domingo, 30 de junho de 2013

Estou farta destes ajustamentos!



“The Last Judgment” by Hieronymus Bosch, c. 1482

Fazem da nossa vida um jogo, um jogo de vida ou de morte, uma roleta russa, pelas manipuláveis e constantes intervenções na política económica e financeira que fazem, perfeitamente insensíveis à brutalidade das consequências que têm causado e nos vão destruindo como pessoas, cidadãos, como país soberano.

Posicionados sempre e só na mira da famigerada  avaliação do programa de ajustamento português, a troika quer lá saber das pessoas ou do país! A troika, a Comissão Europeia e, pior do que isso, o nosso governo.


O défice orçamental de 5,5% do PIB previsto para este ano, depois da revisão da sétima avaliação, depende da completa aplicação das medidas de austeridade, refere a Comissão, e por isso qualquer perturbação complicará o objetivo.
Qualquer perturbação? Não se vê cada vez mais fome e miséria em Portugal? É preciso mais perturbação do que aquela a que vimos assistindo? Que precisa mais esta gente para entender que se abeirou do abismo e nele cairá, inevitavelmente, se não mudar de rumo e de orientadores desse rumo?
Recorde-se que há dias, no Parlamento, Vítor Gaspar revelou que o défice no primeiro trimestre poderá ter ficado acima de 10% devido à inclusão da injeção de capital público no Banif e que, para atingir as metas orçamentais em 2013 e 2014, o governo terá que avançar com medidas no valor de 4700 milhões de euros (2,8% do PIB), das quais cerca de 1200 milhões já este ano. É nesta parcela que estão algumas das medidas em relação às quais Bruxelas pretende que haja alguma certeza jurídica para evitar novas decisões desfavoráveis do Tribunal Constitucional que chumbou artigos dos Orçamentos do Estado de 2012 e 2013.
Uma loucura esta máquina perversa que nos trucida de fora e à qual os políticos que nos governam respondem, de qualquer modo e a qualquer preço, sacrificando os trabalhadores, destruindo a classe média, os setores produtivos nacionais, desmotivando toda uma geração que deles esperava o esforço e o empenho de negociações e restruturações da dívida que não conduzissem ao que afinal conduziram: a dependência dos grandes da CE aos quais servimos acriticamente numa relação de claro e feroz servilismo, como se os ditos pilares da União Europeia já não existissem ou como se os objetivos que levaram à dita CEE/Europa Unida fossem, agora, letra morta, face a uma diplomacia comunitária cada vez mais cínica que secundariza sobretudo os países do Sul, como, afinal, quase sempre aconteceu.
Estão em causa, entre outras coisas, diplomas relacionados com a mobilidade especial dos funcionários públicos ou cortes nas pensões através da convergência entre o regime geral com a CGA ou a chamada TSU dos pensionistas.
Estão em causa, digo eu, direitos inalienáveis e a nossa soberania e a resposta só pode ser uma: o inconformismo que à luta nos deve levar.
À luta através de greves, manifestações, intervenções nas redes sociais, ao nosso testemunho no dia-a-dia que, afinal, por mais diversificado que seja, é a prova da força das nossas convicções e da nossa determinação em mudar o rumo da política deste país e até da Europa.
Segundo o jornal de Negócios de 28 deste mês, o Parlamento Europeu tem em estudo a criação de uma comissão que investigue a atuação da troika. A iniciativa surge numa tentativa de aumentar um escrutínio democrático na zona euro, podendo estar para breve a criação de uma comissão de inquérito à mesma, que é composta pela Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI.
Já tarda!
Isto tem sido uma loucura mas não tem que continuar a ser.
Nem a loucura nem os loucos que dela padecem!

Nazaré Oliveira

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Estado terrorista



Honoré Daumier - A Revolta (1860)


Já não se aguenta a situação a que chegou o país e a humilhação que continua a fazer-se a quem do seu trabalho vive, a custo vive e mal se aguenta até na luta, não fosse a decência e a dignidade pelas quais vale sempre a pena lutar.

Mais do que um direito adquirido e até de um dever, a greve é um grito de revolta, o culminar da indignação de um povo espezinhado, roubado, há muito ofendida pelos diversos partidos no poder que do seu voto se têm apropriado para, descarada e criminosamente infringirem a Constituição e dela se servirem para benefício do clientelismo partidário ou dos compadrios financeiros, agora, em nome da troika e da desumana austeridade que em desumana servidão se tornou para a grande maioria do nosso povo. E a resposta tem de continuar a ser frontal, séria, inequívoca, oportuna, mas mais forte e mais coesa.

