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terça-feira, 16 de agosto de 2022

Incêndios em Portugal

 


Esta é a área ardida na Serra da Estrela.
Imaginem que ardia tudo desde o Parque da Nações até Cascais!!!
O combate aos incêndios passa pela prevenção, com muitas mais campanhas DURANTE TODO O ANO, nas escolas, junto das populações, mass media mas, sobretudo, por mais e melhores equipamentos e melhores salários dos bombeiros.
Se o recente contratado Sérgio Figueiredo vai ganhar mais do que o Medina, quanto deveria ganhar um bombeiro? Um professor? Um médico? Um enfermeiro? Um polícia?
Uma tristeza e uma revolta, estas decisões "vindas de cima"! Esta inversão de prioridades, esta falta de visão e sensatez política e social.
A extrema direita aproveitar-se-á de tudo isto para engrossar cada vez mais as suas hostes, para infortúnio da nossa democracia.
A quem pedir responsabilidades pelos próximos números da abstenção, pelos desafetos políticos, pela quebra de confiança no sistema pluripartidário?
Continuarei a lutar pela Democracia e pelo Estado de Direito. Sempre.

terça-feira, 6 de julho de 2021

O Agitador



Enfrentando a crise climática numa jornada de autodescoberta

É em tempos de crise que descobrimos o que realmente importa para nós, quem realmente somos, como indivíduos e como sociedade. The Troublemaker investiga profundamente as ideias e emoções por detrás da onda internacional de protesto civil, nascida em virtude da crise climática que se vivemos. Através dos olhos de um líder visionário que co-fundou a ?Extinction Rebellion? e de um cidadão respeitador da lei inspirado a agir, The Troublemaker aspira a despertar o público da resistência passiva para uma defesa de afirmação da vida do nosso futuro. Agora que entendemos mais sobre como é uma "crise global", ela não pode mais ser ignorada.



sábado, 14 de novembro de 2020

O início da causa animal

A emergência do Direito Natural e consequentemente a consciência dos Direitos do Homem no panorama filosófico e político na segunda metade do século XVIII fizeram surgir nas elites políticas e intelectuais europeias uma sensibilidade, lenta mas progressiva, relativamente a questões consideradas como dogmas ao longo dos séculos, como por exemplo, a questão da limitação e separação de poderes, as liberdades fundamentais, a abolição da escravatura, a abolição da pena de morte, a emancipação das mulheres, a repartição justa da riqueza, a legitimidade da propriedade, etc... No mesmo contexto filosófico-político alguns filantropos problematizaram e questionaram a relação de domínio do Homem em relação aos animais. No espírito de muitas individualidades o recurso à violência para com os animais, fundamentado na suposta superioridade do Homem perante a Natureza era tida como imoral, quer à luz do Cristianismo, quer à luz da Razão. Os maus tratos aplicados aos animais eram considerados cada vez mais como resquícios da barbárie e da incivilização dos antigos tempos do obscurantismo. O Homem entrara numa nova nova idade da História, a idade da Razão e do progresso moral e essa evolução tinha necessariamente de se refletir na relação homem - homem e homem - animal. 

Não tardaram a surgir propostas para que o poder político adotasse medidas de proteção aos animais. Os primeiros esforços legislativos contemporâneos para proteção animal contra os maus tratos dos humanos surgem no Reino Unido no início do século XIX. Em 1800, Sir William Pulteney tenta introduzir no código jurídico inglês uma lei que proíbe o bull-baiting, projeto-lei recusado pelo Secretário da Guerra William Windham (1750 - 1810) com o argumento de que tal lei era contra o entretenimento das classes populares da sociedade inglesa. No ano seguinte, William Windham rejeita uma outra proposta legislativa de proteção animal, da autoria de William Wilberforce (1759 - 1833) fundamentando que tal lei tinha sido idealizada pelos metodistas e jacobinos com a intenção de destruir o “antigo caráter inglês pela abolição dos desportos rurais”. Mais uma tentativa surge em 1809 pelo Lord Chancellor Thomas Erskine (1750 - 1823), ao propor uma lei de prevenção da crueldade sobre os animais, aprovada na Câmara dos Lordes mas rejeitada na Câmara dos Comuns. Uma vez mais William Windham insurge-se contra tais propostas legislativas, alegando desta vez que eram incompatíveis com os tão populares divertimentos da caça à raposa e a corrida de cavalos. 

