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terça-feira, 27 de agosto de 2024

"Caro professor"

 

Foto: Getty Images


Caro professor: compreendo a sua situação. Foi contratado para ensinar uma disciplina e ganha para isso. A escolha do programa não foi sua. Foi imposta. Veio de cima. Talvez tenha ideias diferentes. Mas isso é irrelevante. Tem de ensinar o que lhe foi ordenado. Será julgado pelos resultados do seu ensino – e disso depende o seu emprego. A avaliação do seu trabalho faz-se por meio da avaliação do desempenho dos seus alunos. Se, de uma forma sistemática, os seus alunos não aprenderem, é porque não tem competência.

O processo de avaliação dos alunos é curioso. Imagine uma pessoa que conheça uma série de ferramentas, a forma como são feitas, a forma como funcionam – mas não saiba para que servem. Os saberes que se ensinam nas escolas são ferramentas. Frequentemente os alunos dominam abstractamente os saberes, sem entretanto conhecerem a sua relação com a vida.

Como aconteceu com aquela assistente de bordo a quem perguntei o nome de um rio perto de Londrina, no norte do Paraná. Ela respondeu-me: Acho que é o São Francisco. Apanhei um susto. Pensei que tinha apanhado o voo errado e que estava a chegar ao norte de Minas… Garanto que, numa prova, a rapariga responderia certo. No mapa saberia onde se encontra São Francisco. Mas não aprendera a relação entre o símbolo e a realidade.

É possível que os alunos acumulem montanhas de conhecimentos que os levarão a passar nos exames, sem saber para que servem. Como acontece com os “vasos comunicantes” que qualquer pedreiro sabe para que servem sem, entretanto, conhecerem o seu nome. O pedreiro seria reprovado na avaliação escolar, mas construiria a casa no nível certo. Mas você não é culpado. Você é contratado para ensinar a disciplina.

Cada professor ensina uma disciplina diferente: Física, Química, Matemática, Geografia, etc. Isso é parte da tendência que dominou o desenvolvimento da ciência: especialização, fragmentação. A ciência não conhece o todo, conhece as partes. Essa tendência teve consequências para a prática da medicina: o corpo como uma máquina formada por partes isoladas. Mas o corpo não é uma máquina formada por partes isoladas.

Às vezes, as escolas fazem-me lembrar o Vaticano. O Vaticano, 400 anos depois, penitenciou-se sobre Galileu e está prestes a fazer as pazes com Darwin. Os currículos, só agora, muito depois da hora, estão a começar a falar de “interdisciplinaridade”. “Interdisciplinaridade” é isto: uma maçã é, ao mesmo tempo, uma realidade matemática, física, química, biológica, alimentar, estética, cultural, mitológica, económica, geográfica, erótica…

Mas o facto é que você é o professor de uma disciplina específica. Ano após ano, hora após hora, ensina aquela disciplina. Mas, como ser de dever, tem de fazer de forma competente aquilo que lhe foi ordenado. A fim de sobreviver, faz o que deve fazer para passar na avaliação. A disciplina é o deus a quem você e os alunos se devem submeter. O pressuposto desse procedimento é que o saber é sempre uma coisa boa e que, mais cedo ou mais tarde, fará sentido.

São sobretudo os adolescentes que, movidos pela inteligência da contestação, perguntam sobre o sentido daquilo que têm de aprender. Mas frequentemente os professores não sabem dar respostas convincentes. Para quê aprender o uso dessa ferramenta complicadíssima se não sei para que serve e não vou usá-la? A única resposta é: Tens de aprender porque sai no exame – resposta que não convence por não ser inteligente mas simplesmente autoritária.

O que está pressuposto, nos nossos currículos, é que o saber é sempre bom. Isso talvez seja abstractamente verdade. Mas, nesse caso, teríamos de aprender tudo o que há para ser aprendido – o que é tarefa impossível. Quem acumula muito saber só prova um ponto: que é um idiota de memória boa. Não faz sentido aprender a arte de escalar montanhas nos desertos, nem a arte de fazer iglos nos trópicos. Abstractamente, todos os saberes podem ser úteis. Mas, na vida, a utilidade dos saberes subordina-se às exigências práticas do viver. Como diz Cecília Meireles: O mar é longo, a vida é curta.

Eu penso a educação ao contrário. Não começo com os saberes. Começo com a criança. Não julgo as crianças em função dos saberes. Julgo os saberes em função das crianças. É isso que distingue um educador. Os educadores olham primeiro para o aluno e depois para as disciplinas a serem ensinadas. Os educadores não estão ao serviço de saberes. Estão ao serviço de seres humanos – crianças, adultos, velhos. Dizia Nietzsche: Aquele que é um mestre, realmente um mestre, leva as coisas a sério – inclusive ele mesmo – somente em relação aos seus alunos. (Nietzsche, Além do bem e do mal).

Eu penso por meio de metáforas. As minhas ideias nascem da poesia. Descobri que o que penso sobre a educação está resumido num verso célebre de Fernando Pessoa: Navegar é preciso. Viver não é preciso.

