terça-feira, 16 de agosto de 2022
Incêndios em Portugal
sexta-feira, 24 de setembro de 2021
O tempo e a Terra
Minha palestra no Vale das Buracas do Camilo no dia
18/9/2021 a abrir um concerto do ensemble da Orquestra Clássica do Centro:
Estamos num lugar
espectacular, o vale das Buracas, no Camilo, é uma paisagem calcária,
pertencente ao maciço calcário de Sicó. Conheço-o bem, porque entre os 15 e os
20 anos pratiquei espeleologia, o desporto-aventura da exploração de grutas que
é ao mesmo tempo uma disciplina científica. Andei por estas serras, dormi em
tendas, desci ao interior da Terra. Era membro do centro de espeleologia em
Coimbra e o principal responsável pelo boletim A Gruta, onde
publicávamos as descobertas que fazíamos nesta região. Lembro-me de ter ido à
Biblioteca Geral da Universidade consultar revistas e livros antigos sobre as
grutas de Condeixa. Há um artigo em 1854 intitulado “Grutas de Condeixa” na
revista “O Instituto” de António Augusto da Costa Simões que foi
professor de Medicina, presidente da Câmara de Coimbra, em 1856-1867, e reitor
da Universidade, muito mais tarde, entre 1892 e 1898. Trata-se de um dos
documentos científicos mais antigas sobre grutas portuguesas.
Os vazios da
Terra
Posso até contar
uma história que na altura não foi nada divertida: fiquei uma vez preso nas
profundidades da maior gruta portuguesa. As Grutas de Mira de Aire, que hoje os
turistas podem percorrer em parte. Só ao fim de umas horas é que os meus
colegas me conseguiram desentalar de um aperto numa passagem estreita. As
Grutas de Mira de Aire, descobertas em 1947, são hoje a gruta mais comprida em
Portugal: estendem-se por mais de 11 km, indo até mais de 110 m de
profundidade. Mais profundas são os Olhos de Água do Alviela, uma das mais notáveis
nascentes do país e mesmo do mundo pois os espeleólogos subaquáticos já
conseguiram descer, no ano ano passado, sempre debaixo de água, a mais de 115 m
de profundidade sem conseguirem encontrar a volta em U em que a água remonta no
sifão. Nas regiões calcárias como esta a água que contém dióxido de carbono ,
dissolve a rocha calcária, que é formada por carbonato de cálcio, abrindo
grutas, por vezes sem entrada para a superfície. O terreno é uma verdadeira
esponja. A água acaba por aparecer na periferia do maciço em nascentes ou olhos
de água. A gruta maior aqui do Sicó é o Soprador do Carvalho, em Ferrarias,
Penela, que tem um rio subterrâneo, e que se estende por mais de 3 km. O
interior da Terra tem muitos segredos por nos revelar… Nem o Soprador do Carvalho
nem as Grutas de Mira de Aire se podem porém comparar com as maiores grutas do
mundo. A maior é a Mammoth Cave, a gruta mamute, no Kentucky, EUA, cujas
galerias subterrâneas se estendem por mais de 600 km. E a gruta mais profunda
do mundo situa-se nas montanhas da Geórgia, na Europa de Leste, que alcança a
profundidade de 2200 m. Uma descida até ao fundo dessa cavidade fará lembrar
a Viagem ao Centro da Terra de Júlio Verne.
Aqui as grutas são
mais pequena. Lembro-me de ter descido varias vezes ao Algar das Quintas, perto
da capela da Senhora da Estrela, na Redinha, aqui um pouco mais a Sul. São 75 m
a descer a pique e depois, o que é pior, outros 75 m para subir.
As buracas que
aqui vêem, não muito grandes mas muito abertas, deviam fazer parte de espaços
subterrâneos, que foram escavados por um rio que cavou este vale ou canhão. A
certa altura caíram as paredes e o interior subterrâneo ficou a descoberto,
enquanto ao longo do tempo, o rio se ia afundando e o vale ia crescendo. O
trabalho de erosão - a chuva e o vento -ajudaram a fazer esta paisagem. Demorou
milhões e milhões de anos. Como diz Margareth Yourcenar, o tempo é o grande
construtor.