Após estas tentativas frustradas finalmente surge a primeira lei de proteção animal. É a lei Act to prevent the cruel and improper treatment of cattle (Lei de prevenção ao tratamento cruel e imprópio do gado) mais conhecida pelo nome do seu autor, "Martin's Act". Esta lei, da autoria do deputado Richard Martin (1754 - 1834) foi aprovada pelo parlamento britânico em 1822. A designação “gado” no título da lei apenas incluía boi, vaca, ovelha, mula, e burro, deixando de fora outras espécies como o touro e o cão que foram englobadas na lei em atualizações posteriores (leis de 1835, 1849 e 1876). 

O primeiro julgamento ao abrigo do Martin’s Act foi o de Bill Burns, vendedor de fruta ambulante, que agrediu o seu burro de carga. O caso na altura ficou famoso em Inglaterra devido ao facto de o próprio Richard Martin ter acusado Bill Burns e durante julgamento ter levado o burro à sala do tribunal como prova das agressões para espanto dos juízes e público assistente. "The trial of Bill Burns" (o julgamento de Bill Burns). O deputado do parlamento britânico, Richard Martin, leva o burro do acusado Bill Burns a uma das sessões do julgamento para demonstrar ao juiz os maus tratos infligidos pelo dono, episódio que causou grande sensação na época, nomeadamente nos jornais. Esta pintura (óleo sobre tela) está atualmente da seda da Royal Society for the Prevention of Cruelty to Animals. Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/File:Trial_of_Bill_Burns.jpg 


Richard Martin, Willian Wilberforce e outros estiveram envolvidos na fundação da Society for the Prevention of Cruelty to Animals em 1824, a primeira instituição do mundo dedicada à proteção animal. Esta instituição conseguiu fazer com que o Martin's Act de 1822 fosse alargado no seu âmbito pela Cruelty to Animals Act (lei da crueldade sobre os animais) de 1835, que abrangia cães e outros animais domésticos, abolia o bear-baiting e a luta de galos, assim como imponha melhores condições para os animais nos matadouros. A legislação de proteção animal inglesa foi sendo sucessivamente consolidada e ampliada ao longo do século XIX pelas leis de 1849 (Cruelty to Animals Act 1849 ), e de 1876 ( Cruelty to Animals Act 1876 ) de modo a abranger gradualmente mais espécies animais e modalidades de tratamento cruel ( consultar o site Animal Rights History para ter uma noção da produção legislativa inglesa sobre a proteção animal). O Reino Unido surge assim como o "berço" do movimento da causa animal e da legislação de proteção animal na contemporaneidade, sendo em breve trecho imitado por outros países europeus e americanos. 

E em Portugal? 

Em Portugal pouco se conhece sobre o estado de consciencialização para o bem estar animal na primeira metade de oitocentos. Percebe-se no entanto que a problemática da proteção animal está intimamente relacionada com as corridas de touros ou touradas. Existem referências para este período indicadoras de que as corridas de touros seriam mal vistas por certas pessoas. Sabe-se que um dos governadores do reino na ausência da corte no Brasil, o Principal Sousa (17-- 1817) se esforçou por proibir as touradas entre 1810 e 1817. Nas cortes constituintes (1821-1822) o deputado Borges Carneiro (1774 - 1833) apresentou à câmara constituinte um moção para a abolição das corridas de touros. No debate parlamentar perguntava ele aos seus colegas deputados: « Ora qual foi o fim da natureza criando estes animaes [os touros]? foi para que o homem se podesse servir delles, e quando muito que sei servissem para seu sustento; mas não foi de certo para que os martyrizasse, os enchesse de flexas, e se divertisse com elles, destruindo-os pouco a pouco por meio do fogo e do ferro. Taes não forão os fins para que a Divindade pôz os outros animaes debaixo do poder do homem.» Apesar da sua retórica e eloquência a moção foi rejeitada.
O deputado Borges Carneiro (1774 - 1833) eleito às cortes constituintes de 1821 -1822. No dia 04 de agosto de 1821 foi discutida nas cortes constituintes a sua moção para a abolição das touradas em Portugal. A moção foi rejeitada sob os mais variados argumentos. Fonte: http://www.arqnet.pt/dicionario/borgescarneirom.html Com o advento do Setembrismo, o ministro do Reino Passos Manuel (1801 -1862) governando em ditadura, aboliu a 19 de setembro de 1836 as corridas de touros. Porém esta lei foi revogada no ano seguinte com Carta de Lei de 30 de junho de 1837. Com a Carta de Lei de 21 de agosto de 1837 as receitas das corridas de touros realizadas em Lisboa revertiam para a Casa Pia e as receitas das touradas realizadas nos restantes municípios do território português ficavam afetas às Misericórdias ou a outras instituições pias, associando assim as touradas à caridade, o que deu mais um argumento a favor dos defensores da tauromaquia. 