Navegação é ciência, conhecimento rigoroso. Para navegar, são necessários barcos. E os barcos fazem-se com ciência, física, números, técnica. A própria navegação se faz com ciência: mapas, bússolas, coordenadas, meteorologia. Para a ciência da navegação é necessária a inteligência instrumental, que decifra o segredo dos meios. Barcos, remos, velas e bússolas são meios.

Já o viver não é coisa precisa. Nunca se sabe ao certo. A vida não se faz com ciência. Faz-se com sapiência. É possível ter a ciência da construção de barcos e, ao mesmo tempo, o terror de navegar. A ciência da navegação não nos dá o fascínio dos mares e os sonhos de portos onde chegar. Conheço um erudito que tudo sabe sobre filosofia, sem que a filosofia jamais tenha tocado a sua pele. A arte de viver não se faz com a inteligência instrumental. Ela faz-se com a inteligência amorosa.

A palavra amor tornou-se maldita entre os educadores que pensam a educação como ciência dos meios, ao lado de barcos, remos, velas e bússolas. Envergonham-se de que a educação seja coisa do amor-piegas. Mas o amor – Platão, Nietzsche e Freud sabiam-no – nada tem de piegas. O amor marca o impreciso círculo de prazer que liga o corpo aos objectos. Sem o amor tudo nos seria indiferente – inclusive a ciência.

Não teríamos sentido de direcção, não teríamos prioridades. A inteligência instrumental precisa de ser educada. Parte da educação é ensinar a pensar. Mas essa educação, sendo necessária, não é suficiente. Os meios não bastam para nos trazer prazer e alegria – que são o sentido da vida. Para isso é preciso que a sensibilidade seja educada. Fernando Pessoa fala, então, na educação da sensibilidade.

Educação da sensibilidade: Marx, nos Manuscritos de 1844, dizia que a tarefa da História, até então, tinha sido a de educar os sentidos: aprender os prazeres dos olhos, dos ouvidos, do nariz, da boca, da pele, do pensamento (Ah! O prazer da leitura!). Se fôssemos animais, isso não seria necessário. Mas somos seres da cultura: inventamos objectos de prazer que não se encontram na natureza: a música, a pintura, a culinária, a arquitectura, os perfumes, os toques.

No corpo de cada aluno encontram-se, adormecidos, os sentidos. Como na história da Bela Adormecida… É preciso despertá-los, para que a sua capacidade de sentir prazer e alegria se expanda.


in https://contadoresdestorias.wordpress.com/2012/02/19/caro-professor-rubem-alves/

Rubem Alves Gaiolas ou Asas - A arte do voo ou a busca da alegria de aprender

Porto, Edições Asa, 2004 (excertos adaptados)


sexta-feira, 24 de maio de 2019

Os alunos não podem continuar a ser meros recebedores de informação


Os alunos não podem continuar a ser meros recebedores de informação e nós, professores, não podemos continuar a ser meros funcionários’, não reflexivos e, ainda por cima, velhos e cansados.


Perante os acontecimentos da última semana, hoje escrevo com poucas certezas sobre o futuro da educação em Portugal. Após trinta anos de carreira numa escota da zona oriental da cidade de Lisboa onde, como em muitas outras, todos os contrastes da sociedade urbana se refletem, sei que irei continuar a trabalhar com uma população cada vez mais multifacetada, com graves carências socioeconómicas, famílias disfuncionais, vivendo em habitações precárias, com encarregados de educação na maior parte das vezes sem qualquer qualificação ou habilitação literária. É neste contexto de anacronismos e assimetrias que eu e milhares de professores por este país fora trabalhamos.
O ordenado de um professor deveria permitir-lhe - pagas as contas básicas obrigatórias (renda, transportes, alimentação, etc.) — um plafond para cultura (livros, cinema, teatro: concertos), uma vez que considero ser este um dos principais poderes de um professor. Num mundo em que tudo está acessivel através de um dique, é na cultura vivida. experienciada e partilhada que um professor pode fazer a diferença na vida dos nossos alunos, especialmente daqueles que a ela não têm acesso direto.
A única certeza que julgo possuir é esta: não é viável continuarmos alheios à necessidade de reculturaçãoda escola pública, através de novas formas de debate, ambicionando uma criatividade irreverente que nos permita a todos, alunos, professores, pais e outros parceiros, uma forma de viver mais feliz numa sociedade mais justa. Utopia, dirão. Não me parece A gestão curricular exige mudanças e adaptações urgentes, de forma a relançar o elo entre a escola e a sociedade numa perspetiva de adequação aos seus destinatários. A escola deveria ser capaz de proporcionar, paralelamente às aprendizagens comuns a todos, uma diferenciação que permita colmatar as diferenças cognitivas e culturais dos indivíduos. E sabem que mais? Isto não ocorre através de grelhas decorrentes de novos decretos.
A escola tem a obrigação de dotar os indivíduos de ferramentas que lhes permitam aprender ao longo da vida e não apenas durante os anos da sua escolaridade obrigatória. Numa época em que os processos de acesso à informação e ao conhecimento estão facilitados, qual será então a função do professor? A nova escola de que necessitamos exige que se ultrapassem todas as tradicionais resistências à mudança. Os alunos não podem continuar a ser meros recebedores de informação e nós, professores, não podemos continuar a ser meros funcionários’, não reflexivos e, ainda por cima, velhos e cansados. Parece-me claro que a qualidade da educação poder ser o único veículo que permitirá a Portugal competir numa Europa global e num mundo em que, cada vez mais, se valoriza o papel fulcral desempenhado pelas capacidades dos indivíduos para a resolução de problemas e adaptação a novas realidades e desafios.
É do conhecimento geral que uma sociedade iletrada falhará nos seus propósitos individuais, sociais e vocacionais. O mundo em que vivemos e a realidade que nos circunda não é exatamente aquela que se vive e se aprende nas escolas. Só de forma muito sincopada a mudança tem vindo a acontecer. E os seus efeitos também só a muito longo prazo surgirão. Importa que as escolas consigam dar o salto qualitativo para uma educação que viabilize a criatividade, a transformação, a criação e o saber, através de aprendizagens válidas e significativas para os alunos, contextualizadas e passiveis de transferência para novos contextos, de preferência reais. Resta-me deixar uma breve nota informativa aos políticos de Portugal: nada disto acontecerá sem os professores!

