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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Movimento liderado por homens quer que Mutilação Genital Feminina volte a ser permitida na Guiné-Bissau



Incrível! 

Parlamento guineense aprovou em 2011 uma lei que proíbe a excisão, mas agora há um movimento que quer abolir essa legislação. E já entregou um abaixo-assinado no parlamento Um álbum de fotografias está em cima da mesa e não se deve abrir. "Essas imagens impressionam e já puseram muitas 'fanatecas' a chorar", conta Fatumata Baldé. 

As "fanatecas" são as mulheres que fazem a excisão a outras mulheres. O álbum mostra os ferimentos e malformações que surgem mais tarde às que foram sujeitas à Mutilação Genital Feminina (MGF) e aos seus filhos. 

Quando ainda alguém tem dúvidas sobre os males provocados pela MGF, "logo desaparecem ao ver estas fotografias", descreve.

Fatumata lidera o Comité Nacional para o Abandono das Práticas Nefastas na Guiné-Bissau que tem levado "fanatecas" de todo o país a abandonar a atividade. 

A Assembleia Nacional Popular (ANP) guineense aprovou em 2011 uma lei que proíbe a excisão, mas agora há um movimento liderado por um punhado de homens que quer abolir essa legislação. 
Para o efeito, este grupo já entregou um abaixo-assinado no parlamento, em que dizem reunir 12 mil subscritores que querem que a MGF volte a ser uma prática livre. 
Porquê? Iaia Rachido, 64 anos, acredita que a excisão "não faz mal a ninguém". E se lhe pedissem para cortar nele próprio? Diz que "não", que não deixava. "Mas nas mulheres também não se corta tudo: cortam um pouco, como o profeta ensinou". 

Para este homem, que dirige uma mesquita em Bissau e é filho de um "sábio" muçulmano, a mutilação é um corte com medida divina - e quando confrontado com ferimentos, casos de morte provocada pela excisão ou com a interpretação do Corão (livro sagrado muçulmano) livre do corte, diz que tudo isso "não corresponde à realidade". 

Desvaloriza também as cartas e convenções internacionais (das Nações Unidas e suas agências, como a Organização Mundial de Saúde, entre outras entidades) que condenam a prática.

"Quando há americanos ou europeus que fazem uma regra, toda a gente vai atrás da regra", queixa-se, considerando, por isso, que essas convenções não deviam ser consideradas universais. 

Para ele, não deve ser assim e chega a dar um exemplo que contraria a carta dos Direitos Humanos. "Fala do direito da criança em escolher a religião, mas nós, muçulmanos, não nos importamos com isso". Mesmo que se diga que a lei é para toda a gente, "eles sabem quem é que pratica isto", refere Iaia Rachido, apontando o dedo ao poder político. 

Por outro lado, "na Guiné-Bissau há crimes de droga, de sangue e corrupção. Até à data ninguém foi julgado, mas há duas senhoras que estão a cumprir pena por praticarem a excisão". 
"Deviam prender primeiro aqueles que cometeram crimes mais graves", acrescenta.

Não há argumentos que demovam Iaia Rachido. A conclusão é sempre esta: "no nosso entender [a MGF] é obrigatória", de acordo com os preceitos religiosos e com a tradição em que se incluem mães, irmãs e até as cinco filhas de Iaia. Mas "pode haver quem entenda que é facultativo".

"Quem quiser faz, quem não quiser, não faz" e o movimento até aceita isso, mas o objetivo é acabar com a proibição: "vamos continuar pela via legal, longe da violência, para conseguir a abolição desta lei".

Apesar de desvalorizar a importância dos intervenientes, Fatumata Baldé considera gravíssima a posição assumida pelo grupo e pede a intervenção do Procurador-Geral da República (PGR) da Guiné-Bissau.

"O PGR devia chamar esse senhor para lhe perguntar o que se está a passar", porque está a instigar a população "contra uma lei adotada por um Estado. Ele merece ser chamado ao Ministério Público". "Estamos num país democrático em que cada um pode expressar-se livremente, mas sem contrariar as leis", sublinha.

Fatumata Baldé acredita que a oposição à excisão na Guiné-Bissau e a caminhada com vista à sua erradicação já chegou a um ponto sem retorno: a lei passou no parlamento quase por unanimidade e a os principais líderes islâmicos rejeitam que a religião obrigue à MGF.

Os mais recentes indicadores revelam uma diminuição da prática, apesar de continuar a ser expressiva.

Segundo o Inquérito aos Indicadores Múltiplos (MICS) de 2010, promovido pelo Governo e Nações Unidas, a excisão afetava metade (50%) das mulheres da Guiné-Bissau com idades entre os 15 e os 49 anos, valor que desceu para 45% no MICS 2014.