Tem de haver mais Rua, mais força, mais coragem, mais gritos em uníssono clamando justiça social, pão, salário decente para uma vida decente, igualdade, respeito pelos direitos legitimamente conquistados, o fim das impunidades, da corrupção, dos carrascos da democracia e do terrorismo político de que temos sido alvo.

Tem de haver mais insubmissão, mais insubmissos, mais indignação e mais indignados, mais Portugal e menos Europa, mais Política e menos Economia, mais Povo, mais ação e menos silêncios, mais exigência e mais seriedade. Em tudo.

O Estado de Direito, o Estado Democrático, não pode continuar a ser-nos negado por um grupo de instalados no poder que falsearam o juramento de lealdade para com o país quando pelo sufrágio popular para a ação governativa foram investidos.
Falharam o compromisso que aos sete ventos propagandearam em campanhas eleitorais de má memória. Quebrou-se a confiança.

Escandalosamente e com uma insensibilidade política que jamais alguém pensara vir a acontecer, continuam a arrastar a grande maioria do nosso povo para o abismo, obstinadamente apostados numa austeridade sem dó nem piedade, preocupados com a troika, sim, mas não com o país.

“O país não está parado”, afirmara o ministro da Presidência, Marques Guedes no final da reunião do Conselho de Ministros, reportando-se à greve geral do passado dia 27.

Não está parado? Não está parado mas ficará de vez se se continuarem as políticas de empobrecimento constante da grande maioria dos portugueses, com o roubo dos salários, aumento de impostos, falta de investimento, falta de incentivo à produção nacional, falências constantes de pequenas e médias empresas e o futuro penhorado para centenas e centenas de jovens que continuam a ser enganados ao longo da sua escolaridade e formação académica, pois o desemprego os esperará apesar do discurso demagógico do empreendedorismo e da inovação empresarial que este governo apregoa.

Estou farta de cinismo na Política e da verborreia arrogante de uma classe de parasitas que nos invadiu.

Temos que os combater, tal como as pragas.

Como disse, e bem, o Professor António Nóvoa, em tempos tão duros ninguém tem o direito de ficar em silêncio.

 

Nazaré Oliveira

domingo, 16 de junho de 2013

Greve dos Professores


 
A Greve dos professores é um acto de civilização

 
Um sistema educativo constituído por trabalhadores precários, caixeiros-viajantes desumanizados, sobrecarregados de burocracia, com parcos descontos para a segurança social, pondo em causa a vida digna dos que já estão reformados. Professores que ainda tinham direitos, entre os 40 e 60 anos, enviados para um gigante despedimento colectivo ou reformas antecipadas. Turmas atascadas de crianças mal-educadas, seleccionadas para o lixo do «ensino profissional», um eufemismo para saber usar um computador e dizer umas palavras de inglês para uns turistas verem, mantendo a força de trabalho criteriosamente adequada à desordem de um país baseado em baixos salários e exportações. Eis o cenário que os nossos professores estão com esta greve a combater. Não podemos ver nesta greve nada a não ser um acto de civilização, em defesa do bem-estar colectivo.

Para os historiadores, sociólogos do trabalho, afirmar que a greve prejudica tem o mesmo significado que afirmar que a chuva molha. Porque a greve, proibida durante tantos anos e conquistada com mortos e feridos, só é greve se prejudicar a produção, neste caso, a formação da força de trabalho. Sabemos, e não podemos deixar de lembrar aos que hoje trabalham, que a greve é-o porque pára a produção mas também porque pode criar mecanismos de solidariedade, criar fundos de greve (para suportar vários dias de greve), democratizar as estruturas de organização dos trabalhadores (plenários de escolas, assembleias abertas, dirigentes com cargos rotativos); a greve pode também mobilizar outros sectores de trabalhadores à sua volta – foi tudo isto que aconteceu no ano passado em Chicago, nos EUA, naquela que foi a mais importante, e vitoriosa, greve de professores, quando vários bairros de Chicago se mobilizaram, com fundos e acções em defesa dos professores.

A palavra desemprego hoje carrega este significado – os desempregados pressionam os salários dos que estão empregados para baixo, fazem-nos aceitar piores condições laborais.