10.05.2019

quarta-feira, 6 de março de 2019

Professores ... HÁ SOLUÇÕES, SIM.




E se falarmos de soluções?

Porque é que o Governo anunciou a reabertura de negociações com os sindicatos da enfermagem e do ensino para logo a seguir as Finanças dizerem que não há dinheiro?

Francisco Louçã - Artigo publicado no jornal “Expresso” a 2 de março de 2019




É para mim um mistério o que quer o Governo com os conflitos na educação e na saúde. E, sobretudo, o que queria com a descompressão da semana passada, ao anunciar a reabertura em simultâneo de negociações com os sindicatos da enfermagem e do ensino, para logo vir fonte autorizada de Mário Centeno arrumar o assunto, envergonhar os seus colegas e comunicar via declaração ao Expresso que aquilo não era para ser levado a sério.
Podia ser força musculada
Tantos sinais contraditórios mostram pelo menos que nestas reuniões não se negociará. Mas porque é que o Governo atua assim, isso já pode ser interpretado de várias formas. A primeira seria que o Governo quer agravar os conflitos para correr tudo a eito com requisições civis, mostrar força, exibir algum quebra-sindicalismo, acenar a sectores moderados e disputar eleições com o maioria-absoluta-ou-morte. Essa interpretação tem credibilidade, ouviram-se ministros nesse tom e já me pareceu a mais sensata na análise desse comportamento insensato. Mas, se fosse assim, para quê tanta incerteza na gestão da requisição, logo confortada com um pedido de parecer a um Conselho Consultivo da Procuradoria? E para quê então esta operação de reabrir negociações? Ainda por cima, com professores e enfermeiros ao mesmo tempo, como se houvesse vontade de juntar todos na mesma agenda?
A segunda interpretação seria que o Governo se deu conta da impopularidade da arrogância, que é o seu ponto mais fraco para as eleições de 2019 e, ainda, que teria percebido que este rapapé de associações patronais e banqueiros a recomendarem a maioria absoluta do PS só pode estimular a fome partidária ao mesmo tempo que agrava a desconfiança, alargando o fosso entre o triunfalismo governista e o receio dos seus próprios eleitores. E que, então, mais valeria procurar paz nas escolas e nos hospitais. Mas, assim, para quê começar a falar com os professores para lhes explicar que não muda nem uma vírgula e que só conversa se os sindicatos aceitarem que o Governo lhes dite os termos da rendição?
E se for só tudo ao molho e fé em Deus?
O que há de comum em ambas as interpretações é que se baseiam em alguma forma de racionalidade e cálculo político ou eleitoral. Ora, resta a pergunta mais difícil: e se não houver nenhuma racionalidade? Se for unicamente um jogo flutuante em que cada ministro se limita a fingir? Esta é a hipótese mais assustadora. E com alguma consistência, dado que o Governo abre negociações e poucas horas depois a fonte de Centeno arruma o assunto com o “não há dinheiro”. É para ser notada a marcação do terreno, nada acontece por acaso. E logo o ministro da Educação diz na negociação que não há nada para negociar e a ministra da Saúde anuncia, essa mesmo antes da negociação que vai reabrir, que afinal não é para tratar de salários e carreiras porque a solução é ficar tudo como está.
Naturalmente, comparada com as duas hipóteses anteriores, a tremendista e a negocial, a do fingimento é a pior de todas. É sempre uma má política, porque a artimanha, como a frescura de uma rosa, só dura um dia, e porque deixa uma cultura de desconfiança em futuras negociações com estes ministros. A ministra da Saúde tem em mãos o dossiê sensível da Lei de Bases. O recado para o outro lado da mesa é que faz proposta se houver incêndio, mas que a proposta não é para ser considerada? É ainda uma política errada, porque não traz satisfação a ninguém: nem a quem quer conflito nem a quem quer paz. Nem o Governo se mostra forte, porque isto é fraqueza, nem se mostra capaz de resolver problemas, porque isto é o simples poder de recusar. E facilita a vida a quem se põe no lugar da negociação, sejam os sindicatos, sejam os partidos que queiram soluções. Mostrar duplicidade não é boa estratégia.
Ainda por cima, há soluções
O Governo já cedeu numa questão-chave, a do reconhecimento da especialidade em enfermagem, que nunca devia ter sido desgraduada. Há enfermeiras e enfermeiros que têm mesmo formação de especialista e são indispensáveis por isso mesmo. Assim, o Governo devia partir desse acordo tardio para criar agora uma plataforma de entendimento. E montar ao longo dos próximos anos os ajustamentos de carreira que aproximassem todas as profissões qualificadas na saúde, dado que as discriminações são incompreensíveis. Tem com quem falar e tem com quem fazer esse acordo. Mais ainda, o SNS precisa disso, ou algum ministro pensa que vai aguentar a contestação permanente de um dos pilares mais importantes do serviço?
Nos professores, os sindicatos não exigiram retroativos. Mas não aceitam que os nove anos sejam apagados das vidas das pessoas. Por isso, sugeriram dois caminhos: a recuperação do seu direito legal de contagem do tempo de serviço ao longo de sete anos e a sua ponderação na reforma. Não se tratou da combinação das duas mas até nem é difícil de adivinhar por onde se poderia ir. Seria sempre um acordo difícil mas não se pode dizer que seja impossível.
Restam dois problemas. O primeiro é que compete ao Governo dar o passo para uma solução. Se é para fingir, está a fazer tudo certo. Mas, se é para resolver, então uma ideiazinha seria interessante. O segundo é que isto custa dinheiro, só que ao longo de um tempo que o Governo diz que terá que ser o da melhoria do nível dos serviços públicos. E se também pusesse em cima da mesa propostas nesse sentido?

