sábado, 30 de novembro de 2013

Viana do Castelo em em luta

Mais "uma história muito mal contada"! Vergonhosa!
Mais uma vez o governo e o seu desgoverno a lançarem na miséria e desemprego mais de 600 trabalhadores de uma grande empresa - os Estaleiros de Viana do Castelo. Mais "um negócio da China" para meia dúzia encher os bolsos à custa da miséria que se avizinha para esta gente e esta terra.
De acordo com as últimas notícias e segundo os próprios trabalhadores, os verdadeiros conhecedores do que realmente se tem feito ou não se tem querido fazer, estamos perante mais um caso gravíssimo de GRANDE CORRUPÇÃO, TRÁFICO DE INFLUÊNCIAS E GESTÃO DANOSA.
Um caso de polícia, com toda a certeza, a exigir pronta intervenção da Justiça e TRANSPARÊNCIA NO APURAMENTO DOS FACTOS E DOS CULPADOS.
É mais uma vez a vida de centenas de desgraçados a pagar por uma política desastrosa que à falência e à miséria tem levado o nosso país.
Vergonhoso, este Aguiar Branco. Quem o viu e quem o vê!
Sorridente, como todos os cínicos ministros deste cínico primeiro-ministro, chega a enojar, tal a forma insensível e superficial como fala de despedimentos, com aquele arzinho de quem está a salvar Portugal e os portugueses e que, por isso mesmo, de nós esperaria abraços e beijinhos!
Fogo, já não há pachorra para esta canalhada!
Não se aguenta! Não se aguenta!
P´rá frente Viana! Não desista Sr. Presidente da Câmara



 

Nuno Crato - ministro adjunto do ministério das Finanças


Reflexão outonal sobre o ensino ou o valor da autenticidade

Há uns dias, ou semanas, escutando, descuidadamente, o programa “Antena Aberta” da RDP1, ouvi uma senhora que, criticando o Ministro da Educação e Ciência, manifestava a suspeita de que tivesse sido formado numa “Universidade de um vão de escada”. É assim que se levantam as falsas suspeitas e calúnias, em breve transformadas para alguns em “certezas”. Não, ao contrário de outros ministros, secretários de Estado e adjuntos de ministérios, que fizeram os seus cursos em Universidades particulares de menor crédito e mesmo assim assumem a imagem de “especialistas”, Nuno Crato é um matemático conceituado formado na Universidade Técnica de Lisboa. Mais: em livros muito interessantes e bastante citados defendeu a qualidade do ensino das matérias fundamentais e criticou o exagero do pedagogismo, vício formal que abalou o conhecimento, divulgando ironicamente um termo que fez história, que atribui a Marçal Grilo: “eduquês”. Da minha parte há muito que falava de uma espécie de “panpedagogismo”, que reduzia o conhecimento à forma de o veicular e esquecia o seu conteúdo essencial.

Mas o certo é que um cientista com boa formação e com estas concepções de ruptura não pode ser ministro de um governo destes, numa Europa destas, que procura exclusivamente formas de economizar (que não é o mesmo que produzir riqueza, pois o “negócio” não pode existir sem o “ócio”, ou seja, sem a cultura). Deste modo, acabou por contrariar uma autêntica política de educação e de ciência, pois não o é o que se passa nas nossas escolas, do pré-escolar ao ensino superior, apesar do esforço individual de alguns dos seus educadores e professores: falta de docentes do ensino especial, de psicólogos e de assistentes sociais, fundamentais na lógica de uma educação inclusiva e em meios sociais cada vez mais desestruturados; professores com centenas de alunos, acumulando aulas sobre aulas; mega-agrupamentos que transformam os professores em “docentes-turbo”, sem qualquer vantagem financeira (ao contrário do que sucedeu antigamente na Universidade), percorrendo quilómetros a suas próprias expensas para conseguirem dar as suas aulas em várias escolas; secundarização do ensino de adultos que, apesar dos seus defeitos (a corrigir), tinha as suas virtualidades; aumento da burocracia a todos os níveis de ensino; requintados métodos para ir matando a “escola pública”, que alguns dizem ser um chavão, apenas com o objectivo de esconderem finalidades da política liberal: enfraquecer a “escola de todos” e — ressalvando honrosas excepções — enriquecer, à nossa custa, “escolas de elites”, particulares e ditas cooperativas, de empresários de ocasião, de empresas poderosas e da Igreja (que deveria pôr a mão na consciência, nesta altura em que parece ser governada por um papa que advoga a sua pobreza); universidades sem dinheiro e sem a possibilidade de refrescar o corpo de professores (ao contrário do que sucede com os políticos, cada vez mais jovens e menos aptos, formados nas diversas “jotas”); um corpo de investigadores cada vez mais precário, que, depois de se doutorar, percorre o calvário do pós-doutoramento e do pós-pós-doutoramento; cursos organizados apressadamente, com a mira quase exclusiva da ascensão profissional; crise das humanidades e de ciências fundamentais em prol de estudos tecnológicos e de gestão, que são apresentados como cursos com futuro, mas onde igualmente não se obtém emprego; professores e estudantes, mesmo universitários, que deixaram de pensar e perderam o espírito crítico, não comparecendo sequer em colóquios onde poderiam debater questões, actualizar-se e ir sempre fazendo despertar a sua vontade de descobrir e de reflectir, pelo que é cada vez mais evidente, entre os últimos, o desejo de se divertirem em praxes e tradições inventadas, em vez de intervir na sociedade…

