quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Pois, pá!

Zé Povinho (de Rafael Bordalo Pinheiro)
 
 
É assim mesmo pá, vai para a praia, vai beber umas bejecas e não te preocupes, não penses em nada porque há milhares de gajos a pensar por ti, milhares e milhares de gajos, com computadores, comissões, redes de polícia secreta, comentadores políticos, jornalistas, eu sei lá.
Nem tens que te preocupar, não é pá? Estás de consciência tranquila, sempre fizeste o que tinhas a fazer, não é pá? Votaste no centro moderado nas regionais, votaste na direita moderada nas nacionais e votaste no palhaço moderado nas presidenciais, que mais querem eles? Que lhes ofereças a Europa no Natal? Ah não acham bem? Então para a próxima já nem vais votar, pronto, está decidido, queres lá saber, para safado, safado e meio, eles que se lixem, que é para isso que nós lhes pagamos, não é pá? E deixa-te de políticas, que a tua política é o trabalho, o trabalhinho, porreirinho da Silva. Ah não tens trabalho? Que queres tu que eu te faça? Faz-te à vida, arma-te em empreendedor ou então emigra, quem é que tu pensas que és? O Ulrich, não? E esses gajos que para aí andam a contestar tudo, esses esquerdistas de merda que só desestabilizam, deviam era passar uma semana na António Maria Cardoso, a levar porrada até criar bicho e depois despachavam-se para Caxias ou para Peniche por tempo indeterminado, para ver se acalmavam, como nos outros tempos, não é pá? Isso é que eram tempos, não era pá? A malta andava pianinho, não havia confusões, tudo caladinho, uma maravilha, não era pá? Agora esta porcaria da Democracia é só chatices pá, manifestações, greves, eleições e o caneco, uma treta isto da Democracia, não é pá? Uma trabalheira!
Tu é que tens razão pá, que se lixem todos e mais a Democracia, tu é que a levas direita, e aprendam que tu não vives sempre, não é pá?

 
 
Carlos Galvão (adaptado de “FMI” de José Mário Branco)

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

September songs



 
 


 
 
 
 

Setembro





Não nos podemos instalar simplesmente nas vitórias de ontem, nos saberes adquiridos de um dia, nas experiências de uma determinada etapa. Chega setembro e damos por nós a conjugar regressos. Há duas maneiras de encarar este reencontro com o nosso quadro habitual de vida. Podemos entendê-lo como um retomar simples de um percurso que a pausa estival interrompeu. Voltamos aos mesmos lugares, ao mesmo ritmo, aos mesmos tiques rotineiros, como se a vida fosse um contínuo inalterado. Ou podemos voltar, tendo ganho uma distância crítica e criativa, em relação ao modo como habitamos o real que nos cabe. Sentimos então, como naquele verso de Rainer Maria Rilke, que temos de chegar ao que conhecemos e arriscar olhá-lo como se fosse a primeira vez. De facto, a vida, nas suas várias expressões (laborais, familiares, afetivas…) precisa de recomeços que o sejam verdadeiramente. Não nos podemos instalar simplesmente nas vitórias de ontem, nos saberes adquiridos de um dia, nas experiências de uma determinada etapa. O recomeço supõe uma abertura esperançada em relação ao hoje, encarando-o com a pobreza e a ousadia de quem aceita, depois de ter percorrido já uma estrada, considerar que está novamente, e que estará até ao fim, a viver sucessivos pontos de partida. Neste sentido, precisamos de jogar a vida no aberto, mantendo uma plasticidade interior que é um grande investimento de confiança no modo como Deus se vai manifestando a cada momento. Talvez precisemos todos escutar mais profundamente a vida para captar essa novidade que nos chega por dentro, esse refazer das disposições interiores, essa rejuvenescida vontade de nos pormos à estrada, quando a tentação que nos sobrevém, a dada altura, é a de nos arrumarmos num canto qualquer. Há aquela frase exigente e fantástica que o D. Quixote repetia: “vale mais o caminho do que a estalagem”. Setembro abeira-se de nós assim, desafiando-nos não a um regresso à estalagem, à zona de conforto, à vida tornada mais ao menos maquinal, mas a expormo-nos aos reinícios autênticos, ao refazer humilde e apaixonado do nosso labor, às aprendizagens que nos avizinham silenciosamente do definitivo escondido no provisório que tateamos.

