quarta-feira, 25 de abril de 2012

Até sempre, Miguel Portas!



Soube agora.
Miguel Portas “partiu”.

"Partiu" um homem. Um homem e um político que sempre admirei.

Na minha memória ficará a tua inteligência, a tua alegria de viver, a tua força e a tua bondade, a tua humanidade e a tua dedicação postas sempre ao serviço dos mais pobres, dos mais esquecidos e das lutas que continuaremos a travar.… o teu combate e a tua energia contra os que do poder se apoderaram e apoderam para  não mais dele se despegarem, prontos que estão para o saque contínuo de direitos e liberdades legitimamente conquistados num dia 25 de Abril de 1974.

Deste sempre a cara pelas causas que nos uniram e continuarão a unir e fizeste-nos acreditar que a luta por um mundo novo jamais se desvanecerá enquanto o Homem livre não for e escravo de outro estiver.
Lutaste por um mundo novo, uma Europa solidária, justa, onde a Política e a Economia estivessem, verdadeiramente, ao serviço de todos e do bem comum.

Saíste à rua connosco.

Gritaste connosco a urgência de um combate difícil mas não impossível dessa política de rosto humano, como um abraço que acolhe, protegendo, envolve e fortalece.

O teu sorriso resistente e a força das tuas ideias permanecerão.

Perdemos-te mas não as perdemos.

Soube agora.

Choro por ti, Miguel, como quem chora quem sempre falta fará.

ATÉ SEMPRE, MIGUEL!


Ver aqui um excelente artigo sobre ele.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Homenagem ao 17 de Abril



Cada ano regressa o mesmo dia,
Também ele escrevendo-se em Abril
E em nós com o estilete da memória.

Voltamos ao princípio do que fomos,
Ao gesto que fizemos, quando erguemos
A própria nudez da liberdade.

E ali ficámos quando a noite veio,
Como a primeira hora de outro dia,
Uma hora do sonho e da verdade.

Alguém nos desenhou com esse mês,
Novos braços de um vento desregrado,
Sabendo ser irmãos e sermos nós.

Por isso, descobrimos esses dias,
Esquecendo a flor da mágoa, da saudade
E a sombra já esbatida de outras horas.

Mas não ficámos presos nesse tempo,
Castelos pelo musgo corroídos,
Cercados pelos espectros da glória.

Fomos portas abertas ao que vinha,
Colhendo as asas do que mais voasse,
Sementes do incerto em movimento.

Tatuagem do tempo em todos nós,
Palavra sempre escrita no futuro,
Guardemos o perfume desse dia.


[Rui Namorado]

A Crise Académica de 1962





Em 1921 os estudantes da Universidade de Coimbra estavam em luta por melhores instalações. O espaço destinado à academia era muito reduzido, sobretudo quando comparado com as generosas acomodações dos professores. Estes tinham no Clube dos Lentes um símbolo do seu poder e da tradição universitária, pelo que os estudantes lhe chamavam "Bastilha". Demonstrando um espírito de união e solidariedade sem precedentes, os estudantes ocuparam o Clube dos Lentes no dia 25 de Novembro desse ano, marcando o seu protesto. Esse dia passou a ser conhecido como a "Tomada da Bastilha" e os seus aniversários comemorados como Dia do Estudante.

Foi assim até 1961. Nesse ano, como era hábito, as comemorações do 25 de Novembro reuniram em Coimbra estudantes de todo o País. Mais de duzentos participaram num jantar, durante o qual a frase "Queremos paz!" ecoou em protesto contra a Guerra Colonial, inspirando um animado cortejo pela cidade. A polícia apareceu e vários estudantes foram presos, o que suscitou uma vaga de apoio e indignação em todo o país. A tensão era visível nas academias do Porto e de Lisboa e marcou a inauguração da nova Reitoria na Cidade Universitária.

Foi neste clima que, já em 1962, se realizaram vários encontros de dirigentes associativos que deram origem a um Secretariado Nacional de Estudantes Portugueses e à realização, em Coimbra, do primeiro Encontro Nacional de Estudantes, ignorando a proibição que o Governo tinha decretado. Essa rebeldia foi paga pelos membros da direção da Associação Académica, com a instauração de processos disciplinares e a correspondente suspensão. Os estudantes de Coimbra responderam com o luto académico e a greve às aulas.