Enfim, ao contrário do que sucede, uma verdadeira política de educação — que passa pelo ministério e pelas escolas e seus professores e estudantes — exige uma reflexão e um debate, um conhecimento da realidade, e não apenas seguir o curso do economicismo. Por isso se desconfia de qualquer medida. Por exemplo, ninguém acredita na boa intenção das novas provas de avaliação inventadas pelo ministério para os docentes sem vínculo. É legítimo que se julgue (como está a suceder) que pretendem apenas concorrer para o despedimento “com justa causa” de algumas centenas de docentes, num tempo em que se tornou banal desempregar os que trabalham, sem que isso faça perder o sono aos governantes. Tudo em nome de um “sistema”… É também em nome dele que — como sucede com os outros funcionários públicos — os docentes no activo vêem cada vez o seu ordenado mais minguado, bem como os pensionistas, alguns dos quais dedicaram à escola a sua vida inteira, ordenado ou pensão que não lhes permite inclusivamente  ter acesso aos bens de cultura, de que precisam como pão, para ensinar, investigar e… para viver.

Por tudo isto recordo constantemente a discussão que sobre o ensino se verificou nos anos trinta do século passado, em tempo de outra crise não menos grave e com um final ainda pior. Joaquim de Carvalho, célebre pensador e historiador da filosofia e das ideias, de quem a Fundação Gulbenkian publicou há pouco tempo as obras, num célebre artigo do Diário Liberal, de 8 de Novembro de 1933, intitulado “Reflexão outonal sobre a Universidade de todo o ano”, salientava a situação crítica do professor que, devido às condições existentes, era “inexoravelmente compelido à burocratização do magistério, ao ensino fácil e à repetição — coisas terríveis para mestres e alunos”. E concluía: “Para mestres, porque lhes cerram o intelecto à imaginação criadora e os convertem em provincianos do Espírito, e para os estudantes, porque lhes geram a sensação de que a aprendizagem não exige esforço diário e a ciência é como os frutos maduros, que estão acolá à espera de quem os colha”.

A grande questão consiste, na verdade, na falta de pensamento crítico, o que deveria ser o primeiro objectivo de uma verdadeira reforma do ensino. Por isso volta também a estar actualizado o pensamento de filósofos como Ortega y Gasset que, falando sobre a “missão da Universidade” e da necessidade da sua reforma, dizia, em 1930, que o maior vício dos tempos que corriam era a falta de “autenticidade”, ou seja, ser aquilo que se diz ser e se pode ser. Essa falta de “autenticidade” nas instituições de ensino era afinal criadora do mito de uma escola renovada e a causa da destruição da escola existente e do seu sonho de uma “escola nova”.

Ainda acreditei que Nuno Crato pudesse vir a ser, apesar deste governo neoliberal de que fazia parte, um verdadeiro ministro de Educação e Ciência. Afinal não tem passado de mais um ministro adjunto do ministério das Finanças, de um governo sem autenticidade, de um país sem identidade e de uma falsa Europa que perdeu o sentido da comunidade.

 
Luís Reis Torgal, Professor catedrático jubilado da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

 

Testemunho Público - Ramalho Eanes



 
Muitas mais afirmações fiz ao jornalista do PÚBLICO, Nuno Ribeiro, dia 25 deste mês, quando me abordou à entrada do Centro de Congressos de Lisboa, lugar onde iria decorrer uma iniciativa que partiu da Sociedade Civil para homenagear o Sr. General Ramalho Eanes.
Muitas mais afirmações fiz, quer sobre o estado a que chegou a nossa democracia, as nossas instituições, quer sobre a vergonhosa  política dos nossos atuais governantes.
Foi pena não terem podido ficar todas.

Fui prestar homenagem a um militar de Abril. Um homem que, ainda jovem, me cativou e entusiasmou para a política, para a luta pela liberdade e pela democracia. E que até hoje deu o exemplo de uma Cidadania que de muitos para sempre arredada estará, tal a promiscuidade política em que se encontram e que cada vez mais entranhada se vê.
Um homem íntegro, sério, humanista, com o sentido de estado que só os grandes políticos têm, desprendido de si mas entregue à causa nacional e à Pátria que sempre serviu e continua a servir de forma irrepreensível.  

Um homem, um militar que nunca se apropriou do Poder para dele carreira política ou protagonismo alcançar, humilde que foi no exercício das suas mais altas funções, atento que esteve aos valores de uma democracia que a ninguém excluísse, mas, sobretudo, atento a um país que se olhasse sempre, criticamente, responsavelmente,  como estado soberano, e se orientasse verdadeiramente pelos ideais que Abril traçou e pelos quais lutámos e continuaremos a lutar.
Na sua intervenção, tal como previ, falou sobre as dificuldades que o país atravessa, considerando "angustiantes" os "momentos de crise dramática" que se vivem. Defendeu a necessidade de um "norteamento ético da nossa comunidade, sobretudo nestes tempos de clara e cruel desgovernação que ao desespero coletivo e à violência nos levarão, porque em causa está já a sobrevivência de um país e a morte do seu povo.

"A expressão imperativo democrático, tão do agrado do Presidente Eanes, deu agora lugar ao imperativo ético do cidadão Ramalho Eanes que elegeu a Ética como bússola dos valores que devem orientar o caminho da sociedade portuguesa nestes tempos difíceis".
Fez-se História neste dia. Recordou-se a História recente da Democracia portuguesa mas, essencialmente, assistimos a uma lição de História Contemporânea, única, particularmente importante porque nos trouxe à reflexão e à memória coletiva um período decisivo para a defesa da nossa democracia e da nossa Constituição e com um dos seus principais protagonistas.

