sexta-feira, 17 de junho de 2011

Olduvai: o regresso às origens.

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O desfiladeiro de Olduvai, situado no norte da Tanzânia, a leste das planícies do Serengeti, no território dos Maasai, pode muito bem ter sido o berço da Humanidade.

Aí foram encontrados os mais antigos vestígios do "homo habilis", e dos artefactos por ele utilizados, que datam de há quase dois milhões de anos. Mas, caso se venha a confirmar ter sido este o local da nascente do caudaloso rio que é o percurso da aventura humana, não é seguramente certo que o "homo sapiens", directo descendente do "homo habilis", regresse um dia a Olduvai, ainda que esse regresso seja entendido como a metáfora que simboliza o retorno às origens, ou ao tempo da pedra lascada, por uma Humanidade despojada de recursos.

Mas terá sido este o conceito no qual o Dr. Richard C. Duncan, um engenheiro de petróleos e director do "Institute on Energy and Man", e um especialista em recursos energéticos, se inspirou para encontrar o nome para uma teoria que desenvolveu, e que é apologética de um próximo apocalipse civilizacional: a teoria Olduvai.

Esta teoria fundamenta-se nos seguintes princípios:

1. O período que vivemos na actualidade, que ele designa de "Civilização Industrial", é uma ocorrência isolada e de curta duração.

2. A variável que caracteriza a Civilização Industrial e que com ela se confunde é o consumo energético "per capita".

3. O consumo energético "per capita" já passou o seu apogeu, e vai declinar, num prazo curto, para valores anteriores ao advento da Civilização Industrial.

Para Duncan, o "Pico Civilizacional" terá ocorrido em 1979 (embora as estatísticas mais recentes não o confirmem), e as três fases que se seguem após esse Pico Civilizacional correspondem a três períodos de declínio, progressivamente mais acentuado: 1) a descida suave ("the slope") de 1979 a 1999; 2) a descida acentuada ("the slide") de 2000 a 2011 e, finalmente, 3) o precipício ("the cliff"), após 2011.

Tal como Malthus já o havia feito, comparando a evolução dos recursos alimentares e a evolução da população, Richard Duncan estabelece a comparação entre o crescimento populacional e o crescimento do consumo energético para concluir que o consumo energético "per capita" vai diminuir rapidamente, e, em consequência disso, o mundo se encaminhará, de forma acelerada, para uma situação catastrófica. Para aquilo que ele chama o fim da civilização pós-industrial, com ocorrência de apagões eléctricos, e de outras situações caóticas provocadas por progressivas falhas organizativas e estruturais.

Vistas bem as coisas, a teoria Olduvai não acrescenta muito à discussão que, desde há muito, se desenvolve à volta do "pico energético" ou do "pico do petróleo". A experiência tem mostrado que a indicação ou a previsão de datas muito precisas para situar o "momento do pico" só servem para dar importância ao acessório, e acabam por desviar as atenções do essencial, que é a insustentabilidade do actual modelo de desenvolvimento. Saber se as mudanças irão ocorrer dentro de 5 ou 20 anos não altera o cerne da questão. Elas vão forçosamente ter de ocorrer porque o que está em causa é algo mais importante que a opinião dos homens ou a visão dos profetas. São as leis da Física que enunciam a impossibilidade do crescimento contínuo em sistemas finitos, e as leis da termodinâmica adaptadas à economia, e que mostram as condicionantes desse crescimento.

O senso comum e a observação da natureza já nos ensinaram que os rios não voltam para trás, que seguem o seu percurso inexorável até ao mar. Por isso, nunca mais regressaremos a Olduvai. Mas a pequena gota de água que um dia se juntou a outras para formar a corrente humana há-de cumprir o seu ciclo. Um dia voltará a subir à nuvem, e daí regressará, de novo, à terra. E o ciclo irá recomeçar...

Luís Queirós
Presidente do grupo Marktest
Membro da ASPO Portugal


Olduvai. A "garganta de Olduvai.


Acabemos com a FOME no Mundo!