Argumentei no último livro que coordenei que a estratégia da troika consiste, primordialmente, em reconverter o mercado de trabalho. Como? Transformar todos os trabalhadores do país em trabalhadores precários, isto é, pôr fim ao direito ao trabalho substituído por um estado em que se alterna entre a precariedade e o assistencialismo, os «rendimentos mínimos», quando se fica desempregado.

Um precário ganha em média menos 37%, se for formado menos 900 euros, se não for formado menos 300 euros. Há um número cada vez maior de pessoas eliminadas do mercado de trabalho – num processo de eugenização social da força de trabalho - mas o número dos que voltam ao mercado de trabalho ganhando muito menos aumenta também. Quer isto dizer que, tendencialmente, quem consegue voltar ao mercado de trabalho volta com um salário inferior. Por isso vivemos num país onde há cada vez mais gente desempregada e cada vez mais gente a ganhar o salário mínimo, salário mínimo que é a palavra mágica que contém em si (quase) tudo – bairros sociais degradados, má educação, brutalidade, violência, má alimentação, fome, apatia social.

Nenhum aluno será prejudicado se esta greve sair vencedora e conseguir o que pode, e está ao seu alcance:  reduzir o horário de trabalho, empregar mais professores, estender e melhorar a sua formação nas universidades (ampliar de novo os cursos superiores), devolver aos cursos de educação uma forte componente científica, dignificar o trabalho com salários decentes, acabar com o terror do medo de perder o emprego, diminuir o número de alunos por turma, impor o respeito pelos professores, por parte dos alunos e por parte de todos nós como sociedade – a reboque garantimos a sustentabilidade da segurança social porque com relações laborais protegidas e emprego os descontos para esta aumentam.

O que impressiona nesta greve não é que ela prejudica os alunos. É que ela é o derradeiro acto para salvar os alunos, uma geração inteira «queimada» por um Governo que nada tem para lhes oferecer a não ser um salário baixo ou um passaporte para a emigração, para países que, ao contrário dos anos 60, também eles estão a braços com desemprego crescente!

Vivemos abaixo das nossas possibilidades. Hoje um trabalhador, por força do desenvolvimento tecnológico, é 5,35 vezes mais produtivo do que em 1961, mais de 430% mais produtivo! Isso significa que produzimos riqueza social suficiente para ter turma de 10, 15 alunos, escolas amplas com espaços verdes, espaços de brincadeira, funcionários bem pagos e atentos; professores bem formados em cursos com extensão universitária de 5 ou 7 anos; aprendizagem de instrumentos musicais, teatro…

Esta greve aos exames defende a dignidade laboral de quem vê no acto educativo um acto de construção da civilidade, da educação, da candura, do amor a aprender, do respeito pelo outro, da ciência como meio de emancipação humana.

 Posted on Junho 16, 2013 por Raquel Varela

O paleio de Couto dos Santos

Este Sr. Couto dos Santos... Só paleio! Fala à boca cheia de números e esquece-se das pessoas e, pior ainda, esquece-se da porcaria que fez há anos e que para a situação a que chegou a Escola Pública atualmente também contribuiu. Coitado! Manias não lhe faltam e arrogância também, e isto, sem falar da sua ignorância relativamente aos professores e à sua luta. Seriedade, meu senhor! Informe-se mas BEM!





domingo, 9 de junho de 2013

Peço desculpa por querer defender o meu emprego

 


 
Sou professor há quase 20 anos e ganho 1300 euros por mês. Não me queixo, há quem ganhe muito menos. A minha mulher, também professora, está desempregada. O seu subsídio de desemprego, que está quase a acabar, é de 380 euros. Pago casa ao Banco e tenho duas filhas pequeninas.

Tenho mais de 40 anos. Se neste momento for despedido pelo Ministério da Educação e ficar sem emprego, não sei como vou sobreviver. Eu e as minhas filhas. Com esta idade, quem é que me dá trabalho?

É por isso que vou fazer greve no dia 17 de Junho e nos outros dias. Porque estou a
lutar pelo meu emprego, pela minha sobrevivência.

No fundo, resume-se a isto. Podia apresentar mil argumentos, mas o principal é este. E não venham falar dos alunos e de como vão ser prejudicados. Adoro os meus alunos. São muitíssimo importantes para mim, mas as minhas filhas são mais importantes do que eles. E são as minhas filhas e o seu futuro que estão em causa neste momento.