Este vales são
típicos da regiões calcárias. Aqui mais a baixo há outro ainda maior e também
com buracas, o Vale do Poio Novo, um sitio onde nos divertíamos a fazer eco
entre uma vertente e a outra. Esta paisagem chama-se carso, o que vem da
palavra eslovena karst, a região da Eslovénia, perto de
Itália, onde a paisagem calcária está toda escavada. Já lá andei: há até uma
gruta turística onde se anda de comboio lá dentro. Esta modelação da pedra a
superfície, chama-se lapiás. Há também depressões circulares chamadas dolinas e
depressões maiores chamadas poljes – há um em Mira de Aire - Minde
que alaga no Inverno por a água ficar retida pelo leito de argilas. E as grutas
podem ser mais horizontais – chamamos-lhe lapas, ou mais verticais – chamamos
lhe algares.
As eras geológicas
Falei do tempo, o
grande construtor e também destruidor. A Terra é obra do tempo. Quando foram
formadas estes estratos calcários? Os geólogos ensinam-nos que este calcário é
do período Jurássico, mais propriamente de andares estratigráficos conhecidos
como Bajociano e Batoniano que pertencem ao Jurássico médio, que por
sua vez pertence à era do Mesozóico que por sua vez pertence a uma divisão
temporal maior, dita éon, chamado o Fanerozóico – palavra que significa vida
visível, é o tempo no qual passou a haver marcas visíveis da vida. O Jurássico
médio ocorreu há cerca de 170 milhões de anos. Napoleão disse aos seus soldados
no Egipto: “Do alto destas pirâmides 4000 anos vos contemplam”. Aqui poderia
dizer: “Do alto destes penhascos 170 milhões de anos vos contemplam.” Há marcas
de vida dessa altura e a vida era dominada poe esses grandes répteis que eram
os dinossauros. Toda a gente viu os filmes Parque Jurássico de
Steven Spielberg. Estes grandes sáurios apareceram há cerca de 230 milhões de
anos, no Triássico, antes do Jurássico, e desapareceram no Cretácico, já depois
do Jurássico, há cerca de de 68 milhões de anos. Julga-se que foi um gigantesco
meteorito que caiu na região do Iucatão do México combinado com invulgar
atividade vulcânica que levou ao fim dos dinossauros. Com o seu fim, puderam
triunfar os mamíferos. Em Portugal há marcas de dinossauros: ninhos na
Lourinhã, pistas na Pedreira do Galinha na Serra de Aire, pegadas no cabo
Mondego, Tudo isso são marcas do Jurássico,
Mas nessa altura,
quando a terra era comunicada pelos dinossauros, já a história da Terra ia
adiantada. Quando começou a Terra? Quantas velas devemos por no bolo se
houvesse um dia de anos da Terra? Sabemos hoje que é contemporânea do sistema
solar que tem cerca de 4,5 mil milhões de anos. Essa é a idade das rochas mais
antigas da Terra, que podemos dar usando técnicas de radioatividade. É cerca de
um terço da idade do Universo, pois de acordo com a teoria do Big Bang, o
Universo terá começado há cerca de 14 mil milhões de anos. A melhor teoria que
temos da formação do sistema solar é a de uma nuvem, formada principalmente por
hidrogénio, mas tendo muitos outros elementos químicos pesados, que comprimida
pela gravidade, e sempre em rotação rápida levou à formação do Sol, no centro,
onde se acendeu uma fornalha termonuclear graças a forças de pressão incríveis.
Perto ficaram planetas rochosos: Mercúrio, Vénus, Terra e Marte, os dois
últimos com possibilidade de vida no sentido em que existiu ou existe água em
várias fases: líquida, gelo e vapor de água. E, depois de uma
cintura de meteoritos, ficaram grandes planetas que são gasosos: Júpiter,
Saturno, Úrano e Neptuno. A terra no inicio era mais pequena e foi crescendo
com o bombardeamento de meteoritos. No início do sistema solar não havia a
ordem que hoje há. A Lua, o nosso satélite natural, formou-se devido a colisão de
um corpo celeste com a proto Terra: as pedras que os astronautas trouxeram da
Lua são tão antigas como rochas muito antigas da Terra. Facto curioso: o Sol
transforma hidrogénio em hélio irradiando energia, e há-se transformar hélio em
carbono, mas não tem capacidade para produzir cálcio que existe no carbonato de
cálcio destas rochas e, já agora, do cálcio que existe nos nossos ossos. Teve
de haver por isso um outro sol anterior ao nosso que explodiu espalhando átomos
pesados pelo espaço. Nós somos filhos dessa estrela mais remota. Essa explosão
violenta de uma estrela chama-se supernova. Houve mais do que tempo para haver
estrelas que explodiram, antes que o nosso sol se formasse.