É revoltante saber que morrem milhares de pessoas diariamente no mundo, por causa da FOME, da falta de ÁGUA e de ASSISTÊNCIA MÉDICA, enquanto outras, num desperdício que chega a ser chocante e numa atitude de claro desprezo pelos que nada têm, vivem afogados neste consumismo paranóico que os enche de futilidades, egoísmo e até indiferença. Acabar com a Fome no Mundo é possível, sim. Basta que haja ética na política e políticos verdadeiramente empenhados em fazê-la desaparecer, assumindo compromissos ao mais alto nível nas suas relações multilaterais, particularmente quando esses países - mais ricos - sabem que, se o quiserem verdadeiramente, consegui-lo-ão, não só através das ajudas humanitárias mas, sobretudo, estabelecendo com os países mais atingidos por esse flagelo, compromissos sérios de ajuda ao nível da educação e formação profissional, alicerces fundamentais para que a dignidade desses países e desses povos não seja palavra vã, e ainda, equipamentos técnicos que lhes permitam a implementação de indústrias fundamentais à sua sobrevivência económica e social. 
Embora em muitos casos sejam os governos desses povos os seus piores inimigos, caso dos ditadores e políticos corruptos, para quem a escravização, morte lenta e até genocídio são olhados com perversa naturalidade (veja-se o caso do Darfur e Ruanda), a comunidade internacional e a ONU devem ter cada vez mais um papel activo na defesa dessas pessoas famintas, doentes e refugiadas da guerra, procurando, com uma diplomacia de rosto humano, soluções que permitam uma tomada de posição desses povos face à adversidade, seja ela causada pelo clima, por políticas desastrosas da exploração dos recursos naturais ou pela corrupção dos seus governantes.
Não mais espectadores passivos. Nem esmolas. Nem cobrança de dívidas a quem nem da sua própria vida é senhor.

"Não me dês o peixe. Ajuda-me a pescar".

Nazaré Oliveira

domingo, 12 de junho de 2011

Escravatura e plantações de açúcar



Excertos de obras que li (e que cito) sobre a escravatura e as plantações de açúcar no Brasil.


Escravatura e plantações de açúcar são inseparáveis. Cada engenho de açúcar exigia no mínimo 80 escravos, além das centenas que tinham de trabalhar nos campos. A região por excelência foi sem dúvida o Nordeste brasileiro, que designa os estados de Piaui, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Baía. (…) onde viviam em condições miseráveis e eram cerca de 1/3 da população brasileira (…). A importação maciça de africanos foi de tal modo brutal que chegavam aos milhares como gado (…).

Os navios de escravos
O armador encomendava embarcações que apresentassem duas características contraditórias: uma quilha bastante ampla, onde se pudessem acumular o máximo de víveres e negros e a capacidade desenvolver boa velocidade. (…) eram embarcações pequenas, de 100 a 300 toneladas em média. A duração da viagem dependia dos ventos e das transacções que se realizavam na costa africana. Uma viagem triangular de 16 meses de duração representava uma boa média. (…)

Teresa Mesquitela, A escravatura no Brasil e a sua abolição.

Um navio de escravos era um espectáculo asqueroso e lancinante. Amontoada no porão, quando o navio jogava batido pelo temporal, a massa de corpos negros agitava-se como um formigueiro de homens, para beber avidamente um pouco desse ar lúgubre que se escoava ela escotilha gradada de ferro.  Havia lá no seio do navio balouçado pelo mar, lutas ferozes, gritos, uivos de cólera e desespero.
Os que a sorte favorecia nesse ondear de carne viva e negra, aferravam-se à luz e olhavam a estreita nesga do céu. Na obscuridade do antro, os infelizes promiscuamente arrumados a monte, ou caíam inânimes num torpor letal ou mordiam-se desesperados e cheios de fúrias, estrangulavam-se, a um saíam-lhe as entranhas, a outro quebravam-se-lhe os membros no choque dessas obscuras batalhas, e a massa humana, cujo rumor selvagem saía pela escotilha aberta, revolvia-se no seu antro, afogada em lágrimas e imundície.
(…) Como o afogamento dependia do acordo do companheiro, pois encontravam-se amarrados nas pernas (os ferros não eram tirados nunca), o mais frequente era a tentativa de greve de fome. Tentativa, porque o suicida acabava sempre por ser forçado a abrir a boca e a comer: o capitão mandava que um dos homens da sua tripulação se aproximasse do rosto do rebelde com um carvão em brasa ou um ferro quente, e ele era obrigado a ingerir o alimento que tinha recusado.

Oliveira Martins, O Brasil e as colónias portuguesas.

Como se contavam os escravos
De tal modo se comercializou esta indústria assassina – eram quase tantos os negros mortos no trânsito como os desembarcados – que se fazia a conta da gente viva não por número de pessoas mas por medida linear e volume em toneladas, como qualquer fazenda inerte. A unidade era a “peça da Índia”, de 7 quartas (de vara) 1,75m, estatura regular do negro adulto. Três peças faziam uma tonelada, supondo-se ocuparem a bordo outro tanto espaço de carga ordinária. Para a conta mediam-se os negros, somando as alturas e dividindo o total pela craveira, 5,25m, e tinham-se as toneladas.