Se me dissessem que eu não fazia falta, ainda podia repensar a minha posição. Mas se o número de alunos no sistema acaba de aumentar muitíssimo, com o alargamento da escolaridade obrigatória para o 12.º ano, como é que podem dizer que eu não faço falta se até agora sempre fiz? Se há milhares de professores que foram para a reforma, sem que tenha entrado ninguém de novo, como é que é possível que eu não seja necessário ao sistema?

Aumentando as turmas para 30 alunos ou mais? Fazendo ainda mais fusões e mega-agrupamentos?

Obrigando os alunos a deslocações cada vez maiores? Negando
o pequeno-almoço nas escolas aos que mais precisam? É isso que querem para os vossos filhos?

E
as promessas do primeiro-ministro de que os professores efectivos não irão para a mobilidade para mim valem zero. Eu não sou efectivo numa escola, sou Quadro de Zona Pedagógica e, vai-se a ver, afinal era só mesmo dos efectivos que o presidente do conselho estava a falar.

A palavra de Pedro Passos Coelho, para mim, vale zero.

Porque é um cidadão sem palavra, sem honra, sem espinha.

Sim, vou fazer greve. Peço desculpa por querer defender o meu emprego.

 

 03/06/2013 - Por Ricardo Ferreira Pinto

(retirado do blogue Aventar)

domingo, 26 de maio de 2013

O Big Brother e a TVI




 

Um anormal chamado Zézé Camarinha, um dos muitos anormais do anormal Big Brother da TVI, disse (e um jornal publicou):

"Big Brother, quero a brasileira [Kelly está no Barracão] do lado de cá. Vou perder a cabeça, quero a brasileira deste lado, vou pedir perdão à Tatiana [a namorada], mas vai ser ao vivo, a sério e a cores... Vou tratar do rabinho da brasileira".

Esta besta, este desequilibrado, é como as bestas que criaram, impulsionaram e tudo  fizeram e fazem para colocar o programa "no ar".

Só num país como o nosso esta arrogância porca e estes seres desprezíveis têm destaque e passam impunes perante uma Moral Pública que é e devia estar sempre  ao serviço da Cultural, do Civismo, dos Direitos Humanos, caso da Igualdade de Género, e, acima de tudo, da Boa Educação.

Ver esta porcaria? Nem pensar mas, pelo q sabemos do lixo que o programa foi desde o primeiro, com um voyeurismo obsceno e absolutamente degradante em termos de princípios e valores, designadamente, a forma como trata e vê os mais vulneráveis, os simples (caso do triste Zé Maria), os coitados e as coitadas que, pela pobreza de espírito ou a troco de uma qualquer foto nos jornais, não interessa porquê nem como,  se sujeitam a esta e outras humilhações. Em direto. Exaustivamente expostos em nome das audiências, dos euros para a  empresa e dos bolsos dos administradores. Revolta-me.

Mas o pior é saber que esta gente se acha “notável”, umas “estrelas”, uns “artistas”! Revolta-me.

Revolta-me ver gente com saúde, ali, sem fazer nada de útil à sociedade, fechados por quem deles espera fazer dinheiro, na esperança de momentos doentios de um quotidiano forçado, do qual se espera sexo e não amor,  intrigas e até promiscuidade.

Revolta-me que a Alta Autoridade para a Comunicação Social nada faça e finja não saber. Nem mesmo o Tribunal Constitucional.

Revolta-me e preocupa-me saber que há gente que disto e destes gosta.

Não quero o regresso da censura nem o “lápis azul” do Estado Novo, não. Jamais!

Quero é princípios e valores que, seguramente, estes não são.

Quero um país que os tenha e os defenda.

Quero um país que saiba ter vergonha e assumir publicamente que tem de mudar de rumo.

Big Brother? VIP ou não VIP? Um dos programas em que mais apostou e continua a apostar este canal da Igreja Católica e no qual gastou e continua a gastar gasta milhões de euros!!!

Que hipocrisia!

Quero que a corja imunda desapareça para sempre.

 

Nazaré Oliveira

António Pina e as touradas









Meu Deus, como é que há pessoas que aplaudem "isto", adoram ver "isto", patrocinam "isto" e chamam "a isto" cultura?

António Pina, o nosso saudoso António Pina, de uma sensibilidade incrível e humanidade também, dizia, respondendo a um dos leitores de uma sua a sua crónica :

A propósito da anterior crónica (sobre as inclinações "culturais" da Câmara de Vinhais, que decidiu iniciar os seus munícipes nos prazeres "exquis" da brutalidade e tortura pública de animais) escreve-me um leitor dizendo, em abono da tourada, que Hemingway e Picasso gostavam do espectáculo. Não só eles, acrescento eu, e de touradas e coisas piores...