 

 José Tolentino Mendonça

domingo, 8 de setembro de 2013

Papa Francisco: Podemos sair desta espiral de dor e de morte?




«Deus viu que isso era bom» (Gn 1,12.18.21.25). A narração bíblica da origem do mundo e da humanidade nos fala de Deus que olha a criação, quase a contemplando, e repete uma e outra vez: isso é bom. Isso, queridos irmãos e irmãs, nos permite entrar no coração de Deus e recebermos a sua mensagem que procede precisamente do seu íntimo.

Podemo-nos perguntar: qual é o significado desta mensagem? O que diz esta mensagem para mim, para ti, para todos nós?

1. Simplesmente nos diz que o nosso mundo, no coração e na mente de Deus, é “casa de harmonia e de paz” e espaço onde todos podem encontrar o seu lugar e sentir-se “em casa”, porque é “isso é bom”. Toda a criação constitui um conjunto harmonioso, bom, mas os seres humanos em particular, criados à imagem e semelhança de Deus, formam uma única família, em que as relações estão marcadas por uma fraternidade real e não simplesmente de palavra: o outro e a outra são o irmão e a irmã que devemos amar, e a relação com Deus, que é amor, fidelidade, bondade, se reflete em todas as relações humanas e dá harmonia para toda a criação.
O mundo de Deus é um mundo onde cada um se sente responsável pelo outro, pelo bem do outro. Esta noite, na reflexão, no jejum, na oração, cada um de nós, todos nós pensamos no profundo de nós mesmos: não é este o mundo que eu desejo? Não é este o mundo que todos levamos no coração? O mundo que queremos não é um mundo de harmonia e de paz, em nós mesmos, nas relações com os outros, nas famílias, nas cidades, nas e entre as nações? E a verdadeira liberdade para escolher entre os caminhos a serem percorridos neste mundo, não é precisamente aquela que está orientada pelo bem de todos e guiada pelo amor?

2. Mas perguntemo-nos agora: é este o mundo em que vivemos? A criação conserva a sua beleza que nos enche de admiração; ela continua a ser uma obra boa. Mas há também “violência, divisão, confronto, guerra”. Isto acontece quando o homem, vértice da criação, perde de vista o horizonte da bondade e da beleza, e se fecha no seu próprio egoísmo.

Quando o homem pensa só em si mesmo, nos seus próprios interesses e se coloca no centro, quando se deixa fascinar pelos ídolos do domínio e do poder, quando se coloca no lugar de Deus, então deteriora todas as relações, arruína tudo; e abre a porta à violência, à indiferença, ao conflito.
É justamente isso o que nos quer explicar o trecho do Génesis em que se narra o pecado do ser humano: o homem entra em conflito consigo mesmo, percebe que está nu e se esconde porque sente medo (Gn 3, 10); sente medo do olhar de Deus; acusa a mulher, aquela que é carne da sua carne (v. 12); quebra a harmonia com a criação, chega a levantar a mão contra o seu irmão para matá-lo. Podemos dizer que da harmonia se passa à desarmonia? Mas, podemos dizer isso: que da harmonia se passa à desarmonia? Não. Não existe a “desarmonia”: ou existe harmonia ou se cai no caos, onde há violência, desavença, confronto, medo...
É justamente nesse caos que Deus pergunta à consciência do homem: «Onde está o teu irmão Abel?». E Caim responde «Não sei. Acaso sou o guarda do meu irmão?» (Gn 4, 9).
Esta pergunta também se dirige a nós, assim que também a nós fará bem perguntar:
- Acaso sou o guarda do meu irmão? Sim, tu és o guarda do teu irmão!
Ser pessoa significa sermos guardas uns dos outros! Contudo, quando se quebra a harmonia, se produz uma metamorfose: o irmão que devíamos guardar e amar se transforma em adversário a combater, a suprimir. Quanta violência surge a partir deste momento, quantos conflitos, quantas guerras marcaram a nossa história! Basta ver o sofrimento de tantos irmãos e irmãs. Não se trata de algo conjuntural, mas a verdade é esta: em toda violência e em toda guerra fazemos Caim renascer. Todos nós! E ainda hoje prolongamos esta história de confronto entre os irmãos, ainda hoje levantamos a mão contra quem é nosso irmão.
Ainda hoje nos deixamos guiar pelos ídolos, pelo egoísmo, pelos nossos interesses; e esta atitude se faz mais aguda: aperfeiçoamos as nossas armas, a nossa consciência adormeceu, tornamos mais sutis as nossas razões para nos justificar.
Como fosse uma coisa normal, continuamos a semear destruição, dor, morte! A violência e a guerra trazem somente morte, falam de morte! A violência e a guerra têm a linguagem da morte!