Em Lisboa, as associações de estudantes pretendiam comemorar o Dia do Estudante no final de Março. E, mesmo sem autorização do Ministério da Educação Nacional, as comemorações iniciaram-se a 24 de Março de 1962. O regime respondeu com a sua brutalidade habitual. A cantina foi encerrada e a Cidade Universitária invadida pela polícia de choque, ignorando a autonomia universitária. Estudantes foram espancados e presos, desencadeando uma reação de repúdio que levou a que fosse decretado o luto académico e a greve às aulas.

Marcelo Caetano era Reitor da Universidade de Lisboa e mediou uma solução negociada para o problema. Os estudantes voltavam às aulas, mas realizar-se-ia um segundo Dia do Estudante nos dias 7 e 8 de Abril. Assim fizeram os estudantes mas, chegada essa data, o Ministério voltou a proibir as comemorações. O Reitor sentiu-se desautorizado e demitiu-se. O luto académico foi reposto e os estudantes desceram do Campo Grande ao Ministério (então no Campo Mártires da Pátria) ao som do grito "Autonomia!".

A agitação continuou até ao fim desse ano letivo, continuando a greve às aulas e repetindo-se confrontos entre estudantes e polícia em Lisboa, Porto e Coimbra. Em resposta, o Governo, demonstrando a sua habitual inflexibilidade, aprovou um decreto-lei que permitia ao Ministro da Educação proceder disciplinarmente contra os estudantes. Aplicando esses novos poderes, os dirigentes associativos foram suspensos e inúmeros estudantes presos.

Face a estes novos desenvolvimentos os estudantes dificilmente poderiam continuar a sua luta nos moldes que estavam a utilizar. Ainda assim, reuniram-se no Instituto Superior Técnico no dia 14 de Junho, onde aprovaram um resolução que enquadrava a sua luta pela autonomia universitária e a passou a orientar também para a autonomia associativa. Passou assim a estar em causa o Decreto-Lei n.º 40900, aprovado pelo Governo em 1956. Este diploma só permitia a tomada de posse dos dirigentes associativos depois de autorização do Ministério, previa a participação de um "delegado permanente do diretor da escola" em todas as reuniões associativas e dava ao Ministro o poder de substituir as direções eleitas por "comissões administrativas" nomeadas por ele, suspender o seu funcionamento ou mesmo extingui-las.

Olhando a esta distância, parece desenhar-se uma sombra de ironia sobre estes acontecimentos por ter sido a tentativa autoritária do Governo de controlar as associações que ajudou a que os estudantes se unissem e empreendessem uma luta pela preservação das suas associações como um espaço de genuína democracia, embora pequeno numa sociedade fascista e ditatorial. É também curioso encontrar nestes episódios distantes da luta estudantil várias caras nossas conhecidas. Desde o atual Presidente da República, Jorge Sampaio, que na altura era Secretário-Geral da Reunião Inter Associações ao atual Reitor da Universidade de Évora, Jorge Araújo, que pertencia à direção da Associação de Estudantes do Instituto Superior Técnico, que então frequentava e do qual foi expulso na sequência da sua participação no Dia do Estudante e nos acontecimentos que se lhe seguiram.

De tudo isto ficou a memória e a data: 24 de Março, escolhida pela Assembleia da República quando em 1987 fixou o Dia do Estudante. E que bom que é poder assistir à manifestação livre das reivindicações dos estudantes, quer se concorde ou não com todas elas, num ambiente democrático de respeito pelos seus direitos, liberdades e garantias.

Rui Grilo

(artigo publicado no Jornal da Universidade de Évora n.º 8, Abril de 1999)

domingo, 8 de abril de 2012

Luxos na Assembleia da República


 

O Paulo Pinto Mascarenhas, jornalista do CM, publicou dia 8 Dez 2011 o seguinte texto:

“Fomos espreitar os dois restaurantes de luxo que existem na Assembleia da República, mais a cantina e os bares. E revelamos os preços que se praticam. Há dois restaurantes de luxo na Assembleia da República reservados a deputados e respectivos convidados. Por cerca de 10 euros por pessoa podem experimentar no almoço buffet, do restaurante do edifício novo do Parlamento, um belo arroz de tamboril com gambas e umas salsichas em couve lombarda. Mas tem também direito a uma mesa de fritos, a outra vegetariana, mais uma de doces e frutas ou de queijos. Tudo isto antecedido, se assim o entender, de uma bela sopa de cebola.
Este é um menu normal, não é de dia de festa, mas sabendo que nem todos os deputados almoçam como deve ser, fomos ver os preços nos bares a que têm acesso e também na cantina, onde vão sobretudo os funcionários da casa.
Começando pela cantina, por apenas 3,80 € têm acesso a uma refeição completa, incluindo iguarias como um arroz de polvo - "malandrinho", como convém - ou à dieta de vitela simples, mais sonhos de peixe. Sopa de ervilha ou Juliana de legumes também constam da variada ementa. Já nos bares de serviço, para uma refeição ligeira, aconselha-se o belo prego, a bifana ou o hambúrguer da casa a apenas 1,01 €. Os croquetes também são em conta: 0,40 cêntimos cada um. Pode optar, é claro, por uma sandes mista a 0,66, ou em forma de tosta a 0,76. Tudo isto pode ser regado com uma cerveja a 0,55 ou uma mini a 0,40. Já percebeu porque é que eles engordam?”
Ao ler isto, nem queria acreditar!
Embora sabendo das mordomias dos deputados, só porque são deputados, fiquei chocada com o que acabei de constatar, num país onde a esmagadora maioria recebe um subsídio de alimentação vergonhoso, ou não o recebe, onde o desemprego atinge famílias inteiras e números assustadores e dramáticos e onde a maioria, quando ganha, ganha “mal e porcamente”, caso da função pública, daquela função pública que não tem cargos de chefia e, mesmo quando os tem, enfim, em nada se compara com as benesses de luxo deste e de outro tipo, neste caso, preços - menús “de reis”, para uma camada da população que deveria dar o exemplo da contenção e austeridade que apregoa e das “boas práticas” que sistematicamente defendem mas das quais a Assembleia da República exemplo não é mas exemplo deveria ser..

O que é isto, meus senhores? Que raio de políticos e políticas sociais são estas que cada vez mais olham “para dentro” de si? Que se esquecem de quem mal ganha para comer minimamente em condições ou anda a pedir para isso ou para aguentar a cada vez maior obstinação de um governo/de governos, abusando e insistindo que a recuperação do país tem de passar pelo contínuo roubo de direitos adquiridos, um deles, o salário digno, e que carregar com mais impostos e mais cortes em bens essenciais é uma inevitabilidade?
Estou farta destas (e de outras) “inevitabilidades”!
As “evitabilidades” é que os deveriam preocupar, caso das mordomias principescas de ministros, secretários de estado, conselheiros disto e daquilo, amigalhaços deste e daquele gabinete ou desta e daquela Fundação ou PPPs, gestores e administradores públicos, ex governantes, ex ministros, ex disto e daquilo…
Quanto mais sabemos destas nuances mais nos revoltamos. É verdade! Mas, o que fazemos? O que deveríamos fazer? Impingem sistematicamente soluções, à boca cheia, em nome da Economia, das regras da Economia, em nome da crise e da urgência da sua resolução, mas eles, eles não olham para si!
Estão a cumprir-se, brevemente, 38 anos da queda da ditadura salazarista mas, por favor, já chega de salazarentos! Os partidos são fundamentais para a manutenção de um regime democrático, particularmente, partidos que saibam fazer uma oposição séria, inteligente e oportuna mas, por favor, partidocracia não, muito menos interesses político-partidários acima dos da Nação!
Como JP Pereira dizia num dos seus últimos posts do seu blogue, só se discute economia, macro, micro, nano, pico, mega, giga, e por aí adiante. Cada vez se sabe menos e se analisa menos o que está a acontecer. O que realmente interessa, acrescento eu, que são as pessoas, as pessoas que nesta gente confiaram e que, com o seu voto, nelas viram a alternativa para uma mudança digna de um país há muito profundamente desigual e injusto. Em termos económicos e em termos políticos.
Chega a ser revoltante ver as “cabecinhas pensadoras” à roda com a troika mas completamente divorciadas daquela que é, afinal, a sua principal missão: evitar que a pobreza seja cada vez maior entre os que sempre asseguraram o país com os seus parcos rendimentos, esses que, como sabemos, não têm a esperteza dos que habitualmente fogem ao fisco das maneiras mais incríveis que ninguém sonha e que, claro, sempre se safaram e continuam a safar! Vem agora dar lições de Moral quem sempre esbanjou ou impulsionou ao esbanjamento! E muitas maneiras houve: desde a autorização para publicidade enganosa que aos bancos se deu, prometendo este mundo e o outro ao comum dos portugueses que do crédito se serviu, até ao dinheiro (perdido) que muito se injectou nos bolsos de banqueiros espertalhões ou de accionistas sem escrúpulos que, hoje, de nós se riem e de nós se aproveitam, salvaguardadas que continuam a estar as suas continhas na “estranja” ou branqueadas de todas as formas e feitios!

