Quando ontem, ao fim de um dia de trabalho, passei em revista as
notícias do dia e vi o que acontecera na escadaria do Parlamento, senti-me também
um daqueles polícias e solidarizei-me com o seu gesto.
Um gesto que a meus olhos orgulhosa me deixou, não pela violência que
muitos teimam em querer ver e que não existiu, nem pelo incitamento à rebelião
que não houve mas que era legítimo se tivesse acontecido, mas pela coragem de quem,
desesperado como eu, injustiçado, humilhado, no limite das suas forças, publicamente
exprimiu a revolta e o desejo de mudança que tarda em chegar.
Para muitos, é inaceitável terem-no feito, mas já é aceitável o que o
Governo nos faz, como o faz e diz querer continuar a fazer.
Mais do que um gesto foi uma mensagem para quem nos governa. Um grito de
revolta, uma prova de que o povo não dorme, mesmo que, pacientemente
à espera da mudança, adormecido pareça estar.
Um aviso aos déspotas que nos governam e à corja que os acolhe e deles
vive, corrupta, desumana, embriagada pelo poder que usurpado há muito já foi por
um clientelismo oportunista de elites promovidas à pressa, sedentas de dinheiro
e de ascensão política e social que buscam a qualquer preço.
E nós, povo roubado, faminto, empobrecido, cada vez mais roubado, cada vez mais faminto,
cada vez mais empobrecido? Vamos continuar a aceitar pacificamente as
imposições dessa gente? Dessa gente que nos humilha como povo, nação, destruindo vidas, comprometendo o presente
que infernizam de forma vil e impiedosa, estupidamente sorridentes
quando assim justificam a sua ação devastadora em nome de estranhos interesses
nacionais que à ditadura nos encaminham?
Vamos continuar a aceitar pacificamente as imposições dessa gente
que fala como quem sabe mas provou já nada saber, nem de Democracia, nem de Economia, nem de Estado
de Direito, muito menos de Moral ou Ética Política?
De gente que nos fala sempre em tom de ameaça, arrogante, sobranceira, como se deles o nosso futuro dependesse quando nem do nosso presente têm sabido cuidar?
De gente que nos fala sempre em tom de ameaça, arrogante, sobranceira, como se deles o nosso futuro dependesse quando nem do nosso presente têm sabido cuidar?
Nunca a salvação de um país se fará à custa da morte do seu povo. Nunca.
Já chega de ignomínia e de desumanidade.
Já chega de ignomínia e de desumanidade.
Jamais criticarei quem em desespero violento for, contra quem
com crueldade e sem escrúpulos a vida nos vai destruindo.
A vida e o país.
A vida e o país.
Eu estou com estes polícias porque a sua luta é a minha
luta e porque tenho esperança que o seu gesto seja o princípio de um fim que há
muito desejo.