Depois do Dilúvio, cessou a chuva, surge o arco-íris e a pomba traz um ramo de oliveira. Penso também hoje naquela oliveira que os representantes das diversas religiões plantamos em Buenos Aires, na Praça de Maio, no ano 2000, pedindo que não haja mais caos, pedindo que não haja mais guerra, pedindo paz.

3. E neste ponto, me pergunto: É possível percorrer o caminho da paz? Podemos sair desta espiral de dor e de morte? Podemos aprender de novo a caminhar e percorrer o caminho da paz? Invocando a ajuda de Deus, sob o olhar materno da  Salus Populi romani, Rainha da paz, quero responder: Sim, é possível para todos! Esta noite queria que de todos os cantos da terra gritássemos: Sim, é possível para todos! E mais ainda, queria que cada um de nós, desde o menor até o maior, inclusive aqueles que estão chamados a governar as nações, respondesse: - Sim queremos!
A minha fé cristã leva-me a olhar para a Cruz. Como eu queria que, por um momento, todos os homens e mulheres de boa vontade olhassem para a Cruz! Na cruz podemos ver a resposta de Deus: ali, à violência não se respondeu com violência, à morte não se respondeu com a linguagem da morte. No silêncio da Cruz se cala o fragor das armas e fala a linguagem da reconciliação, do perdão, do diálogo, da paz. Queria pedir ao Senhor, nesta noite, que nós cristãos e os irmãos de outras religiões, todos os homens e mulheres de boa vontade gritassem com força: a violência e a guerra nunca são o caminho da paz! Que cada um olhe dentro da própria consciência e escute a palavra que diz: sai dos teus interesses que atrofiam o teu coração, supera a indiferença para com o outro que torna o teu coração insensível, vence as tuas razões de morte e abre-te ao diálogo, à reconciliação: olha a dor do teu irmão – penso nas crianças: somente nelas... olha a dor do teu irmão, e não acrescentes mais dor, segura a tua mão, reconstrói a harmonia perdida; e isso não com o confronto, mas com o encontro! Que acabe o barulho das armas!

A guerra significa sempre o fracasso da paz; é sempre uma derrota para a humanidade.

Ressoem mais uma vez as palavras de Paulo VI: «Nunca mais uns contra os outros, não mais, nunca mais... Nunca mais a guerra, nunca mais a guerra! (Discurso às Nações Unidas, 4 de outubro de 1965: ASS 57 [1965], 881). «A paz se afirma somente com a paz; e a paz não separada dos deveres da justiça, mas alimentada pelo próprio sacrifício, pela clemência, pela misericórdia, pela caridade» (Mensagem para o Dia Mundial da Paz, de 1976: ASS 67 [1975], 671).

Irmãos e irmãs, perdão, diálogo, reconciliação são as palavras da paz: na amada nação síria, no Oriente Médio, em todo o mundo! Rezemos, nesta noite, pela reconciliação e pela paz, e nos tornemos todos, em todos os ambientes, em homens e mulheres de reconciliação e de paz. Assim seja.


Papa Francisco
HOMILIA DO SANTO PADRE
Praça de São Pedro Sábado, 7 de  Setembro de 2013

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Esqueçam o crescimento. A austeridade também não é compatível com a democracia.




A adesão à CEE por parte da Grécia (1981) e de Portugal e Espanha (1986) foi essencial para que a transição para a democracia nestes países evoluisse, de forma estável e de braços dados com o crescimento económico, para um período de consolidação e maturação do sistema democrático. Democracia, prosperidade e Europa são, na memória da maioria dos cidadãos da Europa do Sul, os vértices de um mesmo triângulo.