Desde que a Terra
se formou passaram-se cerca de 700 milhões de anos antes que aparecesse vida,
que remonta a 3800 mil milhões de anos. Não sabemos como apareceu a vida da
Terra. Nem sequer sabemos se veio de fora ou se apareceu primeiro aqui devido a
reacções química, que em condições particulares num meio aquoso, permitiram, a
moléculas autorreproduzirem-se, fazendo cópias de si próprias. Os primeiros
seres vivos, na base da grande arvores da vida – há seres
vivos muito variados, pelo que falamos de biodiversidade – , foram
microscópicos. Nessa altura a reprodução consistia na divisão das células ao
meio. Só mais tarde a evolução biológica haveria de inventar o sexo, que
permitiu acelerar a biodiversidade. Mas, no início da vida, nem sequer havia
atmosfera com oxigénio. Havia azoto, dióxido de carbono e metano, mas o oxigénio
que hoje sustenta boa parte da vida só foi a certa altura produzido por um
certo tipo de bactérias. No princípio foi o éon Hadeano, durou até há 4 mil
milhões de anos. Depois, quando apareceu a vida, foi o Arqueano, até há 2,5 mil
milhões de anos. Depois veio o Proterozoico, que durou muito, até há 500
milhões de anos. Só depois é que foi o Fanerozóico, dividio no Paleozóico,
tempo dos peixes, no Mesozoico, o tempo dos dinossauros, e no Cenozóico, tempo
dos mamíferos. Os primeiros hominídeos, ainda muito distantes de nós, surgiram
de há cerca de 10 milhões de anos. O género homo já apareceu
no quaternário, há cerca de dois milhões de anos, um tempo muito pequeno na
vida da Terra. E o homo sapiens só há 350 000
anos. Terá coexistido com o homem de Neandertal como mostra a criança do
Lapedo, encontrada no Vale do Lapedo perto de Leiria. Hoje estamos no período
do Quaternário chamado Holoceno, mas há quem defenda que mudámos de tal maneira
a Terra que o nosso tempo se deveria chamar Antropoceno.
Bestas buracas há
marcas de ocupação pré-histórica. Os arqueólogos encontraram vestígios do
Paleolítico, a idade da pedra lascada. Há até algumas marcas de arte rupestre,
nas paredes de certas buracas: não são paleolíticas, mas já da idade do bronze.
Lembro que da época neolítica há vestígios aqui em Condeixa, como
necrópole de Eira Pedrinha, que eu visitei como espeleólogo tendo ficado
admirado com a enorme quantidade de ossos. Foi no Neolítico, há 10 000
anos, que se deu a revolução agrícola, com a sedentarização das
comunidades humanas e a domesticação dos primeiros animais. A época dos
caçadores-recolectores tinha ficado para trás.
O que é o tempo?
O que é o tempo?
Bem, de um modo operacional, é o que marca um relógio. Um segundo é uma fracção
da hora, que é uma fracção do dia, que é uma fracção do ano, tudo isto marcado
pelo movimentos astronómicos. Hoje em dia define-se os segundo com base em
medidas atómicas, mas a definição inicial veio do movimento dos astros.
Podemos medir, mas
nós não sabemos definir o tempo. É dos nossos grandes mistérios. Santo
Agostinho dizia que se não lhe perguntassem o que era o tempo ele sabia, mas
que se lhe perguntassem ele não sabia. Trago aqui uma citação de Eça
de Queiroz quando ele fala dos almanaques em “Notas Contemporâneas”:
O tempo,
essa impressão misteriosa a que chamamos tempo, é para o homem como uma
planície sem forma, sem caminho, sem fim, sem luz, onde ele transita guiado
pelo almanaque, que o segura pela mão, o vai puxando e a cada passo murmurando:
"Aqui, estás em setembro!... Além, finda a semana!... Em breve alcanças o
vinte e oito... Hoje é sábado..." Se o almanaque de repente, por facécia
ou perfídia, lhe soltasse a mão, o abandonasse, o homem vaguearia
irremissivelmente confuso e perdido dentro da vacuidade de o não ser do tempo.