 in http://blog-de-historia.blogspot.com/2012/02/o-aparecimento-da-legislacao-de.html (acesso dia 14.11.2020)

terça-feira, 23 de julho de 2019

Plantar árvores nas cidades devia ser visto como uma medida de saúde pública


Ese as cidades conseguissem, com uma só medida, reduzir a obesidade e a depressão, aumentar a produtividade e o bem-estar e diminuir a incidência de asma e doenças cardíacas nos seus habitantes? As árvores urbanas oferecem todos estes benefícios e muito mais: filtram o ar, ajudando a remover as partículas finas emitidas pelos carros e fábricas, retêm a água da chuva e diminuem as despesas com o aquecimento.

Num 
novo relatório, realizado pela organização The Nature Conservancy, os cientistas defendem que as árvores urbanas são uma importante estratégia para a melhoria da saúde pública nas cidades, devendo ser financiadas como tal. 


“Há muito tempo que vemos as árvores e os parques como artigos de luxo; contudo, trazer a natureza de volta para as cidades é uma estratégia crítica para se melhorar a saúde pública”, disse Robert McDonald, cientista da The Nature Conservancy e coautor do relatório. 



Todos os anos, entre três e quatro milhões de pessoas morrem, em todo o mundo, devido à poluição atmosférica e aos seus impactos na saúde humana. A poluição do ar aumenta o risco de doenças respiratórias crónicas, havendo estudos que a associam ainda às doenças cardiovasculares e ao cancro. As ondas de calor nas zonas urbanas também fazem milhares de vítimas, por ano. Vários estudos têm demonstrado que o arvoredo urbano pode ser uma solução eficaz em termos de custos para ambos estes problemas. 

Apesar de todos os estudos que documentam os benefícios dos espaços verdes, muitas cidades ainda não veem a ligação entre a saúde dos moradores e a presença de árvores no ambiente urbano. 
Robert McDonald defende a necessidade da cooperação entre diferentes departamentos e a inclusão da natureza nos debates sobre ordenamento urbano. 

“Não é suficiente falar-se apenas das razões que tornam as árvores tão importantes para a saúde. Temos de começar a discutir as razões sistemáticas por que é tão difícil para estes sectores interagirem – como o sector florestal pode começar a cooperar com o de saúde pública e como podemos criar ligações financeiras entre os dois”, disse o investigador. 

“A comunicação e a coordenação entre os departamentos de parques, florestas e saúde pública de uma cidade são raras. Quebrar estas barreiras pode revelar novas fontes de financiamento para a plantação e gestão de árvores.” 

O cientista dá como exemplo a cidade de Toronto, onde o departamento de saúde pública trabalhou em conjunto com o florestal para fazer frente à ilha de calor urbano. Como muitos edifícios em Toronto não possuem ar condicionado, os dois departamentos colaboraram de forma a colocarem, estrategicamente, árvores nos bairros onde as pessoas estão particularmente vulneráveis ao calor, devido ao seu estatuto socioeconómico ou idade. 






O relatório diz ainda que o investimento na plantação de novas árvores – ou até na manutenção das existentes – está perpetuamente subfinanciado, mostrando que as cidades norte-americanas estão a gastar menos, em média, no arvoredo do que nas décadas anteriores. Os investigadores estimaram que despender apenas $8 (7€) por pessoa, por ano, numa cidade dos EUA, poderia cobrir o défice de financiamento e travar a perda de árvores urbanas e dos seus potenciais benefícios. 

Outros trabalhos também têm mostrado que o arvoredo urbano tem um valor monetário significativo. Segundo um estudo do Serviço Florestal dos EUA, cada $1 gasto na plantação de árvores tem um retorno de cerca de $5,82 em benefícios públicos.

Num outro estudo, uma equipa de investigadores da Faculdade de Estudos Ambientais da Universidade do Estado de Nova Iorque concluiu que os benefícios das árvores para as megacidades tinham um 
valor médio anual de 430 milhões de euros (505 milhões de dólares), o equivalente a um milhão por km2 de árvores. Isto deve-se à prestação de serviços como a redução da poluição atmosférica, dos custos associados ao aquecimento e arrefecimento dos edifícios, das emissões de carbono e a retenção da água da chuva. 

