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quinta-feira, 29 de julho de 2021

Otelo Saraiva de Carvalho

 

Óscar e Otelo


“Não teve pelotões de fuzilamento”. É assim que Robert Fisk, no livro “A Grande Guerra pela Civilização”, se refere ao 25 de abril. Foi numa conversa com um conselheiro do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano e para lhe dar um exemplo, uma demonstração, de que era possível. Não sabia que Robert Fisk tinha feito a cobertura da nossa revolução. Foi com orgulho que constatei que a sua excepcionalidade é reconhecida. Uma revolução que é referenciada pelo vermelho dos cravos e não pelo do sangue. Sangue. Já lá iremos.

Morreu Otelo Saraiva de Carvalho, o homem que organizou a revolução do 25 de abril e a quem devemos um fim da ditadura inteiro e limpo. Terão sido as suas qualidades militares e as suas virtudes pessoais a permitir que um golpe militar se transformasse numa revolução e uma revolução numa festa que foi bonita. O reconhecimento por tal facto parece ser transversal, com as exceções, claro, de quem preferia que a revolução não tivesse acontecido. Temos aqui uma boa oportunidade para finalmente se fazer tal contagem, mas não é para esses que escrevo.

O que opõe as pessoas, e que não surpreende, é a medida do reconhecimento público e histórico que Otelo Saraiva de Carvalho merece; se a sua participação nas Forças Populares 25 de Abril, FP-25, é uma razão para que o país e a história não lhe concedam as honras que os seus feitos de abril exigem.

Diz-se de Otelo que matou e sempre com referência ao terrorismo das FP-25. Nunca vi interesse em saber se Otelo também matou na Guerra Colonial onde combateu. Ainda bem. Não seria justo. Otelo serviu Portugal em África, é assim que costuma dizer-se de quem combateu as forças organizadas pelos movimentos de libertação das antigas províncias ultramarinas de Angola, Guiné e Moçambique. O regime de Salazar, e depois de Marcelo Caetano, não cedeu às oposições internas nem às pressões internacionais, quis manter o império colonial e impedir a independência dos países africanos. Haverá quem se orgulhe deste passado, talvez os mesmos da contagem do parágrafo acima. A maioria dos portugueses não. É certo que a nossa democracia assenta no repúdio pelo colonialismo.

As mortes da Guerra do Ultramar não mancham currículos. Comprovámos isso mesmo quando a Assembleia da República aprovou um voto de pesar pela morte do Tenente-Coronel Marcelino da Mata. Um voto de pesar por um militar que matou e torturou, sem pejo, em nome da ditadura. Foram, aliás, os seus únicos feitos.

O governo e o Presidente da República foram unânimes na recusa ao luto nacional pela morte de Otelo. Assisti, e muito bem, ao luto pelas mortes de Gonçalo Ribeiro Telles, Agustina Bessa-Luís, Eduardo Lourenço e Carlos do Carmo. Houve mais. Já agora: também assisti ao luto nacional pela irmã Lúcia. Nunca o percebi, um estado laico não deveria prestar-se a isto, mas respeito quem é devoto. Assisti também ao luto nacional pela morte do General António de Spínola, que presidiu ao movimento de extrema-direita MDLP, ao qual foram atribuídos o atentado que vitimou o Padre Max e a Maria de Lurdes e mais algumas centenas de ações de luta armada.

O envolvimento de António Spínola na luta armada não foi impedimento ao decretar de luto nacional. No caso de Otelo foi. Recordar aqui que as lutas armadas que lhes foram atribuídas tinham várias semelhanças e uma grande diferença: a de Spínola pretendia a reposição da ditadura do antigo regime e a de Otelo a concretização da revolução de abril no seu radicalismo, a imposição da ditadura do proletariado.

Não é um caso de “venha o diabo e escolha” e ninguém se deve conformar que assim seja tratado. O sonho da ditadura do proletariado terá morrido e não acredito no seu retorno. As suas concretizações não foram boas. Mas ele não nos envergonha. Foi esse sonho que levou às revoluções igualitárias. Continuam a ser os seus princípios a orientar as políticas sociais nos dias de hoje. Foi sempre a aproximação a esses princípios que marcou os melhores momentos da história. Eles são a base da social democracia europeia.

Deve aceitar-se que Otelo Saraiva de Carvalho não tenha o justo reconhecimento pelo seu contributo único para a fundação da democracia portuguesa? Qual é a razão honesta para que o seu nome não fique inscrito na memória colectiva acompanhado desse reconhecimento?

A história escreve-se mesmo quando não nos apercebemos que isso está a ser feito. Não é o caso aqui. Sabemos todos que a forma como o Estado Português trata a morte de Otelo fará parte da história e influenciará o seu decurso. Não há inocentes. Assistimos a uma deslocação lenta mas firme, na política portuguesa, para a direita. Os maiores partidos portugueses assim o determinam. Como admitiu Rui Rio, o PSD está muito mais à direita do que o lugar que ocupou com Sá Carneiro. Este definia o PSD como um partido de esquerda não marxista.

