domingo, 1 de abril de 2012

Somos piegas, Passos Coelho?



Quando os nossos políticos, particularmente os políticos europeus, os políticos da Europa-rica ao toque de comando de Angela Merkel e Sarkozy vêm com a sua verborreia habitual falar da crise, quero dizer, da austeridade que é preciso ter face à crise, também os nossos, sobretudo os nossos políticos que têm a desfaçatez de chamar piegas a quem já comida e medicamentos não podem comprar, deveriam ter um pingo de vergonha ao perceberem que a austeridade há muito é sentida e vivida pelos do costume e que já está a ser criminoso continuar cinicamente nos mass-media a sorrir e a pedir como quem da verdade dono é, pacotes contínuos de austeridade aos que quase sempre nada de seu tiveram e que, agora, nada de seu jamais terão.

Sobretudo dignidade. Roubada. Sistematicamente roubada pelos diversos partidos que têm rondado o poder, cá como an U.E, decretando sacrifícios aos que mais apoio precisam (e sempre precisaram), adiando sistematicamente o que afinal seria legítimo esperar: ir buscar “o dinheiro” onde ele existe (nunca deixou de existir!), sem complexos de direita ou de esquerda quando o bem último que todo e qualquer governo deveria ter presente era o bem-estar dos cidadãos, naturalmente, dos mais pobres, e dos que, agora, escondidos ou à vista, passam fome, ficam sem casa ou acabam com a vida porque mais morte se lhes apresentava.
Como se costuma dizer, já está a passar das marcas estes sistemáticos pedidos de “aperto do cinto” em nome dos "troikanos"!

Mas por que é que isso não se aplica a todos, isto é, aos tais que continuam a esbanjar e a gastar, cada vez mais, escandalosamente contrastantes com um país à beira da falência, também, por erros e erros seguidos de governação enganosa, dinheiro mal parado das contas públicas, benesses e compadrios, empresas e parcerias público-privadas de origem duvidosa ou desconhecida, gestores públicos virtuais, reformas chorudas perfeitamente obscenas e injustificáveis para quem da política ou cargos políticos gratificação já teve ou levou, mas que, sinceramente, nem agora nem nunca se justificarão à luz de uma Justiça Social apregoada mas quase nunca visível às massas para quem as promessas eleitorais continuam por cumprir – com a crise e antes dela!

Onde pára a tomada de consciência? Melhor, a consciência?

Onde pára o sentido de justiça?

Quando Passos Coelho referia, há dias, com a retórica do costume, que conseguiria conciliar austeridade e crescimento e que só assim resolveria o problema da dívida externa, e que, para garantir a sustentabilidade da dívida pública o país teria de se cingir ao indispensável, pois só assim seria possível financiar crescimento com poupança, eu pergunto-lhe: É justo continuar a fazê-lo tirando e cortando a torto e a direito a quem já pouco tem ou pouco sempre teve?

Um nojo! Uma vergonha! Ter a ousadia de cortar em salários de trezentos e tal euros e até de mil e tal euros por mês! Um nojo! Uma injustiça quando olhamos para “o outro país” que continua a arrotar à grande e à francesa!

E com o seu semblante e os seus tiques de quem “sabe-mais-que-tudo”, com aqueles trejeitos de quem pensa que para atrasados mentais está a falar, diz, do cimo do seu púlpito: «Uma sociedade que está permanentemente a endividar-se não pode crescer. Nós temos crescido à custa da poupança do exterior, mas ela tem um limite».

Pois tem, Dr. Passos Coelho, e esse limite é o fim da estupidez  e da falta de vergonha de certos políticos que, de tão entranhada, nem dela se dão conta, especialmente o senhor.

Nem dará, porque, salvo raras exceções, quando chegam ao poder, ou dele vivem ou nele logo se esquecem da verdadeira dimensão do seu existir: servir os outros, com espírito de entrega e de missão.

Enquanto a Política estiver subordinada às diretrizes da Finança e Banca mundial e enquanto servilmente se agir sem pensar no bem comum, continuaremos a destruir a harmonia entre povos e nações e a adiar, infelizmente, aquilo que ainda hoje continua por concretizar: a igualdade de todos. A igualdade verdadeira. Social mas também jurídica, política e económica.


No célebre 6 de Fevereiro deste ano, quando proferiu o seu célebre apelo aos portugueses para serem "mais exigentes", "menos complacentes" e "menos piegas" porque só assim, a seu ver, será possível ganhar credibilidade e criar condições para superar a crise, Passos Coelho perdeu o respeito pelos portugueses.

Pelos que sofrem. Doentes, sózinhos, sem medicação que já não conseguem pagar, sem uma refeição que os ajude a aguentar a quimioterapia, sem dinheiro para a renda ou hipoteca, que desmaiam nos hospitais porque não comem há dias, que não conseguem pagar às ambulâncias que os transportavam, que já não têm uma cama quente ou água ou luz…

Na Itália fascista de Mussolini, tal como no Portugal de Salazar, um dos princípios e lemas de culto era: “ Obedece porque deves obedecer.”

Calma aí, pessoal! Isto não pode continuar!

 Nazaré Oliveira