Com demasiada frequência, a presença ou ausência de natureza urbana, assim como os seus inúmeros benefícios, é ditada pelo nível de rendimentos de um bairro, o que resulta em desigualdades dramáticas em termos de saúde. De acordo com um estudo da Universidade de Glasgow, a taxa de mortalidade entre os homens de meia-idade que moram em zonas desfavorecidas com espaços verdes é inferior em 16% à dos que vivem em zonas desfavorecidas mais urbanizadas. 

Para Robert McDonald, a chave é fazer-se a ligação entre as árvores urbanas e os seus 
efeitos positivos na saúde mental e física. “Um dos grandes objetivos deste relatório é fazer com que diversos serviços de saúde vejam que deviam estar a participar na discussão para tornar as cidades mais verdes”, declarou. “As árvores urbanas não podem ser consideradas um luxo, dado que constituem um elemento essencial para uma comunidade saudável e habitável e uma estratégia fundamental para a melhoria da saúde pública.”







domingo, 17 de março de 2019

A justiça climática é a luta pelo destino da Humanidade



Só faremos isto em conjunto, pela acção persistente e decidida de milhões de pessoas. “Vamos mudar o destino da Humanidade.”


15 de Março de 2019


Hoje é um dia histórico, com uma das maiores mobilizações globais de sempre, sobre qualquer tema que seja. É a maior mobilização de jovens e a maior mobilização pela justiça climática que alguma vez aconteceu. Todas as pessoas que mobilizaram, que convocaram e que hoje se juntam e se encontram nas ruas de mais de mil cidades por todo o mundo devem saber que fazem parte de um momento extraordinário. Começa uma nova História da justiça climática.

Durante as últimas três décadas, milhares de pessoas por todo o mundo empurraram um comboio pesado, o comboio da inércia, o comboio da conformação, o comboio do sistema, à procura de soluções e vontade política para resgatar a civilização. Muito mais grave do que a meia dúzia de negacionistas de alterações climáticas (com desproporcionado impacto mediático), foram mesmo os arquitectos das políticas dos últimos anos os grandes responsáveis por vivermos numa emergência climática sem paralelo na História da Humanidade.


“O desprezo pelos jovens, o desprezo pelas pessoas comuns, foi convertendo superficialmente milhares de milhões em cínicos, em hipócritas, em seres amorfos e autocentrados. O poder retirado pela economia e pela política às populações foi criando um espírito de derrota, de impotência, de conformação a tudo o que viesse de cima, à ordem e à obediência. Apesar de haver sempre quem resistisse, esse espírito imperou durante muito tempo.”


De nada serviram Barack Obamas, Justin Trudeaus ou Uniões Europeias a gritar o seu empenho no combate às alterações climáticas, de nada nos serviram as tintas verdes com que empresas destruidoras como a BP ou a Volkswagen se foram pintando porque, apesar de andarmos há décadas à procura de acordos para cortar as emissões de gases com efeito de estufa, 2018 foi o ano com o mais alto nível de emissões alguma vez registado. Nesse contexto de enorme frustração, de enorme contradição, empurrámos, contra o senso comum, contra a política banal, contra a TINA (There Is No Alternative), assistimos ao colapso em Copenhaga, exigimos que não houvesse mais explorações de petróleo, gás e carvão, se queríamos salvar o futuro da civilização. Às costas, levávamos a Ciência, a vontade e a certeza de que isto não podia acabar assim, que a Humanidade não podia ser só isto. 

O desprezo pelos jovens, o desprezo pelas pessoas comuns, foi convertendo superficialmente milhares de milhões em cínicos, em hipócritas, em seres amorfos e autocentrados. O poder retirado pela economia e pela política às populações foi criando um espírito de derrota, de impotência, de conformação a tudo o que viesse de cima, à ordem e à obediência. Apesar de haver sempre quem resistisse, esse espírito imperou durante muito tempo. Chegados a um dia como hoje percebemos como era superficial esse espírito, e especialmente superficial a análise de que isso se poderia manter.