Ao fim de tantos anos, ter-me encontrado novamente com o primeiro presidente da República eleito por sufrágio direto e universal, o homem que apoiei e sobre o qual publicamente intervim na altura, emocionou-me. E o Sr. General também se emocionou quando, abraçando-me, sentiu, tal como eu, que o tempo havia passado mas a luta pelos valores democráticos não.
A sua intervenção foi extraordinária como todas as outras o foram e continuam a ser, não tendo esquecido Salgado Zenha, outro grande homem de Abril, de quem amigo era e apoiante foi.

Neste dia, também eu recordei com orgulho o meu bisavô, o tenente-coronel Almeida e Souza, um homem da 1ª República.
Há pessoas que nunca se esquecem. Pelo exemplo que deram mas, sobretudo, pelo muito que nos deram.




Nazaré Oliveira

domingo, 24 de novembro de 2013

Para quem não sabe: Nuno Crato paga 154 milhões a colégios privados enquanto encerra escolas públicas!

 


No mesmo dia em que é denunciado o escândalo do financiamento a colégios privados em detrimento do Ensino Público, Nuno Crato utiliza uma analogia abusiva entre as dívidas das famílias e a dívida pública do Estado, avançando que uma “família teria que passar um ano inteiro a trabalhar sem comer” para pagar a dívida.
 Na Grande reportagem (ver vídeo) da jornalista Ana Leal, com imagem de Gonçalo Prego e montagem de Miguel Freitas emitida na TVI 24, no “Jornal das 8”, de segunda-feira, é denunciado o financiamento estatal, de muitos milhões de euros, pagos por todos os contribuintes, de 81 colégios privados. Estes estabelecimentos, construídos de norte a sul do país, encontram-se, muitas vezes, ao lado de escolas públicas.
“É em Coimbra, onde, em nome do interesse público, se construiu o maior império de colégios privados com contrato de associação”, avança a reportagem. São 141 turmas com contrato de associação, que envolvem um financiamento de perto de 12 milhões de euros.
O Colégio de São Martinho, que “fez o cerco a quatro de escolas públicas”, todas elas a trabalhar a pouco mais de 50% da sua real capacidade, é apontado como um exemplo da cumplicidade entre responsáveis governamentais e os interesses privados.
Na criação deste estabelecimento privado de ensino, construído sem licença de construção, estiveram envolvidos alguns ex dirigentes da Direção Regional de Educação do Centro, como é o caso de Fernanda Mota Pinto, deputada pelo PSD no VII Governo Constitucional e ex diretora regional de Educação do Centro, e Manuela Fonseca, também ex dirigente da DREC.
Este colégio recebe este ano 1 milhão e 785 mil euros por 21 turmas financiadas pelo Estado, com o argumento da alegada sobrelotação das escolas públicas, argumento que é totalmente falacioso e minuciosamente desmontado nesta reportagem.
Um estudo de 2011, encomendado pela ex ministra Isabel Alçada à Universidade de Coimbra, confirmava a interferência deste colégio no funcionamento das escolas públicas e recomendava o fim do financiamento no ensino secundário.
Este é apenas o primeiro de inúmeros exemplos de colégios privados que “nunca deveriam ter tido autorização para serem construídos” e que têm vindo a ditar o esvaziamento das escolas públicas.
Assim como também é exemplo da “teia de cumplicidades que abrange ex-governantes que, depois de exercerem os cargos, passaram a trabalhar para grupos económicos detentores de muitos desses colégios, ou ex diretores regionais de educação que fundaram depois colégios que são pagos com o dinheiro dos contribuintes”.
A reportagem “mostra o retrato de um país que se prepara para pagar, até ao fim deste ano, mais de 154 milhões de euros em contratos de associação”.
Governo flexibiliza as regras que regulam os acordos de associação
Esta terça feira entra em vigor o novo Estatuto do Ensino Particular e Cooperativo, que abre a porta a uma nova vaga de contratos de associação, na medida em que flexibiliza as regras que regulam os acordos de associação para financiar a frequência de escolas privadas pelos estudantes.
Passa, inclusive, a haver liberdade para que sejam firmados contratos de associação com os privados quando existe oferta pública disponível na proximidade desses estabelecimentos de ensino.
Crato: Portugueses precisavam “trabalhar mais de um ano sem comer para pagar dívida”
No mesmo dia em que é denunciada a conivência e subserviência do governo PSD/CDS-PP face aos interesses privados, com o escândalo do financiamento a colégios privados em detrimento do ensino público, Nuno Crato veio comparar a dívida pública do país com a dívida de uma família.
“Imaginem o que é uma família ter que passar um ano inteiro a trabalhar sem comer, sem utilizar eletricidade, sem utilizar transportes, só para pagar a dívida dessa família. Foi este o ponto a que chegámos em Portugal. É um ponto absolutamente insustentável”, afirmou Crato, em Ovar, durante uma sessão de esclarecimento sobre o Orçamento do Estado para 2014.
O ministro da Educação defendeu ainda que o corte nas despesas do Estado não é suficiente e que se impõem ainda alguns "sacrifícios que vão transformar Portugal num país competitivo".
"Em vez de termos entrado numa espiral recessiva, como dizem os mais pessimistas, Portugal entrou na espiral responsável, aumentando a sua competitividade externa", acrescentou.
Não é primeira vez que um responsável governamental opta por utilizar uma analogia abusiva entre as dívidas das famílias e a dívida pública do Estado.
O governo PSD/CDS-PP finge, novamente, desconhecer que as famílias portuguesas não podem mobilizar determinados recursos para fazer face à chantagem da dívida, bem como não dispõem dos mesmos instrumentos de que o Estado dispõe, como é o caso de impor a renegociação de uma dívida abusiva que está a ser imposta aos cidadãos.
Uma equipa da TVI percorreu o país e encontrou escolas públicas vazias, em risco de fechar, cercadas por colégios privados que nunca deveriam ter tido autorização para serem construídos.