Escritores e artistas raramente são exemplos morais recomendáveis. Céline, escritor maior (mesmo não sendo a literatura um campeonato) que Hemingway, partilhou com Hitler, além do desprezo pelas mulheres, o gosto pela carnificina de judeus, e Picasso, juntamente com as touradas, teve outra devoção não menos sangrenta, Estaline.

A História está cheia de obras sensíveis e generosas, às vezes de grande riqueza moral, realizadas por gente feia, porca, má ou nem por isso. E se o desprezível dr. Destouches, dito Céline, escreveu a admirável "Viagem ao fim da noite" mas também obras imundas e carregadas de ódio, em outras é difícil encontrar traço do ser humano existente por trás delas (quem dirá que por trás da belíssima Catedral de Brasília está um devoto, também ele, de Estaline?)

Não é por Hemingway e Picasso se terem divertido (terem sido capazes disso) com a agonia e morte de um animal que a tourada deixa de ser um espectáculo eticamente condenável. O facto de apreciarem touradas desabona a favor de um e outro, não abona a favor das touradas.

domingo, 5 de maio de 2013

Senhor Professor António Nóvoa

Este Senhor é um Grande Senhor! Foi sempre!
Precisamos cada vez mais dele e de tantos outros como ele.

Precisamos tanto de gente inteligente e culta para dirigir este país!
De gente lúcida, séria, trabalhadora! Que sabe do que fala e da mudança que tarda mas impossível não é!

Senhor Professor António Nóvoa, eu voto em si. Por favor, candidate-se.




 

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Levanta-te meu povo. Não é tarde!


SONETO DO TRABALHO

 

Das prensas dos martelos das bigornas
das foices dos arados das charruas
das alfaias dos cascos das dornas
é que nasce a canção que anda nas ruas.

Um povo não é livre em águas mornas
não se abre a liberdade com gazuas
à força do teu braço é que transformas
as fábricas e as terras que são tuas

Abre os olhos e vê. Sê vigilante
a reacção não passará diante
do teu punho fechado contra o medo.

Levanta-te meu povo. Não é tarde.
Agora é que o mar canta é que o sol arde
pois quando o povo acorda é sempre cedo.

 
Este poema que mantem toda a atualidade, foi retirado do livro "Vinte anos de poesia", de  José Carlos Ary dos Santos

 

Viva o 1º DE MAIO!

O primeiro 1º de Maio português em liberdade!
 

terça-feira, 2 de abril de 2013

Pedro Abrunhosa

Crande compositor!
Aqui, três trabalhos belíssimos (poema e música).
 
 


 

domingo, 31 de março de 2013

Mensagem de Páscoa do Papa Francisco

 



  
Vaticano: Papa apela à paz na península coreana e condena tráfico humano
 
 
(Primeira mensagem pascal de Francisco passou em revista vários conflitos mundiais)

 
Amados irmãos e irmãs de Roma e do mundo inteiro, boa Páscoa!

Que grande alegria é para mim poder dar-vos este anúncio: Cristo ressuscitou! Queria que chegasse a cada casa, a cada família e, especialmente onde há mais sofrimento, aos hospitais, às prisões...

Sobretudo queria que chegasse a todos os corações, porque é lá que Deus quer semear esta Boa Nova: Jesus ressuscitou, uma esperança despertou para ti, já não estás sob o domínio do pecado, do mal! Venceu o amor, venceu a misericórdia!

Também nós, como as mulheres discípulas de Jesus que foram ao sepulcro e o encontraram vazio, nos podemos interrogar que sentido tenha este acontecimento (cf. Lc 24, 4). Que significa o fato de Jesus ter ressuscitado? Significa que o amor de Deus é mais forte que o mal e a própria morte; significa que o amor de Deus pode transformar a nossa vida, fazer florir aquelas parcelas de deserto que ainda existem no nosso coração.

Este mesmo amor pelo qual o Filho de Deus Se fez homem e prosseguiu até ao extremo no caminho da humildade e do dom de Si mesmo, até a morada dos mortos, ao abismo da separação de Deus, este mesmo amor misericordioso inundou de luz o corpo morto de Jesus e transfigurou-o, o fez passar à vida eterna. Jesus não voltou à vida que tinha antes, à vida terrena, mas entrou na vida gloriosa de Deus e o fez com a nossa humanidade, abrindo-nos um futuro de esperança.