A temperatura média global nas últimas três décadas só tem comparação com o período interglacial do Eemiano, há mais de 115 mil anos. Haveria nessa altura, quanto muito, alguns milhões de seres humanos (menos do que os dedos de uma mão). O centro da Europa era uma savana, o Reno e o Tamisa tinham hipopótamos e crocodilos. O nível médio do mar era seis a nove metros mais alto do que hoje. Os cinco anos mais quentes desde que há registos são os últimos cinco (2016, 2015, 2017, 2018, 2014). Devido à queima massiva de gases com efeito de estufa que começou na Revolução Industrial e que disparou a partir do final da Segunda Guerra Mundial, criámos um clima em que nunca vivemos antes, diferente daquele em que foi possível inventar a agricultura, a escrita, a civilização. O capitalismo industrial fóssil acabou com o Holoceno, o período geológico dos últimos 12 mil anos que permitiu que a nossa espécie de instalasse e proliferasse por todo o planeta.

Mas a inacção garante-nos uma degradação muito maior do que esta, e cada dia, cada semana, cada mês em que a máquina industrial fóssil se mantém em produção máxima agrava o nosso futuro. Cada momento em que a máquina industrial fóssil se mantém em produção ficam em causa a viabilidade dos territórios em que habitamos hoje, a sua capacidade de nos continuar a sustentar, quer pela redução da capacidade de produção alimentar e da disponibilidade de água, quer pelos fenómenos climáticos extremos e a subida do nível médio do mar. A reacção perante este estado de coisas é uma manifestação de autoprotecção. Não estamos a defender a Terra, nós somos parte da Terra e estamos a defender-nos a nós mesmos.

Nomeada para o Prémio Nobel da Paz, Greta Thunberg, a jovem sueca de 16 anos que disse exactamente isto na cara das lideranças mundiais na Polónia, foi o ponto de apoio e a sua greve, todas as sextas-feiras frente ao Parlamento da Suécia, foi a inspiração para a greve mundial climática. Mais tarde, o colectivo que convocou esta greve diria em carta aberta publicada no The Guardian: “Vamos mudar o destino da Humanidade.” Não é menos do que isto o que precisa de acontecer. 

Esta chamada à acção colectiva retira o derrotista enfoque na acção individual que vigorou nas últimas décadas. Só faremos isto em conjunto, pela acção persistente e decidida de milhões de pessoas. Tentar reduzir o que acontece neste 15 de Março de 2019 a uma chamada para pequenas acções individuais ou locais é perverter o que está a acontecer: “Vamos mudar o destino da Humanidade.”

Tudo irá mudar nas nossas economias e nas nossas sociedades. Se não formos nós a organizar estas mudanças, será o novo clima, sem qualquer contemporização. Vivemos neste momento dentro do arranha-céus em chamas do capitalismo global e todos os alarmes estão a tocar. Não existe nenhum bombeiro mágico para apagar as chamas. Está na hora de sair e construir uma nova casa para a Humanidade.


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Greta Thunberg



sábado, 26 de maio de 2018

Transporte de animais






A exploração, a desumanidade, o terror,  atormentam  todos os dias a vida dos mais vulneráveis (crianças, animais, idosos), dos mais desfavorecidos, dos que não se podem defender dos seus carrascos prepotentes, insensíveis à dor e ao desespero dos outros.
Neste caso, o seu transporte (exemplos dramáticos).
Quando pára esta crueldade e humilhação constante?
Lutemos por uma vida com dignidade para todos os seres. Humanos e não humanos.



Nazaré Oliveira




Fotos recolhidas em várias páginas de defesa animal, no facebook.


segunda-feira, 2 de abril de 2018

Vale do Tua - Um ecossistema em perigo iminente





Quem como eu, desde a minha infância, fazia viagens pela Linha do Tâmega, Linha do Corgo, Linha do Tua, Linha do Douro…viagens de sonho que poucos portugueses conheceram, certamente se recorda das paisagens únicas que do comboio se viam. 

De Chaves, Vidago… a Vila Real… de Vila Real até ao Porto…Que saudades!

Por montes e vales, aqui e além salpicados pelo brilho dos rios que preguiçosamente serpenteavam por entre a pedernia, eu tive o privilégio de ver e sentir o trabalho do Homem, contra a dureza da terra, o sol abrasador, pelo pão e pelo vinho, pela Vida.
Num cenário mágico de linhas ondulantes, os socalcos percorriam em espiral os declives das serras num abraço fraterno entre o céu e a terra, numa mística única que nos arrebatava e extasiava para sempre.

Eu via e sempre vi com os olhos e com o coração.

Menina curiosa, que tudo olhava, sentindo, estendia o meu olhar até ao fundo dos vales e aí me prendia, numa geometria mais-que-perfeita da Natureza, como se nada de mais belo pudesse existir ou voltar a ver.