Mas o que mais me revolta é fazerem de nós estúpidos, isto é, como se eles, estes, nada disto soubessem!
Obrigada, PPM. É fundamental esclarecer e, aqui, o jornalismo tem lugar de destaque e de enorme responsabilidade, sobretudo num Estado de Direito, colocando-se ao lado dos cidadãos e esclarecendo-os quanto aos meandros da Política, Política e políticos manhosos, escondidos "sob o manto diáfano" dos pretensos sacrifícios que fazem pelo povo e pelo país!!! Afinal, estes discursos de vitimização que têm encontrado o seu expoente máximo no último do Prof Cavaco Silva já vêm de longe e a filosofia dos coitadinhos, incluindo deputados e outros afins, está já, como vemos, a ser tida em conta nos bares e restaurantes da Assembleia da República!!! E nós só sabemos (só sabemos sempre) "parte da coisa"!!! Que falta de sentido de estado e de Ética! Que falta de vergonha!
Voltem a olhar a lista de menus e os preços! Sim, os preços para quem subsídios tem para tudo e mais alguma coisa.

Agora, olhem para o vosso recibo de vencimento e para o subsídio de alimentação que recebem.
Eu não tenho que pactuar com isto nem aceito a existência de “castas”. Só na viticultura!

Nazaré Oliveira

Páscoa na aldeia


"Anjinhos" na procissão

Rosmaninho
Alecrim
Folar transmontano





Minha aldeia na Páscoa...

Infância, mês de Abril!
 Manhã primaveril!
 A velha igreja.
 Entre as árvores alveja,
 Alegre e rumorosa
 De povo, luzes, flores...
 E, na penumbra dos altares cor-de-rosa .
 Rasgados pelo sol os negros véus.
 Parece até sorrir a Virgem-Mãe das Dores.
 Ressurreição de Deus! (...)
 Em pleno azul, erguida
 Entre a verde folhagem das uveiras.
 Rebrilha a cruz de prata florescida...
 Na igreja antiga a rir seu branco riso de cal.
 Ébrias de cor, tremulam as bandeiras...
 Vede! Jesus lá vai, ao sol de Portugal!
 Ei-lo que entra contente nos casais;
 E, com amor, visita as rústicas choupanas.
 É ele, esse que trouxe aos míseros mortais
 As grandes alegrias sobre-humanas.
 Lá vai, lá vai, por íngremes caminhos!
 Linda manhã, canções de passarinhos!
 A campainha toca: Aleluia! Aleluia! (...)
 Velhos trabalhadores, por quem sofreu Jesus.
 E mães, acalentando os filhos no regaço.
 Esperam o COMPASSO...
 E, ajoelhando com séria devoção.
 Beijam os pés da Cruz."

TEIXEIRA DE PASCOAES

Tocam os sinos da torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Vai passando a procissão.

Mesmo na frente, marchando a compasso,
De fardas novas, vem o solidó.
Quando o regente lhe acena com o braço,
Logo o trombone faz popó, popó.

Olha os bombeiros, tão bem alinhados!
Que se houver fogo vai tudo num fole.
Trazem ao ombro brilhantes machados,
E os capacetes rebrilham ao sol.

Tocam os sinos na torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Vai passando a procissão.

Olha os irmãos da nossa confraria!
Muito solenes nas opas vermelhas!
Ninguém supôs que nesta aldeia havia
Tantos bigodes e tais sobrancelhas!

Ai, que bonitos que vão os anjinhos!
Com que cuidado os vestiram em casa!
Um deles leva a coroa de espinhos.
E o mais pequeno perdeu uma asa!

Tocam os sinos na torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Vai passando a procissão.

Pelas janelas, as mães e as filhas,
As colchas ricas, formando troféu.
E os lindos rostos, por trás das mantilhas,
Parecem anjos que vieram do Céu!

Com o calor, o Prior aflito.
E o povo ajoelha ao passar o andor.
Não há na aldeia nada mais bonito
Que estes passeios de Nosso Senhor!

Tocam os sinos na torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Já passou a procissão.


 ANTÓNIO LOPES RIBEIRO

domingo, 1 de abril de 2012

Somos piegas, Passos Coelho?