Hoje, estamos perigosamente a percorrer o caminho inverso. A receita punitiva do programas de ajustamento está a destruir a economia grega - algum país, algum povo consegue aguentar a queda do PIB de 25% em 5 anos sem invadir as ruas? nenhum político alemão ou de qualquer outra nacionalidade faz a mais pequena ideia do que está a dizer quando afirma que é preciso fazer "sacrifícios", ou de que não há a austeridade sem "sofrimento"; nenhum teria a coragem para impor metade dos sacrificios concentrados em 2 ou 3 anos sobre a sua própria população -, e deixará semelhante rasto da destruição na economia portuguesa e espanhola, destinadas a definhar abraçadas nos próximos anos. A dias ou semanas de um "resgate" como o grego ou o português, a Espanha - o tal país que, segundo o PSD, tinha feito tudo bem há um par de anos (corte de salários na função pública, liberalização dos despedimentos, aumento da idade da reforma, proibição do défice estrutural na Constituição, etc.) e, dessa forma, escapado a um resgate, lembram-se? percebem hoje o ridículo? - ainda não engoliu o comprimido por inteiro e já vive literalmente ameaçada pela desagregação, enquanto as ruas de Madrid já estão a ferro-e-fogo e Rajoy ainda nem chegou à fase do PEC IV - quanto mais ao que se seguirá. Entretanto, preparam-se para o desemprego espanhol chegar aos 30%. Será uma experiência económica e social memorável. 

Deixemos por momentos de parte a dinâmica de destruição do tecido económico nesses países (já sabemos, da destruição e das reformas estruturais renascerá a Fénix; cá estaremos para avaliar pessoalmente o resultado da voragem do ajustamento, quando os técnicos de FMI, sem nunca terem prestado contas a ninguém, estiverem noutras paragens a monitorizar outro programa de ajustamento). Será que alguém em Berlim ou Bruxelas já parou para pensar no que estão a fazer à credibilidade das instituições democráticas e aos governos dos países da Europa do Sul? Talvez não percebam que a partir do momento em que anulam o espaço de alternativa política e programática mínima e impõem a qualquer governo uma agenda de empobrecimento forçado, os cidadãos passam a chamar sistematicamente “gatunos” aos governantes – a todos: os presentes, os passados e os futuros - e perdem o respeito pelo espaço de mediação que é a representação democrática.

Talvez Bruxelas e Berlim considerem que tudo isto é merecido, que faz parte do processo, e que vale a pena o risco. Ou talvez se estejam nas tintas, desde que as dívidas sejam pagas. Não sei bem qual destas hipóteses é a mais correcta.

Ao fim deste tempo todo, uma coisa é clara: o que se está a passar na Europa do Sul não pode continuar a evoluir nesta direcção (nem a esta velocidade). É preciso que Bruxelas e Berlim acordem para o que se desenha no horizonte: não é só o crescimento que é incompatível com a austeridade (os defensores da austeridade expansionista andam um pouco escondidos); e já não é apenas a austeridade que é incompatível consigo própria, dado que não permite cumprir as metas fixadas (os ajustamentos orçamentais têm falhado ano após ano na Grécia, em Portugal, em Espanha); fundamentalmente, esta austeridade é incompatível com a manutenção da uma democracia estável.

Como muitos temiam, a vitória de François Hollande nas eleições francesas não produziu nenhuma mudança de fundo na política europeia. E se a vitória do PSF não faz diferença para um reequilíbrio dos poderes e interesses europeus, que vitória de um partido de esquerda fará em qualquer outro país? E se Merkel, hoje nos picos da popularidade, for reeleita daqui a um ano, que espaço existe efectivamente para mudar a política europeia (ainda por cima se meter o SPD no bolso, numa grande coligação ao centro)? E alguém acredita que Berlim ou Bruxelas se deixarão convencer pela “evidência empírica” que os programas não estão a resultar? Os fanáticos e os cínicos  - tantos as pessoas como as instituições - têm uma imaginação fértil, e não será difícil encontrar virtudes em economias terraplanadas.