Perdia o meu olhar no verde dos pinheiros, das urzes e das flores silvestres, tantas, à nossa passagem e ao nosso olhar, vagarosamente acompanhado pela máquina que subia, subia, seguia, seguia, puxando, puxando, carruagens felizes com gente como eu.

Numa tela colorida pelo sol quente, muito quente, e que uma pequena aragem perfumava, chegava até mim aquele aroma magnífico de pinheiros, giestas e urzes em flor, como uma saudação ou abraço.

Parar nas estações da CP ao longo destas linhas, era uma lição de História. História de Arte. História da Vida e de vidas.
E o meu olhar prendia-se cada vez mais a tudo isto, tal a beleza e a diversidade de cores, sons, cheiros e emoções!

Nesta altura, ainda pequenita, não tinha máquina fotográfica, não tinha dinheiro nem mesada, ainda não havia televisão na minha terra, não tinha bicicleta, não sabia o que significava passar férias "fora", sabia que era duro viver em Trás-os-Montes, que havia uma capital que era Lisboa, que conhecia o mar e que o mar era lindo, sim, mas era longe, na terra da avó. Sabia que os meus pais eram os meus heróis e iam continuar a sê-lo, pela luta que travavam e pelo esforço que faziam para sermos crianças felizes, ainda que para isso sentissem no corpo e na alma a dureza de um regime que lhes negou sempre uma vida sem inquietações, a paz e o sossego. Conseguiram fazer de nós  crianças deslumbradas com as maravilhas da mãe-terra, encantados que ficávamos com as coisas simples, puras, vibrando com a Natureza como quem sorve a última gota de vida, abraçando-a com os olhos e guardando-a na alma. 
Vidago, Chaves, Vila Real, Porto – as terras que me viram crescer até aos 10 anos, altura em que foi preciso sair, partir, fugir.

Mas estas imagens mantiveram-se e mantêm-se vivas. Estas paisagens, estas cores, o aroma intenso que do verde se soltava… e o vento a sussurrar aos pinheiros… o cinzento matizado do granito, o azul brilhante dos rios onde o sol poisava, sorrindo, os azulejos das estações, os comboios, a fagulha que teimosamente entrava nos olhitos, o carvão que enfarruscava o rosto… Oh, máquinas a carvão! O “Texas” e não só!

No fundo, fui uma menina com uma infância feliz.

Enchi o coração com a beleza das serras e dos montes, brinquei na rua, a cantar, saltar à corda, à bilharda, à macaca, com amiguinhos, cães, gatos, burros, cavalos, pintainhos, bois e boizinhos, sem horas, sem medos, sem fome, no riacho que a cantar me encantava e onde barcos de folhas pousava com risos e sonhos pequeninos da minha enorme alegria!

E que bom que era ir até lá, sobretudo ao fim da tarde, das tardes quentes de Verão!

Que bom que era o cheirinho a terra molhada quando as regas começavam nas hortas e, num manto de trevos e erva fresca, sentar-me para ver os sapos, as rãs, peixes cintilantes, melros, andorinhas, pardais, lagartos, lagartixas, abelhas, borboletas multicores, pequenos insectos... e vê-los livres, livres, iguais a mim.

As lavadeiras apanhavam já a roupa que corara, brilhara e secara  no cimo de pedras e arbustos!

Ao longe, na pequena ponte, passava o comboio.

Eu acenava-lhe e dizia "Até amanhã!”




Nazaré Oliveira





Para conhecer mais:

Fotos de:

sexta-feira, 2 de março de 2018

Com que direito negamos direitos aos animais?




Animais: com que direito lhes negamos direitos?