Uma grande investigação que mostra o retrato de um país que se prepara para pagar, até ao fim deste ano, mais de 154 milhões de euros em contratos de associação.





 
Por favor, vejam:

artigo in Artigo de 5 Novembro de 2013 - 17:59 in http://www.esquerda.net/artigo/crato-paga-154-milh%C3%B5es-col%C3%A9gios-privados-enquanto-encerra-escolas-p%C3%BAblicas/30125


Um horror, ter visto isto!
Já sabia de monstruosidades neste âmbito, de irregularidades deste tipo e desta terrível injustiça, mas, ao ver as proporções atingidas... Que Estado Social é este? Que democracia?
Ficamos "revoltados mas pacíficos!" Até quando?
 
 
 

O poder da Arte (Rembrandt)

 


Um excelente trabalho da BBC!

sábado, 23 de novembro de 2013

A prova de exame para professores




Vejam. Vejam bem.
Contado ninguém acredita!

A prova de exame para professores made in Nuno Crato


Já agora, este artigo do PÚBLICO sobre a dita, por Graça Barbosa e Bárbara Wong - 22.11.2013:

Prova de avaliação é “apatetada”, “ridícula”, “absurda”, “básica” e “desadequada”, classificam os professores.
  

A indicação do tipo de questões que vai sair na prova de avaliação para professores deixou-os perplexos. Uns consideram que a prova é ridícula por ser tão “básica”. Outros dizem também que é ridícula, por ser tão desadequada. Também não se entendem quanto ao que pretende o ministro: desviar as atenções ou afastar docentes da carreira?

O Ministério da Educação e Ciência (MEC) conseguiu surpreender os professores com o modelo da prova de avaliação de conhecimentos e capacidades, obrigatória para todos os docentes sem vínculo à função pública que pretendam candidatar-se a dar aulas no próximo ano lectivo. Depois da publicação do modelo do teste – com exemplos das questões que serão colocadas –, as opiniões dividem-se. Alguns acham-na “básica”, “ridícula”, “elementar”, “insultuosa” e “apatetada”, outros acham que até poderá afastar pessoas da carreira docente, por ser “desadequada”, “absurda” e igualmente “ridícula”. Mas há quem alerte: em situação de stress, conseguirá um professor responder bem?

Nos últimos segundos desta quinta-feira – ou seja, mesmo no limite do prazo que o MEC concedeu a si próprio –, surgiu na página do Instituto de Avaliação Educativa (IAVE) o guia da prova e, como anexo, o modelo da componente comum do teste, marcada para 18 de Dezembro. Pela primeira vez, mais de 45 mil professores souberam o que é que o MEC pretende que eles saibam para continuar a dar aulas. Isto no que respeita às competências “transversais”, já que as provas específicas (consoante as áreas disciplinares dos docentes) só se realizam entre Março e Abril de 2014.

Nesta primeira fase, 80% da cotação vai para as perguntas de escolha múltipla. Um exemplo: a partir de uma sequência de letras, como A A B A C C D C E E,  os professores terão de escolher, de entre quatro hipóteses, as quatro letras que permitem continuá-la: hipótese A (F E G G), B (F E H H ), C (F F G F) ou D ( F F G H)? Outro exemplo: tendo em conta um diagrama que mostra os nomes dos alunos de uma turma de acordo com os clubes em que estão inscritos (Aventura, Desporto, Leitura e Teatro), os professores são convidados a acertar na resposta correcta, em quatro possíveis, às questões: “qual dos alunos seguintes está inscrito apenas em três clubes?” e “qual dos alunos seguintes está inscrito nos clubes de Leitura e de Teatro, mas não no clube de Desporto?”.

No único item de “resposta extensa orientada” (que valerá 20% da cotação total) os avaliados terão de produzir um texto com um número de palavras compreendido entre 250 e 350, inclusive. Para que se tenha uma ideia do que pode ser pedido, o IAVE fez publicar um excerto de Um Fio de Nada, Ensaio sobre a Tolerância, de Diogo Pires Aurélio. Neste caso, pede-se aos professores que escrevam um texto em que exponham a sua opinião sobre as eventuais implicações das duas concepções de tolerância apresentadas, transpondo-as para um contexto escolar.

O PÚBLICO falou com dirigentes de associações de professores, todos contra a prova, a quem pediu que vissem o exemplo e fizessem, a título individual, um primeiro comentário. Alguns já tinham consultado a página do IAVE. Foi o caso de Lurdes Figueiral, da Associação de Professores de Matemática, que disse ter dificuldades em expressar a sua indignação “sem ser ofensiva”: “É que a prova é tão elementar, tão básica, que é um bocado… nem sei… gozar com a nossa cara. Insultuosa.” A sua experiência diz-lhe que se apresentasse aquelas questões a alunos do secundário “eles riam-se”. Pensa que a prova resulta “da teoria absurda do ministro da Educação”, Nuno Crato, “de que é preciso arranjar exames para tudo e para todos”. O que, depois de conhecer o modelo, diz, considera “ainda mais grave e pouco ético, por estar a delapidar o erário público, nas actuais circunstâncias, para nada”.

José Alberto Rodrigues, dirigente da Associação de Professores de Educação Visual e Tecnológica, foi outro dos que já tinham espreitado a prova. E diz que, quando o fez, riu-se, “para não chorar”. Na sua perspectiva, as questões são “absolutamente básicas e elementares”. Comenta mesmo que, “naturalmente, as capacidades que estão implícitas nos exemplos de questões já foram imensamente provadas pelos professores, muitos dos quais têm, para além de vários anos de serviço, mestrados e doutoramentos”. Conclui que a prova é “uma afronta” e sublinha que a grande questão que o modelo levanta é: “Afinal, o que é que o ministro pretende?”

