Absolutamente de acordo com Esther Mucznik, uma grande senhora, uma grande mulher
que conheço pessoalmente, e com a sua indignação e revolta pelo sucedido.
De facto, ao ponto que chegámos e ao ponto
que nos enterrámos, em termos de valores, ética, atitudes.
Não há vergonha, não, e continuamos a assistir à ditadura
dos que, de forma prepotente, cobarde, só se impõem porque se escudam no
poder que quase sempre usurparam, manipularam e ludibriaram em campanhas eleitorais de má memória.
Ou dos que, pela sua estupidez, mediocridade e demência política e social, nada entendem mas tudo fazem para parecer que entendem, acomodados que estão em cargos diretivos ad eterno, completamente alheados da realidade, da cultura, da política, fingindo o que não são nem nunca virão a ser, perfeitamente entregues ao poder pelo poder e à sede de mandar, mas embrutecidos pela estupidez e até má formação que muito a custo lá vão tentando esconder.
Claro que são apoiados sempre pelas sanguessugas e parasitas que com este desgoverno se vão safando, à espera de migalhas ou de lugares ou de cargos que em trabalho pouco ou nada custem!
São a imagem do país à deriva que vertiginosamente se perde no tráfico de inflûencias, na corrupção, na idiotice institucionalizada, nos compadrios, no nonsense político, porque de trabalho e seriedade pouco sabem ou, se sabem, disso não se interessam porque disso nada lhes vemos ou, se algo lhes vemos, vergonhosamente desaconselhado será pelos resultados que à vista estão.
Haja vergonha, acomodados!
Claro que são apoiados sempre pelas sanguessugas e parasitas que com este desgoverno se vão safando, à espera de migalhas ou de lugares ou de cargos que em trabalho pouco ou nada custem!
São a imagem do país à deriva que vertiginosamente se perde no tráfico de inflûencias, na corrupção, na idiotice institucionalizada, nos compadrios, no nonsense político, porque de trabalho e seriedade pouco sabem ou, se sabem, disso não se interessam porque disso nada lhes vemos ou, se algo lhes vemos, vergonhosamente desaconselhado será pelos resultados que à vista estão.
Haja vergonha, acomodados!
Acomodados que fingem não ver ou fingem não saber para se desculpabilizarem de uma intervenção cívica que não têm e da qual se arredam sistematicamente.
Tão grave é o que mal faz como o que mal deixa fazer impunemente.
Que dirigentes estes e que cidadãos estes que isto consentem e continuam a consentir!
Até quando, portugueses?
Nazaré Oliveira
Hitler na escola
Há poucos dias, fui
informada por professores de uma escola pública, em Portugal, de que no passado
ano lectivo fora colocado um cartaz (ver abaixo) na entrada do edifício, nas
paredes dos corredores e na sala de professores, apelando à inscrição dos alunos
num “workshop de alemão”, como forma de “sobrevivência linguística”.
Nada disto seria digno de nota se não fosse o facto de o apelo à inscrição
invocar a submissão ao “Chefe”, neste caso o Führer em pessoa, retratado
numa imagem a fazer a saudação nazi …
O cartaz acabou por ser
retirado, não por iniciativa da direcção da escola ou de um repúdio
generalizado, mas pelo protesto de um único professor, que, para além de
exprimir a sua indignação junto da docente que autorizou tal cartaz, exigiu da
direcção da escola que o mesmo fosse retirado. O que veio efectivamente a
acontecer, juntamente com um pedido de desculpas da professora em questão,
afirmando que "não fazia ideia de que o mesmo iria provocar tanta
susceptibilidade”. Doce inocência, tranquila ignorância…
Na verdade, não sabemos
se é de ignorância que se trata ou de convicções ideológicas. Mas inclino-me
mais para a primeira hipótese: no estado da educação em Portugal consequência
das inúmeras e sempre mais “inovadoras” reformas do sistema educativo desde o
25 de Abril, do baixo nível de cultura geral de grande parte dos professores –
com honrosas e importantes excepções –, da subalternização durante décadas das
disciplinas de Ciências Humanas, em nome da “eficácia” e do “sucesso” das
carreiras profissionais, a ignorância é certamente a hipótese mais plausível –
mas totalmente inadmissível. É absolutamente inadmissível que alunos do 12.º
ano, depois de terem estudado a Segunda Guerra Mundial nos currículos de
História, elaborem um cartaz destes; é absolutamente inadmissível que
professores de uma escola pública supostamente responsável por ensinar e educar
permitam a colocação de um cartaz deste tipo; é absolutamente inadmissível que
a direcção da escola não tenha, ela própria, tomado a iniciativa de o retirar
imediatamente.
Só que, na realidade,
esta ignorância ou ainda mais provavelmente esta indiferença é apenas o reflexo
de algo muito mais profundo, muito mais atávico em Portugal e que não data nem
de hoje nem do 25 de Abril. É aquilo que nós gostamos de chamar “tolerância” e
que mais não é, na maior parte das vezes, indiferença, falta de princípios,
desprezo pelas ideias e pelas convicções. Em nome de uma liberdade de
expressão, tão instrumentalizada quanto pervertida, não se entende que sem
ética nem moral esta não passa de um relativismo esvaziado de sentido. Sob a
cómoda e aparentemente tão tolerante expressão “cada qual é livre de dizer o
que quiser” esconde-se na maior parte das vezes a indefinição ética, a recusa
tacticista de tomar partido, a indiferença e a contemporização com o
inadmissível. É este encolher de ombros que levou o historiador Ian Kershaw a
escrever que “a estrada de Auschwitz foi construída pelo ódio, mas o seu
pavimento foi a indiferença”.
Exagero? Talvez, mas é
com este encolher de ombros, em nome do “contraditório” (?!), do “Estado de
direito e democrático” ou citando de peito cheio a famosa frase “Não concordo
com o que diz, mas defenderei até à morte o seu direito de o dizer” que se
defende a contratação do engenheiro Sócrates pela televisão pública portuguesa,
sem se perceber que o que está em causa não é “o que ele diz”, mas a total
imoralidade quer do convite, quer da sua aceitação. O ex-chefe do Governo de
Portugal que durante seis anos nos conduziu de vitória em vitória até à
situação actual, que fugiu para França e das responsabilidades que nunca
reconheceu, e cujo único comentário que exprimiu a propósito do Memorando – que
ele próprio assinou – foi que as dívidas não são para pagar, esse homem não
merece um espaço de autopromoção numa televisão que é paga com o dinheiro dos
contribuintes. No momento difícil que o país atravessa, esta contratação é
escarnecer dos portugueses. Se não se percebe que ela nada tem a ver com a
liberdade de expressão, é porque não se entende nada nem de ética, nem de
princípios, e muito menos de liberdade.
Esther Mucznik in PÚBLICO