Quando os nossos políticos, particularmente os políticos europeus, os políticos da Europa-rica ao toque de comando de Angela Merkel e Sarkozy vêm com a sua verborreia habitual falar da crise, quero dizer, da austeridade que é preciso ter face à crise, também os nossos, sobretudo os nossos políticos que têm a desfaçatez de chamar piegas a quem já comida e medicamentos não podem comprar, deveriam ter um pingo de vergonha ao perceberem que a austeridade há muito é sentida e vivida pelos do costume e que já está a ser criminoso continuar cinicamente nos mass-media a sorrir e a pedir como quem da verdade dono é, pacotes contínuos de austeridade aos que quase sempre nada de seu tiveram e que, agora, nada de seu jamais terão.

Sobretudo dignidade. Roubada. Sistematicamente roubada pelos diversos partidos que têm rondado o poder, cá como an U.E, decretando sacrifícios aos que mais apoio precisam (e sempre precisaram), adiando sistematicamente o que afinal seria legítimo esperar: ir buscar “o dinheiro” onde ele existe (nunca deixou de existir!), sem complexos de direita ou de esquerda quando o bem último que todo e qualquer governo deveria ter presente era o bem-estar dos cidadãos, naturalmente, dos mais pobres, e dos que, agora, escondidos ou à vista, passam fome, ficam sem casa ou acabam com a vida porque mais morte se lhes apresentava.
Como se costuma dizer, já está a passar das marcas estes sistemáticos pedidos de “aperto do cinto” em nome dos "troikanos"!

Mas por que é que isso não se aplica a todos, isto é, aos tais que continuam a esbanjar e a gastar, cada vez mais, escandalosamente contrastantes com um país à beira da falência, também, por erros e erros seguidos de governação enganosa, dinheiro mal parado das contas públicas, benesses e compadrios, empresas e parcerias público-privadas de origem duvidosa ou desconhecida, gestores públicos virtuais, reformas chorudas perfeitamente obscenas e injustificáveis para quem da política ou cargos políticos gratificação já teve ou levou, mas que, sinceramente, nem agora nem nunca se justificarão à luz de uma Justiça Social apregoada mas quase nunca visível às massas para quem as promessas eleitorais continuam por cumprir – com a crise e antes dela!

Onde pára a tomada de consciência? Melhor, a consciência?

Onde pára o sentido de justiça?

Quando Passos Coelho referia, há dias, com a retórica do costume, que conseguiria conciliar austeridade e crescimento e que só assim resolveria o problema da dívida externa, e que, para garantir a sustentabilidade da dívida pública o país teria de se cingir ao indispensável, pois só assim seria possível financiar crescimento com poupança, eu pergunto-lhe: É justo continuar a fazê-lo tirando e cortando a torto e a direito a quem já pouco tem ou pouco sempre teve?

Um nojo! Uma vergonha! Ter a ousadia de cortar em salários de trezentos e tal euros e até de mil e tal euros por mês! Um nojo! Uma injustiça quando olhamos para “o outro país” que continua a arrotar à grande e à francesa!

E com o seu semblante e os seus tiques de quem “sabe-mais-que-tudo”, com aqueles trejeitos de quem pensa que para atrasados mentais está a falar, diz, do cimo do seu púlpito: «Uma sociedade que está permanentemente a endividar-se não pode crescer. Nós temos crescido à custa da poupança do exterior, mas ela tem um limite».

Pois tem, Dr. Passos Coelho, e esse limite é o fim da estupidez  e da falta de vergonha de certos políticos que, de tão entranhada, nem dela se dão conta, especialmente o senhor.

Nem dará, porque, salvo raras exceções, quando chegam ao poder, ou dele vivem ou nele logo se esquecem da verdadeira dimensão do seu existir: servir os outros, com espírito de entrega e de missão.

Enquanto a Política estiver subordinada às diretrizes da Finança e Banca mundial e enquanto servilmente se agir sem pensar no bem comum, continuaremos a destruir a harmonia entre povos e nações e a adiar, infelizmente, aquilo que ainda hoje continua por concretizar: a igualdade de todos. A igualdade verdadeira. Social mas também jurídica, política e económica.


No célebre 6 de Fevereiro deste ano, quando proferiu o seu célebre apelo aos portugueses para serem "mais exigentes", "menos complacentes" e "menos piegas" porque só assim, a seu ver, será possível ganhar credibilidade e criar condições para superar a crise, Passos Coelho perdeu o respeito pelos portugueses.

Pelos que sofrem. Doentes, sózinhos, sem medicação que já não conseguem pagar, sem uma refeição que os ajude a aguentar a quimioterapia, sem dinheiro para a renda ou hipoteca, que desmaiam nos hospitais porque não comem há dias, que não conseguem pagar às ambulâncias que os transportavam, que já não têm uma cama quente ou água ou luz…

Na Itália fascista de Mussolini, tal como no Portugal de Salazar, um dos princípios e lemas de culto era: “ Obedece porque deves obedecer.”