“Afastar professores, esse é o objectivo de Nuno Crato”, diz Alberto Gaspar, que preside à Associação de Professores de Inglês. Não porque ache a prova difícil, pelo contrário, diz. “As questões são básicas e acessíveis a qualquer adulto instruído, algumas caricatas, mesmo”, comentou. A questão é que, na sua opinião, para além de “não servir para avaliar seja o que for”, a prova poderá ser “um obstáculo” para quem “tem uma inteligência menos visual e se pode baralhar na leitura de um diagrama, por exemplo”; ou para quem “tenha dificuldades com a pontuação ou com a translineação”. “É por aqui que se vê se um professor é bom ou não, se ensina bem ou mal? Afastar professores da carreira com questões destas é inacreditável”, comentou Alberto Gaspar, depois de frisar que ainda tem esperança de que as acções em tribunal e a manifestação dos professores e da opinião pública façam o ministro recuar na aplicação da prova.

Conseguirá responder em stress?
Para Cristina Loureiro, presidente da Escola Superior de Educação de Lisboa (ESEL), uma prova desta natureza "é apenas uma maneira de eliminar aqueles que em situação de maior stress vão falhar. Quem é que é capaz de garantir que em situação de grande pressão, com o emprego em risco nos dias de hoje, não erra, mesmo no que domina?". A responsável teme que venham a ser eliminados "excelentes professores que há anos garantem acções de excelência nas escolas públicas".

A facilidade da prova pode levar a que todos a ultrapassem e, se assim for, "para quê toda esta máquina montada", pergunta. Cristina Loureiro mostra-se preocupada com um processo de selecção que possa excluir os melhores.

Para Ramiro Marques, professor da Escola Superior de Educação de Santarém e autor do blogue ProfBlog, esta é uma prova que tem como objectivo avaliar o raciocínio lógico-matemático e o domínio da língua portuguesa e "está correcta". "Não significa que não devesse avaliar outras coisas, mas não me repugna." O professor lembra que há professores que ensinam Matemática e que não tiveram aproveitamento à disciplina no 9.º ano, logo, "alguma coisa tem de ser feita".

A dirigente da Associação de Professores de Geografia, Telma Canavilhas, ficou preocupada. Pediu tempo para ver o modelo e depois comentou: “Ab-sur-do. Não tenho outra palavra: absurdo!” Diz que, por mais voltas que desse, não conseguiu compreender o que pretende Nuno Crato e considera que não se pode dizer que “as questões são fáceis ou difíceis”. “A prova é completamente desadequada e coloca os professores em circunstâncias desiguais consoante a sua formação de base”, criticou. Pensa que “o tipo de questões são as habitualmente colocadas nos testes psicotécnicos e que é possível aos professores treinarem, para se familiarizarem com elas”. “O MEC é o maior inimigo do MEC: interessa a alguém que, em vez de se preocuparem com os seus alunos, os professores comecem hoje a treinar para aquilo?”, pergunta.

Aquela é também a posição do presidente da Associação Nacional dos Professores Contratados (ANVPC), César Israel Paulo. Diz que é uma prova que consta de “rasteiras”, "baseada numa lógica matemática que não é dominada por excelentes professores”, que se “podem enganar por não estarem familiarizados com ela”. Também teme que a obrigatoriedade de respeitar o novo acordo ortográfico resulte em zeros na composição.

Desviar as atenções
“Um conselho: na composição não usem palavras difíceis, nada que levante dúvidas em relação à forma como se escreve segundo o acordo”, oferece Paulo Guinote, autor do blogue Educação do Meu Umbigo e professor de História. Diz que aquele é o único problema que a prova, “completamente apatetada”, pode colocar aos docentes. Sobre o exemplo da composição, garante que já pediu "coisas mais difíceis aos alunos do 9.º ano". Em relação a algumas questões de escolha múltipla afirma que está em causa “um nível de literacia funcional exigível a crianças do 6.º ano”. Quanto ao que quer o ministro, não tem dúvidas: “Desviar as atenções da opinião pública do que é importante. Nomeadamente, tentar que as pessoas se esqueçam de que os professores recusam a prova por uma questão de princípio e não porque ela é fácil ou difícil”, considera.

Ramiro Marques concorda que há perguntas a nível do 6.º ano, mas que existe um equilíbrio com as mais difíceis. "Estou convencido de que não vai haver resultados péssimos e a maioria vai ter resultados razoáveis."

Cristina Loureiro considera que a tutela "criou toda esta situação para dar a ideia à opinião pública de que está a procurar os melhores professores e educadores". Mas não é o caso. "Esta prova confirma que o MEC decidiu usar um processo de excluir pessoas do sistema. É uma forma de exclusão cega. É uma forma de exclusão que não encara os professores e educadores como pessoas." A presidente da ESEL vai mais longe: o ministério "está a confirmar o que já ninguém duvida e que é destruir a escola pública. Pois quem preza a escola pública quer os melhores professores e educadores e não é este tipo de crivo que permite identificá-los".

O ex-secretário de Estado da Educação Joaquim Azevedo considera necessária a existência de uma prova, mas que seja feita à entrada da profissão. "É importante o MEC negociar com os sindicatos mecanismos para que aceda à profissão de professor um tipo de jovens o mais qualificado possível, para credibilizar a profissão", defende Joaquim Azevedo.

Também Cristina Loureiro, Ramiro Marques e Glória Ramalho, ex-directora do Gave, são da mesma opinião: uma prova à entrada. "É constrangedor obrigar um professor com dez ou 12 anos de serviço a submeter-se a esta prova", defende o professor de Santarém.

