Natal de quê? De quem?
Daqueles que o não têm? Dos que não são cristãos? O de quem traz às costas as cinzas de milhões? Natal de paz agora nesta terra de sangue? Natal de liberdade num mundo de oprimidos? Natal de uma justiça roubada sempre a todos? Natal de ser-se igual em ser-se concebido, em de um ventre nascer-se, em por amor sofrer-se, em de morte morrer-se, e de ser-se esquecido? |
Natal de caridade,
quando a fome ainda mata? Natal de qual esperança num mundo todo de bombas? Natal de honesta fé, com gente que é traição, vil ódio, mesquinhez, e até Natal de amor? Natal de quê? De quem? Daqueles que o não têm, ou dos que olhando ao longe sonham de humana vida um mundo que não há? Ou dos que torturam e torturados são na crença de que os homens devem estender-se a mão? |
Jorge de Sena
José Fanha (org.)
De palavra em punho
Porto, Campo das Letras, 2004