Honoré Daumier - A Revolta (1860) |
Já não se aguenta a
situação a que chegou o país e a humilhação que continua a fazer-se a
quem do seu trabalho vive, a custo vive e mal se aguenta até na luta, não fosse
a decência e a dignidade pelas quais vale sempre a pena lutar.
Mais do que um direito
adquirido e até de um dever, a greve é um grito de revolta, o culminar da indignação de um povo
espezinhado, roubado, há muito ofendida pelos diversos partidos no poder que do
seu voto se têm apropriado para, descarada e criminosamente infringirem a
Constituição e dela se servirem para benefício do clientelismo partidário ou
dos compadrios financeiros, agora, em nome da troika e da desumana austeridade
que em desumana servidão se tornou para a grande maioria do nosso povo. E a
resposta tem de continuar a ser frontal, séria, inequívoca, oportuna, mas mais forte
e mais coesa.
Tem de haver mais Rua,
mais força, mais coragem, mais gritos em uníssono clamando justiça social, pão,
salário decente para uma vida decente, igualdade, respeito pelos direitos legitimamente
conquistados, o fim das impunidades, da corrupção, dos carrascos da democracia
e do terrorismo político de que temos sido alvo.
Tem de haver mais
insubmissão, mais insubmissos, mais indignação e mais indignados, mais Portugal
e menos Europa, mais Política e menos Economia, mais Povo, mais ação e menos
silêncios, mais exigência e mais seriedade. Em tudo.
O Estado de Direito, o
Estado Democrático, não pode continuar a ser-nos negado por um grupo de
instalados no poder que falsearam o juramento de lealdade para com o país
quando pelo sufrágio popular para a ação governativa foram investidos.
Falharam o compromisso que aos sete ventos propagandearam em campanhas eleitorais de má memória. Quebrou-se a confiança.
Falharam o compromisso que aos sete ventos propagandearam em campanhas eleitorais de má memória. Quebrou-se a confiança.
Escandalosamente e com
uma insensibilidade política que jamais alguém pensara vir a acontecer, continuam
a arrastar a grande maioria do nosso povo para o abismo, obstinadamente
apostados numa austeridade sem dó nem piedade, preocupados com a troika, sim,
mas não com o país.
“O
país não está parado”, afirmara o ministro da Presidência, Marques Guedes no
final da reunião do Conselho de Ministros, reportando-se à greve geral do
passado dia 27.
Não
está parado? Não está parado mas ficará de vez se se continuarem as políticas de
empobrecimento constante da grande maioria dos portugueses, com o roubo dos
salários, aumento de impostos, falta de investimento, falta de incentivo à
produção nacional, falências constantes de pequenas e médias empresas e o
futuro penhorado para centenas e centenas de jovens que continuam a ser enganados
ao longo da sua escolaridade e formação académica, pois o desemprego os
esperará apesar do discurso demagógico do empreendedorismo e da inovação
empresarial que este governo apregoa.
Estou
farta de cinismo na Política e da verborreia arrogante de uma classe de
parasitas que nos invadiu.
Temos
que os combater, tal como as pragas.
Como disse, e bem, o
Professor António Nóvoa, em tempos tão duros ninguém tem o direito de ficar em
silêncio.
Nazaré Oliveira