Glória Ramalho, como especialista em avaliação, recusa-se a analisar esta prova e a discutir o seu formato por uma razão muito simples: "Não concordo com as condições. É uma aposta infeliz e errada quando o universo de aplicação é quem está há anos no sistema."

Ramiro Marques condena os que criticam a prova. "Alguma coisa tem de ser feita" e, uma vez que os professores não admitem que outros entrem na sala de aula para os avaliar, a prova terá de ser escrita, argumenta. "Agora que têm uma prova que mede o que é possível medir, dizem que não mede o essencial que é o que se passa na sala de aula", critica. O "fundamental" é a abertura da sala de aula porque "um mau professor provoca estragos enormes na vida de milhares de alunos" e isso tem de mudar, conclui.


 

Por favor, não contribuam para um Estado de LOUCURA!


 

Li estupefacto  a notícia de ontem sobre o corte de relações entre as Universidades e o Governo. Já tinha dito isto várias vezes e repito: muitos dos que nos Governam, e muitos dos que nos querem Governar, passam a vida com os olhos no passado, ignoram o presente e não têm uma ideia de colectivo, necessariamente de longo prazo, vivendo num desesperante curtíssimo-prazo concentrados no centro geométrico do seu próprio umbigo. Não pode ser esse o caso das Universidades, do Ensino-superior e da Ciência.
Espero muito mais das Universidades, dos Reitores e do Ministro. A solução não pode ser deixar de conversar, não apresentar razões e forçar decisões, cortar relações ou, sequer, fazer qualquer tipo de pressão deste tipo. Portugal precisa de conversar e debater o que quer para o futuro. Sem dogmas e sem verdades feitas. Tem mesmo de repensar a sua vida. E isso faz-se falando, discutindo, confrontando argumentos, envolvendo a população.

Cortar relações é um comportamento inaceitável a este nível.
Não esclarecer ou não clarificar devidamente, as vezes que forem necessárias, as razões de uma medida, mesmo que seja de emergência, é também incompreensível.

Não debater, envolvendo todos, é repetir no erro.
Qual erro?
O erro que temos vindo a perpetuar.

Tudo em Portugal é feito em circuito fechado. Com uns quantos, tidos como elites em cuja sabedoria é suposto que confiemos. E tem sido assim, sempre assim. Mesmo quando verificamos que as elites nos lixam, e pensam é nelas, nos seus grupos de pressão e na interminável lista de “compromissos” que foram coleccionando. Mesmo quando, finalmente, verificamos que aquilo que “idealizam” não tem nada a ver com a realidade, a tal que eles nunca conheceram devidamente porque nunca se preocuparam com isso, mas sobre a qual teorizam e decidem, até porque nós também falhamos com o nosso espírito crítico e embarcamos nas facilidades do momento. Mesmo quando verificamos que não são, em muitos casos, elites nenhumas, quer porque são muito novos, ou não sabem nada, ou não têm experiência, ou não têm cultura democrática, ou porque são egocêntricos, ou porque são tudo isso ao mesmo tempo, ou, infelizmente, porque as suas atitudes mostram que não passam de meninos/meninas grandes que nunca cresceram e não têm a dimensão humana, cívica, cultural, de Estado que se exige a quem tem de estar sempre, mas sempre, com os olhos postos no horizonte.
Dizem-nos depois, quando as coisas correm mal, que é preciso MUDAR, deitar fora e fazer de novo, porque afinal estava mal, estava errado, não foi bem pensado. E iniciam um processo interminável de apontar o dedo e enjeitar responsabilidades.

Da minha parte estou farto disto.
Não aceito que mexam uma vírgula na Constituição Portuguesa sem debate, sem envolver todos, sem uma forte mobilização do país.

Não aceito que comprometam mais, e ainda mais, o futuro deste país sem um amplo debate nacional sobre o que queremos ser, para onde queremos ir e sobre as opções reais que temos.
Não aceito verdades feitas, nem factos consumados.

Não aceito que uns garotos, sem mundo e sem vida, me digam que só há um caminho. Eu sei, de vida feita e experiência vivida, que há sempre vários caminhos. E várias consequências e vários riscos.
Por isso, espero dos Reitores, da Universidade e do Ministro Crato um comportamento exemplar que tenha sempre, mas sempre, a porta do diálogo escancarada.

Por favor não contribuam para um Estado de Loucura.
O que todos neste processo têm pela frente é um enorme e doloroso desafio. Que têm de enfrentar, reorganizando, tornando mais eficiente e diversificando fontes de financiamento. Colocar esse desafio, de forma correta e contratualizada, é a obrigação do Governo que sabe muito bem que tem na Universidade, e na sua capacidade de inovar e de, efectivamente, mudar, um dos seus maiores e melhores motores.

Espero do Ministro Crato esse desafio, proposto, negociado e contratualizado olhos-nos-olhos com as Universidades e o país. É agora o momento.
 