Eis o que é a Páscoa: é o êxodo, a passagem do homem da escravidão do pecado, do mal, à liberdade do amor, do bem. Porque Deus é vida, somente vida, e a sua glória é o homem vivo (cf. Ireneu, Adversus haereses, 4, 20, 5-7).

Amados irmãos e irmãs, Cristo morreu e ressuscitou de uma vez para sempre e para todos, mas a força da Ressurreição, esta passagem da escravidão do mal à liberdade do bem, deve realizar-se em todos os tempos, nos espaços concretos da nossa existência, na nossa vida de cada dia. Quantos desertos tem o ser humano de atravessar ainda hoje! Sobretudo o deserto que existe dentro dele, quando falta o amor a Deus e ao próximo, quando falta a consciência de ser guardião de tudo o que o Criador nos deu e continua a dar. Mas a misericórdia de Deus pode fazer florir mesmo a terra mais árida, pode devolver a vida aos ossos ressequidos (cf. Ez 37, 1-14).

Eis, portanto, o convite que dirijo a todos: acolhamos a graça da Ressurreição de Cristo! Deixemo-nos renovar pela misericórdia de Deus, deixemo-nos amar por Jesus, deixemos que a força do seu amor transforme também a nossa vida, tornando-nos instrumentos desta misericórdia, canais através dos quais Deus possa irrigar a terra, guardar a criação inteira e fazer florir a justiça e a paz.

E assim, a Jesus ressuscitado que transforma a morte em vida, peçamos para mudar o ódio em amor, a vingança em perdão, a guerra em paz. Sim, Cristo é a nossa paz e, por seu intermédio, imploramos a paz para o mundo inteiro.

Paz para o Médio Oriente, especialmente entre israelitas e palestinos, que sentem dificuldade em encontrar a estrada da concórdia, a fim de que retomem, com coragem e disponibilidade, as negociações para pôr termo a um conflito que já dura há demasiado tempo. Paz no Iraque, para que cesse definitivamente toda a violência, e sobretudo para a amada Síria, para a sua população vítima do conflito e para os numerosos refugiados, que esperam ajuda e conforto. Já foi derramado tanto sangue… Quantos sofrimentos deverão ainda atravessar antes de se conseguir encontrar uma solução política para a crise?

Paz para a África, cenário ainda de sangrentos conflitos: no Mali, para que reencontre unidade e estabilidade; e na Nigéria, onde infelizmente não cessam os atentados, que ameaçam gravemente a vida de tantos inocentes, e onde não poucas pessoas, incluindo crianças, são mantidas como reféns por grupos terroristas. Paz no leste da República Democrática do Congo e na República Centro-Africana, onde muitos se veem forçados a deixar as suas casas e vivem ainda no medo.

Paz para a Ásia, sobretudo na península coreana, para que sejam superadas as divergências e amadureça um renovado espírito de reconciliação.

Paz para o mundo inteiro, ainda tão dividido pela ganância de quem procura lucros fáceis, ferido pelo egoísmo que ameaça a vida humana e a família – um egoísmo que faz continuar o tráfico de pessoas, a escravatura mais extensa neste século vinte e um. Paz para todo o mundo dilacerado pela violência ligada ao narcotráfico e por uma iníqua exploração dos recursos naturais. Paz para esta nossa Terra! Jesus ressuscitado leve conforto a quem é vítima das calamidades naturais e nos torne guardiões responsáveis da criação.

Amados irmãos e irmãs, originários de Roma ou de qualquer parte do mundo, a todos vós que me ouvis, dirijo este convite do Salmo 117: «Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom, porque é eterno o seu amor. Diga a casa de Israel: É eterno o seu amor» (vv. 1-2).

Aleluia! Aleluia!

sábado, 30 de março de 2013

Via Sacra

“Ecce Homo”( Portugal, 2ª metade do século XVI)
“Ecce Homo”( Portugal, 2ª metade do século XVI)


 
Bual
  
 
Portinari
 
Luiz Carlos de Andrade Lima

Aldo Locatelli  

Via Sacra (Buçaco)


Bual
  
Miguel Ângelo

  




Duro caminho de chegar à morte!
E dura condição
De ser nele,
Como eu,
Conjuntamente o Cristo e o Cireneu!

Condenado,
Açoitado,
...
A cair
E a sangrar
Sob o peso do lenho,
Se me quero sentir humano e ajudado,
O recurso que tenho
É cantar como um carro carregado.

