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O desfiladeiro de Olduvai, situado no norte da Tanzânia, a leste das planícies do Serengeti, no território dos Maasai, pode muito bem ter sido o berço da Humanidade.
Aí foram encontrados os mais antigos vestígios do "homo habilis", e dos artefactos por ele utilizados, que datam de há quase dois milhões de anos. Mas, caso se venha a confirmar ter sido este o local da nascente do caudaloso rio que é o percurso da aventura humana, não é seguramente certo que o "homo sapiens", directo descendente do "homo habilis", regresse um dia a Olduvai, ainda que esse regresso seja entendido como a metáfora que simboliza o retorno às origens, ou ao tempo da pedra lascada, por uma Humanidade despojada de recursos.
Mas terá sido este o conceito no qual o Dr. Richard C. Duncan, um engenheiro de petróleos e director do "Institute on Energy and Man", e um especialista em recursos energéticos, se inspirou para encontrar o nome para uma teoria que desenvolveu, e que é apologética de um próximo apocalipse civilizacional: a teoria Olduvai.
Esta teoria fundamenta-se nos seguintes princípios:
1. O período que vivemos na actualidade, que ele designa de "Civilização Industrial", é uma ocorrência isolada e de curta duração.
2. A variável que caracteriza a Civilização Industrial e que com ela se confunde é o consumo energético "per capita".
3. O consumo energético "per capita" já passou o seu apogeu, e vai declinar, num prazo curto, para valores anteriores ao advento da Civilização Industrial.
Para Duncan, o "Pico Civilizacional" terá ocorrido em 1979 (embora as estatísticas mais recentes não o confirmem), e as três fases que se seguem após esse Pico Civilizacional correspondem a três períodos de declínio, progressivamente mais acentuado: 1) a descida suave ("the slope") de 1979 a 1999; 2) a descida acentuada ("the slide") de 2000 a 2011 e, finalmente, 3) o precipício ("the cliff"), após 2011.
Tal como Malthus já o havia feito, comparando a evolução dos recursos alimentares e a evolução da população, Richard Duncan estabelece a comparação entre o crescimento populacional e o crescimento do consumo energético para concluir que o consumo energético "per capita" vai diminuir rapidamente, e, em consequência disso, o mundo se encaminhará, de forma acelerada, para uma situação catastrófica. Para aquilo que ele chama o fim da civilização pós-industrial, com ocorrência de apagões eléctricos, e de outras situações caóticas provocadas por progressivas falhas organizativas e estruturais.
Vistas bem as coisas, a teoria Olduvai não acrescenta muito à discussão que, desde há muito, se desenvolve à volta do "pico energético" ou do "pico do petróleo". A experiência tem mostrado que a indicação ou a previsão de datas muito precisas para situar o "momento do pico" só servem para dar importância ao acessório, e acabam por desviar as atenções do essencial, que é a insustentabilidade do actual modelo de desenvolvimento. Saber se as mudanças irão ocorrer dentro de 5 ou 20 anos não altera o cerne da questão. Elas vão forçosamente ter de ocorrer porque o que está em causa é algo mais importante que a opinião dos homens ou a visão dos profetas. São as leis da Física que enunciam a impossibilidade do crescimento contínuo em sistemas finitos, e as leis da termodinâmica adaptadas à economia, e que mostram as condicionantes desse crescimento.
O senso comum e a observação da natureza já nos ensinaram que os rios não voltam para trás, que seguem o seu percurso inexorável até ao mar. Por isso, nunca mais regressaremos a Olduvai. Mas a pequena gota de água que um dia se juntou a outras para formar a corrente humana há-de cumprir o seu ciclo. Um dia voltará a subir à nuvem, e daí regressará, de novo, à terra. E o ciclo irá recomeçar...
Luís Queirós
Presidente do grupo Marktest
Membro da ASPO Portugal
Olduvai. A "garganta de Olduvai. |