“A profissão docente é a corporação mais necessária, mais esforçada e generosa, mais civilizadora de quantos trabalham para satisfazer as exigências de um Estado democrático” (Fernando Savater, catedrático de Ética da Universidade do País Basco).
A necessidade da criação de uma Ordem dos Professores era, até há pouco, apenas sussurrada entre uns tantos elementos da classe docente. Nos dias de hoje, em que os professores passaram a ter constante acesso à Internet avolumam-se os comentários favoráveis à respectiva criação.
A prova disso está na transcrição parcial que aqui faço - como uma ponta de orgulho que uns compreenderão e outros não, mas pouco me importam estes - de um comentário (23. Junho 10:27), publicado no meu post “A formação de professores nos ensinos universitário e politécnico” (21/06/2011). Escreveu o seu autor:
“Se quer que lhe diga, até tenho medo do meu optimismo, quanto maior o voo maior a queda. Mas é esta a minha natureza e estou optimista. Se um dia as gerações futuras tiverem o privilégio de, no final de uma licenciatura de qualidade, inscreverem-se na Ordem para depois exercerem funções docentes, e outras, se esse dia chegar em nossas vidas - teria o maior prazer em o comemorar consigo. Aliás, seria uma honra!"
Em balanço de memória, perdi a conta de posts e artigos de opinião de jornais que escrevi em defesa da criação da Ordem dos Professores (OP), de palestras que proferi, de deslocações à Assembleia da República com esse destino, de conversas amenas que tive com crentes e polémicas com infiéis para que, entre outras coisas, os docentes deixassem de ser servos em mãos governamentais ou títeres de palcos sindicais, uma espécie de mercenários preocupados apenas com questões salariais e horários de trabalho, como só de pão vivesse o homem.
Aliás, é esta a perspectiva defendida por professores que fizeram de um sindicalismo puro e duro do século XIX a sua profissão, depois de terem vendido escassos meses ou parcos anos de aulas. Esta uma das muitas causas, como é fácil depreender, da guerra sem quartel, e usando todos os meios, desencadeada contra a criação da OP. A título de mero exemplo, a Fenprof, anos atrás, defendia que “o campo de intervenção de uma ordem restringe-se ao plano das questões éticas e deontológicas que não são, para já, questões centrais das preocupações dos professores”. E para fundamentar aquilo que dizia ser (mas não é) um arrabalde das preocupações dos professores, acrescentava em ocupação abusiva da finalidade de um OP, por si "decretada" acima: ”Os Sindicatos dos Professores têm sido e continuarão a ser espaços de análise e discussão das questões da Ética e Deontologia da profissão”. Mas esta espécie de sindicalismo que diz e se desdiz já teve melhor dias de cofres cheios quando, por exemplo, aceitavam quotas de curiosos sem qualquer curso ou em vias de o terminar que viam na docência uma forma de ganhar a vida enquanto lhes não aparecia nada mais rendoso.
Do que me lembro, a luta que tenho mantido em prol dessa criação ascende, talvez, a mais de três ou quatro décadas. Hoje aposentado, depois de mais de 40 anos de serviço, tenho a meu favor o facto de nunca, por nunca, me moveram interesses pessoais ou de simples penacho. No dia (um dia apenas adiado) em que for criada a OP, a honra é de todos nós que nos fizemos seus defensores intransigentes, rejubilarei pela sua criação e sentir-me-ei recompensado pela companhia daqueles professores que sempre defenderam o interesse público de uma das mais nobres, exigentes e prestigiadas profissões.
Obrigado, meu caro HR, pelo seu comentário. Ele, quase por si só, salda as horas por mim consumidas em madrugadas insones e sem fim, por exemplo, na elaboração dos respectivos estatutos e de um livro sobre esta temática. Sem o cunho pós-revolucionário que lhe foi dado décadas atrás: A LUTA CONTINUA!
Na imagem: Capa do meu livro "Do Caos à Ordem dos Professores", edição do SNPL, Lisboa - Janeiro/2004.