domingo, 8 de abril de 2012

Páscoa na aldeia


"Anjinhos" na procissão

Rosmaninho
Alecrim
Folar transmontano





Minha aldeia na Páscoa...

Infância, mês de Abril!
 Manhã primaveril!
 A velha igreja.
 Entre as árvores alveja,
 Alegre e rumorosa
 De povo, luzes, flores...
 E, na penumbra dos altares cor-de-rosa .
 Rasgados pelo sol os negros véus.
 Parece até sorrir a Virgem-Mãe das Dores.
 Ressurreição de Deus! (...)
 Em pleno azul, erguida
 Entre a verde folhagem das uveiras.
 Rebrilha a cruz de prata florescida...
 Na igreja antiga a rir seu branco riso de cal.
 Ébrias de cor, tremulam as bandeiras...
 Vede! Jesus lá vai, ao sol de Portugal!
 Ei-lo que entra contente nos casais;
 E, com amor, visita as rústicas choupanas.
 É ele, esse que trouxe aos míseros mortais
 As grandes alegrias sobre-humanas.
 Lá vai, lá vai, por íngremes caminhos!
 Linda manhã, canções de passarinhos!
 A campainha toca: Aleluia! Aleluia! (...)
 Velhos trabalhadores, por quem sofreu Jesus.
 E mães, acalentando os filhos no regaço.
 Esperam o COMPASSO...
 E, ajoelhando com séria devoção.
 Beijam os pés da Cruz."

TEIXEIRA DE PASCOAES

Tocam os sinos da torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Vai passando a procissão.

Mesmo na frente, marchando a compasso,
De fardas novas, vem o solidó.
Quando o regente lhe acena com o braço,
Logo o trombone faz popó, popó.

Olha os bombeiros, tão bem alinhados!
Que se houver fogo vai tudo num fole.
Trazem ao ombro brilhantes machados,
E os capacetes rebrilham ao sol.

Tocam os sinos na torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Vai passando a procissão.

Olha os irmãos da nossa confraria!
Muito solenes nas opas vermelhas!
Ninguém supôs que nesta aldeia havia
Tantos bigodes e tais sobrancelhas!

Ai, que bonitos que vão os anjinhos!
Com que cuidado os vestiram em casa!
Um deles leva a coroa de espinhos.
E o mais pequeno perdeu uma asa!

Tocam os sinos na torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Vai passando a procissão.

Pelas janelas, as mães e as filhas,
As colchas ricas, formando troféu.
E os lindos rostos, por trás das mantilhas,
Parecem anjos que vieram do Céu!

Com o calor, o Prior aflito.
E o povo ajoelha ao passar o andor.
Não há na aldeia nada mais bonito
Que estes passeios de Nosso Senhor!

Tocam os sinos na torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Já passou a procissão.


 ANTÓNIO LOPES RIBEIRO