sábado, 30 de novembro de 2013

Testemunho Público - Ramalho Eanes



 
Muitas mais afirmações fiz ao jornalista do PÚBLICO, Nuno Ribeiro, dia 25 deste mês, quando me abordou à entrada do Centro de Congressos de Lisboa, lugar onde iria decorrer uma iniciativa que partiu da Sociedade Civil para homenagear o Sr. General Ramalho Eanes.
Muitas mais afirmações fiz, quer sobre o estado a que chegou a nossa democracia, as nossas instituições, quer sobre a vergonhosa  política dos nossos atuais governantes.
Foi pena não terem podido ficar todas.

Fui prestar homenagem a um militar de Abril. Um homem que, ainda jovem, me cativou e entusiasmou para a política, para a luta pela liberdade e pela democracia. E que até hoje deu o exemplo de uma Cidadania que de muitos para sempre arredada estará, tal a promiscuidade política em que se encontram e que cada vez mais entranhada se vê.
Um homem íntegro, sério, humanista, com o sentido de estado que só os grandes políticos têm, desprendido de si mas entregue à causa nacional e à Pátria que sempre serviu e continua a servir de forma irrepreensível.  

Um homem, um militar que nunca se apropriou do Poder para dele carreira política ou protagonismo alcançar, humilde que foi no exercício das suas mais altas funções, atento que esteve aos valores de uma democracia que a ninguém excluísse, mas, sobretudo, atento a um país que se olhasse sempre, criticamente, responsavelmente,  como estado soberano, e se orientasse verdadeiramente pelos ideais que Abril traçou e pelos quais lutámos e continuaremos a lutar.
Na sua intervenção, tal como previ, falou sobre as dificuldades que o país atravessa, considerando "angustiantes" os "momentos de crise dramática" que se vivem. Defendeu a necessidade de um "norteamento ético da nossa comunidade, sobretudo nestes tempos de clara e cruel desgovernação que ao desespero coletivo e à violência nos levarão, porque em causa está já a sobrevivência de um país e a morte do seu povo.

"A expressão imperativo democrático, tão do agrado do Presidente Eanes, deu agora lugar ao imperativo ético do cidadão Ramalho Eanes que elegeu a Ética como bússola dos valores que devem orientar o caminho da sociedade portuguesa nestes tempos difíceis".
Fez-se História neste dia. Recordou-se a História recente da Democracia portuguesa mas, essencialmente, assistimos a uma lição de História Contemporânea, única, particularmente importante porque nos trouxe à reflexão e à memória coletiva um período decisivo para a defesa da nossa democracia e da nossa Constituição e com um dos seus principais protagonistas.

Ao fim de tantos anos, ter-me encontrado novamente com o primeiro presidente da República eleito por sufrágio direto e universal, o homem que apoiei e sobre o qual publicamente intervim na altura, emocionou-me. E o Sr. General também se emocionou quando, abraçando-me, sentiu, tal como eu, que o tempo havia passado mas a luta pelos valores democráticos não.
A sua intervenção foi extraordinária como todas as outras o foram e continuam a ser, não tendo esquecido Salgado Zenha, outro grande homem de Abril, de quem amigo era e apoiante foi.

Neste dia, também eu recordei com orgulho o meu bisavô, o tenente-coronel Almeida e Souza, um homem da 1ª República.
Há pessoas que nunca se esquecem. Pelo exemplo que deram mas, sobretudo, pelo muito que nos deram.




Nazaré Oliveira