Artigo publicado no jornal “Expresso” a 2 de março de 2019


Francisco Louçã
Professor universitário. Ativista do Bloco de Esquerda.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Professor Marcelo Rebelo de Sousa e a luta dos professores


O Presidente da República vetou o diploma do governo que previa a devolução de apenas dois anos, oito meses e dezoito dias do tempo de carreira congelado aos professores entre 2011 e 2017.

Na carta dirigida ao primeiro-ministro e citada no site da Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa lembra que O Orçamento do Estado para 2019 prevê que a questão da devolução do tempo de serviço congelado para efeitos da carreira dos professores seja objeto de processo negocial sindical.
“Assim sendo, e porque anteriores passos negociais foram dados antes da aludida entrada em vigor”, afirma a carta enviada do Palácio de Belém, O Presidente devolve o diploma ao governo “para que seja dado efetivo cumprimento” ao artigo do Orçamento que prevê mais rondas negociais a partir de 1 de janeiro de 2019.
O veto de Marcelo vem ao encontro das reivindicações dos professores e teve também em conta a situação nas Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores, onde foi contabilizado todo o tempo de carreira congelado, ao contrário do que o governo nacional e o Ministério da Educação propõem.


in https://www.esquerda.net/artigo/professores-marcelo-veta-devolucao-parcial-do-tempo-de-servico/58773