Sumida a noção do ano, do mês, do dia, ele não poderia mais cumprir, com ordem
proveitosa, os atos da sua vida urbana, rural, religiosa, política, social — e
logo se arriscaria àqueles dois erros de que galhofava o provérbio antigo: a semear
o seu trigo em julho e a celebrar a sua Páscoa em novembro. Só com o almanaque,
sempre presente e sempre vigilante, pode existir regularidade na vida
individual ou coletiva.”
De facto, sem os
calendários estaríamos perdidos no tempo. A nossa vida nãio estaria organizada.
Por um lado há no tempo um lado de continuação, eternidade. Houve um
início e provavelmente não haverá fim. Mas, por outro lado, ao contrário das
viagens no espaço, no tempo não se pode ir e voltar. As
viagens são num só sentido. Todos nós andamos para a frente no
tempo. Os físicos descobriram uma lei - a 2ª. Lei da Termodinâmica.
que diz precisamente isso: que só se pode andar para a frente no tempo.
Define-se uma grandeza, a entropia, que é uma medida da desordem. Num sistema
isolado a entropia só pode crescer. Este Vale das Buracas é resultado da erosão
do tempo, do crescimento da entropia. E nós que nos deslumbramos com o vale?
Bem nós não somos sistemas fechados, recebemos energia do exterior, pelo que a
desordem não cresce em nós.
Há uma história
curiosa de um dos descobridores da 2.ª Lei da Termodinâmica. O britânico
William Thomson, lorde Kelvin (há numa relação com Portugal: ele casou com a
filha do cônsul inglês no Funchal, que conheceu quando andava a instalar linhas
de telégrafo eléctrico entre Portugal e o Brasil). Pois
Kelvin, um dos maiores sábios do século XIX, cometeu um
importante erro na avaliação da idade da Terra. Fez umas contas a partir do
tempo que um corpo quente, como a Terra primitiva, demora a arrefecer e falhou
por muito. Os geólogos conheciam o enorme tempo que é preciso para formar
paisagens como este estavam mais certos do que os físicos quanto à idade da
Terra. Vale a pena contar a história da disputa científica sobre a idade do
nosso planeta.
O erro da idade da
Terra
Quando falamos em
história da Terra, estamos a falar de longos períodos de tempo. A busca do
relógio da Terra iniciou-se há muito tempo. O alemão Abraham Werner, que viveu
entre os séculos XVII e XIX, foi um dos” avôs” da
geologia. Werner defendia que a formação da Terra teria sido um
processo rápido e que todas as rochas se teriam depositado num oceano
primordial, num espaço de tempo muito curto – esta é a chamada cronologia curta
da Terra. A teoria werniana estava de acordo com os ensinamentos bíblicos (Deus
teria criado todo o Universo, incluindo a Terra, em apenas alguns dias). E foi
por isso que permaneceu, durante algum tempo, inabalada.
Acabou por
ser questionada nos finais do século XVIII pelo geólogo inglês James Hutton.
Hutton, ao observar rochas sedimentares depositadas horizontalmente, concluiu
que estas teriam sido depositadas em diferentes épocas e que, portanto, era
longa a história da Terra – esta é a chamada cronologia longa da Terra. Já
antes um médico dinamarquês do século XVII, Nicolau Steno, tinha
intuído isso: Os estratos por baixo são mais antigos do que os que estão por
cima. Marcas de vegetais ou animais nesses estratos são mais antigas que marcas
de animais por cima. Em 1795, Hutton publicou o livro Theory of Earth, no
qual fala de uma história geológica uniforme, permanente, sem início nem fim:
poder-se-ia mesmo falar de uma idade infinita! Claro que para as pessoas que
levavam à letra a palavra da Bíblia, a ideia de um tempo infinito era uma
verdadeira heresia, uma vez que proibia o cato criador reportado nas
Escrituras. Hoje sabe-se que a teoria de Hutton estava essencialmente correcta,
tendo servido de base para as teorias de geologia e biologia que se lhe
seguiram.