O PS também acompanha esse movimento. Contrariamente ao que os seus ferozes críticos apontam não é rigoroso que se trate de um partido de ideologia socialista, prevalecendo sim o seu carácter liberal. Temos ainda o aparecimento com expressão da extrema-direita neofascista. Quem diria.

O aparecimento do partido Chega mudou o tabuleiro da política em Portugal. Não foi para melhor. Não me refiro às razões que determinam a sua ilegalidade mas à nova dinâmica que veio imprimir. As forças políticas mais prejudicadas por esta praga, os partidos à direita, optaram por não excluir entendimentos. A partir daí, e mesmo para se justificarem perante o país, o seu discurso sobre o partido neofascista foi de aceitação; só precisa de se moderar um bocadinho. Uma espécie de: não sejam tão racistas, vamos lá suavizar isto. Esta aceitação do Chega pelos partidos tradicionais veio dar-lhe força. Resultado: a direita está refém do Chega para chegar ao poder. Bonito serviço.

O Partido Socialista agradece. Não poderia ter aparecido melhor forma de perpetuar o seu poder. Na verdade não poderia ter aparecido pior forma. Grande ironia aqui: os que tanto odeiam o governo de António Costa, e falo de toda a direita, facilitam-lhe a vida. Pagaremos todos por este erro, esta falta de coragem da direita. As minorias já estão a receber uma factura muito pesada.

Daqui resultam pelo menos três coisas: por um lado os partidos que se mantêm numa esquerda sem cedências liberais são considerados de extrema esquerda. Trata-se sobretudo de uma classificação que desconhece o conceito. Pacheco Pereira escreveu sobre o tema e de forma irrepreensível. Sugiro a sua leitura.

Por outro lado existe uma crescente relativização de tudo o que tem a ver com o 25 de abril e com as suas conquistas. É a constituição que precisa de ser alterada, são os capitães de abril que, como diz Vasco Lourenço, não estão na moda, são os princípios que precisam de ser atualizados, é a democracia que teria acabado por aparecer mesmo sem revolução.

E a terceira: a tolerância colectiva que é pedida perante o partido Chega. Todos sabem que se trata de um partido racista, muitos saberão que essa característica é fundamento para a extinção do partido nos termos da Lei dos Partidos mas muitos acreditam que seriam um ato muito radical extinguir um partido político com assento parlamentar. O sistema parece estar disposto a ignorar as suas próprias regras para proteger quem diz estar na vida política para o derrubar. Em cada esquina uma ironia.

Assim vai a política portuguesa.

O consentimento na existência de um partido político que viola a lei, e os princípios fundamentais da democracia, gera a radicalização política no espaço público. Não apenas a radicalização de quem a ele adere mas também a dos que a ele se opõem. Este fenómeno tem um aspecto positivo – o despertar de mais pessoas para a política – e muitos negativos. A existência de muitas tribos é certamente um bom exemplo dos aspectos negativos.

É aqui que voltamos ao Otelo. A sua morte, novamente como previu Pacheco Pereira, foi tribalizada. Sucede que nessa guerra tribal ganhou quem Otelo combateu. A sua partida poderia servir para lembrar os perigos do fascismo, a escuridão da ditadura e a fragilidade da paz. Mas não, como escreve um amigo: a única coisa que a história nos ensina é que a história não nos ensina nada.

António Costa afirmou que “o importante é não termos uma polémica sobre o tema”. Lamento, não é assim. Este nunca poderá ser o objectivo. As polémicas não matam a democracia, as cedências nos princípios sim.

Otelo Saraiva de Carvalho já foi julgado por crimes de sangue das FP-25 e foi absolvido. Já tinha sido julgado, e nesse caso condenado, por associação terrorista. Cumpriu uma pena de prisão de cinco anos.

Óscar acertou as suas contas com a sociedade.

Otelo parte sem que lhe tenha sido feita justiça. Só a dos seus amigos e a dos que escolheram não fazer parte do silêncio manso de quem consente. É preciso coragem para celebrar Otelo. Coragem, uma coisa que a ele nunca faltou.