Infelizmente, é provável a Comissão Europeia e a Europa do Norte só conheçam uma linguagem: a do medo. É assim que têm lidado com a Europa do Sul. Nunca se sabe se não será necessário à Europa do Sul aprender a usá-la.

 
 

por Hugo Mendes, em 26.09.12, blogue JUGULAR

 

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Lixo na Arrábida


















Revoltante, um nojo, esta falta de educação de tanta e tanta gente, este facilitismo e autismo das autoridades, esta falta de ação e de coordenação das mesmas e este pactuar com a gentalha que dá cabo do nosso património cultural!

Uma pouca-vergonha! Um crime cometido todos os dias e muito mais visível nos Verões!

É só fachada este interesse q dizem ter pela Arrábida, Arrábida - Património Mundial.

Na realidade, só se interessam com as aparências, com "bons ângulos fotográficos" para publicidade e promoção enganosa.

O lixo q se encontra mal entramos nos acessos às magníficas praias que temos, abraçadas pela também desrespeitada e bela Serra-Mãe, continua, mete dó, e isto ACONTECE AO LONGO DOS ANOS!

ONDE ESTÃO OS QUE DEVIAM FISCALIZAR TUDO ISTO? QUE TÊM FISCALIZADO? COMO TÊM ATUADO?
CAMPANHAS NAS ESCOLAS? NA CIDADE? NAS PRAIAS?
PROGRAMAS SISTEMÁTICOS DE LIMPEZA?

Não falta mão-de-obra disponível não! Falta é boa gestão camarária, bons e sensíveis vereadores, vontade de trabalhar, espírito de missão e de sentido de serviço público, intervenção crítica dos munícipes junto das ditas instâncias superiores.

Já agora, em vez de Educação Sexual (cujos conteúdos podem e são abordados nas aulas de ciências da Natureza, introduzam, sim, a Educação Cívica em todos os anos de escolaridade.

 
Nazaré Oliveira
 
 
 
Nota:
Fotos retiradas do Happy Hour de luto pela Arrábida (Fbook).
Muito obrigada ao Pedro Vieira pelas mesmas.

ONU: Portugal sofre a maior queda no Índice de Desenvolvimento Humano


 
No relatório divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, entre os 187 países analisados é Portugal que regista a maior queda no índice que tem em conta a esperança de vida, o rendimento e a escolaridade.

 

Depois de quatro décadas a subir na escala do desenvolvimento humano, Portugal foi o país que teve a maior queda em 2012.

O relatório do PNUD foi apresentado na Cidade do México e intitula-se “A Ascensão do Sul: Progresso Humano num Mundo Diversificado”, uma ascensão que "não tem precedentes, nem em ritmo, nem em dimensão". O relatório sublinha os "rápidos avanços em alguns dos países de maior dimensão, nomeadamente o Brasil, China, Índia, Indonésia, México, África do Sul e Turquia" e prevê que em apenas um século (de 1950 a 2050) o Produti Interno Bruto do Brasil China e India passarão de 10% do PIB mundial para 40%, "superando de longe as previsões para o produto combinado do atual G-7".

Quanto à evolução do Índice de Desenvolvimento Humano, que não tem apenas em conta o produto e o rendimento, mas também a esperança de vida e a escolaridade da população, as Nações Unidas estão otimistas ao verificarem que "o ritmo de progresso do IDH foi mais rápido nos países que se situam nas categorias baixa e média do desenvolvimento humano. Trata-se de uma boa notícia", afirma o relatório, embora assinale que "não será desejável, nem sustentável, que os progressos no IDH sejam acompanhados pelo aumento das desigualdades de rendimento, padrões insustentáveis de consumo, despesas militares elevadas e uma fraca coesão social".

"Como foi possível a tantos países do Sul mudar as suas perspetivas em matéria de desenvolvimento humano?", questiona a dada altura o relatório da ONU, apontando três fatores para explicar essa evolução: "um Estado pró-ativo no domínio do desenvolvimento; a exploração de mercados mundiais e uma aposta numa política social inovadora". No entender do relatório, estes fatores põem em causa as "abordagens preconcebidas e prescritivas: por um lado, põem de lado uma série de procedimentos coletivistas e geridos a nível central e, por outro, afastam-se da liberalização desenfreada adotada pelo Consenso de Washington".

