sábado, 16 de novembro de 2013

Professores, chegou a hora!


Vale a pena ler este artigo, sim, e refletir sobre o que se tem andado a fazer e a pensar fazer sobre os professores.



Chegou a hora!

Hoje alguém que conheço e por quem até tenho imensa consideração disse-me, por piada ou ignorância (não sei), que os professores não querem fazer a prova, porque têm medo de reprovar. Não lhe levei a mal o que disse, porque aquelas palavras, embora sejam, para mim, uma abominação, são aquilo que a generalidade da opinião pública pensa. Por isso, chegou a hora! Achei, durante muito tempo, que gastar o meu tempo a escrever fosse o que fosse sobre este assunto era "chover no molhado" e que não há nada que eu possa escrever que não tenha sido já escrito. Porém, por alguma razão, trazer a opinião pública para o lado dos professores parece impossível. Por muitos bons professores que os portugueses tenham tido no seu percurso, parecem guardar-nos um enorme rancor e guardam como se de uma pedra preciosa se tratasse, aqueles exemplos do(a) professor(a) que ia ler o jornal para a aula ou daquele(a) que chegava sempre atrasado ou daquele(a) outro(a) que batia nos alunos. Todos os outros professores (que, parto eu do princípio, constituíam uma maioria) parecem ter caído no esquecimento.

Temos um mérito inquestionável: somos a única classe profissional que, ao lutar contra as medidas do governo, consegue fazer da opinião pública, cúmplice desse governo. Azar o nosso - o governo também já descobriu isto e, como tal, "bate no ceguinho" até ele cair para o lado. Azar o nosso - escolhemos tirar o curso de "saco de pancada".

Tenho andado à procura das pessoas que, indignadíssimas, apregoavam aos sete ventos que a greve dos professores aos exames prejudicava os alunos. Não as encontrei! Queria perguntar-lhes que opinião tinham acerca dos milhares de escolas encerradas, dos quilómetros que isso implica a milhares de crianças, dos milhares de turmas sem professores de Apoio e sem professores de Educação Especial; queria perguntar-lhes o que achavam das turmas com mais de 30 alunos; queria perguntar-lhes sobre o financiamento escandaloso aos colégios privados; queria perguntar-lhes por que raio é que faço parte da única profissão que tem de fazer uma prova de acesso à profissão (atenção, eu sei que médicos, advogados, engenheiros, arquitectos e enfermeiros fazem uma prova, mas é de acesso a uma Ordem); queria perguntar-lhes o que acham da "Parque Escolar" e dos milhões de euros que ficaram empatados em obras inacabadas. Queria perguntar-lhes imensa coisa, mas essas pessoas, nesses assuntos, parecem ser acérrimos defensores das políticas do governo. Os enfermeiros, os médicos, os funcionários da CP, STCP, TAP, Metro e restantes empresas de transportes públicos, os estivadores, os controladores aéreos, entre muitas outras classes profissionais, têm todo o direito à greve (e têm, de facto e deixem-me ressalvá-lo, antes que seja mal interpretado). Os professores, não! Os professores conseguem ser aquela classe profissional que conseguem arrancar às pessoas aquela expressão sentida: "Bem feito..."!

Licenciei-me numa universidade pública, num curso validado e aprovado pelo mesmo Ministério que, agora, se lembrou que, afinal, eu posso não estar preparado para ser professor. Eu explico melhor: o currículo dos cursos superiores tem de passar pelo crivo do Ministério e a licenciatura (pré-Bolonha) supõe uma profissionalização que confere o acesso à profissão de professor (cf. Dec.-Lei XPTO de um dia qualquer do D.R.).

Chegou a hora de agir segundo os nossos princípios! Lá teremos o Miguel Sousa Tavares a insultar-nos de todas as formas (ele pode chamar "palhaço" ao Presidente da República, por isso, a nós, nem imagino o que raio vai ele dizer); lá teremos os colunistas dos jornais a bradar aos céus pela desobediência dos professores, lá teremos o "homem-cujo-nome-não-pronuncio" a reclamar a legitimidade da prova, fundada no "medo" dos professores contratados.

Chegou a hora!


Nuno Vital (aparentemente futuro-ex-professor)