sexta-feira, 28 de junho de 2013

Estado terrorista



Honoré Daumier - A Revolta (1860)


Já não se aguenta a situação a que chegou o país e a humilhação que continua a fazer-se a quem do seu trabalho vive, a custo vive e mal se aguenta até na luta, não fosse a decência e a dignidade pelas quais vale sempre a pena lutar.

Mais do que um direito adquirido e até de um dever, a greve é um grito de revolta, o culminar da indignação de um povo espezinhado, roubado, há muito ofendida pelos diversos partidos no poder que do seu voto se têm apropriado para, descarada e criminosamente infringirem a Constituição e dela se servirem para benefício do clientelismo partidário ou dos compadrios financeiros, agora, em nome da troika e da desumana austeridade que em desumana servidão se tornou para a grande maioria do nosso povo. E a resposta tem de continuar a ser frontal, séria, inequívoca, oportuna, mas mais forte e mais coesa.

Tem de haver mais Rua, mais força, mais coragem, mais gritos em uníssono clamando justiça social, pão, salário decente para uma vida decente, igualdade, respeito pelos direitos legitimamente conquistados, o fim das impunidades, da corrupção, dos carrascos da democracia e do terrorismo político de que temos sido alvo.

Tem de haver mais insubmissão, mais insubmissos, mais indignação e mais indignados, mais Portugal e menos Europa, mais Política e menos Economia, mais Povo, mais ação e menos silêncios, mais exigência e mais seriedade. Em tudo.

O Estado de Direito, o Estado Democrático, não pode continuar a ser-nos negado por um grupo de instalados no poder que falsearam o juramento de lealdade para com o país quando pelo sufrágio popular para a ação governativa foram investidos.
Falharam o compromisso que aos sete ventos propagandearam em campanhas eleitorais de má memória. Quebrou-se a confiança.

Escandalosamente e com uma insensibilidade política que jamais alguém pensara vir a acontecer, continuam a arrastar a grande maioria do nosso povo para o abismo, obstinadamente apostados numa austeridade sem dó nem piedade, preocupados com a troika, sim, mas não com o país.

“O país não está parado”, afirmara o ministro da Presidência, Marques Guedes no final da reunião do Conselho de Ministros, reportando-se à greve geral do passado dia 27.

Não está parado? Não está parado mas ficará de vez se se continuarem as políticas de empobrecimento constante da grande maioria dos portugueses, com o roubo dos salários, aumento de impostos, falta de investimento, falta de incentivo à produção nacional, falências constantes de pequenas e médias empresas e o futuro penhorado para centenas e centenas de jovens que continuam a ser enganados ao longo da sua escolaridade e formação académica, pois o desemprego os esperará apesar do discurso demagógico do empreendedorismo e da inovação empresarial que este governo apregoa.

Estou farta de cinismo na Política e da verborreia arrogante de uma classe de parasitas que nos invadiu.

Temos que os combater, tal como as pragas.

Como disse, e bem, o Professor António Nóvoa, em tempos tão duros ninguém tem o direito de ficar em silêncio.

 

Nazaré Oliveira