É pedir a coragem dos meus passos
À força dos meus versos.
Versos que são apenas o sudário,
Solidário
E crispado,
Do meu rosto de carne, desenhado
No chão da caminhada.
Como ajuda que desse ao próprio corpo

A sombra por ele mesmo projectada.

 
 
 
in Miguel Torga - Antologia Poética, Publ. D. Quixote, pg. 197.

terça-feira, 26 de março de 2013

Maria Nazaré (curta metragem ESCSL)

Um excelente trabalho de Marta Drugg!


 
 

Maria e Nazaré são duas mulheres com vidas opostas. A única altura do dia em que elas se cruzam é no fim do turno da noite de Nazaré e no início do dia de Maria. A cidade de Lisboa é o quadro para este encontro, que é também um bom pretexto para se pensar o modo de vida.


Curta-metragem da ESCS de Lisboa, realizado por alunos de nacionalidades brasileira, cabo verdiana e espanhola.

Realização/Argumento: Marta Drügg
Guião: Marta Drüg e David Vallina
Produção: Melania Fernández
Captação/Fotografia: David Vallina
Edição: David Vallina
Som: William Melo
Edição som: William Melo e Emilio Pascual
Maria - Mariana Portugal
Nazaré - Elisabete Pedreira
Cadeira: Laboratorio Audiovisual
Professor: Ricardo Nogueiras

A nossa democracia


Oh, oh, a nossa democracia!
Realmente...





Diz-se muitas vezes em Portugal, creio que por preguiça, que «o governo foi eleito». Em bom rigor constitucional, não é verdade: o governo é nomeado pelo Presidente e apoiado pelo Parlamento. O que me irrita, porém, é que se insinua que os ministros foram «eleitos», quando em Portugal temos a péssima tradição de aceitar que haja ministros que nunca concorreram a eleições, e cuja ligação a partidos ou à própria política se desconhecia antes das eleições.

O exemplo mais flagrante é Vítor Gaspar: antes da segunda quinzena de Junho de 2011, era um perfeito desconhecido da opinião pública. Fora do seu restrito círculo académico e tecnocrático, poucos saberiam quem era. O PSD não anunciara que seria ele o Ministro das Finanças (apostava-se em Catroga). Hoje, graças à tróica e à menoridade intelectual do Primeiro Ministro, será o homem mais poderoso de Portugal nas decisões executivas.

Uma lição que urge retirar é que não deveríamos tolerar que seja nomeado ministro quem não tenha sido eleito deputado na legislatura em que o governo assume funções. Porque faz parte da democracia poder escrutinar, questionar e testar quem poderá vir a ser poder antes de ser poder. Depois, já é tarde.
 
 

Hitler na escola





Absolutamente de acordo com Esther Mucznik, uma grande senhora, uma grande mulher que conheço pessoalmente, e com a sua indignação e revolta pelo sucedido.

De facto, ao ponto que chegámos e ao ponto que nos enterrámos, em termos de valores, ética, atitudes.

Não há vergonha, não, e continuamos a assistir à ditadura dos que, de forma prepotente, cobarde, só se impõem porque se escudam no poder que quase sempre usurparam, manipularam e ludibriaram em campanhas eleitorais de má memória.
Ou dos que, pela sua estupidez, mediocridade e demência política e social, nada entendem mas tudo fazem para parecer que entendem, acomodados que estão em cargos diretivos ad eterno, completamente alheados da realidade, da cultura, da política, fingindo o que não são nem nunca virão a ser,  perfeitamente entregues ao poder pelo poder e à sede de mandar, mas embrutecidos pela estupidez e até má formação que  muito a custo lá vão tentando esconder.

Claro que são apoiados sempre pelas sanguessugas e parasitas que com este desgoverno se vão safando, à espera de migalhas ou de lugares ou de cargos que em trabalho pouco ou nada custem!
São a imagem do país à deriva que vertiginosamente se perde no tráfico de inflûencias, na corrupção, na idiotice institucionalizada, nos compadrios, no nonsense político, porque de trabalho e seriedade pouco sabem ou, se sabem, disso não se interessam porque disso nada lhes vemos ou, se algo lhes vemos, vergonhosamente desaconselhado será pelos resultados que à vista estão.