O geólogo inglês
oitocentista Charles Lyell seguiu na peugada das ideias de Hutton. Considerado
por muitos o pai da Geologia, publicou entre 1830 e 1833 o livro fundador dessa
ciência - Principes of Geology (em três volumes), onde
defendeu as conceções de Hutton contra as de Werner. Lyell datou rochas através
dos fósseis que continham, tendo concluído não só que a Terra teria vários
milhões de anos como também que teria mudado lentamente ao longo de todo esse
tempo, devido a factores como a erosão. O princípio do uniformismo defendido
por Hutton ganhou nesta altura tal preponderância que, a partir de meados do
século XIX, a Bíblia quase desapareceu do estudo da história da Terra.
Charles
Darwin, o autor da Origem daas Espécies (1859), foi um adepto
das ideias do seu amigo Lyell, tendo feito uso delas na sua teoria da evolução.
Por sua vez, Lyell, que antes acreditava que as espécies se tinham mantido
imutáveis ao longo dos tempos, quando toma conhecimento da teoria de Darwin,
tornou-se um dos seus maiores defensores. O desenvolvimento da estratigrafia e
da paleontologia, já preliminarmente estudadas por sábios como da Vinci e
Lavoisier, ajudou à aceitação das teses uniformistas de Hutton e Lyell. O
estudo dos fósseis permitiu datar sequências de estratos e conhecer melhor a
cronologia da história da Terra.
Em 1859, Darwin
estimou em 300 milhões de anos, um tempo claramente longo, o período de
escavação de um grande vale inglês. Esse cálculo concordava “grosso modo” com
outro relativo à salinidade dos oceanos, que fixava em 100 milhões de anos o
tempo necessário para salinizar toda a água do mar.
Mas, em
1863, o físico William Thomson, mais conhecido pelo seu título de Lorde Kelvin,
que na altura era considerado o “papa” da Física, voltou, embora sem invocar a
Bíblia, às ideias da cronologia curta presentes em Werner. Baseado na 1.ª Lei
da Termodinâmica – a Lei da Energia, que estipulava a conservação dessa
grandeza física – estudou o fluxo de calor emitido pela Terra, concluindo que o
nosso planeta teria, no máximo, 100 milhões de anos. Em 1987 Kelvin, com novos
cálculos, atribuiu à Terra cerca de 20 milhões de anos, um valor que provocou
um grande alvoroço entre geólogos. Lyell respondeu-lhe afirmando que haveria
reacções químicas no interior da Terra que não tinham sido consideradas nesses
cálculos mas não conseguiu demover o teimoso Kelvin, que, quando muito, estava
apenas disposto a admitir o valor de 400 milhões de anos.
Kelvin
estava rotundamente errado e a chave para mostrar o seu erro só apareceria mais
tarde, em 1896, com a descoberta da radioactividade pelo físico francês Henri
Becquerel. De facto, a radioactividade, que está associada à emissão de calor,
não entrava nos cálculos de Kelvin! E, curiosamente, foi a radioactividade de
algumas rochas naturais que permitiu finalmente datar com precisão o planeta
Terra. Um dos geólogos mais famosos do século XX que investigou o problema da
datação da Terra foi o britânico Arthur Holmes. Holmes concluiu que a Terra
teria uma idade entre 1400 e 3000 milhões de anos. Contudo, determinações mais
recentes dão à Terra, como de resto a todo o sistema solar, a provecta idade de
4,5 mil milhões de anos, como já referi. Não é um tempo infinito como defendia
Hutton, mas é muito maior do que o tempo bíblico ou do que o tempo de Kelvin.
Kelvin não viveu o suficiente para reconhecer o seu erro!
A ciência é feita
de erros, mas de erros que são corrigidos com o evoluir do tempo. Mas já falei
de mais. A mensagem mais importante é que o tempo é mudança – já dizia Camões –
“todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas
qualidades”, - a Terra é um sitio dinâmico. No tempo do Jurássico foi quando o
grande continente único - a Pangeia - se começou a separar em duas grandes
parte. Foi quando se começou a formar o oceano Atlântico. Por falar em oceano,
estres estratos que aqui vemos formaram-se por deposição de carbonato de cálcio
no fundo de um oceano. A Terra está sempre a mudar a sua geografia, comos
sabemos da teoria da deriva dos continentes devido ao movimento das placas
tectónicas, que foi aventada elo alemão Alfred Wegener, levantando grande
controvérsia. Fiquei um dia muito impressionado porque numa placa à entrada de
um museu da Terra em Edimburgo dizia lá que aquele sitio já tinha estado no
equador. Não sabemos - apenas podemos fazer previsões, quando será a geografia
dos continentes daqui a 170 milhões de anos ainda ontem saiu um
artigo sobre isso no Expresso. É uma previsão, que pode falhar…
Porque há surpresas, a Terra é uma caixinha de surpresas!
