foto de JP Nascimento in http://trasmontesdepaisagens.blogs.sapo.pt/)


 

Ética para um jovem

[etica_para_um_jovem.jpg] 
Fernando Savater e o seu livro ÉTICA PARA UM JOVEM, da Editorial Presença, é um livro que leio e consulto muitas vezes.
Sempre gostei de Savater. Da forma simples, mas séria, como aborda problemáticas variadas da VIDA, do HOMEM, do SER... orientando a nossa reflexão para o entendimento da realidade actual, de um modo crítico, construtivo e motivador.
 Sentimo-nos lado a lado a conversar com ele, tal a sensação de proximidade que a envolvência das suas frases provoca!
Um excerto desta obra:

Qual é a recompensa mais alta que podemos obter de um esforço, uma carícia, uma palavra, uma música, um conhecimento, uma máquina, ou de montanhas de dinheiro, do prestígio, da glória, do poder, do amor, da ética ou do que bem mais quiseres? Previno-te de que a resposta é tão simples que se arrisca a decepcionar-te: o máximo que podemos obter seja do que for é a alegria. (...) O que é alegria? Um sim espontâneo à vida que nos jorra por dentro, um sim ao que somos, ou, melhor, ao que sentimos ser.

Nazaré Oliveira

O stress da cidade está a deixar uma marca no cérebro das pessoas

Assunto interessante mas muito preocupante!

A hora de ponta é só um exemplo do stress vivido na cidade, que infelizmente não acaba em cada experiência que se tem ou numa noite bem dormida. Foi isso que cientistas verificaram ao comparar pessoas que vivem em cidades com pessoas que vivem em zonas rurais. As primeiras reagem de uma forma diferente a experiências com stress. Esta diferença está marcada no cérebro, é mais profunda para quem nasceu e cresceu na cidade e está relacionada com doenças mentais como a esquizofrenia. O estudo foi publicado esta quarta-feira na revista Nature.

Há cada vez mais pessoas a viver em cidades 
Há cada vez mais pessoas a viver em cidades (Rui Gaudêncio)

“A nossa informação revela efeitos neuronais em pessoas que crescem e habitam em zonas urbanas quando enfrentam situações de stress social”, conclui o artigo escrito por uma equipa do Instituto de Saúde Mental da Universidade de Heidelberg, na Alemanha.

O efeito da cidade no ser humano está longe de ser uma novidade e sabe-se por estudos descritivos que existe uma maior tendência de doenças mentais nas regiões urbanas. As pessoas têm 21 por cento de probabilidade acrescida de ter problemas de ansiedade e 39 por cento de terem problemas de humor. “Viver na cidade aumenta o risco de depressão e ansiedade e o rácio de esquizofrenia é marcadamente maior em pessoas que nasceram e cresceram na cidade”, escrevem os investigadores Daniel Kennedy e Ralph Adolphs, num artigo de análise da Nature sobre o estudo publicado agora.

Na nova investigação, a equipa liderada por Andreas Meyer-Lindenberg foi analisar o cérebro de alemães que vivem em três contextos diferentes: regiões rurais, regiões urbanas com mais de 10.000 habitantes e regiões com mais de 100.000 habitantes.

Os cientistas aplicaram vários testes de stress social a mais de uma centena de participantes saudáveis. Nos testes, as pessoas tinham que resolver problemas matemáticos ou espaciais em tempo limite e tinham uma pressão acrescida: um feedback negativo dos investigadores.

Os cientistas mediram vários parâmetros fisiológicos e através de imagens de ressonância magnética verificaram a resposta neuronal aos desafios. Os testes conseguiram induzir o efeito de stress nos participantes a nível fisiológico e cerebral mas houve diferenças importantes. A região da amígdala tinha uma actividade maior nas pessoas que viviam em zonas urbanas mais povoadas do que nas que vivam em zonas rurais.

Problemas desde o nascimento

A amígdala é uma região que sinaliza os efeitos negativos e as ameaças do ambiente. Paulo Machado não ficou surpreendido com estes resultados. Para o investigador do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, “a experiência urbana é particularmente recente” na história do Homem, “é desafiadora” e pode fomentar o “desequilíbrio das pessoas”.

Segundo o especialista, esta resposta dos participantes é coerente face aos desafios que são colocados. “Está adaptada ao nível de stress que é imposto” nas regiões urbanas, disse o investigador, que não tem qualquer relação com o estudo, mas que o considera “altamente confirmatório” do que já se conhecia.

A análise cerebral também revelou que as pessoas que nasceram e cresceram em zonas urbanas tinham uma actividade anormal numa região específica do córtex durante as experiências. Esta região também está associada à resposta durante situações de stress num contexto social.