Isto de ser humano

Sabia que existe uma declaração universal dos direitos dos animais? Sabia que há leis para definir as fórmulas correctas, éticas e “humanas” para criar, transportar e matar vitelos, porcos, galinhas e todos os outros animais usados na alimentação? Sabe distinguir a crueldade “necessária” da “desnecessária”? E o sofrimento “útil” do “inútil”? Já ouviu falar do “bem-estar animal”? Não? Então é provável que não faça a mais pequena ideia do que é o veganismo e que nunca tenha colocado em questão o supremo direito do Homem sobre os outros seres da Terra ou o seu lugar como centro do mundo, rei incontestado de tudo o que existe. É possível que nada o faça desistir de comer carne ou peixe, que ache perfeitamente admissíveis as experiências em animais, que não se incomode com o uso de peles ou com a caça, aplauda as touradas, não pestaneje com o tiro aos pombos, se entusiasme com as lutas de galos, adore levar as crianças ao Zoo e considere as feras o melhor do circo. É possível que encare algumas destas coisas como normais e necessárias e outras não e ache mal misturar tudo. É até possível que determine toda esta conversa como absolutamente ridícula. Em todo o caso, não tem nada a perder: pense nisso.
É difícil escolher por onde começar. Mas podia ser em números. Por exemplo, quantos animais morreram, morrem e morrerão, em média, para que um de nós, carnívoro, omnívoro, apreciador de calçado de pele genuína, cintos de couro, casacos de cabedal e abafos de pêlo, utilizador de cremes, perfumes e desodorizantes, antibióticos, antiestamínicos, antialérgicos e outras drogas corriqueiras, sujeito a uma ou outra cirurgia, transportado em automóveis, motos e demais veículos, alérgico a ratos, baratas, moscas e outras pragas, viva a sua vida normal? Milhões? Biliões? Triliões?
Entre vacas, ovelhas, cabras, porcos, galinhas, patos, perus, coelhos, perdizes, lebres, javalis, veados, peixes de todas as descrições, moluscos de variados calibres, crustáceos, crocodilos, avestruzes e tudo o que ocorra degustar, incluindo, se calhar em viagem ou em proveniência, macacos, cobras, cães, gatos, antílopes, tartarugas, golfinhos, gafanhotos, toupeiras e o que mais se use comer por esse mundo fora, uma hecatombe.
Só nos Estados Unidos, em cada ano, são 100 milhões de mamíferos e cinco biliões de aves. No mesmo espaço de tempo, a Grã-Bretanha consome 850 milhões de animais. Em média, um milhão e meio por pessoa.
Um oceano de cadáveres a perder de vista, esfaqueados, decapitados, electrocutados, asfixiados, baleados, armadilhados, arpoados, esmagados, espancados, sangrados, cozinhados vivos. Em agonia óbvia ou incerta, rápida ou lenta, necessária ou desnecessária. Quase sempre secreta, invisível na assepsia das prateleiras do supermercado, indeterminável no prato, mastigada com deleite, digerida com negligência. Quem é que já somou as vidas todas que vale, as vidas de que é feito? Quem é que já mediu as agonias, as dores, os sacrifícios que reclama? Quem é que vive com isso? E, deve também perguntar-se, quem é que pode viver sem isso?
É muito diferente quando se vê. Talvez, com o tempo, o hábito apague a náusea das imagens e dos sons e dos cheiros. É possível acreditar que é esta distância entre a vida nas cidades, longe dos ritmos essenciais do nascimento, do crescimento e da morte, longe do que se apelida de natural, que impede a convivência descontraída com o sangue e a carne e os ossos, com aquilo que se chama a inevitabilidade das coisas.



Marcar animais com um ferro em brasa configura um sofrimento útil ou inútil?
Mas essa ligação tão óbvia entre o lombo, a costeleta e o bife e a carnificina industrial que estremece os matadouros, essa relação de causa e efeito que conduz dos estábulos e das pocilgas e dos aviários estes cortejos de animais comprimidos em gaiolas, em camionetas e vagões, quilómetros de animais em quilómetros de estrada, o espaço útil preenchido ao limite, a utilidade como critério, o sacrifício como razão, essa imanente verdade é um prodígio de negação. É um suave milagre que a consciência dos homens os salve daquilo que não vêem e apenas sabem e mais milagre é ainda que os salve daquilo que vêem e ouvem e cheiram. E fazem, claro. Nos matadouros como nas criações, nas produções de leite como de ovos, nos laboratórios como nos biotérios.
Um passeio, chamemos-lhe assim, pelos arquivos audiovisuais das organizações que pugnam pelos direitos dos animais revela-se um desafio à infinita capacidade de obliteração da memória.
A começar, por exemplo, pelo espectáculo das descargas de gado nos centros de abate, efectuado à paulada, ao pontapé, com guindastes (usados para descarregar vacas vivas, suspensas por uma pata, de um navio para o cais), passando pelas pecuárias intensivas onde cada animal é imobilizado num espaço ínfimo, sem luz do dia, manjedoura à frente, entregue à tarefa única de engordar o mais depressa possível para dar lugar a outro.
Pelas produções de leite onde as vacas são mantidas em maternidade constante, retirando-se-lhes os vitelos mal nascem, úberes ulcerados, deformados, o tempo de vida estreitado na margem dos quatro anos mais lucrativos, despachadas para o matadouro mal o fluxo enfraquece; percorrendo as fábricas de ovos onde as poedeiras, às quatro dentro de uma estreita gaiola, se esgotam na vertigem de verter claras e gemas em sequência contínua, o espeto e o fricassé como recompensa final.
Atravessando os longos corredores dos pomposamente denominados biotérios onde em milhares de pequenas gaiolas, sob luzes fluorescentes, em ambiente rigorosamente asséptico, se criam os hamsteres e os ratos e os coelhos e os gatos e os macacos que nos laboratórios desenvolvem todas as doenças, experimentam todos os vírus, bactérias e vacinas, pomadas, gotas, comprimidos, cremes de beleza, desodorizantes, perfumes.