 

 Artigo de Carmo Afonso, in Expresso Diário, 28/07/2021


Foto in  https://espalhafactos.com/2014/03/23/otelo-e-outros-militares-de-abril-em-conferencia-na-nova/


quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Carta de Natal de ROSA LUXEMBURGO


Rosa Luxemburgo escreve sobre árvores de natal, livros e bagas. Sobre a alegria com que enfrenta a prisão e a compaixão com os búfalos maltratados. A sua carta é um documento histórico produzido por uma figura destacada do movimento comunista do século passado. E apenas um relato íntimo.
25 de Dezembro, 2018 - 20:43h

Em meados de dezembro de 1917, Rosa Luxemburgo escreveu esta carta a Sophie Liebknecht. Foi o último dos três natais que passaria na prisão. Apesar de só ter sido libertada em novembro do ano seguinte. A partir daí o tempo acelerou tragicamente. Até janeiro de 1918.
Karl está na prisão de Luckau desde há um ano. Tenho pensado tanto nisso neste mês e sobre como apenas passou um ano desde que me vieste ver a Wronke e me deste aquela adorável árvore de Natal. Desta vez arranjei uma aqui. Mas trouxeram-me uma árvore raquítica com alguns dos ramos partidos – não tem comparação com a tua. Nem sei como vou conseguir colocar-lhe todas as oito velas que tenho para lhe por. Este é o meu terceiro Natal encarcerada mas não deixes isso desanimar-te. Estou tão tranquila e alegre como sempre. Na última noite fiquei acordada por muito tempo. Tenho de ir para a cama às dez mas não consigo adormecer antes da uma da manhã, por isso deito-me no escuro, ponderando muitas coisas.
Na última noite os meus pensamentos fluíram desta forma: “é tão estranho que esteja sempre numa espécie de intoxicação alegre apesar de não ter causas suficientes para isso. Aqui estou eu deitada numa cela de prisão escura sobre um colchão duro como uma pedra; o edifício tem a sua habitual quietude de adro de igreja, de tal forma que se poderia já estar sepultada; através da janela cai cruzando a cama um cintilar de luz do candeeiro que está toda a noite aceso em frente da prisão. A espaços consigo ouvir à distância o barulho fraco do comboio que passa ou bem perto a tosse seca do guarda prisional tal como as suas botas pesadas já que ele dá algumas passadas lentas para esticar as pernas. O rangido do cascalho sob os seus pés tem um som tão desesperançado que toda a fadiga e futilidade da existência parece ser assim irradiada na noite sombria e húmida. Deito-me aqui sozinha e em silêncio, envolvida nos múltiplos agasalhos negros da escuridão, do tédio, da falta de liberdade e do inverno – e contudo o meu coração bate com uma incomensurável e incompreensível alegria interior, tal como se me estivesse a mover num raio de sol brilhante num prado florescente
E na escuridão eu sorrio à vida, como se fosse possuidora de um talismã que me tornasse capaz de transformar tudo o que é mau e trágico em serenidade e felicidade. Mas quando procuro na minha mente a causa desta alegria, encontro que não há causa para ela e apenas consigo rir-me de mim própria” – acho que a chave para o enigma é simplesmente a própria vida, esta profunda escuridão da noite é leve e bonita como veludo, basta olhar para ela da forma certa. O rangido do cascalho húmido sob as pisadas lentas e pesadas do guarda prisional é igualmente uma adorável pequena canção de vida – para quem tenha ouvidos para a ouvir. Em tais momento penso em ti, e em como faria o que pudesse para te entregar esta chave mágica também. Assim, em todos os tempos e lugares, serias capaz de ver a beleza e a alegria da lida; então também poderias viver numa doce embrieguês e fazer o teu caminho por entre um prado fluorescente. Não penses que te estou a oferecer alegrias imaginárias ou que estou a pregar o ascetismo. Quero que proves todos os prazeres reais dos sentidos. O meu único desejo é dar-te para além disso o meu inesgotável sentido de êxtase interior.
Se o pudesse fazer, estaria à vontade sobre ti, sabendo que na tua passagem pela vida estarias vestida com um manto enfeitado de estrelas que te protegeria de tudo o que é mesquinho, trivial ou assediante.
Estou interessada em ouvir sobre o adorável cacho de bagas, das negras e vermelhas-violetas, que colheste no parque Steglitz. As amoras talvez tenham sido mais maduras – claro que conheces as bagas mais maduras que ficam penduradas em cachos grossos e pesados entre as folhas em forma de leque. Mais provavelmente, contudo, eram ligustros esguios e graciosos com picos verticais de bagas por entre as folhas verdes estreitas e alongadas. As bagas avermelhadas-violeta, quase escondidas pelas pequenas folhas, devem ter sido as da nespereira anã; a sua cor apropriada é o vermelho mas nesta época tardia em que estão demasiado maduras e começam a apodrecer ganham muitas vezes um tom violeta. As folhas são como as do mirtilo, pequenas, pontiagudas, verde escuras, com uma superfície como se fosse couro em cima mas rugosas por baixo.