O que é que as cidades estão a fazer às crianças e aos adolescentes, quando estão nas escolas e mais protegidos de situações de stress? “As provas epidemiológicas sugerem que o efeito máximo acontece durante o nascimento, antes de chegarem aos jardins-de-infância – uma possibilidade é que a culpa seja do stress sofrido pelos pais”, explicou ao PÚBLICO Andreas Meyer-Lindenberg, coordenador da pesquisa.

Mais, o estudo mostra que nestas pessoas há uma ligação neuronal mais fraca entre a região da amígdala e a região do córtex. Esta ligação enfraquecida já era conhecida em doentes esquizofrénicos. Segundo o comentário de Kennedy e Adolphs, isto sugere “que neste circuito podem convergir um risco genético e um risco ambiental para o surgimento das doenças mentais”. Ou seja, se há uma tendência genética para alguém desenvolver algum tipo de doença mental, o ambiente stressante citadino pode dar um empurrão valente.

Esta questão é particularmente relevante para Paulo Machado. “Como nós hoje vivemos maioritariamente em cidades, isto deixa de ser um problema de uma minoria para passar a ser um problema de saúde pública”, explicou. Segundo o investigador, é preciso insistir neste estudos para tentar encontrar as causas directas de problemas que provocam o desequilíbrio e o stress nas pessoas. Um exemplo simples é o dióxido de carbono, que em maiores concentrações e durante largos períodos “aumenta exponencialmente a irritabilidade das pessoas”, disse o investigador português. Os taxistas ou condutores de transportes públicos estão especialmente vulneráveis a esta situação, que deve ser combatida. Já para a diminuição do stress, é preciso mudar o modo de vida, as rotinas, os horários, atitudes, comportamentos, o que é mais difícil.

“Nós não devemos olhar para estes estudos e dizer que alternativa é a não cidade. A cidade é uma das melhores invenções do homem”, disse. “O que precisamos é de uma verdadeira transformação do modo de vida urbano.”


Nicolau Ferreira, PÚBLICO, 22.6.11

No Ano Internacional das Florestas...



Copiaram?


Não percebo por que se perde tanto tempo com esta questão!
Tratando-se de alunos, de gente que presta provas, e é disto que falamos sejam do Centro de Estudos Judiciários, da Básica X,  da Secundária Y, do filho de A, do primo de B,  desta ou daquela terra, quando se apanham a copiar ou se provou que copiaram,  NÃO HÁ MAS NEM MEIO MAS.
ZERO VALORES! Que contam e deverão contar não só ao nível dos conhecimentos como, também, nas ATITUDES.
É assim que faz um professor, um avaliador e uma instituição séria perante um caso de clara desonestidade, ainda por cima, com o agravante de se tratar de homens e mulheres licenciados em Direito, desejosos de serem juízes e de julgar os outros,  considerando-se alguns,  tantas vezes só por isso,  superiores aos demais e grandes exemplos de sabedoria, rectidão e virtude.
Não pode haver argumentos abonatórios, nunca, para quem não está a levar a sério aquilo que lhe permitirá ser avaliado. E mais grave, muito grave mesmo, seria fazer de conta que isto não aconteceu!
Apesar de alguém ter decidido, quase de imediato, atribuir 10 a estes alunos,  felizmente que o assunto veio à praça pública para que houvesse um pingo de vergonha.
E se não se soubesse? Se ficassem mesmo com 10 valores mesmo tendo copiado?  Que Estado de direito é este? Que escola e que ensino é este?  Que país é este? Que justiça é esta?
Os encarregados de educação cujos filhos foram apanhados a copiar e que,  por isso mesmo,  tiveram zero nessas provas,    sofrendo ainda sanções disciplinares e comprometendo, inclusive, a sua aprovação final, como se sentirão neste momento? E os professores que os penalizaram?
Em democracia,  o cumprimento da Lei é para todos e a responsabilidade pelo funcionamento das instituições democráticas também.
Não pode haver INTOCÁVEIS. Já chega!
Constatar isto, mais uma vez, é uma vergonha. Muito maior do que aquela que sentimos quando a notícia saiu nos jornais.
Copiou? Provou-se? Zero!
O resto é conversa.

Nazaré Oliveira

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Um comentário sobre a Ordem dos Professores


“A profissão docente é a corporação mais necessária, mais esforçada e generosa, mais civilizadora de quantos trabalham para satisfazer as exigências de um Estado democrático” (Fernando Savater, catedrático de Ética da Universidade do País Basco).


A necessidade da criação de uma Ordem dos Professores era, até há pouco, apenas sussurrada entre uns tantos elementos da classe docente. Nos dias de hoje, em que os professores passaram a ter constante acesso à Internet avolumam-se os comentários favoráveis à respectiva criação.

