Mostrar mensagens com a etiqueta Arte. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Arte. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 18 de abril de 2019

«Annunciata di Palermo»




"No Hoje de Deus na História da Humanidade, vejo-me confrontado com este quadro de Antonello da Messina, uma obra datada de 1475 e conhecida como a «Annunciata di Palermo», manifestamente uma Obra-Prima Absoluta da História da Arte Europeia e Mundial. (...) fabulosa representação, em perspetiva feminina, do Encontro de Deus com a Humanidade de que somos parte. (...) Para mim, basta um quadro como este para dizer ao mundo da imprescindível importância que a Beleza tem na articulação da nossa relação com o divino Transcendente. (...)”

Pe. João Vila-Chã (pg facebook)

domingo, 5 de julho de 2015

O "Yes man" e o "May be man" (Mia Couto)

Quadro de Malangatana*


Quadro de Malangatana, 1983. Existe o "Yes man". Todos sabem quem é e o mal que causa. Mas existe o May be man. E poucos sabem quem é. Menos ainda sabem o impacto desta espécie na vida nacional. Apresento aqui essa criatura que todos, no final, reconhecerão como familiar.

O May be man vive do "talvez". Em português, dever-se-ia chamar de "talvezeiro". Devia tomar decisões. Não toma. Simplesmente, toma indecisões. A decisão é um risco. E obriga a agir. Um "talvez" não tem implicação nenhuma, é um híbrido entre o nada e o vazio.

A diferença entre o Yes man e o May be man não está apenas no "yes". É que o "may be" é, ao mesmo tempo, um "may be not". Enquanto o Yes man aposta na bajulação de um chefe, o May be man não aposta em nada nem em ninguém. Enquanto o primeiro suja a língua numa bota, o outro engraxa tudo que seja bota superior.

Sem chegar a ser chave para nada, o May be man ocupa lugares chave no Estado. Foi-lhe dito para ser do partido. Ele aceitou por conveniência. Mas o May be man não é exactamente do partido no Poder. O seu partido é o Poder. Assim, ele veste e despe cores políticas conforme as marés. Porque o que ele é não vem da alma. Vem da aparência. A mesma mão que hoje levanta uma bandeira, levantará outra amanhã. E venderá as duas bandeiras, depois de amanhã. Afinal, a sua ideologia tem um só nome: o NEGÓCIO. Como não tem muito para negociar, como já se vendeu terra e ar, ele vende-se a si mesmo. E vende-se em parcelas. Cada parcela chama-se "comissão". Há quem lhe chame de "luvas". Os mais pequenos chamam-lhe de "gasosa". Vivemos uma nação muito gaseificada.

GOVERNAR não é, como muitos pensam, tomar conta dos interesses de uma nação. Governar é, para o May be Man, uma OPORTUNIDADE DE NEGÓCIOS. De "business", como convém hoje dizer. Curiosamente, o "talvezeiro" é um veemente crítico da corrupção. Mas apenas, quando beneficia outros. A que lhe cai no colo é legítima, patriótica e enquadra-se no combate contra a pobreza.

Afinal, o May be man é mais cauteloso que o andar do camaleão: aguarda pela opinião do chefe, mais ainda pela opinião do chefe do chefe. Sem luz verde vinda dos céus, não há luz nem verde para ninguém.

O May be man entendeu mal a máxima cristã de "amar o próximo". Porque ele ama o seguinte. Isto é, ama o governo e o governante que vêm a seguir. Na senda de comércio de OPORTUNIDADES, ele já vendeu a mesma oportunidade ao sul-africano. Depois, vendeu-a ao português, ao indiano. E está agora a vender ao chinês, que ele imagina ser o "próximo". É por isso que, para a lógica do "talvezeiro" é trágico que surjam decisões. Porque elas matam o terreno do eterno adiamento onde prospera o nosso indecidido personagem.

O May be man descobriu uma área mais rentável que a especulação financeira: a área do não deixar fazer. Ou numa parábola mais recente: o não deixar. Há investimento à vista? Ele complica até deixar de haver. Há projecto no fundo do túnel? Ele escurece o final do túnel. Um pedido de uso de terra, ele argumenta que se perdeu a papelada. Numa palavra, o May be man actua como polícia de trânsito corrupto: em nome da lei, assalta o cidadão.