Calma aí, pessoal! Isto não pode continuar!

 Nazaré Oliveira

Faculdades para todos, mas quem paga?


AFP

A violenta manifestação estudantil de Londres, a 10 de novembro, nada tem de anódino, escreve o Dagens Nyheter. Porque a polémica sobre o aumento das propinas levanta a questão do financiamento da universidade para as massas.

As manifestações estudantis que rebentaram em Londres, a 10 de novembro, não tiveram a amplitude dos movimentos e dos protestos contra a guerra do Vietname, nos anos de 1960, nem a dos tumultos contra a “poll tax” do Governo de Thatcher, em 1990. Mas o facto de cerca de 50 mil pessoas terem descido à rua para protestarem contra o aumento das propinas do ensino universitário testemunha uma oposição crescente ao Governo liberal-conservador.

Infelizmente, as manifestações degeneraram quando um grupo de indivíduos recorreu à violência. Mas depois do regresso à calma, continua a existir um grande descontentamento contra o projeto de corte de fundos públicos destinados ao ensino superior e a compensação desta perca com um aumento drástico do preço das propinas pagas pelos estudantes.

A crise económica está diretamente relacionada com esta diminuição de fundos. Mas, de uma maneira mais geral, o conflito leva-nos a uma questão estrutural que atinge toda a Europa: quem deverá pagar o aumento da subida de nível dos estudos dos jovens?

Perto de metade dos jovens lança-se nos estudos superiores

Durante muito tempo, as “economias do bem-estar” contentavam-se com um número limitado de diplomados do ensino superior. A Suécia que, nos anos de 1950, era um dos países mais ricos do planeta, tinha um número relativamente baixo de licenciados e oferecia formações universitárias curtas.

Atualmente, em muitos países europeus, entre um terço e metade dos jovens lança-se nos estudos superiores. Primeiro, porque um número crescente de profissões exige diplomas universitários, depois, porque a democratização do acesso ao ensino superior é um objetivo desejável. O facto deste grande aumento de número de alunos nas universidades ter de ser pago pelo Estado também é julgado natural em muitos países europeus. Ora, ao contrário do que acontece nos Estados Unidos, onde a tendência para a universidade de massas começou no pós-guerra, estes países não encararam a possibilidade de transferirem o total ou parte dos custos dos estudos para os estudantes ou as suas famílias.

Assim, preservar a qualidade de um sistema em constante expansão custa muito caro. Em França, por exemplo, isto teve como resultado o seguinte fracionamento: o Estado sustenta generosamente um grupo de grandes escolas enquanto as universidades clássicas se degradam. O projeto de David Cameron tenta impor tem como objetivo reaproximar o sistema às leis do mercado. Enquanto os estudantes mais pobres têm direito a ajudas, os das classes médias têm a possibilidade de contrair um empréstimo cujo montante será proporcional ao seu rendimento futuro. Mas as propinas são dissuasoras e empurram as universidades para uma concorrência encarniçada para seduzir os estudantes.

A peste ou a cólera


Escolher entre o ensino superior financiado pelo Estado mas regressivo e um sistema baseado nas leis do mercado com propinas astronómicas é o mesmo que pedir a alguém que escolha entre a peste e a cólera. Neste sentido, o sistema sueco apresenta-se como um compromisso justo. O ensino superior é financiado pelo Estado, mas os recursos públicos recebidos pelas universidades dependem da sua capacidade de atrair os estudantes e – nos próximos anos – da obediência a certas exigências de qualidade. O inconveniente é que o sistema sueco sofre, ao mesmo tempo, das desvantagens da má gestão pública e da gestão baseada nas leis do mercado.

A caça aos estudantes é um risco que pode conduzir as universidades a proporem uma oferta de cursos sem saída, enquanto a gestão de qualidade feita pelo Estado abre a porta a um aumento do controlo político. Não existe uma solução fácil. Mas é importante manter o ideal de universidade como local de procura do saber, de liberdade de pensamento e de integridade intelectual. A verdadeira questão não é saber como utilizar melhor o ensino superior para reduzir o défice orçamental, mas como criar um mecanismo de financiamento sólido, capaz de garantir a independência da universidade.


Muito interessante este artigo que li aqui e, já agora, mais este


15 November 2010 Dagens Nyheter Stockholm