Homens e mulheres


Enquanto a discriminação continuar, não deixarei de lutar para que ela acabe.
Não faz sentido. Nunca fez nem nunca fará.




sexta-feira, 22 de novembro de 2013

A manifestação dos polícias na escadaria do Parlamento


Quando ontem, ao fim de um dia de trabalho, passei em revista as notícias do dia e vi o que acontecera na escadaria do Parlamento, senti-me também um daqueles polícias e solidarizei-me com o seu gesto.
Um gesto que a meus olhos orgulhosa me deixou, não pela violência que muitos teimam em querer ver e que não existiu, nem pelo incitamento à rebelião que não houve mas que era legítimo se tivesse acontecido, mas pela coragem de quem, desesperado como eu, injustiçado, humilhado, no limite das suas forças, publicamente exprimiu a revolta e o desejo de mudança que tarda em chegar.
Para muitos, é inaceitável terem-no feito, mas já é aceitável o que o Governo nos faz, como o faz e diz querer continuar a fazer.
Mais do que um gesto foi uma mensagem para quem nos governa. Um grito de revolta, uma prova de que o povo não dorme, mesmo que, pacientemente à espera da mudança, adormecido pareça estar.
Um aviso aos déspotas que nos governam e à corja que os acolhe e deles vive, corrupta, desumana, embriagada pelo poder que usurpado há muito já foi por um clientelismo oportunista de elites promovidas à pressa, sedentas de dinheiro e de ascensão política e social que buscam a qualquer preço.
E nós, povo roubado, faminto, empobrecido, cada vez mais roubado, cada vez mais faminto, cada vez mais empobrecido? Vamos continuar a aceitar pacificamente as imposições dessa gente? Dessa gente que nos humilha como povo, nação, destruindo vidas, comprometendo o presente que infernizam de forma vil e impiedosa, estupidamente sorridentes quando assim justificam a sua ação devastadora em nome de estranhos interesses nacionais que à ditadura nos encaminham?
Vamos continuar a aceitar pacificamente as imposições dessa gente que fala como quem sabe mas provou já nada saber, nem de Democracia, nem de Economia, nem de Estado de Direito, muito menos de Moral ou Ética Política?
De gente que nos fala sempre em tom de ameaça, arrogante, sobranceira, como se deles o nosso futuro dependesse quando nem do nosso presente têm sabido cuidar?
Nunca a salvação de um país se fará à custa da morte do seu povo. Nunca.
Já chega de ignomínia e de desumanidade.
Jamais criticarei quem em desespero violento for, contra quem com crueldade e sem escrúpulos a vida nos vai destruindo.
A vida e o país.
Eu estou com estes polícias porque a sua luta é a minha luta e porque tenho esperança que o seu gesto seja o princípio de um fim que há muito desejo.

 
Nazaré Oliveira

terça-feira, 19 de novembro de 2013

A feiticeira de Luís Represas

Um dos melhores trabalhos da música portuguesa!
 
Com Luís Represas e o cubano Pablo Milanés.
Para ouvir sempre e sempre com redobrado prazer.  
 
 

domingo, 17 de novembro de 2013

Vejam, ouçam, sintam.


João Oliveira


 Este deputado é dos melhores deputados que temos tido!
As suas palavras, de uma lucidez perturbadora porque perturbadora e real tem sido a vida de milhares de portugueses, são, por isso, dignas de ser partilhada pelos que, como eu, sentem nas suas intervenções a defesa dos valores democráticos agora vilipendiados e arrogantemente humilhados pelos que, aproveitando-se do voto que lhes foi delegado, dele se aproveitaram para humilhar quem trabalha e engrandecer cada vez mais quem rouba e corrupto é.

Grande João Oliveira!

Mais uma prova de que a Política missão nobre é e necessária sempre será, e de que nem todos os deputados são  iguais.

Aqui publico uma das suas últimas intervenções, uma autêntica lição de História e de Democracia.
Sim, porque a História também se constrói no Presente, e porque muitos portugueses não podem continuar a fazer de conta que isto verdade não é!

Até quando vamos admitir esta política ditatorial, cruel nas medidas que toma em relação aos que já mal viviam e agora já mal sobrevivem?

Até quando vamos admitir esta política ditatorial devastadora dos princípios democráticos e constitucionalmente garantidos desde Abril de 1974?

Não temos governo. Temos usurpadores do Poder. Gente sem princípios e sem competência que enganou o povo e desrespeita completamente a Constituição, manipulando habilmente as instituições democráticas em nome de interesses oligárquicos político-partidários, voltados para o cumprimento de um programa de ajustamento que de ajustamento nada tem, antes, de empobrecimento de quem trabalha, desumanidade, cada vez mais endividamento e até perda de soberania e de sentido de Estado.

Porque um governo minimamente decente jamais roubaria o seu próprio povo para pagar uma dívida que ele nunca contraiu.

Porque um governo minimamente decente jamais implementaria medidas que à miséria e morte o país condenam e à dependência externa também.

Porque um governo democrático jamais sacrificaria o seu povo em nome do grande capital.





 

sábado, 16 de novembro de 2013

Sobre a marginalização das HUMANIDADES no ensino secundário



Caros amigos,


Em face de uma notícia que recebi anteontem, fiquei escandalizada. A notícia é esta:
«Sabe-se que a FALTA das HUMANIDADES no Ensino é 1 das causas da crise actual. Mas a Presidente da Assoc Professores Português acha q os alunos que vão para Ciências não precisam de estudar Literatura. Achará ela que Literatura não é Português? Ou entenderá, como muitos dirigentes políticos, que quanto mais iliteracia houver na população, mais fácil é des-governá-la? Quanto mais inculto é o povo, melhor, não é?
Maria Alzira Seixo»

Não se pode ser mais retrógrado do que esta Presidente da Associação dos Professores de Português, pois os programas tem vindo a diminuir de qualidade, com cada vez menor recurso a textos literários, pois se entendia que o texto literário é um «género» especial de texto, como o anúncio, o slogan, a entrevista, a carta, o requerimento e outros. Deixou-se de entender o carácter modelar desse texto, a sua aptidão para cativar os alunos para a leitura e para a boa escrita.
Ora destas qualidades todos precisam, alunos de letras e de ciências: lembremos apenas os ilustríssimos exemplos de escritores «de ciências»: de Júlio Dinis, a Lobo Antunes (aos vários médicos irmãos), a Fernando Namora, António Gedeão, etc., etc..