Eis a sua filosofia: a melhor maneira de fazer política é ESTAR fora da política. Melhor ainda: é ser político sem política nenhuma. Nessa fluidez se afirma a sua competência: ele sai dos princípios, esquece o que disse ontem, rasga o juramento do passado. E a lei e o plano servem, quando confirmam os seus interesses. E os do chefe. E, à cautela, os do chefe do chefe.

O May be man aprendeu a prudência de não dizer nada, não pensar nada e, sobretudo, não contrariar os poderosos. Agradar ao dirigente: esse é o principal currículo. Afinal, o May be man não tem ideia sobre nada: ele pensa com a cabeça do chefe, fala por via do discurso do chefe. E assim o nosso amigo se acha apto para tudo. Podem nomeá-lo para qualquer área: agricultura, pescas, exército, saúde. Ele está à vontade em tudo, com esse conforto que apenas a ignorância absoluta pode conferir.

Apresentei, sem necessidade o May be man. Porque todos já sabíamos quem era. O nosso Estado está cheio deles, do topo à base. Podíamos falar de uma elevada densidade humana. Na realidade, porém, essa densidade não existe. Porque dentro do May be man não há ninguém. O que significa que estamos pagando salários a fantasmas. Uma fortuna bem real paga mensalmente a fantasmas. Nenhum país, mesmo rico, deitaria assim tanto dinheiro para o vazio.

O May be Man é utilíssimo no país do talvez e na economia do faz-de-conta. Para um país a sério não serve.



por Mia Couto, escritor.