sábado, 6 de outubro de 2018

As profissões infernais



Para além de outros disparates e fake newsa minha “biografia” na Wikipédia começa com a seguinte frase: “É professor do ensino secundário.” Como se sabe, a Wikipédia é um lugar de muita vingança e má-fé e quem a escreveu usa a expressão “professor do ensino secundário” como um mecanismo de desvalorização, porque sabe muito bem de que grau de ensino fui professor, até porque acrescenta mais abaixo “também leccionou no ISCTE — Instituto Universitário de Lisboa e em instituições de ensino particular; nomeadamente na Universidade Autónoma de Lisboa”. Ou seja, trata-se de um “professor de ensino secundário” que leccionou na universidade, certamente por grande favor. Como eu não quero saber da minha página da Wikipédia para coisa nenhuma, nunca corrigi nada. Corrijo mais facilmente quando me tratam por professor doutor, que não sou, para não correr o risco de ser incluído na escola Sócrates-Relvas de abuso de classificações académicas.
Se a intenção é usar a expressão “professor do ensino secundário” como classificação pejorativa, estão bem enganados. Fui de facto professor do ensino secundário com muita honra e fiz a diáspora habitual dos professores, dei aulas em Vila Nova de Gaia, Coimbra, Espinho, Boticas e no Porto e aprendi muito mais nesse deambular do que na universidade. Por uma razão muito simples: é que já era então muito mais difícil ser professor do ensino secundário do que universitário. E a realidade é que, quer num quer noutro grau de ensino, as coisas pioraram muito desde esses anos.
Por isso escrevo hoje sobre os professores do ensino secundário, e por extensão sobre todos os professores. Não é pela sua luta sindical, nem por causa das manifestações, nem por nada dessas coisas, embora também seja. É pelo vilipêndio demasiado comum da condição de professor, de ser professor, como se fosse um lugar de comodismo, salários altos, trabalho confortável e nada desgastante. Não estou a falar das escolas e colégios privados que podem escolher quais são os seus estudantes, à força de dinheiro e da facilidade de afastarem quem não querem, estou a falar da escola pública, um pouco por todo o país, mas com maior relevo nos locais mais pobres, onde as famílias estão desestruturadas, onde a violência é endémica, onde há gangues e bullying como regra, onde tudo é precoce e nada é maduro.
É que o problema não é o dos adolescentes de hoje, é também o dos pais dos adolescentes de hoje, parte deles também professores, normalmente os mais hostis aos seus colegas. O problema é uma sociedade que deixou todos os problemas, de raça, de exclusão, de pobreza, de marginalidade, de droga para a escola e na escola para os professores. As famílias demitem-se e acham que é a escola que lhes deve socializar os filhos com um mínimo de “educação” e, como isso, não acontece atiram-se contra os professores. Não é preciso ir mais longe do que a absurda prática de deixar levar telemóveis para as aulas, sabendo-se como se sabe que não há qualquer utilidade no seu uso, e que servem apenas para uma nova forma de se estar “agarrado”. A completa falta de qualquer autoridade nas escolas torna-as um falanstério de ruídos, perda de atenção, violação da privacidade e crime, em que o comodismo dos pais, e a sua idêntica falta de autoridade, isola a função de ensinar de qualquer utilidade social. A escola perdeu a sua função e, no meio de tudo, estão professores sitiados no meio de um inferno cheio de hormonas sem regras. Não admira que seja das profissões que mais frequentam psiquiatras e psicólogos e que ardem mais depressa do que o pavio de uma vela curta. Venham pois hipocritamente atacar os professores, esses preguiçosos privilegiados.
Uma questão interessante de discutir em democracia é a de saber que critérios devem existir para pagar salários mais elevados e se um dos fundamentais não é a dificuldade no exercício da profissão. Se um homem do lixo, que faz um trabalho que ninguém quer, se um mineiro, que tem um trabalho duríssimo, não deveriam ganhar muito mais do que um burocrata ou mesmo um trabalhador qualificado ou um gerente bancário ou um técnico de informática? E carregar sacos e caixas de cerveja, ou passar o dia a abrir valas debaixo de um sol impiedoso nas ruas da cidade? A resposta habitual é que as qualificações significam “valor” e produtividade, e é verdade. Mas devem esses serem os critérios principais na atribuição de um “valor” no salário? O “valor” económico deve sobrepor-se à “justiça” social? Não é uma questão fácil de responder, mas merece ser discutida. E é por isso que eu nunca alinho nessa lenda de que os professores são uns privilegiados e que não merecem o parco salário que ganham. Experimentem ir para Almada ou para Campanhã ou para o Seixal ou para Sacavém ou para Setúbal dar aulas a alunos e alunas de 13, 14, 15, 16, 17, 18 anos…

José Pacheco Pereira

O protesto dos professores contra Centeno e contra Costa



Grande ação de protesto em Lisboa, com professor@s vindos propositadamente do Norte, do Centro, do Interior, do Alentejo, do Algarve...
Levantaram-se às 5 ou 6 da manhã para se manifestarem contra este roubo, este crime, esta injustiça que o Centeno e o Costa continuam a cometer para com os professores: 9 anos, 4 meses e 2 dias que querem que apaguemos da nossa vida profissional como se nunca tivessem existido.
Envergonham-me os colegas que, aqui tão perto (Lisboa, Setúbal e não só), e que apesar de cientes dessa injustiça, pouco ou nada fazem para mostrar a sua indignação, aguardando com expectativa que a luta e o sacrifício dos outros os vá beneficiar também... como o costume. 😬
Vivemos num país livre, é o que muitos me dizem, no entanto, se livres somos é aos que "foram à luta" que o devemos. 

Nazaré Oliveira

sábado, 23 de junho de 2018

Professores em luta


A RTP notícias on-line, refere que o ministro da Educação desafiou os sindicatos dos professores a regressarem à mesa de negociações, e que o apelo de Tiago Brandão Rodrigues surge numa altura em que a paralisação dos docentes já levou ao adiamento de milhares de reuniões de conselhos de turma e com muitos alunos a realizarem os exames sem nota atribuída.

Desafiou os sindicatos? Há quanto tempo andam os sindicatos a solicitar ao governo que reponha a legalidade e cumpra a sua palavra? Há quanto tempo anda o governo a responder com evasivas e a não querer restituir aos professores o que aos professores deve?