Lúcio de Azevedo, Época de Portugal Económico.
“As peças”
Os escravos eram designados por peças. Entendia-se por peça o escravo de 15 a 25 anos, cuja altura ideal era de 1,8om. Um negro de 8 a 15 anos (molecão) ou de 25 a 35 anos não fazia uma peça inteira: eram necessários três para fazerem duas peças. As crianças de menos de 8 anos (moleques) e os adultos de 35 a 40 anos, contavam-se por meia peça.

Carlos de Sousa Miguel, art. “escravatura”, Dicionário de História de Portugal.

Como se transportavam
É lamentável ver como se amontoavam esses pobres diabos, metendo 600 a 700 escravos em cada barco. Os homens de pé, nos porões, atados, as mulheres  nas entrepontes e, as que levavam crianças na câmara grande.
Os negros viajavam 2 a 2. A cadeia da perna esquerda ligada à da perna direita do outro, e estendidos nus no porão.
A altura deste não passava de 1,70m, ás vezes menos. Para aumentar o espaço, dividia-se essa altura ao meio, colocando em toda a volta uma espécie de plataforma suficientemente forte para suportar o peso de numerosos corpos. (…) cada escravo dispunha de 83cm de altura.

J.D.Page, A Short History of Africa.

TIANAMEN. Nunca esquecerei.

YES!

Barack Obama ao colo da mãe (anos 60)

Ainda me lembro do entusiasmo com que vivi (e o mundo viveu) as últimas eleições norte-americanas. Porquê tanto interesse, tanta expectativa, tanta ansiedade? Nunca antes isto acontecera, embora sempre me apaixonasse a Política, particularmente a política internacional e, claro, o xadrez político dos EUA que se jogava e que punha em xeque ou não a política mundial se o ganhador não fosse BARACK OBAMA. 
Já não se conseguia aguentar Bush e já nada mais interessava a partir do momento em que Barack, desde o início, arrastando multidões, falava apaixonadamente ao mundo e não só à América do Norte, dos seus valores, dos compromissos para com os mais desfavorecidos, da defesa da paz mundial e do seu contributo para a consolidação da democracia entre as nações. Uma outra política seria possível. Um outro rumo.
Durante aquela campanha eleitoral, senti-me norte-americana. Apoiei Barack Obama. Por tudo o que ele representava, agora, politicamente, mas, sobretudo, pelo jovem e homem combativo que ele foi, humilde, trabalhador incansável, sério, solidário, corajoso, inteligente, forte e determinado. 
A seguir à sua eleição, publiquei este artigo:

YES!

Hoje, 20 de Janeiro de 2009, nem o frio que sentimos em Portugal e E.U.A nos impedirá de aquecer a alma e os nossos corações com a posse de Barack Obama! Pelo que ele tem sido. Pelo que é. Pela forma brilhante e ao mesmo tempo humilde com que se nos dirige e nos cativa.
Num mundo cada vez mais desestruturado e desorientado, quer pela falência do sistema económico vigente, quer pela desresponsabilização sistemática de governantes e políticas desastrosas, chegamos a um momento de reflexão que tardava, tendo em conta as gravíssimas consequências daí resultantes, designadamente, o acentuar das desigualdades sociais, as elevadas taxas de desemprego, o aumento da miséria, da pobreza, da violência, do racismo e xenofobia e, mesmo, a ameaça de destruição dos recursos vitais do nosso planeta e da sustentabilidade do mesmo.
É assustador pensar em tudo isto!
Barack Obama surge neste contexto de grande instabilidade mundial. E foi eleito Presidente dos Estados Unidos da América, da América de Abraham Lincoln, de Franklin Roosevelt, de John F. Kennedy, da América da união, da luta pela igualdade, da firmeza de posições, do trabalho, da seriedade, mas também da América que resta - a América de G. W. Bush, prepotente, ruinosa, arrogante, assustadora.
O papel de Barack Obama vai ser decisivo para a reconciliação dos norte-americanos com eles próprios, com a sua História e com o Mundo.
As suas intervenções, direccionadas para a busca de um caminho sério e transparente na política e nas ideias, quer para os E.U.A. quer para o resto do Mundo, o seu humanismo, a sua inteligência, a sua personalidade, as suas convicções, são a concretização do sonho, não só de Martin Luther King mas, também, de milhões de seres humanos que esperam um novo rumo e uma nova ordem internacional, ditada pelo respeito de todos os povos, pelo direito à Paz e pela defesa intransigente da dignidade humana.
Obama deu-nos força para acreditar nisto. Animou-nos. Conta connosco.
Realista, sabe que o caminho não é fácil porque a herança deixada é pesada e bem sombria, mas, não desiste de o fazer.
Já o começou.Boa sorte, Barack!

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Ao desconcerto do mundo

Os bons vi sempre passar
No Mundo graves tormentos;
E pera mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só pera mim,
Anda o Mundo concertado.

Poema de Luís de Camões
Foto de Francisco Torgal