*https://pt.wikipedia.org/wiki/Malangatana


segunda-feira, 29 de junho de 2015

As pessoas medíocres são como os políticos medíocres





É sempre desejável e saudável o debate de ideias e a discussão política. No entanto, certas pessoas, em defesa do "nosso atual governo" e do anterior governo grego, o mesmo é dizer, em defesa desta UE e deste Eurogrupo, incomodam-me, revoltam-me! 
Como é possível ainda não terem visto que a troika não serviu Portugal, mas sim, os da grande finança, os do núcleo duro da UE, os interesses pessoais e familiares daqueles que nos governam, os da banca que sempre protegeram e, acima de tudo, os interesses das clientelas político-partidárias, dos seus afilhados e compadres, que trouxe e impôs, com o beneplácito de governos como o de Passos Coelho, de forma cruel e insensata, medidas de austeridade que o foram e continuam a ser só para o povo, o povão, o povão trabalhador do qual faço parte e que sempre viveu do seu salário e de acordo com as suas parcas possibilidades, o povão que aperta o cinto, cada vez mais, e que vê diariamente serem-lhe roubados direitos elementares enquanto a corrupção se agiganta e o oportunismo político frutifica. 
"Comem tudo e não deixam nada", nada,  exceto a revolta que nos conduzirá, espero eu, ao derrube desta corja de políticos faz-de-conta que, além de ignorantes são maus, muito maus, gente sem escrúpulos, sem sensibilidade e sentido de estado, sacanas sem lei quando se deparam com gente boa, inteligente, muito inteligente e sabedora, gente em condições e com categoria, como Varoufakis e Tsypras para quem a palavra do povo é sagrada e a Constituição também. 
Mas, os medíocres, as pessoas medíocres, tal como os políticos medíocres que defendem “até mais não”, precisamente porque o são mas capacidade não têm para o admitir, nunca aceitam e nunca conseguirão  aceitar quem melhor, muito melhor do que eles é e isso mostra e continuará a mostrar, porque do alto da sua estupidez e da sua menoridade intelectual e cívica jamais conseguirão ver, saber ou distinguir que há melhor, muito melhor do que eles, muito melhor do que as suas escolhas, porque incapazes também são de admitir o erro, a falha, tal a cegueira com que defendem quem defesa não merece.
De facto, cegos pela ambição desmedida de tudo submeter aos seus desejos mais profundos de uma sociedade manipulável e controlável, na qual, tal como na Alemanha nazi ou no Portugal salazarista, todos façam o culto do chefe e vivam, não de acordo com as suas ideias mas alinhados pelas ideias do furher, do duce ou de um outro qualquer salvador da pátria, os rapazolas excitam-se e consolam-se com a voz do dono, com o aperto de mão ensaiado, com o lugar na fotografia de grupo, ombro a ombro colocados, viscosamente sorridentes, cínicamente posicionados naquele estilo que é sempre o mesmo, tal como as gravatas os fatos as calças e os blazers de Merkel, tal como as intervenções ou omissões e tudo o mais que sabemos de uma UE cinzenta, muito cinzenta, quase negra, onde cada vez mais vemos e ouvimos, não a voz da razão mas a voz da chantagem e da ameaça, a voz de quem manda e os silêncios de quem só obedece, a voz de quem tem medo de perder, não a dignidade, porque nunca a tiveram, não a independência política, porque nunca a salvaguardaram, não a Ética, porque nunca lha ensinaram, mas o lugar o tacho o emprego o chorudo salário que do nosso é feito, as mordomias e privilégios com os quais vivem e transpiram numa afronta sem precedentes à transparência política e à igualdade social pela qual lutaram os que em Abril vieram para a rua e os que, em nome de Abril, na rua continuarão a ouvir-se, apesar da fome apesar das dores apesar da dureza da vida, apesar da morte e apesar dos criminosos à solta e dos seus cúmplices.
Como é possível que não percebam que, tal como este governo grego veio gritar bem alto que é preciso atender às realidades de cada povo para atender às exigências da troika, que não se pode fazer ajustamentos sem ter em conta o que cada povo, cada economia, pode, na realidade, suportar, que os planos de resgate têm de ser revistos, adaptados, e que da sua aplicação não pode resultar, como tem resultado, cada vez mais injustiças e desigualdades sociais, cada vez mais pobreza para os pobres, cada vez mais riqueza para os ricos, cada vez mais ignomínia e podridão numa Europa que já foi palco de duas guerras mundiais e que continua a desviar-se das grandes traves-mestras traçadas pelos que queriam uma Europa unida, solidária e em harmonia?
O povo grego, em liberdade, através de Varoufakis e Tsypras, veio dar e continua a dar uma lição de democracia e de Ética Política ao Mundo e, particularmente, ao mundo do servilismo e da subserviência político-institucional para o qual quase toda a Europa foi empurrada, com destaque para Portugal, vergonhosamente apelidado na imprensa mundial como o mais servil de todos eles.
O atual governo grego tudo tem feito para salvaguardar o seu povo da humilhação que ao nosso não foi poupada.
O atual governo grego, fiel depositário da confiança que os seus eleitores legitimamente lhe confiaram, tudo tem feito para proteger as suas instituições democráticas e os interesses do seu povo, ao contrário do governo do meu país que, vergonhosamente e de forma rastejante vai ao beija-mão, “cantando e rindo ao som das velhas trombetas" europeias.



Nazaré Oliveira




* Abaporu, da autoria de Tarsila do Amaral, 1928

domingo, 5 de abril de 2015

A Ressureição de Cristo na Pintura*

Rafaello Sanzio

Alexander Ivanov

Caravaggio

Autor desconhecido

Fra Angelico

Matthias Grunewuald

Paolo Veronese

Autor desconhecido - Igreja Matriz de Sidrolândia, Mato Grosso do Sul

Piero della Francesca
Pietro Perugino
El Greco

Luca Signorelli





*Alguns trabalhos selecionados por mim.


 Nota informativa:
"O que é a Páscoa" aqui e "A Ressurreição de Cristo" aqui.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Ensino artístico nas escolas





Absolutamente de acordo com as palavras de João Mota, encenador, a propósito do início da temporada do Teatro Nacional D. Maria II:

"O ensino artístico faz muita falta nas escolas", disse, defendendo que o teatro e a educação artística proporcionam aos mais novos "instrumentos fundamentais para o crescimento", como a improvisação, a espontaneidade e até o conhecimento da linguagem corporal.
"Chegou o tempo de se pensar seriamente no papel do ensino artístico na educação. O teatro, enquanto arte de afectos, ensina-nos a trabalhar e a respeitar o outro", sublinhou João Mota.
O teatro, a música, a dança...