Tempo da
música
Mas é tempo e dar
lugar a música, que obviamente está relacionada com o tempo. A música é uma
sucessão de sons no tempo e o ritmo com que se sucedem podem ser maiores ou
menores. Mas é curioso que há um tempo psicológico: perante uma bela peça de
música não vemos o tempo passa- já passou vinte minutos desde que
comecei a falar - com certeza que repararam que o tempo
nunca mais passava - e agora o tempo vai passar depressa – por vezes vai ficar
suspenso com estes artistas do ensemble da Orquestra Clássica do Centro.
Vamos ouvir
trechos antigos como a música de Vivaldi das Quatro Estações, que
nos lembra o clima e a meteorologia. Mas vamos também ouvir músicas de autores
contemporâneos como Asthor Piazolla, que se fosse vivo, faria este ano 100
anos. E como Enio Morricone, falecido há pouco tempo. Vamos também ouvir vários
temas de música rock. O rock and roll teve
origem nos EUA nos anos 30 e 40 e vem da música de blues e de
jazz. Rock and roll remete para o movimento rítmico: significa
á letra balança e rola. Música é movimento, como vamos ouvir já a seguir com o
grupo da Orquestra Clássica do Centro. Bom espectáculo!
Posted
by Carlos Fiolhais at 23:39
Disponível
em http://dererummundi.blogspot.com/
terça-feira, 6 de julho de 2021
O Agitador
Enfrentando a crise climática numa jornada de autodescoberta
É em tempos de crise que descobrimos o que realmente importa para nós, quem realmente somos, como indivíduos e como sociedade. The Troublemaker investiga profundamente as ideias e emoções por detrás da onda internacional de protesto civil, nascida em virtude da crise climática que se vivemos. Através dos olhos de um líder visionário que co-fundou a ?Extinction Rebellion? e de um cidadão respeitador da lei inspirado a agir, The Troublemaker aspira a despertar o público da resistência passiva para uma defesa de afirmação da vida do nosso futuro. Agora que entendemos mais sobre como é uma "crise global", ela não pode mais ser ignorada.
quinta-feira, 22 de abril de 2021
domingo, 31 de janeiro de 2021
quarta-feira, 24 de julho de 2019
Para denunciar casos de negligência, maustratos e abusos de animais
A PSP recebe denúncias e ajuda a esclarecer questões através do telefone 21 765 4242e do email defesanimal@psp.pt
terça-feira, 23 de julho de 2019
Plantar árvores nas cidades devia ser visto como uma medida de saúde pública
Num novo relatório, realizado pela organização The Nature Conservancy, os cientistas defendem que as árvores urbanas são uma importante estratégia para a melhoria da saúde pública nas cidades, devendo ser financiadas como tal.
Apesar de todos os estudos que documentam os benefícios dos espaços verdes, muitas cidades ainda não veem a ligação entre a saúde dos moradores e a presença de árvores no ambiente urbano.
Robert McDonald defende a necessidade da cooperação entre diferentes departamentos e a inclusão da natureza nos debates sobre ordenamento urbano.
“Não é suficiente falar-se apenas das razões que tornam as árvores tão importantes para a saúde. Temos de começar a discutir as razões sistemáticas por que é tão difícil para estes sectores interagirem – como o sector florestal pode começar a cooperar com o de saúde pública e como podemos criar ligações financeiras entre os dois”, disse o investigador.
“A comunicação e a coordenação entre os departamentos de parques, florestas e saúde pública de uma cidade são raras. Quebrar estas barreiras pode revelar novas fontes de financiamento para a plantação e gestão de árvores.”
O cientista dá como exemplo a cidade de Toronto, onde o departamento de saúde pública trabalhou em conjunto com o florestal para fazer frente à ilha de calor urbano. Como muitos edifícios em Toronto não possuem ar condicionado, os dois departamentos colaboraram de forma a colocarem, estrategicamente, árvores nos bairros onde as pessoas estão particularmente vulneráveis ao calor, devido ao seu estatuto socioeconómico ou idade.
