Incrível o que se vai passando neste mundo do futebol, quase nunca claro,
nem sempre sério, quase sempre negro, promíscuo e aviltante, sobretudo, no caso das transferências de jogadores* e nos milhões e milhões que gastam e envolvem, neste negócio da venda de homens cujo grande feito tem sido a sua formidável capacidade técnica e performance desportiva para jogar à bola e meter golos.
Um mundo à parte, dizem muitos, para quem estes, como certos políticos, administradores
e gestores do Estado, continuam a viver das impunidades que se lhes oferecem e
do estatuto de intocáveis que orgulhosamente exibem!
Não devia ser assim e não tem de continuar a ser assim.
Neste caso, no desporto profissional, particularmente no futebol, os
atletas não deviam ser assim tão obscenamente remunerados e tão
escandalosamente protegidos pela sociedade, seja portuguesa, brasileira,
espanhola, inglesa ou outra, onde o povo, a massa associativa, mais não tem
feito do que apoiar cada vez mais as máfias do futebol, também elas, infiltradas
na vida das pessoas e nos centros de decisão dos países, tal a posição acrítica
e aceitacionista que continuam a ter perante este quadro revoltante, desolador
e tão injusto, se tivermos presente os horrores que se vivem por esse mundo
fora, particularmente, em países nos
quais há dinheiro para este tráfico de homens mas não há dinheiro para água
potável, vacinas, camas de hospital, equipamentos agrícolas e industriais
básicos, escolas, salários dignos para professores,
investigadores, enfermeiros …
Países onde o que existe mal existe e o pouco que se tem miséria é.
Veja-se o caso de Portugal e o protagonismo que tem tido, neste mundo
conturbado e conspurcado da venda de jogadores, clubes como o Benfica, o Porto,
o Sporting, a FPF…
Veja-se o destaque que sempre se lhes dá, quer nos média quer nas famílias e relações interpessoais!
Chega a ser doentia a forma como se têm em consideração. Doentia e
perigosamente obsessiva.
Entranham-se na vida do nosso país, do nosso povo, das nossas
instituições, de tal maneira, que, quem não nos conhecesse, julgaria que estamos
a nadar em dinheiro ou, quiçá, a deitá-lo fora, tal o grau de satisfação, empenho
e interesse que demonstramos com tudo o que gira à volta destes e de outros atletas, dos seus agentes, dos seus treinadores, dos seus presidentes...
Inaceitável, esta mentalidade tacanha que continua a gerar constrangimentos
e aberrações à nossa volta, todos os dias, todos os anos…
Inaceitáveis e revoltantes, estas jogadas, num país que tem uma taxa de
desemprego monstruosa, uma agricultura e indústria incipientes, falta de
equipamentos vitais, especialmente nos hospitais e centros de saúde… Um país
com uma dívida externa do tamanho do mundo, desse mundo infernal que se custeia
com o sangue e suor de quem verdadeiramente sempre trabalhou e trabalha para aguentar uma
vida que mais morte parece!
Triste país, tristes países e tristes povos estes, que fazem destes jogadores reis
e de si próprios servos, aprisionados que estão nos viscosos labirintos do
futebol profissional com que os presenteiam e que habilidosamente vão colorindo
os seus dias.
Até quando fingimos não ver o que claramente visto é?
Nazaré Oliveira
*ver aqui as transferências mais caras que se conhecem:
http://www.msn.com/pt-pt/desporto/futebol/galeria-as-100-transfer%c3%aancias-mais-caras-da-hist%c3%b3ria-do-futebol/ss-AAcFoIa?fullscreen=true#image=1