(notícia da Lusa/SOL aqui)




Para consulta Ministério da Educação:  http://www.dgidc.min-edu.pt/index.php?s=directorio&pid=344

terça-feira, 1 de julho de 2014

Locke

«Locke», a film with Tom Hardy as the sole «real» actor, deserves two things: to be seen; to be intensely, and carefully, discussed. We consider this «low cost» movie one of the filmic events of the present season! Very touching. Just amazing!



Um filme, ou uma qualquer outra Obra, é apenas isso? Por definição, não. Uma obra de arte nunca existe sozinha, pois ela exige sempre a presença do intérprete, seja ele leitor, espectador, ouvinte, ou como se lhe queira chamar. Neste momento partilho um facto: fui ao cinema; e ofereço a razão desta minha intervenção: acabo de ver um dos filmes mais «impressionantes» de sempre. Digo «impressionante» a propósito de um filme em que, «ao vivo», entra apenas um actor (Tom Hardy). Faz sentido? Sim, precisamente na medida em que se trata de um filme que declama as horas dramáticas, simultaneamente calmas e «furiosas», esperançosas e dramáticas, de um homem chamado Ivan Locke, um encarregado de obra (capataz) em Birmingham, que por um motivo muito pessoal decide, no fim de um longo e complexo dia de trabalho e na véspera de uma das maiores operações de construção civil na Europa, ainda da sua responsabilidade, se mete no seu BMW e navega a auto-estrada que liga Birmingham a Londres. Na prática, o filme começa com a troca da direcção do pisca-pisca: estava primeiro para um lado; de repente mudou para o outro! Assim começa o drama de um homem que, como diria Kant, movido por um apurado sentido do DEVER e da RESPONSABILIDADE PESSOAL, toma uma decisão, da qual não abdica, uma decisão certamente justa e que ele pensa ser absolutamente correcta mas que o vai levar, em poucas horas, a perder (quase) tudo: o emprego onde é brilhante, a mulher que ama... tudo menos o carro que guia do princípio ao fim do filme! Tudo, por uma simples razão: o dever de assumir a sua responsabilidade como pai de uma criança que lhe está para nascer fora do matrimónio e de uma mulher que não ama, num mundo que não se poderia interessar menos por uma decisão como a sua. Simplesmente profundo! Tão profundo como, arrisco dizer, nunca antes vi numa simples pantalha de cinema, ainda por cima, neste caso, com um filme de baixo custo, com apenas um actor «real» (dos outros temos apenas a voz através do telefone do BMW em marcha constante, por vezes quase errante, numa motorway britânica em hora de ponta). Numa classificação de 1 a 5, dou, no mínimo, seis estrelas a este filme! Verdadeiramente excelente! Um filme que merece ser usado em todos os Cursos de Ética que se façam nos próximos anos; um filme que não pode deixar de fazer pensar; um filme memorável com Tom Hardy a fazer uma performance como nunca antes vi. Simplesmente dito: um verdadeiro fora-de-série, este filme intitulado «LOCKE» e que agora, felizmente, posso dizer que já vi. Dito isto, a minha recomendação: quem para isso tiver oportunidade, não perca um filme que, como poucos, tem o condão de fazer pensar: no que sejam as coisas da vida, no que seja ou não o amor, no que sejam o sentido do dever e da responsabilidade, no que seja, enfim, a razão de ser e o sentido que, de verdade, a algures nos pode levar. Pela comoção, nunca aplaudiria um filme como este. Mas se pudesse dava um Abraço a todos os que o fizeram, ou não fosse este um daqueles filmes que, como sempre de novo vai acontecendo, resgatam a Sétima Arte para o que esta tem de melhor ou mais importante, e que julgo ser isto: a capacidade de nos ajudar, ou fazer pensar! E se alguém me disser que o filme não é perfeito, terá certamente a minha concordância. Mas com uma condição: que o filme seja visto com olhos de gente adulta, numa atitude de investigação interior,numa disposição para a empatia iluminada pela razão. Pelo que repito: a ideia do Filme, mais do que tudo, é... simplesmente brilhante! Mas que ninguém se iluda: o filme não é fácil e a mim só não me fez chorar porque não podia!