O relatório diz ainda que o investimento na plantação de novas árvores – ou até na manutenção das existentes – está perpetuamente subfinanciado, mostrando que as cidades norte-americanas estão a gastar menos, em média, no arvoredo do que nas décadas anteriores. Os investigadores estimaram que despender apenas $8 (7€) por pessoa, por ano, numa cidade dos EUA, poderia cobrir o défice de financiamento e travar a perda de árvores urbanas e dos seus potenciais benefícios.
Outros trabalhos também têm mostrado que o arvoredo urbano tem um valor monetário significativo. Segundo um estudo do Serviço Florestal dos EUA, cada $1 gasto na plantação de árvores tem um retorno de cerca de $5,82 em benefícios públicos.
Num outro estudo, uma equipa de investigadores da Faculdade de Estudos Ambientais da Universidade do Estado de Nova Iorque concluiu que os benefícios das árvores para as megacidades tinham um valor médio anual de 430 milhões de euros (505 milhões de dólares), o equivalente a um milhão por km2 de árvores. Isto deve-se à prestação de serviços como a redução da poluição atmosférica, dos custos associados ao aquecimento e arrefecimento dos edifícios, das emissões de carbono e a retenção da água da chuva.
Com demasiada frequência, a presença ou ausência de natureza urbana, assim como os seus inúmeros benefícios, é ditada pelo nível de rendimentos de um bairro, o que resulta em desigualdades dramáticas em termos de saúde. De acordo com um estudo da Universidade de Glasgow, a taxa de mortalidade entre os homens de meia-idade que moram em zonas desfavorecidas com espaços verdes é inferior em 16% à dos que vivem em zonas desfavorecidas mais urbanizadas.
Para Robert McDonald, a chave é fazer-se a ligação entre as árvores urbanas e os seus efeitos positivos na saúde mental e física. “Um dos grandes objetivos deste relatório é fazer com que diversos serviços de saúde vejam que deviam estar a participar na discussão para tornar as cidades mais verdes”, declarou. “As árvores urbanas não podem ser consideradas um luxo, dado que constituem um elemento essencial para uma comunidade saudável e habitável e uma estratégia fundamental para a melhoria da saúde pública.”
terça-feira, 18 de junho de 2019
A foto que prova o aquecimento dramático no Ártico
domingo, 17 de março de 2019
A justiça climática é a luta pelo destino da Humanidade
Só faremos isto em conjunto, pela acção persistente e decidida de milhões de pessoas. “Vamos mudar o destino da Humanidade.”
15 de Março de 2019
“O desprezo pelos jovens, o desprezo pelas pessoas comuns, foi convertendo superficialmente milhares de milhões em cínicos, em hipócritas, em seres amorfos e autocentrados. O poder retirado pela economia e pela política às populações foi criando um espírito de derrota, de impotência, de conformação a tudo o que viesse de cima, à ordem e à obediência. Apesar de haver sempre quem resistisse, esse espírito imperou durante muito tempo.”
De nada serviram Barack Obamas, Justin Trudeaus ou Uniões Europeias a gritar o seu empenho no combate às alterações climáticas, de nada nos serviram as tintas verdes com que empresas destruidoras como a BP ou a Volkswagen se foram pintando porque, apesar de andarmos há décadas à procura de acordos para cortar as emissões de gases com efeito de estufa, 2018 foi o ano com o mais alto nível de emissões alguma vez registado. Nesse contexto de enorme frustração, de enorme contradição, empurrámos, contra o senso comum, contra a política banal, contra a TINA (There Is No Alternative), assistimos ao colapso em Copenhaga, exigimos que não houvesse mais explorações de petróleo, gás e carvão, se queríamos salvar o futuro da civilização. Às costas, levávamos a Ciência, a vontade e a certeza de que isto não podia acabar assim, que a Humanidade não podia ser só isto.
Esta chamada à acção colectiva retira o derrotista enfoque na acção individual que vigorou nas últimas décadas. Só faremos isto em conjunto, pela acção persistente e decidida de milhões de pessoas. Tentar reduzir o que acontece neste 15 de Março de 2019 a uma chamada para pequenas acções individuais ou locais é perverter o que está a acontecer: “Vamos mudar o destino da Humanidade.”