Nesta classe laboral - os professores - muit@s têm sido os que, com sacrifício e determinação, têm estado nesta luta pelos seus direitos legítimos roubados há quase 10 anos, como se nesse período tivessem estado "a fazer de conta" ou sequer desaparecido.
Nesse tempo, que o governo pretende apagar, os professores trabalharam com afinco, seriedade e dedicação. Os professores mantiveram as escolas a funcionar honesta e responsavelmente, certos, porém, de que jamais alguém iria utilizá-los como, pelos vistos, utilizaram, como se pode concluir pelas afirmações que têm sido proferidas, pelo menos, ao longo destas últimas semanas.
Muitos portugueses, paradoxalmente, continuam a considerar que os professores são efetivamente importantes na sociedade e que ser professor é uma das profissões mais nobres e uma das mais nobres missões, no entanto, quando estão em luta, sejam associações de pais, Confederações de Pais, associações de estudantes ou até simples cidadãos, não lhes poupam as suas críticas mordazes e a sua cáustica apreciação.
Professores, sim, mas caladinhos, como no salazarismo, a guardar as crianças, a “comer e calar”...
É triste, passados 44 anos, continuarmos a ver tratados, de forma hostil e claramente desrespeitosa, peças-chave da formação e do progresso de um país.
A acrescentar a esta revolta, a esta indignação, o estaticismo e o conformismo de colegas de trabalho que se encostam despudoradamente às lutas que travamos (e temos travado) para da mesma usufruir (como sempre), agarrados que estão a princípios estranhos de uma estranha apatia que tanto mal nos tem causado, a nós, professores, e à própria democracia. 

Já agora, para quem não sabe ou critica sem saber*:
1. Os professores não progridem automaticamente nem apenas com base no tempo de serviço. Existem numerus clausus  (na progressão aos 5.º e 7.º escalões) e existe avaliação dos professores para mudar de escalão (mínimo de Bom, com observação de aulas no trânsito para o 3.º e 5.º escalões), além da obrigação de frequentar com aproveitamento ações de formação;
2. Com o que foi dito no ponto anterior, muitos professores nunca chegarão a escalões superiores;
3. Grande parte dos professores está há mais de uma década no primeiro escalão da carreira, mesmo tendo sido avaliados com Bom, Muito Bom ou Excelente, frequentado com classificação ações de formação, entre outros;
4. Os professores deste país não ficam de férias assim que as aulas acabam! Se assim fosse quem é que atribuía as notas? Quem é que realizava os Conselhos de Turma? Quem é que fazia os horários? Quem é que fazia as planificações e articulações curriculares? Quem preparava o ano letivo seguinte? Tudo isso é feito durante o mês de julho e em alguns casos em agosto;
5. Os professores só podem ter férias no mês de agosto, o que muitas vezes prejudica a sua vida pessoal, como é fácil compreender;

Nazaré Oliveira


Para saber mais, consultar:

https://www.dn.pt/portugal/interior/quem-tem-razao-na-luta-dos-professores-juristas-divididos-9412071.html
https://www.esquerda.net/opiniao/professores-em-tempo-de-uniao-e-luta/55758*
https://www.spgl.pt/em-defesa-das-suas-carreiras-professores-voltarao-a-luta

https://www.spgl.pt/greve-de-hoje-foi-um-importante-momento-de-uma-luta-que-os-professores-irao-continuar

terça-feira, 19 de junho de 2018

Ministro da Educação



Continuam a colocar pessoas à frente do Ministério da Educação sem saberem, minimamente, o que se passa nas escolas e o que se tem passado com os professores.
Um Ministro da Educação tem que conhecer, NO TERRENO, quer escolas quer professores quer alunos.
Muitos deles nem uma aula deram!
Só tecnocratas (e maus), que cada vez mais infernizam o dia a dia de quem ensina.
Só faltava, agora, não considerarem quase 10 anos na carreira dos professores! Apagá-los, como se tivéssemos estado a fazer de conta...


Com que direito? 

Nazaré Oliveira

Rui Rio e os professores




No PÚBLICO de hoje, 19 de Junho, Rui Rio acha que o país não está em condições para contar todo o tempo aos professores.
Brincalhão! 
O brincalhão acha que quem trabalhou e cumpriu as suas obrigações ... Nada! Não conta para nada! Que esse tempo é para esquecer, como se fosse um fazer de conta... 
Como é possível tanta má formação e ignorância? 
Brincalhão!
O país não está em condições para contar todo o tempo aos professores mas tu, ó Rui Rio, estavas em condições de lhes pedir o voto nas próximas eleições!
Brincalhão!
Não faltava mais nada, pois não?

Nazaré Oliveira

domingo, 4 de fevereiro de 2018

Ranking das escolas portuguesas



Título do artigo: 
Os rankings escolares são como as omeletes – Alexandre Henriques

Por Rui Cardoso in http://www.arlindovsky.net/2018/02/opiniao-os-rankings-escolares-sao-como-as-omeletes-alexandre-henriques/



Os rankings escolares são como as omeletes
Em primeiro lugar, quero agradecer ao jornal PÚBLICO este exercício de liberdade, em segundo lugar, reconhecer que os seus profissionais passaram horas e horas a analisar resultados para que todos nós conhecêssemos os rankings escolares.

