Muitas mais afirmações fiz, quer sobre
o estado a que chegou a nossa democracia, as nossas instituições, quer sobre a
vergonhosa política dos nossos atuais governantes.
Foi pena não terem podido ficar todas.
Fui prestar homenagem a um militar de Abril. Um homem que, ainda jovem,
me cativou e entusiasmou para a política, para a luta pela liberdade e pela
democracia. E que até hoje deu o exemplo de uma Cidadania que de muitos para
sempre arredada estará, tal a promiscuidade política em que se encontram e que
cada vez mais entranhada se vê.
Um homem íntegro, sério, humanista, com o sentido de estado que só
os grandes políticos têm, desprendido de si mas entregue à causa nacional e à
Pátria que sempre serviu e continua a servir de forma irrepreensível.
Um homem, um militar que nunca se apropriou do Poder para dele carreira
política ou protagonismo alcançar, humilde que foi no exercício das suas mais
altas funções, atento que esteve aos valores de uma democracia que a ninguém excluísse,
mas, sobretudo, atento a um país que se olhasse sempre, criticamente,
responsavelmente, como estado soberano,
e se orientasse verdadeiramente pelos ideais que Abril traçou e pelos quais
lutámos e continuaremos a lutar.
Na sua
intervenção, tal como previ, falou sobre as dificuldades que o país atravessa,
considerando "angustiantes" os "momentos de crise
dramática" que se vivem. Defendeu a necessidade de um "norteamento
ético da nossa comunidade, sobretudo nestes tempos de clara e cruel desgovernação
que ao desespero coletivo e à violência nos levarão, porque em causa está já a
sobrevivência de um país e a morte do seu povo.
"A expressão
imperativo democrático, tão do agrado do Presidente Eanes, deu agora
lugar ao imperativo ético do cidadão Ramalho Eanes que elegeu a Ética
como bússola dos valores que devem orientar o caminho da sociedade portuguesa
nestes tempos difíceis".
Fez-se
História neste dia. Recordou-se a História recente da Democracia portuguesa
mas, essencialmente, assistimos a uma lição de História Contemporânea, única,
particularmente importante porque nos trouxe à reflexão e à memória coletiva um
período decisivo para a defesa da nossa democracia e da nossa Constituição e
com um dos seus principais protagonistas.
Ao fim de
tantos anos, ter-me encontrado novamente com o primeiro presidente da República
eleito por sufrágio direto e universal, o homem que apoiei e sobre o qual
publicamente intervim na altura, emocionou-me. E o Sr. General também se
emocionou quando, abraçando-me, sentiu, tal como eu, que o tempo havia passado
mas a luta pelos valores democráticos não.
A sua
intervenção foi extraordinária como todas as outras o foram e continuam a ser,
não tendo esquecido Salgado Zenha, outro grande homem de Abril, de quem amigo era
e apoiante foi.
Neste dia, também
eu recordei com orgulho o meu bisavô, o tenente-coronel Almeida e Souza, um
homem da 1ª República.
Há pessoas
que nunca se esquecem. Pelo exemplo
que deram mas, sobretudo, pelo muito que nos deram.Nazaré Oliveira