Há um senão: com medo da lei, há cada vez mais pais a sujeitar as filhas à MGF quando ainda são bebés, para haver menos possibilidades de denúncia. E aos recém-nascidos nada resta senão depender dos adultos, num país onde ainda se defende a mutilação.


in http://www.dn.pt/globo/interior/movimento-quer-que-mutilacao-genital-feminina-volte-a-ser-permitida-na-guinebissau-4752775.html






quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Abutres perante a sua própria morte


Os abutres são importantes para o equilíbrio dos ecossistemas.

Todos os animais são importantes para o equilíbrio dos ecossistemas.

sábado, 6 de junho de 2015

Balada para a Ilha de Moçambique





BALADA PARA A VELHA ILHA

«Horas mortas, quando o luar passeia,
As brancas tranças desfeitas, pela areia,
Há sombras do passado a deslizar
Por entre os muros, no cimo dos portais,
Nas rochas e nas pedras carcomidas,
Contando histórias velhas, já perdidas
Na distância e na bruma do não-mais.
Tinem ferros, há vozes e canções,
Soluços e murmúrios de orações
(Há quem afirme e teime que é o mar... )
Subindo em espirais feitas de mistério
Ao encontro dos passos de quem passa.

Ecos dispersos de um longínquo império,
roçar de sedas nos salões desertos
dos seculares palácios sem vivalma.
E dizem que de túmulos abertos
Surgem guerreiros, bispos e donzelas

Que vão depois seguindo, à luz da lua,
Tacteando as paredes, rua em rua,
Até que a aurora venha e se debruce
Em rubores de menina, pelas janelas.

E dizem mais... e contam... e afirmam...
(Bem sei que é lenda. É lenda e fantasia
— Mas que seria a vida sem o sonho
E que seria duma velha ilha
Sem o perfume, a estranha maravilha,
Da lenda a envolvê-la em poesia? )»



Guilherme de Melo

domingo, 10 de maio de 2015

Albinos vítimas de "caça cruel"

foto : IRIN/Helen Blakesley

Foto: Reprodução/DailyMail




A crença de que poções feitas com corpos de pessoas albinas trazem sorte e riqueza alimenta um comércio cruel na Tanzânia.

Os albinos deste país vivem em constante ameaça de morte, podendo, a qualquer momento, ser vítimas de verdadeiras "caçadas".

Os compradores de albinos chegam a pagar o equivalente a R$ 200 mil pelo corpo inteiro de uma pessoa e, muitas vezes, o "negócio" é fechado pelas próprias famílias das vítimas.
Quando o ataque não é mortal, essas pessoas (albinas) perdem membros que valem cerca de R$ 10 mil, de acordo com informações do jornal britânico Daily Mail.

O albinismo é um distúrbio congénito caraterizado pela ausência de pigmento na pele, cabelos e olhos, devido a uma deficiência na produção de melanina pelo organismo.
É um distúrbio muito raro no ocidente mas bastante comum na África Subsaariana e noutros países africanos.

Nos últimos anos, houve várias iniciativas para tentar consciencializar a população e romper preconceitos e superstições em torno do albinismo.
O governo da Tanzânia lançou campanhas para isso mas o problema persiste, especialmente nas regiões mais remotas do país.



Recomendo esta leitura:

terça-feira, 21 de abril de 2015

Mais uma tragédia nas costas da Líbia - Chega de condolências hipócritas





O que separa os fortes dos fracos é fazer as coisas acontecer. E a Europa não está a fazê-lo. Talvez um dia perceba que é por estas e por outras que abdicou da sua relevância internacional.
Na semana passada, afundou-se uma embarcação de migrantes, 24 horas após a sua partida da costa da Líbia, estimando-se 400 mortes. Foi mais um caso, numa longa série de naufrágios no mar Mediterrâneo, convertido em cemitério de gente que fracassou na fuga à má sorte de uma vida sem condições ou dignidade. Mas foi também uma desgraça maior do que a de Lampedusa, em 2013, quando morreram 360. À época, gerou-se um intenso debate e generalizou-se a convicção de que se impunha uma resposta europeia. Desta vez, foi uma notícia como outra qualquer, daquelas que narram desastres longínquos. Só agora, com a informação de um outro naufrágio que consumiu 700 vidas, talvez mais, o assunto penetrou definitivamente na agenda. A rotina do horror tornou-nos indiferentes?
Os discursos dizem que não. Ontem, o Papa Francisco e líderes europeus assinalaram a urgência do drama, comprometeram-se com medidas rápidas e propuseram uma reunião de emergência. Mas, infelizmente, as acções sugerem que sim, que essa indiferença ganhou raízes na política europeia. Em 2013, após Lampedusa, surgiu o programa Mare Nostrum, com a missão de patrulhar as águas e salvar vidas. Hoje, esse programa foi descontinuado e arrumado nos arquivos. Durou pouco, não pelos resultados mas porque custava muito dinheiro – cerca de 9 milhões de euros/ mês. No seu lugar, emergiu uma versão low-cost, com proporcional redução do perímetro de acção, mais próximo da costa italiana e mais longe dos pontos críticos de naufrágio. Isto enquanto se observa um aumento dos fluxos migratórios de gente desesperada por escapar de uma Líbia desfeita e tornada viveiro de todo o tipo de tráfico e terrorismo. Tudo somado, as consequências estão à vista: morreram este ano mais de mil pessoas a atravessar o Mediterrâneo, vinte vezes mais do que em igual período do ano passado (47). Podemos até questionar a fiabilidade dos números – muitos terão morrido no anonimato, longe de tudo e todos e destas estatísticas. Não podemos é fingir que a Europa está a conseguir lidar com a situação.
Haverá muitas razões que justifiquem essa incapacidade, até porque este é um tema complexo e sem resolução simples. Mas reconhecer essa complexidade não é o mesmo do que aceitar o ser difícil como legitimação para a inacção política (ou para a tradicional opção europeia de empurrar os problemas com a barriga). Neste caso, a raiz do impasse é também outra: a Europa vive paralisada pela crise, pela necessidade da gestão delicada dos vários orçamentos nacionais e pelo receio da afirmação de partidos populistas de direita anti-imigração. É difícil imaginar um cenário pior para se lidar com migrantes náufragos: ninguém quer acarretar com custos financeiros e ninguém quer assumir os custos políticos de acolher imigrantes numa Europa onde a imigração é, lamentavelmente, cada vez mais o tema sensível em que se evita tocar. É uma tempestade perfeita. Mas é uma intempérie que a Europa tem de atravessar. Afinal, não estão apenas milhares de vidas em risco, mas também a credibilidade europeia no contexto da ordem internacional: o que vale a Europa se a defesa dos seus valores nunca saltar dos discursos para a realidade?
É esse o desafio que está na mesa a ganhar pó: através da acção política, reconhecer que a tragédia diária que nos chega pelo mar é um problema moral e político dos europeus, não apenas uma maçada logística que, por coincidência geográfica, acontece às portas da Europa. E é este o embaraço a que se assiste. A Europa reconhece a gravidade da situação, sabe o que deve e o que tem de ser feito mas, entre o medo dos populismos e a falta de força, só o fará quando não tiver alternativas. Quando se sentir obrigada a admitir que esta é mesmo uma questão europeia, que testa a capacidade dos Estados-membros da UE para implementar aquilo que apregoam – a defesa incondicional dos direitos humanos e da dignidade humana. Até lá, recorre-se à técnica do penso-rápido – não resolve, mas ajuda. E isso, obviamente, não chega.
Falar é fácil, dar lições de moral também, mas o que separa os fortes dos fracos é fazer as coisas acontecer. E a Europa, amarrada pela crise e pelos populismos anti-imigração, não está a fazê-lo. Talvez um dia os europeus percebam que é por estas e por outras incapacidades que abdicaram da sua relevância (política e moral) na ordem internacional. Agora, enquanto se espera que a Europa reúna e decida se tem ou não a coragem para fazer a diferença, resta cruzar os dedos e ir fazendo as contas: quantos mais terão de morrer no Mediterrâneo até que a Europa assuma as suas responsabilidades?



Alexandre Homem Cristo 
in http://observador.pt/opiniao/quantos-mais-terao-de-morrer-no-mediterraneo/




Mais sobre este assunto:
http://observador.pt/explicadores/morrem-tantas-pessoas-no-mediterraneo/

Política europeia para refugiados é fragmentada



quinta-feira, 16 de abril de 2015

As meninas da Nigéria






Foi há um ano que ficámos chocados por terem sido raptadas durante a noite 276 meninas na Nigéria. Já tinha havido notícias de raptos, mas o número nunca fora tão elevado.
Desde então, em vez do resgate das crianças, soubemos que, pelo contrário, foram raptadas muitas mais e que foram mortas centenas de crianças e professores em escolas da Nigéria.

Que tempos negros estes em que a violência recrudesce e parece não ter fim!

A chamada comunidade internacional só intervém rapidamente quando há petróleo. 
Que mundo este em que vivemos!

E nós, que só temos mesmo a arma da palavra, temos de prosseguir, "numa fiel dedicação à honra de estarmos vivos", como dizia Jorge de Sena, na sua memorável Carta a seus filhos sobre os fuzilamentos de Goya.



(Palavras da Dra Dulce Rocha, que subscrevo inteiramente)