Haja vergonha, acomodados! 
Acomodados que fingem não ver ou fingem não saber para se desculpabilizarem de uma intervenção cívica que não têm e da qual se arredam sistematicamente.
Tão grave é o que mal faz como o que mal deixa fazer impunemente. 
Que dirigentes estes e que cidadãos estes que isto consentem e continuam a consentir!

Até quando, portugueses?
 
Nazaré Oliveira

 

Hitler na escola

Há poucos dias, fui informada por professores de uma escola pública, em Portugal, de que no passado ano lectivo fora colocado um cartaz (ver abaixo) na entrada do edifício, nas paredes dos corredores e na sala de professores, apelando à inscrição dos alunos num “workshop de alemão”, como forma de “sobrevivência linguística”. Nada disto seria digno de nota se não fosse o facto de o apelo à inscrição invocar a submissão ao “Chefe”, neste caso o Führer em pessoa, retratado numa imagem a fazer a saudação nazi …

O cartaz acabou por ser retirado, não por iniciativa da direcção da escola ou de um repúdio generalizado, mas pelo protesto de um único professor, que, para além de exprimir a sua indignação junto da docente que autorizou tal cartaz, exigiu da direcção da escola que o mesmo fosse retirado. O que veio efectivamente a acontecer, juntamente com um pedido de desculpas da professora em questão, afirmando que "não fazia ideia de que o mesmo iria provocar tanta susceptibilidade”. Doce inocência, tranquila ignorância…

Na verdade, não sabemos se é de ignorância que se trata ou de convicções ideológicas. Mas inclino-me mais para a primeira hipótese: no estado da educação em Portugal consequência das inúmeras e sempre mais “inovadoras” reformas do sistema educativo desde o 25 de Abril, do baixo nível de cultura geral de grande parte dos professores – com honrosas e importantes excepções –, da subalternização durante décadas das disciplinas de Ciências Humanas, em nome da “eficácia” e do “sucesso” das carreiras profissionais, a ignorância é certamente a hipótese mais plausível – mas totalmente inadmissível. É absolutamente inadmissível que alunos do 12.º ano, depois de terem estudado a Segunda Guerra Mundial nos currículos de História, elaborem um cartaz destes; é absolutamente inadmissível que professores de uma escola pública supostamente responsável por ensinar e educar permitam a colocação de um cartaz deste tipo; é absolutamente inadmissível que a direcção da escola não tenha, ela própria, tomado a iniciativa de o retirar imediatamente.

Só que, na realidade, esta ignorância ou ainda mais provavelmente esta indiferença é apenas o reflexo de algo muito mais profundo, muito mais atávico em Portugal e que não data nem de hoje nem do 25 de Abril. É aquilo que nós gostamos de chamar “tolerância” e que mais não é, na maior parte das vezes, indiferença, falta de princípios, desprezo pelas ideias e pelas convicções. Em nome de uma liberdade de expressão, tão instrumentalizada quanto pervertida, não se entende que sem ética nem moral esta não passa de um relativismo esvaziado de sentido. Sob a cómoda e aparentemente tão tolerante expressão “cada qual é livre de dizer o que quiser” esconde-se na maior parte das vezes a indefinição ética, a recusa tacticista de tomar partido, a indiferença e a contemporização com o inadmissível. É este encolher de ombros que levou o historiador Ian Kershaw a escrever que “a estrada de Auschwitz foi construída pelo ódio, mas o seu pavimento foi a indiferença”.

Exagero? Talvez, mas é com este encolher de ombros, em nome do “contraditório” (?!), do “Estado de direito e democrático” ou citando de peito cheio a famosa frase “Não concordo com o que diz, mas defenderei até à morte o seu direito de o dizer” que se defende a contratação do engenheiro Sócrates pela televisão pública portuguesa, sem se perceber que o que está em causa não é “o que ele diz”, mas a total imoralidade quer do convite, quer da sua aceitação. O ex-chefe do Governo de Portugal que durante seis anos nos conduziu de vitória em vitória até à situação actual, que fugiu para França e das responsabilidades que nunca reconheceu, e cujo único comentário que exprimiu a propósito do Memorando – que ele próprio assinou – foi que as dívidas não são para pagar, esse homem não merece um espaço de autopromoção numa televisão que é paga com o dinheiro dos contribuintes. No momento difícil que o país atravessa, esta contratação é escarnecer dos portugueses. Se não se percebe que ela nada tem a ver com a liberdade de expressão, é porque não se entende nada nem de ética, nem de princípios, e muito menos de liberdade.

 
Esther Mucznik  in PÚBLICO