Depois de quatro décadas a subir na escala do
desenvolvimento humano, Portugal foi o país que teve a maior queda em 2012.
O relatório do PNUD
foi apresentado na Cidade do México e intitula-se “A Ascensão do Sul: Progresso Humano num Mundo
Diversificado”, uma ascensão que "não tem precedentes, nem em
ritmo, nem em dimensão". O relatório sublinha os "rápidos avanços em
alguns dos países de maior dimensão, nomeadamente o Brasil, China, Índia,
Indonésia, México, África do Sul e Turquia" e prevê que em apenas um
século (de 1950 a 2050) o Produti Interno Bruto do Brasil China e India
passarão de 10% do PIB mundial para 40%, "superando de longe as previsões
para o produto combinado do atual G-7".
Quanto à evolução do
Índice de Desenvolvimento Humano, que não tem apenas em conta o produto e o
rendimento, mas também a esperança de vida e a escolaridade da população, as
Nações Unidas estão otimistas ao verificarem que "o ritmo de progresso do
IDH foi mais rápido nos países que se situam nas categorias baixa e média do
desenvolvimento humano. Trata-se de uma boa notícia", afirma o relatório,
embora assinale que "não será desejável, nem sustentável, que os
progressos no IDH sejam acompanhados pelo aumento das desigualdades de
rendimento, padrões insustentáveis de consumo, despesas militares elevadas e
uma fraca coesão social".
"Como foi
possível a tantos países do Sul mudar as suas perspetivas em matéria de
desenvolvimento humano?", questiona a dada altura o relatório da ONU,
apontando três fatores para explicar essa evolução: "um Estado pró-ativo
no domínio do desenvolvimento; a exploração de mercados mundiais e uma aposta
numa política social inovadora". No entender do relatório, estes fatores
põem em causa as "abordagens preconcebidas e prescritivas: por um lado,
põem de lado uma série de procedimentos coletivistas e geridos a nível central
e, por outro, afastam-se da liberalização desenfreada adotada pelo Consenso de
Washington".
Portugal na contramão
da estrada do desenvolvimento humano
Se o otimismo é a
tónica geral do relatório em relação aos países do Sul, os leitores portugueses
do relatório ficam sem grandes razões para festejar: o país é o campeão das
descidas no Índice de Desenvolvimento Humano 2012, caindo 3 lugares. Portugal
ocupa agora a 43ª posição em 187 países, entre os Emirados Árabes Unidos e a
Letónia. Ou seja, está apenas 5 lugares acima da linha que separa os países com
desenvolvimento humano na categoria "muito elevado" dos que pertencem
à categoria "elevado". Em comparação, a Grécia mantém-se estável no
29º lugar do índice e a Espanha também mantém o 23º lugar nesta lista de
países.
A par do Índice do
Desenvolvimento Humano, que "reflete o desenvolvimento humano potencial,
que poderia ser alcançado se as realizações fossem distribuídas de forma
igualitária entre os residentes" de cada país, a ONU apresenta o mesmo
índice ajustado à desigualdade, que desconta "o valor médio de cada
dimensão [saúde, educação e rendimento] de acordo com o seu nível de
desigualdade". Neste índice ajustado à desigualdade, Portugal regista uma
perda de 10,8% em relação ao índice original.
Este retrocesso do
desenvolvimento humano português vem contrariar a tendência positiva que se
registava nas últimas décadas. O índice recua a 1980 para fazer estas
comparações e regista uma subida de 27% neste período. Decomposto por décadas,
verifica-se que a evolução anual portuguesa neste índice foi de 1,04% na década
de 80, nos anos 90 abrandou para 0,93% e continuou a cair para 0,43% na
primeira década do século XXI e 0,35% se contarmos o período entre 2000 e 2012.