Gostei desta reflexão.
De facto, é urgente uma política de sustentabilidade verdadeiramente posta ao serviço do Homem, da exploração correta e sensata dos recursos, da justa repartição da riqueza mundial, da solidariedade...
É urgente uma nova Economia, uma nova forma de olhar a Globalização...
Nazaré Oliveira
De facto, é urgente uma política de sustentabilidade verdadeiramente posta ao serviço do Homem, da exploração correta e sensata dos recursos, da justa repartição da riqueza mundial, da solidariedade...
É urgente uma nova Economia, uma nova forma de olhar a Globalização...
Nazaré Oliveira
A Alimentação
Com o acelerado
crescimento populacional, que prevê mais 2,5 mil milhões de pessoas em 2050 e
mais 3,5 mil milhões em 2100, o mundo vai precisar, num curto horizonte
temporal, de produzir mais 70% dos alimentos atualmente produzidos. Como isso
vai ser conseguido é uma grande incógnita. O alimento é uma necessidade básica
de qualquer ser vivo, e por isso a questão não pode ser ignorada.
A lança de caça
constituiu para aos homens primitivos uma enorme evolução e aportou uma rica
dieta proteica às tribos nómadas de caçadores. No entanto, a grande revolução
alimentar ocorreu há cerca de dez mil anos com a domesticação de animais e
plantas e com o início do cultivo das terras. Primeiro junto aos cursos de
água, depois em zonas irrigadas por elaboradas técnicas de canalização e
aproveitamento da água. Na Idade Média, a invenção da charrua de ferro permitiu
arrotear e conquistar para a exploração agrícola vastos terrenos antes ocupados
por florestas. Foi o sucesso desta agricultura e os excedentes assim criados
que esteve na origem da Europa das catedrais, da explosão artística da
renascença e do avanço científico e tecnológico da Idade Moderna. Este modelo
de agricultura foi exportado para o novo mundo, e juntamente com O TRABALHO
ESCRAVO, originou a monocultura e permitiu a produção de alimentos em
quantidades nunca antes imaginadas.
Como consequência do
crescimento populacional e das lutas anti-escravatura, o modelo ameaçava
esgotar-se. Na viragem do século XVIII para o século XIX, Thomas Malthus, um
homem esclarecido, alertou para a sua insustentabilidade, dizendo que a
população iria crescer mais rapidamente que a produção de alimentos. Mas, logo
a seguir, o aproveitamento da energia fóssil iria contrariar Malthus, provocar
uma inesperada revolução na agricultura e trazer uma nova prosperidade à
espécie humana. A agricultura mecanizou-se, libertou os campos do TRABALHO
ESCRAVO, ao mesmo tempo que novos fertilizantes revigoravam a terra desgastada
e eficientes pesticidas combatiam as pragas e faziam as mondas. Somado a tudo
isto, a ciência - com a genética e a descoberta da cura das doenças -,e a
tecnologia- com a cultura intensiva e o aperfeiçoamento das alfaias -, haveriam
de operar um milagre - a revolução verde - que criou grandes excedentes
alimentares e foi responsável pela Idade de Ouro em que atualmente nos
encontramos.
Com a revolução verde, o
homem libertou-se da árdua tarefa de trabalhar a terra. Em algumas décadas o
sector primário, antes o mais representativo, passou a ocupar uma percentagem
de apenas um dígito...Em apenas dois séculos a população mundial cresceu seis
vezes, as cidades ocuparam o lugar dos campos, enormes massas populacionais
ascenderam aos serviços, nasceu a consumista classe média urbana como motor da
economia. Este sucesso teve - e continua a ter! -custos ecológicos e ambientais
enormes, que podem ser traduzidos num cortejo de conceitos que começam a ENTRAR
no nosso discurso diário: manipulação genética, perda de biodiversidade,
criação de animais em cativeiro, utilização de hormonas e antibióticos de
crescimento, solos empobrecidos e contaminados, escassez de água, alterações
climáticas...
É urgente uma nova
revolução alimentar. Selina Juul, uma especialista dinamarquesa em alimentação,
fundadora do movimento Stop Wasting Food, diz que se não houvesse desperdícios,
possivelmente os alimentos produzidos atualmente seriam suficientes para
alimentar a população do futuro. John Vidal, jornalista do Guardian, escreveu
que urge encontrar outras soluções para alimentar mais de 2.5 mil milhões de
pessoas dentro de quatro décadas - as populações da China e da Índia somadas.
Acrescenta ainda, que para enfrentar a escassez de água e de terra arável
precisamos de uma geração de novos
agricultores, com novas ideias e cultivando novos produtos. Fala de algas, de
carne artificial, de novos cereais e até de insectos. Outros, advogam que a
solução virá do mar - estufas marítimas, dessalinização... -, enquanto outros
sonham em RECUPERAR vastas extensões de deserto, citando a propósito ambiciosos
projetos como o Shara Forest Projet, ou a Great Green Wall of Africa.
Na era do consumidor
alterou-se profundamente a nossa dieta alimentar. Vivemos na época dos
alimentos processados, do excesso de açúcar, dos aditivos, da carne feita à
pressa, do exagero dos produtos lácteos. Consumimos mais alimentos do que
aqueles que precisamos para viver. As novas gerações são mais altas e mais
atléticas, mas também mais obesas. É muito difícil contrariar este estado de
coisas, pois a indústria alimentar é um dos pilares da nossa economia.
Argumenta-se, por exemplo, com a importância das bebidas refrigerantes para a
economia e para o EMPREGO e quase não se fala dos danos que elas causam à saúde.
Para fugir ao ditado
popular, que diz que pela boca morre o peixe, um dia teremos de mudar os nossos
hábitos alimentares. E quem sabe se, para tal, não teremos primeiro de mudar de
economia.
Luís Queirós in http://poscarbono.blogspot.pt/2015/07/a-alimentacao.html