Ora, pela 1ª vez, com o trabalho solicitado a óptimas professoras do ensino secundário e superior, o Ministério está a estabelecer as METAS CURRICULARES que repõem as coisas nos eixos, e reflectem na prática as boas normas que coincidem com a sensatez da maioria.
Peço-vos assim , por favor, que façam cair uma chuva de protestos,  e pareceres para a DGE. É mesmo necessário, porque já sabemos quias os pareceres que vamos receber da Associação de Professores de Português...
É preciso apoiar esta nova orientação do Ministério, a bem dos nossos filhos e netos.
Proponho que envio um texto como est e

Repudio o parecer emitido pela Presidente da Associação dos Professores de Português que entende que  os alunos que vão para Ciências não precisam de estudar Literatura.
Os estudantes de Ciências necessitam de Literatura e de cultura, como toda a gente!
Assinem e enviem para a Dir. Geral competente  do Ministério Educação

Anexo um breve texto tirado do site do ME sobre este assunto, e onde poderão seleccionar a Dir. Deral ou a Secretaria de estado a que quiserem enviar o vosso protesto. Eu vou mandar para o gabinete do Secretário de estado do Ensino Básico e Secundário.

Não fiquem passivos! Lembrem-se dos vossos filhos e netos, e da cultura deste país que está dominada pelo futebol. Pouco pão… mas muito circo.


 

Maria Vitalina Leal de Matos

Professores, chegou a hora!


Vale a pena ler este artigo, sim, e refletir sobre o que se tem andado a fazer e a pensar fazer sobre os professores.



Chegou a hora!

Hoje alguém que conheço e por quem até tenho imensa consideração disse-me, por piada ou ignorância (não sei), que os professores não querem fazer a prova, porque têm medo de reprovar. Não lhe levei a mal o que disse, porque aquelas palavras, embora sejam, para mim, uma abominação, são aquilo que a generalidade da opinião pública pensa. Por isso, chegou a hora! Achei, durante muito tempo, que gastar o meu tempo a escrever fosse o que fosse sobre este assunto era "chover no molhado" e que não há nada que eu possa escrever que não tenha sido já escrito. Porém, por alguma razão, trazer a opinião pública para o lado dos professores parece impossível. Por muitos bons professores que os portugueses tenham tido no seu percurso, parecem guardar-nos um enorme rancor e guardam como se de uma pedra preciosa se tratasse, aqueles exemplos do(a) professor(a) que ia ler o jornal para a aula ou daquele(a) que chegava sempre atrasado ou daquele(a) outro(a) que batia nos alunos. Todos os outros professores (que, parto eu do princípio, constituíam uma maioria) parecem ter caído no esquecimento.

Temos um mérito inquestionável: somos a única classe profissional que, ao lutar contra as medidas do governo, consegue fazer da opinião pública, cúmplice desse governo. Azar o nosso - o governo também já descobriu isto e, como tal, "bate no ceguinho" até ele cair para o lado. Azar o nosso - escolhemos tirar o curso de "saco de pancada".

Tenho andado à procura das pessoas que, indignadíssimas, apregoavam aos sete ventos que a greve dos professores aos exames prejudicava os alunos. Não as encontrei! Queria perguntar-lhes que opinião tinham acerca dos milhares de escolas encerradas, dos quilómetros que isso implica a milhares de crianças, dos milhares de turmas sem professores de Apoio e sem professores de Educação Especial; queria perguntar-lhes o que achavam das turmas com mais de 30 alunos; queria perguntar-lhes sobre o financiamento escandaloso aos colégios privados; queria perguntar-lhes por que raio é que faço parte da única profissão que tem de fazer uma prova de acesso à profissão (atenção, eu sei que médicos, advogados, engenheiros, arquitectos e enfermeiros fazem uma prova, mas é de acesso a uma Ordem); queria perguntar-lhes o que acham da "Parque Escolar" e dos milhões de euros que ficaram empatados em obras inacabadas. Queria perguntar-lhes imensa coisa, mas essas pessoas, nesses assuntos, parecem ser acérrimos defensores das políticas do governo. Os enfermeiros, os médicos, os funcionários da CP, STCP, TAP, Metro e restantes empresas de transportes públicos, os estivadores, os controladores aéreos, entre muitas outras classes profissionais, têm todo o direito à greve (e têm, de facto e deixem-me ressalvá-lo, antes que seja mal interpretado). Os professores, não! Os professores conseguem ser aquela classe profissional que conseguem arrancar às pessoas aquela expressão sentida: "Bem feito..."!

Licenciei-me numa universidade pública, num curso validado e aprovado pelo mesmo Ministério que, agora, se lembrou que, afinal, eu posso não estar preparado para ser professor. Eu explico melhor: o currículo dos cursos superiores tem de passar pelo crivo do Ministério e a licenciatura (pré-Bolonha) supõe uma profissionalização que confere o acesso à profissão de professor (cf. Dec.-Lei XPTO de um dia qualquer do D.R.).

Chegou a hora de agir segundo os nossos princípios! Lá teremos o Miguel Sousa Tavares a insultar-nos de todas as formas (ele pode chamar "palhaço" ao Presidente da República, por isso, a nós, nem imagino o que raio vai ele dizer); lá teremos os colunistas dos jornais a bradar aos céus pela desobediência dos professores, lá teremos o "homem-cujo-nome-não-pronuncio" a reclamar a legitimidade da prova, fundada no "medo" dos professores contratados.

Chegou a hora!


Nuno Vital (aparentemente futuro-ex-professor)