Caros jornalistas e leitores, permitam-me a provocação…

Qual é a diferença entre a escola 320 e a escola 381 (garanto-vos que nem fui ver quais são!)? Será que a escola 320 é melhor, efetivamente, do que a escola 381? Atenção que ao dizer escola não me refiro a um dado momento cristalizado num exame mas sim a toda a comunidade escolar feita de alunos, professores, pais, encarregados de educação, funcionários e diretores. É que os rankings, direta ou indiretamente, passam uma imagem simplista e extremamente redutora – a escola 320 é melhor do que a escola 381.

Os rankings são imagem, os rankings são ego, os rankings são humilhação, os rankings são uma parte ínfima da realidade. Não acreditam?

Pois bem… os rankings mostram o aluno que gastou centenas de euros em explicações?

Os rankings mostram o aluno que esteve exposto ao frio e ao calor, quer na escola, quer em casa?

Os rankings mostram o aluno que sofreu privações de todo o género?

Os rankings mostram o aluno que assistiu ao pai bater na mãe, aos irmãos que teve de cuidar, enquanto abdicava do seu tempo para se preparar devidamente para o exame?

Os rankings mostram o aluno que teve como colegas alunos indisciplinados ou professores que não conseguiram dominar a turma?

Os rankings mostram o aluno que esteve inserido em turmas pequenas/grandes?

Os rankings mostram o aluno que não teve professor durante semanas/meses?

Os rankings mostram o aluno que anulou a matrícula?

Os rankings mostram o aluno retido?

E podia continuar…

Lembro-me, como se fosse hoje, de uma conversa que tive com um diretor que, tendo visto a sua escola subir em flecha nos rankings escolares, disse: “Alexandre, preferia mil vezes não ter uma taxa de reprovação de 30% no secundário, do que estar aqui a ser contactado pela comunicação social sobre o brilharete de ser subido umas centenas de lugares no ranking”.

Este ponto é muito importante e seria muito interessante colocar uma coluna com a percentagem de alunos retidos ou mesmo a percentagem de alunos que concluíram a escolaridade obrigatória sem qualquer reprovação.

E o que dizer da comparação, incomparável, da classificação externa com a interna? Talvez a população em geral desconheça, mas a classificação interna resulta do somatório de uma parcela que avalia o conhecimento – 60, 70, 80 % da nota total – a uma parcela que avalia atitudes e valores – 40, 30, 20% da classificação total. A classificação externa, ou seja, os exames, avaliam somente o conhecimento que, nessa situação, tem um peso de 100%. Então por que raio comparam as duas avaliações? Se nem os critérios de avaliação interna são iguais entre escolas?!

Portanto, comparar o que não é comparável é um absurdo total, uma falácia, ou como se costuma dizer na política, uma não verdade.

A escola é muito mais, mas mesmo muito mais do que uma pauta. Enquanto professor, valorizo tanto aquele aluno que supera as suas dificuldades para atingir uma classificação positiva como aquele que atinge uma classificação elevada. Tudo depende do ponto de partida, mas ambos estarão de parabéns!

Os rankings tornaram a escola escrava dos exames, tudo gira à sua volta. Os rankings e os exames deturpam aquilo que é essencial e a verdadeira obrigação da escola, ensinar/aprender, formando, indo ao encontro das caraterísticas individuais dos alunos, tornando-os melhores e mais preparados para a sociedade em geral. Os rankings e os exames tornaram-se um espetáculo mediático numa sociedade que transformou a Educação num negócio, onde se compara aqueles que têm os melhores ovos com aqueles que nem têm supermercado para os comprar…


Os rankings estão a mais, prejudicam a escola, uma escola que é de todos e devia ser defendida por todos.


sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Inadmissível o que o Ministério da Educação quer continuar a fazer aos professores!



Governo quer apagar tempo de serviço
O Governo, que, no âmbito do descongelamento das carreiras, irá considerar todos os anos de serviço convertidos em pontos, relativamente à carreira docente pretende apagar esse tempo de serviço que foi cumprido, ainda que as progressões, nesse período, estivessem bloqueadas.

O que afirmam os responsáveis das Finanças
“Quando estabeleceu o congelamento, o legislador disse duas coisas: nas carreiras que tenham pontos eles serão contabilizados, nas carreiras cujo elemento determinante seja o tempo, o tempo é congelado e não conta” – Secretária de Estado da Administração Pública, entrevista ao Público, em 17.10.2017.

O que aconteceu na reunião negocial nas Finanças (12/10)
Em 12 de outubro, em reunião no Ministério das Finanças, a mesma Secretária de Estado, para além de confirmar a intenção de não contar o tempo de serviço congelado (30 de agosto de 2005 a 31 de dezembro de 2007 e 1 de janeiro de 2011 a 31 de dezembro de 2017), confessou desconhecer aspetos específicos da carreira docente, designadamente o pretendido com o artigo 36.º da proposta de lei do Orçamento, que não é claro mas poderá destinar-se a aumentar, ainda mais, a permanência dos professores nos escalões em que se encontram, prolongando, na prática, o congelamento, de terminar para as restantes carreiras.

