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É sempre desejável e saudável o debate de ideias e a
discussão política. No entanto, certas pessoas, em defesa do "nosso atual
governo" e do anterior governo grego, o mesmo é dizer, em defesa desta UE e
deste Eurogrupo, incomodam-me, revoltam-me!
Como é possível ainda não terem visto
que a troika não serviu Portugal, mas sim, os da grande finança, os do núcleo
duro da UE, os interesses pessoais e familiares daqueles que nos governam, os da
banca que sempre protegeram e, acima de tudo, os interesses das clientelas
político-partidárias, dos seus afilhados e compadres, que trouxe e impôs, com o
beneplácito de governos como o de Passos Coelho, de forma cruel e insensata, medidas
de austeridade que o foram e continuam a ser só para o povo, o povão, o povão
trabalhador do qual faço parte e que sempre viveu do seu salário e de acordo
com as suas parcas possibilidades, o povão que aperta o cinto, cada vez mais, e
que vê diariamente serem-lhe roubados direitos elementares enquanto a corrupção
se agiganta e o oportunismo político frutifica.
"Comem tudo e não deixam
nada", nada, exceto a revolta que
nos conduzirá, espero eu, ao derrube desta corja de políticos faz-de-conta que,
além de ignorantes são maus, muito maus, gente sem escrúpulos, sem sensibilidade e sentido de estado, sacanas sem lei quando se
deparam com gente boa, inteligente, muito inteligente e sabedora, gente em condições e com categoria, como Varoufakis e
Tsypras para quem a palavra do povo é sagrada e a Constituição também.
Mas, os
medíocres, as pessoas medíocres, tal como os políticos medíocres que defendem “até
mais não”, precisamente porque o são mas capacidade não têm para o admitir, nunca
aceitam e nunca conseguirão aceitar quem
melhor, muito melhor do que eles é e isso mostra e continuará a mostrar, porque
do alto da sua estupidez e da sua menoridade intelectual e cívica jamais
conseguirão ver, saber ou distinguir que há melhor, muito melhor do que eles,
muito melhor do que as suas escolhas, porque incapazes também são de admitir o
erro, a falha, tal a cegueira com que defendem quem defesa não merece.
De facto, cegos pela ambição desmedida de tudo submeter aos
seus desejos mais profundos de uma sociedade manipulável e controlável, na
qual, tal como na Alemanha nazi ou no Portugal salazarista, todos façam o culto
do chefe e vivam, não de acordo com as suas ideias mas alinhados pelas ideias
do furher, do duce ou de um outro qualquer salvador da pátria, os rapazolas excitam-se e consolam-se
com a voz do dono, com o aperto de mão ensaiado, com o lugar na fotografia de grupo, ombro a
ombro colocados, viscosamente sorridentes, cínicamente posicionados naquele estilo que é sempre o mesmo, tal como as gravatas os fatos as calças e os blazers de Merkel, tal como as intervenções ou omissões e tudo o mais que sabemos de uma UE cinzenta, muito cinzenta, quase negra, onde cada vez mais vemos e ouvimos, não a voz da razão mas a voz da chantagem e da ameaça, a voz de quem manda e os silêncios de quem só obedece, a voz de quem tem medo de perder, não a dignidade, porque nunca a
tiveram, não a independência política, porque nunca a salvaguardaram, não a
Ética, porque nunca lha ensinaram, mas o lugar o tacho o emprego o chorudo
salário que do nosso é feito, as mordomias e privilégios com os quais vivem e
transpiram numa afronta sem precedentes à transparência política e à igualdade
social pela qual lutaram os que em Abril vieram para a rua e os que, em nome de
Abril, na rua continuarão a ouvir-se, apesar da fome apesar das dores apesar
da dureza da vida, apesar da morte e apesar dos criminosos à solta e dos seus
cúmplices.
Como é possível que não percebam que, tal como este governo
grego veio gritar bem alto que é preciso atender às realidades de cada povo
para atender às exigências da troika, que não se pode fazer ajustamentos sem
ter em conta o que cada povo, cada economia, pode, na realidade, suportar, que
os planos de resgate têm de ser revistos, adaptados, e que da sua aplicação não
pode resultar, como tem resultado, cada vez mais injustiças e desigualdades
sociais, cada vez mais pobreza para os pobres, cada vez mais riqueza para os
ricos, cada vez mais ignomínia e podridão numa Europa que já foi palco de duas
guerras mundiais e que continua a desviar-se das grandes traves-mestras
traçadas pelos que queriam uma Europa unida, solidária e em harmonia?
O povo grego, em liberdade, através de Varoufakis e Tsypras, veio
dar e continua a dar uma lição de democracia e de Ética Política ao Mundo e,
particularmente, ao mundo do servilismo e da subserviência
político-institucional para o qual quase toda a Europa foi empurrada, com destaque
para Portugal, vergonhosamente apelidado na imprensa mundial como o mais servil
de todos eles.
O atual governo grego tudo tem feito para salvaguardar o seu
povo da humilhação que ao nosso não foi poupada.
O atual governo grego, fiel depositário da confiança que os
seus eleitores legitimamente lhe confiaram, tudo tem feito para proteger as
suas instituições democráticas e os interesses do seu povo, ao contrário do
governo do meu país que, vergonhosamente e de forma rastejante vai ao beija-mão,
“cantando e rindo ao som das velhas trombetas" europeias.
Nazaré Oliveira
* Abaporu, da autoria de Tarsila do Amaral, 1928