Quanto tempo leva um champô a destruir o globo ocular? Estes coelhos vão descobrir.

É preciso não esquecer, lembram os gratos cientistas, que é pelo holocausto destes animais e de todos os que os antecederam que tantos medicamentos foram lançados no mercado, tantas doenças incuráveis deixaram de o ser. É graças à morte atroz de milhares de cães, por exemplo, e é só um dos muitos exemplos possíveis, que os diabéticos dispõem hoje da insulina. Se não fossem os animais de laboratório, onde treinariam os cirurgiões as novas técnicas de cirurgia? Que seria dos transplantes? E, já agora, que seria da segurança automóvel não fora a insistência nos “crash-tests” com animais vivos?
Que seria do conhecimento dos danos cerebrais humanos se não fosse possível infligir, em circunstâncias rigorosamente controladas, pancadas brutais, com máquinas, martelos ou outros instrumentos menos sofisticados, na cabeça de babuínos supostamente anestesiados que, entre cada golpe, procuram fugir das amarras que os prendem?
Como se avançaria na psicologia humana e no estudo do autismo e outros fenómenos misteriosos da psique caso não fosse possível manter chimpanzés (animais muito inteligentes e sensíveis, tão parecidos connosco) em absoluta solidão, do nascimento à morte, para ver que tipo de loucura desenvolvem?

No fim da experiência, terminada a utilidade do sofrimento, este gato deverá ser morto. De forma humana, claro.
Depois, há outras necessidades, talvez menos vitais mas nem por isso menos evidentes. A utilização de produtos de origem animal no vestuário, quer implicando a morte dos animais quer não – é o caso da lã –, é tão antiga como o Homem. Como é antigo o uso de armadilhas, cada vez mais sofisticadas à medida que a tecnologia progride, cada vez mais perfeitas no seu cuidado de não danificar nenhuma parte relevante do animal.
Fotografias e filmes, mais uma vez, atestam a forma como as mandíbulas de aço das armadilhas modernas aprisionam os animais – raposas, arminhos, texugos – sem os matar, numa agonia de horas, dias, até que o caçador apareça para o golpe de misericórdia. Ou como nas quintas de criação de animais para aproveitamento de peles se electrocutam, gaseiam ou asfixiam os visons, chinchilas, etc, de modo a não arruinar nem um pêlo da preciosa mercadoria, a mesmíssima preocupação que obriga os caçadores de focas bebés a espancá-las até à morte. Podia pensar-se que o fazem por prazer; pois não, é mesmo necessário.
Mas, é claro, há também o divertimento. Os espectáculos com animais, da tradicional tourada ao tradicional circo, passando pelas tradicionais corridas de cavalos, cães, etc. Para não falar da luta de galos, dos duelos de cães, ou de certos costumes pouco compreendidos no Ocidente que consistem em torneios de cavaleiros a disputar um cabra, por exemplo, ou a ver qual é que consegue, passando a galope, arrancar a cabeça a um galo pendurado pelos pés. O espantoso arquivo das organizações internacionais de defesa dos animais não deixa nada em claro.
Eis a incursão nos bastidores do circo, por exemplo, para descobrir, do outro lado das habilidades demonstradas em palco, os imprescindíveis treinos à base de chicote, paulada e aguilhões. Mas como será que, a bem, se ensina um elefante a caminhar nas patas traseiras? Ou um tigre a saltar um arco em chamas? Com muito amor? Decerto. O mesmo amor aos animais que leva toda a gente a adorar uma ida ao Zoo, onde animais habituados a percorrer dezenas de quilómetros num dia se vêem confinados a algumas dezenas de metros (se tiverem sorte) ou a uma jaula de três por quatro, chão de cimento, paredes de azulejo, talvez mesmo sem luz natural.


Notícias Magazine, 12.Abril.1998 (excertos adaptados)

Texto de Fernanda Câncio