Oh, oh, a nossa democracia!
Realmente...
Diz-se
muitas vezes em Portugal, creio que por preguiça, que «o governo foi eleito».
Em bom rigor constitucional, não é verdade: o governo é nomeado pelo Presidente
e apoiado pelo Parlamento. O que me irrita, porém, é que se insinua que os
ministros foram «eleitos», quando em Portugal temos a péssima tradição de
aceitar que haja ministros que nunca concorreram a eleições, e cuja ligação a
partidos ou à própria política se desconhecia antes das eleições.
O exemplo
mais flagrante é Vítor Gaspar: antes da segunda quinzena de Junho de 2011, era
um perfeito desconhecido da opinião pública. Fora do seu restrito círculo
académico e tecnocrático, poucos saberiam quem era. O PSD não anunciara que
seria ele o Ministro das Finanças (apostava-se em Catroga). Hoje, graças à
tróica e à menoridade intelectual do Primeiro Ministro, será o homem mais
poderoso de Portugal nas decisões executivas.
Uma lição
que urge retirar é que não deveríamos tolerar que seja nomeado ministro quem
não tenha sido eleito deputado na legislatura em que o governo assume funções.
Porque faz parte da democracia poder escrutinar, questionar e testar quem
poderá vir a ser poder antes de ser poder. Depois, já é tarde.