A prova disso está na transcrição parcial que aqui faço - como uma ponta de orgulho que uns compreenderão e outros não, mas pouco me importam estes - de um comentário (23. Junho 10:27), publicado no meu post “A formação de professores nos ensinos universitário e politécnico” (21/06/2011). Escreveu o seu autor:

“Se quer que lhe diga, até tenho medo do meu optimismo, quanto maior o voo maior a queda. Mas é esta a minha natureza e estou optimista. Se um dia as gerações futuras tiverem o privilégio de, no final de uma licenciatura de qualidade, inscreverem-se na Ordem para depois exercerem funções docentes, e outras, se esse dia chegar em nossas vidas - teria o maior prazer em o comemorar consigo. Aliás, seria uma honra!"

Em balanço de memória, perdi a conta de posts e artigos de opinião de jornais que escrevi em defesa da criação da Ordem dos Professores (OP), de palestras que proferi, de deslocações à Assembleia da República com esse destino, de conversas amenas que tive com crentes e polémicas com infiéis para que, entre outras coisas, os docentes deixassem de ser servos em mãos governamentais ou títeres de palcos sindicais, uma espécie de mercenários preocupados apenas com questões salariais e horários de trabalho, como só de pão vivesse o homem.

Aliás, é esta a perspectiva defendida por professores que fizeram de um sindicalismo puro e duro do século XIX a sua profissão, depois de terem vendido escassos meses ou parcos anos de aulas. Esta uma das muitas causas, como é fácil depreender, da guerra sem quartel, e usando todos os meios, desencadeada contra a criação da OP. A título de mero exemplo, a Fenprof, anos atrás, defendia que “o campo de intervenção de uma ordem restringe-se ao plano das questões éticas e deontológicas que não são, para já, questões centrais das preocupações dos professores”. E para fundamentar aquilo que dizia ser (mas não é) um arrabalde das preocupações dos professores, acrescentava em ocupação abusiva da finalidade de um OP, por si "decretada" acima: ”Os Sindicatos dos Professores têm sido e continuarão a ser espaços de análise e discussão das questões da Ética e Deontologia da profissão”. Mas esta espécie de sindicalismo que diz e se desdiz já teve melhor dias de cofres cheios quando, por exemplo, aceitavam quotas de curiosos sem qualquer curso ou em vias de o terminar que viam na docência uma forma de ganhar a vida enquanto lhes não aparecia nada mais rendoso.

Do que me lembro, a luta que tenho mantido em prol dessa criação ascende, talvez, a mais de três ou quatro décadas. Hoje aposentado, depois de mais de 40 anos de serviço, tenho a meu favor o facto de nunca, por nunca, me moveram interesses pessoais ou de simples penacho. No dia (um dia apenas adiado) em que for criada a OP, a honra é de todos nós que nos fizemos seus defensores intransigentes, rejubilarei pela sua criação e sentir-me-ei recompensado pela companhia daqueles professores que sempre defenderam o interesse público de uma das mais nobres, exigentes e prestigiadas profissões.

Obrigado, meu caro HR, pelo seu comentário. Ele, quase por si só, salda as horas por mim consumidas em madrugadas insones e sem fim, por exemplo, na elaboração dos respectivos estatutos e de um livro sobre esta temática. Sem o cunho pós-revolucionário que lhe foi dado décadas atrás: A LUTA CONTINUA!


Na imagem: Capa do meu livro "Do Caos à Ordem dos Professores", edição do SNPL, Lisboa - Janeiro/2004.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Mas que fresca mondadeira...


Das composições mais lindas da música portuguesa! Numa das vozes mais lindas que existem - Teresa Silva Carvalho.
Para ouvir SEMPRE!

Por quem os sinos dobram

Obra-prima!
Em 1937, Ernest Hemingway decidiu ir para Madrid, a fim de aí realizar algumas reportagens sobre a resistência do governo legítimo de Espanha ao avanço dos revoltosos fascistas. Três anos mais tarde, concluiria a elaboração do mais famoso romance sobre a guerra civil de Espanha, Por Quem os Sinos Dobram. A história de Robert Jordan, um jovem americano das Brigadas Internacionais, membro de uma unidade guerrilheira que combate algures numa zona montanhosa, é uma história de coragem e lealdade, de amor e derrota, que acabou por constituir um dos mais belos romances de guerra do século XX.
«Se a função de um escritor é revelar a realidade», escreveria o editor Maxwell Perkins em carta dirigida a Hemingway após ter concluído a leitura do seu manuscrito, «nunca ninguém o fez melhor do que você.»