Sonyusha, conheces o Verhängnisvolle Gabel de Platen? (1) Poderias enviar-mo ou trazê-lo quando vieres? Karl disse-me que o leu em casa. Os poemas de George são belos. Agora já sei de onde tiraste o verso “e entre o farfalhar do milho avermelhado” que gostavas de citar quando estavas a passear no campo. Gostava que me copiasses o Amades Moderno (2) quando tiveres tempo. Gosto tanto do poema (um conhecimento que devo às composições de Hugo Wolf) mas não o tenho aqui. Ainda estás a ler a Lenda Lessing? Estive a reler a História do Materialismo de Lange (3) que acho sempre estimulante e revigorante. Espero que a leias algum dia.
Sonichka, querida, tive uma dor tão grande recentemente. No pátio onde caminho, frequentemente chegam camiões do exército, carregados de mochilas ou velhos casacos e camisas vindos da frente de guerra; por vezes estão manchados com sangue. São enviados para as celas das mulheres para serem remendados e depois regressam para serem usados pelo exército. O outro dia um destes camiões foi puxado por uma parelha de búfalos em vez de cavalos. Nunca tinha visto estas criaturas perto antes. Têm uma compleição mais poderosa que os nossos bois, com cabeças achatadas, e cornos firmemente recurvados, de tal modo que os seus crânios têm uma forma parecida com os das ovelhas. São pretos e têm olhos grandes e meigos. Os búfalos são troféus de guerra na Roménia. Os soldados-condutores dizem que é muito difícil apanhar estes animais, que sempre têm corrido livremente, e ainda mais difícil de quebrá-los de modo a domesticá-los. Têm sido impiedosamente açoitados – sob o princípio do “vae victis”(4). Há quase uma centena de cabeças apenas em Breslau. Estavam acostumados aos luxuriantes prados romenos e aqui têm de suportar uma forragem fraca e escassa. Explorados sem limites, sob a canga de cargas pesadas, rapidamente se esgotam a trabalhar até à morte.
O outro dia um camião veio carregado de sacas, tão sobrecarregado de facto que os búfalos eram incapazes de arrastá-lo através da soleira do portão. O soldado condutor, um tipo bruto, espancou as pobres bestas de maneira tão selvagem com o cabo do seu chicote que a guarda do portão, indignada com o que via, lhe pediu compaixão pelos animais. “Não mais do que alguém tem compaixão por nós homens”, respondeu ele com um sorriso malvado e redobrou os seus golpes. Lentamente os búfalos conseguiram fazer a carga sobre o obstáculo mas um deles estava a sangrar. Sabe-se que a sua pele é conhecida pela sua espessura e dureza mas tinha sido rasgada. Enquanto os camiões estavam a ser descarregados, as bestas, que estavam absolutamente exaustas, permaneceram perfeitamente paradas.
O que estava a sangrar tinha uma expressão na sua cara preta e nos seus olhos pretos meigos como a de uma criança a chorar – uma criança que tenha sido fortemente espancada e não perceba porquê, nem saiba como escapar ao tormento dos maus tratos. Fiquei em frente dos animais; a besta olhou para mim: as lágrimas jorraram dos meus olhos. O sofrimento de um irmão muito amado dificilmente poderia ter-me afetado mais profundamente do que estava comovida pela minha impotência face à sua muda agonia. Muito longe, perdidos para sempre, estavam os prados verdejantes e luxuriantes da Roménia. Quão diferente é lá a luz do sol, o sopro do vento; quão diferente é lá a canção dos pássaros e o chamamento melodioso do pastor.
Em vez disso, a rua hedionda, o estábulo fétido, o feno rançoso misturado com a palha bolorenta, os homens estranhos e terríveis – golpe após golpe e com sangue a escorrer das feridas abertas. Pobre miserável, sou tão impotente, tão estúpida, quanto tu próprio; sinto-me unida a ti na tua dor, na tua fraqueza e na minha saudade.
Enquanto isso as mulheres prisioneiras acotovelavam-se enquanto descarregavam atarefadamente a carrinha e carregavam as sacas pesadas para o edifício. O condutor, de mãos nos bolsos, galgava o pátio de cima para baixo, sorrindo a si próprio enquanto assobiava uma moda popular. Tive uma visão do esplendor da guerra!...
Deixa estar, minha Sonyusha; deves estar calma e feliz na mesma. Tal é a vida e temos de a tomar tal como é, bravamente, cabeças erguidas, sorrindo sempre – apesar de tudo.



Tradução de Carlos Carujo a partir da versão inglesa disponível em marxists.org

(1) O Garfo Fatal, uma comédia satírica
(2) Uma canção de Goethe.
(3) Lange foi também autor de “A questão do trabalho, o seu significado para o presente e o futuro”.
(4) Expressão latina que significa literalmente “Ai dos vencidos”. Remete para o facto dos vencidos em batalhas não deverem esperar misericórdia dos vencedores.


in https://www.esquerda.net/artigo/carta-de-natal-de-rosa-luxemburgo/58743 (26.12.2018)



Foto de William Avery Hudson/Flickr