Portugal na contramão da estrada do desenvolvimento humano

Se o otimismo é a tónica geral do relatório em relação aos países do Sul, os leitores portugueses do relatório ficam sem grandes razões para festejar: o país é o campeão das descidas no Índice de Desenvolvimento Humano 2012, caindo 3 lugares. Portugal ocupa agora a 43ª posição em 187 países, entre os Emirados Árabes Unidos e a Letónia. Ou seja, está apenas 5 lugares acima da linha que separa os países com desenvolvimento humano na categoria "muito elevado" dos que pertencem à categoria "elevado". Em comparação, a Grécia mantém-se estável no 29º lugar do índice e a Espanha também mantém o 23º lugar nesta lista de países.

A par do Índice do Desenvolvimento Humano, que "reflete o desenvolvimento humano potencial, que poderia ser alcançado se as realizações fossem distribuídas de forma igualitária entre os residentes" de cada país, a ONU apresenta o mesmo índice ajustado à desigualdade, que desconta "o valor médio de cada dimensão [saúde, educação e rendimento] de acordo com o seu nível de desigualdade". Neste índice ajustado à desigualdade, Portugal regista uma perda de 10,8% em relação ao índice original.

Este retrocesso do desenvolvimento humano português vem contrariar a tendência positiva que se registava nas últimas décadas. O índice recua a 1980 para fazer estas comparações e regista uma subida de 27% neste período. Decomposto por décadas, verifica-se que a evolução anual portuguesa neste índice foi de 1,04% na década de 80, nos anos 90 abrandou para 0,93% e continuou a cair para 0,43% na primeira década do século XXI e 0,35% se contarmos o período entre 2000 e 2012.

 
Artigo | 14 Março, 2013 - 17:11

domingo, 1 de setembro de 2013

Sobre o fenómeno do recuo do cidadão em relação à vida política


Uma reflexão urgente (frases destacadas por mim).



Existe em Portugal e no resto do dito “mundo desenvolvido” um evidente fenómeno de recuo do cidadão em relação à vida política.

Os cidadãos participam cada vez menos na vida das suas sociedades, quer militando cada vez menos nos partidos, quer participando cada vez menos em associações e movimentos sociais ou culturais. Este recuo sensível da participação cívica está diretamente ligado ao fato de hoje Portugal ser o país mais desigual da OCDE, batendo em 2011, a Bulgária e a Estónia, países que até então ocupavam esse desonroso pódio. Perante o agravamento das condições de vida que se registou com especial agudeza depois de 2008, muitos portugueses apontaram os indicadores – não sem razão – para os grandes partidos representados na Assembleia da República, sobretudo para aqueles dois que têm repartido entre si o poder desde 1975 e aos quais chamamos – invocando o malsano “rotativismo democrático” do século XIX – de “bi-partido”.

Em consequência, assistimos a um recuo da participação nos sufrágios eleitorais e no afluxo de novos militantes aos grandes partidos, que os pudessem renovar e fizessem brotar à superfície novos valores e quadros. A maioria dos português culpou os partidos pela situação atual, pela efetiva bancarrota da República, pelos insustentáveis níveis de desemprego cronico, pela redução inédita (desde 1989) do nível de vida e pelas humilhações e perdas de soberania que representam a presença da Troia e as suas draconianas condições de austeridade orçamental.

Os partidos são responsáveis por esta situação, decerto. Mas os cidadãos que se demitiram de exercerem uma vida política ou cívica mais intensa ou que – pior – se recusaram a votar, eleição após eleição, não podem ser esquecidos.

Se uns governaram mal (por dolo ou incompetência) os outros deixaram que assim sucedesse durante mais de vinte anos, demitindo do dever democrático de participação cívica que obriga moralmente cada cidadão a exercer sobre a República uma vigilância ativa e uma presença constante e amiúde nos sufrágios.