Jackson Pollock



Abstracção

"Nós somos um"

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Exames nacionais 2011



Ansiedade, nervosismo, confiança, medo do fracasso, expectativas... o momento esperado já chegou. Os nossos jovens iniciaram os exames nacionais.
Numa prova, num teste, verter-se-á o trabalho do professor, mas, principalmente, a forma como o aluno o recebeu, o aplicou, o levou a sério.
Compreendo que os resultados dos alunos possam ser, também, evidências do trabalho do professor. No entanto, para que isso seja levado a sério e seja justo considerá-lo, é necessário que os estudantes também levem a sério a sua participação no mesmo, a forma como correspondem ou não às orientações do professor, as suas atitudes face ao trabalho e à escola, responsabilizando-se pelo que fazem, não fazem ou não deixam os outros fazer. Além disso, não podemos continuar a exigir só aos professores quando se não exige praticamente nada aos pais e encarregados de educação.
É uma vergonha a forma como se tem tido em conta a falta de assiduidade dos alunos e até a sua falta de pontualidade! A permissividade da lei e quem disso beneficia!
A pouca autoridade do professor e a falta de autonomia das escolas face a problemas desta natureza, resultará sempre no reforço da sua gravidade, como, aliás, temos visto e, enquanto as penalizações dos alunos não forem, também, penalizações para os seus encarregados de educação, poucos ou nenhuns resultados positivos veremos.  
As estratégias que se têm implementadas para resolver o grave problema da assiduidade  e mesmo a falta de estudo e de empenho dos alunos, têm sido um constante e mau experimentalismo. Um facilitismo perverso e um incentivo à desonestidade, salvo raríssimas excepções.
Planos de Recuperação, Planos de Apoio, Planos Individuais de Trabalho... Na prática, que interesse têm tido? Qual tem sido a sua contribuição para melhorar a educação e o ensino? E a postura cívica? E a coerência profissional?
Justificam tantas vezes o impensável!
Certos comentadores, cronistas, políticos, deviam olhar mais para dentro das escolas e ver o espartilho com que sempre estiveram. Não imaginam a batalha travada contra tudo isto e como isso tem afectado o trabalho dos  professores, dos alunos trabalhadores e dos seus encarregados de educação!
Uma batalha travada até aos exames, contra a ignorância mas, também, contra a estupidez dos que acham sempre que o trabalho é para uns e os louros para todos.

Nazaré Oliveira

terça-feira, 21 de junho de 2011

Ensinar bem é um processo extremamente complexo...

"Mais de trinta anos de ideologia dos direitos adquiridos e uma propaganda sindical falsamente naïve, alicerçada em visões patetas sobre a distribuição da igualdade entre os seres humanos, conduziu a uma defesa irracional da ideia de que todos os professores são bons – quando não são,
nem serão, porque ensinar bem é um processo extremamente complexo, amplo e difícil, acessível apenas a alguns e totalmente dependente daquele factor, indeterminado e potente, que se chama vocação – conduziram, a meu ver, a um sistema de quotização deficiente e injusto.

Tenho visitado muitas escolas e parece-me evidente que, no nosso país, a distribuição da competência educativa é muito pouco normativa. De facto, há escolas que, mesmo operando em zonas socialmente complexas e, por vezes, explosivas, beneficiam de um corpo docente estável em que a maioria dos professores é muito competente e, por isso, um grande número merece ser avaliado como muito bom ou excelente.
De um modo geral, esse grupo exerce uma influência positiva e estruturante nos colegas mais jovens, nos “flutuantes” e naqueles que já estão a perder a pedalada, equilibrando competências e vigiando os processos mais decisivos, reproduzindo, pois, a competência e o empenho. Recentemente aplicaram o novo sistema de escolha dos seus actores e não se terão arriscado a escolhê-los mal.
Em contrapartida, tenho visto escolas que, independentemente de trabalharem em circunstâncias adversas como favoráveis, fazem, na generalidade, um trabalho perfeitamente medíocre. Nestes casos, a própria liderança não só é absolutamente desprovida de critério, método e reflexão, como muitas vezes é refém de um grupo de docentes que controla metodicamente os privilégios disponíveis, como os horários e as turmas especiais, fazendo dos professores mais inexperientes uma carne para canhão que roda continuamente à procura de melhores condições. É evidente que, nestas escolas, quase nenhum professor merece chegar aos escalões mais elevados. (…) escolas repentinamente esvaziadas pela reforma súbita de muitos dos seus melhores só querem paz e um projecto de futuro que lhes devolva alguma autoridade e espaço de maneio suficiente para resolverem os problemas quotidianos. (…) falta, mesmo, não ter receio de pagar melhor a quem é mesmo bom e de penalizar aqueles que não são capazes de avançar para além dos mesmos mínimos que propõem, com grande desrespeito, aos seus próprios alunos.
Já agora, também não se deveria perder a oportunidade de rever os vários sistemas de formação inicial e contínua de professores."
Cristina Sá Carvalho in Página 1 de 26.1.2010, Rádio Renascença