domingo, 8 de abril de 2012

Luxos na Assembleia da República


 

O Paulo Pinto Mascarenhas, jornalista do CM, publicou dia 8 Dez 2011 o seguinte texto:

“Fomos espreitar os dois restaurantes de luxo que existem na Assembleia da República, mais a cantina e os bares. E revelamos os preços que se praticam. Há dois restaurantes de luxo na Assembleia da República reservados a deputados e respectivos convidados. Por cerca de 10 euros por pessoa podem experimentar no almoço buffet, do restaurante do edifício novo do Parlamento, um belo arroz de tamboril com gambas e umas salsichas em couve lombarda. Mas tem também direito a uma mesa de fritos, a outra vegetariana, mais uma de doces e frutas ou de queijos. Tudo isto antecedido, se assim o entender, de uma bela sopa de cebola.
Este é um menu normal, não é de dia de festa, mas sabendo que nem todos os deputados almoçam como deve ser, fomos ver os preços nos bares a que têm acesso e também na cantina, onde vão sobretudo os funcionários da casa.
Começando pela cantina, por apenas 3,80 € têm acesso a uma refeição completa, incluindo iguarias como um arroz de polvo - "malandrinho", como convém - ou à dieta de vitela simples, mais sonhos de peixe. Sopa de ervilha ou Juliana de legumes também constam da variada ementa. Já nos bares de serviço, para uma refeição ligeira, aconselha-se o belo prego, a bifana ou o hambúrguer da casa a apenas 1,01 €. Os croquetes também são em conta: 0,40 cêntimos cada um. Pode optar, é claro, por uma sandes mista a 0,66, ou em forma de tosta a 0,76. Tudo isto pode ser regado com uma cerveja a 0,55 ou uma mini a 0,40. Já percebeu porque é que eles engordam?”
Ao ler isto, nem queria acreditar!
Embora sabendo das mordomias dos deputados, só porque são deputados, fiquei chocada com o que acabei de constatar, num país onde a esmagadora maioria recebe um subsídio de alimentação vergonhoso, ou não o recebe, onde o desemprego atinge famílias inteiras e números assustadores e dramáticos e onde a maioria, quando ganha, ganha “mal e porcamente”, caso da função pública, daquela função pública que não tem cargos de chefia e, mesmo quando os tem, enfim, em nada se compara com as benesses de luxo deste e de outro tipo, neste caso, preços - menús “de reis”, para uma camada da população que deveria dar o exemplo da contenção e austeridade que apregoa e das “boas práticas” que sistematicamente defendem mas das quais a Assembleia da República exemplo não é mas exemplo deveria ser..

O que é isto, meus senhores? Que raio de políticos e políticas sociais são estas que cada vez mais olham “para dentro” de si? Que se esquecem de quem mal ganha para comer minimamente em condições ou anda a pedir para isso ou para aguentar a cada vez maior obstinação de um governo/de governos, abusando e insistindo que a recuperação do país tem de passar pelo contínuo roubo de direitos adquiridos, um deles, o salário digno, e que carregar com mais impostos e mais cortes em bens essenciais é uma inevitabilidade?
Estou farta destas (e de outras) “inevitabilidades”!
As “evitabilidades” é que os deveriam preocupar, caso das mordomias principescas de ministros, secretários de estado, conselheiros disto e daquilo, amigalhaços deste e daquele gabinete ou desta e daquela Fundação ou PPPs, gestores e administradores públicos, ex governantes, ex ministros, ex disto e daquilo…
Quanto mais sabemos destas nuances mais nos revoltamos. É verdade! Mas, o que fazemos? O que deveríamos fazer? Impingem sistematicamente soluções, à boca cheia, em nome da Economia, das regras da Economia, em nome da crise e da urgência da sua resolução, mas eles, eles não olham para si!
Estão a cumprir-se, brevemente, 38 anos da queda da ditadura salazarista mas, por favor, já chega de salazarentos! Os partidos são fundamentais para a manutenção de um regime democrático, particularmente, partidos que saibam fazer uma oposição séria, inteligente e oportuna mas, por favor, partidocracia não, muito menos interesses político-partidários acima dos da Nação!
Como JP Pereira dizia num dos seus últimos posts do seu blogue, só se discute economia, macro, micro, nano, pico, mega, giga, e por aí adiante. Cada vez se sabe menos e se analisa menos o que está a acontecer. O que realmente interessa, acrescento eu, que são as pessoas, as pessoas que nesta gente confiaram e que, com o seu voto, nelas viram a alternativa para uma mudança digna de um país há muito profundamente desigual e injusto. Em termos económicos e em termos políticos.
Chega a ser revoltante ver as “cabecinhas pensadoras” à roda com a troika mas completamente divorciadas daquela que é, afinal, a sua principal missão: evitar que a pobreza seja cada vez maior entre os que sempre asseguraram o país com os seus parcos rendimentos, esses que, como sabemos, não têm a esperteza dos que habitualmente fogem ao fisco das maneiras mais incríveis que ninguém sonha e que, claro, sempre se safaram e continuam a safar! Vem agora dar lições de Moral quem sempre esbanjou ou impulsionou ao esbanjamento! E muitas maneiras houve: desde a autorização para publicidade enganosa que aos bancos se deu, prometendo este mundo e o outro ao comum dos portugueses que do crédito se serviu, até ao dinheiro (perdido) que muito se injectou nos bolsos de banqueiros espertalhões ou de accionistas sem escrúpulos que, hoje, de nós se riem e de nós se aproveitam, salvaguardadas que continuam a estar as suas continhas na “estranja” ou branqueadas de todas as formas e feitios!

Mas o que mais me revolta é fazerem de nós estúpidos, isto é, como se eles, estes, nada disto soubessem!
Obrigada, PPM. É fundamental esclarecer e, aqui, o jornalismo tem lugar de destaque e de enorme responsabilidade, sobretudo num Estado de Direito, colocando-se ao lado dos cidadãos e esclarecendo-os quanto aos meandros da Política, Política e políticos manhosos, escondidos "sob o manto diáfano" dos pretensos sacrifícios que fazem pelo povo e pelo país!!! Afinal, estes discursos de vitimização que têm encontrado o seu expoente máximo no último do Prof Cavaco Silva já vêm de longe e a filosofia dos coitadinhos, incluindo deputados e outros afins, está já, como vemos, a ser tida em conta nos bares e restaurantes da Assembleia da República!!! E nós só sabemos (só sabemos sempre) "parte da coisa"!!! Que falta de sentido de estado e de Ética! Que falta de vergonha!
Voltem a olhar a lista de menus e os preços! Sim, os preços para quem subsídios tem para tudo e mais alguma coisa.

Agora, olhem para o vosso recibo de vencimento e para o subsídio de alimentação que recebem.
Eu não tenho que pactuar com isto nem aceito a existência de “castas”. Só na viticultura!

Nazaré Oliveira