Essa é de facto a grande questão: os partidos estão doentes e fechados dentro de si mesmos, mas os cidadãos não se podem render a essa evidência e deixar a que os partidos (cada vez mais clientelares e dominados por pequenas famílias) entrem em roda vida e se distanciem completamente da sociedade civil. Se queremos mudar alguma coisa numa situação que todos reconhecemos ser impossível, então devemos mudar os partidos e pressioná-los para que introduzam no sistema político formas alternativas (não partidárias) de participação política: iniciativas legislativas de cidadãos menos restritivas, admissão de deputados independentes à Assembleia da República (ou ressuscitação do “Senado” e usando-o para esse fim), efetivação do mecanismo das petições públicas, etc., etc.

Cabe-nos a todos redinamizar esta democracia cada vez mais formal e esvaziada de sentido prático e operacional. Os partidos têm que “ser invadidos” por cidadãos insatisfeitos e dispostos a renovarem os seus quadros, propósitos e objetivos a partir de dentro.

A democracia deve ser reorganizada com novas formas de participação que a abram a novas formas de representatividade da Sociedade Civil. Só assim, a democracia pode deixar de ser uma mera formalidade, cada vez mais entregue a grupos de interesse e pressão, manipuladores dos Media e das Massas, servindo sempre os seus interesses particulares e egoístas e prejudicando severamente o Bem Comum.



in http://movv.org/2012/09/10/sobre-o-fenomeno-do-recuo-do-cidadao-em-relacao-a-vida-politica/



 

Madre Teresa de Calcutá


 
 
 
Madre Teresa de Calcutá.

Sempre por mim lembrada como EXEMPLO DE SIMPLICIDADE E DE ENTREGA E AMOR INCONDICIONAL AOS QUE SOFREM O PIOR DOS MALES: A INDIFERENÇA/O ABANDONO!

Príncipe William e Kate Middleton


 
 

Os meus amigos sabem que não sou nada destas "fofoquices que alimentam a imprensa cor-de-rosa" mas, de facto, quando no supermercado olhei p a capa desta revista não consegui deixar de pensar o que sempre penso: nas ditas monarquias atuais, nas ditas famílias reais, há pessoas que me cativam, quer pela sua simpatia genuína, espontânea, quer pela forma natural como se nos apresentam apesar das exigências protocolares que lhes impõem.
É o caso do príncipe William e da esposa:

Nesta foto, uma das fotos oficiais que correu e correrá mundo por causa da apresentação do seu primeiro filhote, também quiseram que estivessem presentes os seus cães (atrás de Kate está outro).

Quiseram.

Não sou monárquica mas, a estes, "tiro-lhes o chapéu!"

Lindo! Pela simplicidade. Pelo amor, também, aos seus leais companheiros.




Nazaré Oliveira

 

domingo, 18 de agosto de 2013

Crueldade

foto in



 foto in



É horrível ver cenas cruéis deste nosso mundo, também, cruel.
Nesta foto, a crueldade da luta de cães. No entanto, também seria cruel se fosse uma foto com violações de pessoas ou de animais, touradas, gente com fome, sede, frio, sem medicamentos, pessoas e animais na solidão, abandonados, acorrentados, torturados, na imundice, morrendo lentamente numa agonia sem fim para gáudio de mentes perversas e sanguinárias que assim alimentam os seus comportamentos desviantes e as suas frustrações e recalcamentos.

Custa ver esta e outras cenas cruéis? Com pessoas? Com animais?
Custa ver, sim, mas mais me custaria e sempre custará saber que actos cruéis persistem e que, pela ignorância ou indiferença da nossa parte, não denunciamos.

Custa ver, sim, mas mais me custaria saber que sei, vi e nada fiz pelas vítimas inocentes de sacanas sem lei.
Custa ver, sim, mas mais me custaria ocultar ou, sequer, fingir que não sei.

Custa ver, sim, mas jamais deixarei de divulgar.
Eu estou do lado das vítimas e tudo farei para denunciar os seus carrascos.

Não acabo com a crueldade nem com quem a pratica mas, orgulhosa e convictamente, reafirmo publicamente a minha posição face à dura luta que se continua a travar para defesa dos direitos humanos e dos não humanos.
As redes sociais têm um papel cívico e pedagógico importantíssimo para o esclarecimento que urge fazer-se e a todos os níveis. Sobretudo, com os mais jovens.

Não as utilizar, portanto, em situações como esta, seria um ato de cobardia da minha parte e a negação de mim mesma.
Nazaré Oliveira