Os compromissos das Finanças e o “jogo do empurra” com a Educação
Ainda em 12 de outubro, a Secretária de Estado garantiu à FENPROF que o já citado artigo 36.º da proposta de lei orçamental seria retirado e que a negociação específica da carreira docente passaria para o ME, onde as Finanças se fariam representar. Na sequência desta informação, ainda no dia 12, a FENPROF propôs ao Ministro da Educação uma reunião para 16. Este respondeu à FENPROF, no dia 13, garantindo que não iria agendar qualquer reunião e acusando-a, com o pedido de reunião, de estar a causar ruído e a pôr em causa a estabilidade e o clima de confiança. Pretenderia o ministro que a FENPROF ignorasse ou calasse a intenção do Governo.

Professores são o grupo profissional mais penalizado
A não contagem dos anos de congelamento e a não recuperação de todo o tempo de serviço, designadamente o que, em excesso, foi cumprido nos escalões da carreira por imposição de regimes transitórios ou por força da retenção no 1.º escalão dos docentes que ingressaram na carreira após 2009. Os professores e educadores são mesmo dos grupos profissionais mais penalizados, perdendo, mensalmente, centenas de euros.


Alguns exemplos de situações diversas de carreira:



Notas:

1. Todos os colegas que ingressaram na carreira no ano de 2013 e seguintes estão retidos no 1.º escalão pelo que o valor em perda deverá ser contado a partir do salário correspondente (1.518,63 €).

2. Para calcular a perda anual deverá multiplicar-se por 14. Por exemplo, um docente com 16 anos de serviço em 2017 perde anualmente 7.765,99 euros; com 30 anos de serviço em 2017 perde 12.943,14 euros.

Salários não são atualizados há 8 anos
Os professores não têm qualquer revisão (atualiza- ção) salarial desde 2009. Acresce que entre 2011 e 2016 tiveram os seus salários reduzidos. Há 7 anos que as progressões na carreira estão congeladas e apesar de a permanência em cada escalão, por norma, ser de 4 anos, os professores estão sem progredir entre 7 e 15 anos. Não obstante todos estes “castigos”, o Governo pretende apagar, pelo menos, uma década de serviço cumprido, o que, a não ser alterado, constitui uma inaceitável discriminação em relação a outras carreiras.


As exigências da FENPROF

 1. Resolução, ainda em 2017, de todos os problemas de carreira que persistem (fim da retenção no 1.º escalão; acesso aos 5.º e 7.º escalões; reposicionamento por formações acrescidas);

2. Descongelamento efetivo, e não apenas simbólico, em janeiro de 2018;

3. Negociação com vista à recuperação dos 9 anos e 4 meses “congelados” e contagem integral do tempo de serviço (incluindo os anos perdidos por aplicação dos regimes transitórios).


Aplicação de faseamento

A FENPROF só admite o faseamento para recuperação do tempo de serviço. Nesse sentido, e para levar à mesa negocial, coloca duas hipóteses:

1. Contagem integral do tempo de serviço, à cabeça, aceitando-se o faseamento em dois anos, em tranches de 25%, calculadas a partir do salário que é devido ao docente;

2. Progressão de acordo com o que deveria ter acontecido em 2011 (apenas para o escalão seguinte), com pagamento integral dessa progressão e negociação de recuperação faseada dos anos em falta.


Pela proposta do Governo, qual seria o acréscimo salarial em 2018?
Seria diferente caso a caso, porém, a maioria dos professores não teria qualquer acréscimo. Se o Governo aplicasse norma que aumentasse tempo de permanência nos escalões, então, o número dos que teriam algum acréscimo seria residual.

Dois exemplos:

1. Um professor com 10 anos de serviço, apesar da perda mensal de 345,56 euros, manter-se-ia exatamente na mesma, ou seja, o descongelamento, para si, não produziria qualquer efeito prático;

2. Um professor com 20 anos de serviço (meio da carreira), que perde mensalmente 518,33 euros teria em 2018, a partir do momento em que reunisse os requisitos de tempo de serviço para a progressão, um acréscimo salarial de 38,64 euros. Ou seja, 92,6% do acréscimo salarial a que tem efetivamente direito manter-se-ia, na prática, “congelado”. Além disso, perderia para sempre os anos de serviço que foram “congelados”, ainda que tenham sido cumpridos.

Nota:

Este professor, com 20 anos de serviço, se tiver 45 anos e não tiver qualquer perda de tempo de serviço até se aposentar, só atingiria o topo da carreira aos 71 anos e seria necessário que no acesso aos 5.º e 7.º escalões obtivesse vaga logo que reunisse os requisitos de mudança. Ora, a idade limite para o exercício da profissão são 70 anos.


Só lutando se poderá obter resultados que são justíssimos Esta proposta do Governo é inaceitável! Não é justa, nem séria! Esta proposta do Governo merece a nossa reprova- ção e a nossa mais determinada luta!


27 de outubroGreve Nacional dos Professores e Educadores, em convergência com toda a Administração Pública


15 de novembro – Dia Nacional de Luta dos Professores e Educadores na data em que o Ministro da Educação estará no Parlamento em audição sobre o Orçamento da Educação para 2018
Sempre que o Ministro visitar uma escola – Interpelação do Ministro e protesto.


SPGL/FENPROF