domingo, 28 de julho de 2013

Movimentos de protesto e esperança



 


 

Este é um artigo que pretende desmontar ideias feitas sobre os movimentos de protesto e esperança que nos acompanham há três anos.

O pretexto é duplo. Por um lado, os acontecimentos na Turquia e no Brasil e, por outro, um artigo de Moisés Naim no El País intitulado “Turquía, Brasil y sus protestas: seis sorpresas” a quem agradeço o desafio intelectual das perguntas feitas e a possibilidade de discordar das suas respostas.

A minha discordância com Naim resulta do facto de ele sugerir que há surpresas nestes acontecimentos e eu entender que não as há.

Há sim cegueiras analíticas no poder político e na cobertura jornalística face ao descontentamento - algo normal num mundo em radical mudança de paradigma como aquele em que estamos viver nesta década.

Optei por rebater ponto por ponto as seis surpresas apontadas por Naim, questionando-as e dando respostas que procuram mostrar um outro olhar sobre os acontecimentos na esperança de nos afastar do senso comum e das ideias feitas que parecem imperar em muitos meios de comunicação de massa e também em posts e tweets que circulam na rede.

1. Terão os protestos origem em pequenos incidentes que se tornam grandes?

Na realidade não se trata de pequenos incidentes que se tornam grandes. É o sentimento claro de injustiça que está na origem dos protestos. Pode parecer à primeira vista que não o é, pois tentamos dar sentido à diversidade contida nos protestos e é mais fácil, mas menos exacto, assumir que se parte do pequeno para o grande protesto.

Aquilo a que assistimos nas avenidas do Brasil (e que já antes vimos em praças de muitos países) resulta do somatório de múltiplas vozes que tomam o espaço público da cidade - mas já antes estavam presentes nas conversas de café ou em família.

O que ocorre é que o elemento mobilizador é normalmente percebido como pequeno, mas é pequeno apenas porque na realidade é a gota de água que faz transbordar o copo do descontentamento.

Quando muitas gotas de água se juntam altera-se a percepção individual, a injustiça passa a ser sentida e partilhada em conjunto e o resultado é que os indivíduos tomam consciência de que estão a fazer parte de um movimento de protesto.

O que junta então as pessoas? Primeiro, um pequeno grupo de pessoas altamente mobilizadas perante uma causa e depois o mimetismo da acção.

Um mimetismo associado à mera cobertura do evento pelos meios de comunicação de massa que possibilitam que surja na mente de muitos a pergunta "e se eu me juntasse a eles? Não será já hora de sermos ouvidos?".

Quando a TV e a Rádio não fazem o seu papel, ou são percebidas como controladas pelo poder, são as redes sociais, via Twitter e Facebook, que fazem o passa palavra necessário para quebrar o receio e induzir a confiança baseada no número – “nós já aqui estamos, vem ter connosco à praça!”.

Não há nada de surpreendente em as pessoas quererem mais justiça e dizerem publicamente na rua aquilo que vêm dizendo em maioria absoluta nos inquéritos de opinião.

Desde há uma década que, em países em desenvolvimento ou desenvolvidos, os inquéritos realizados por sociólogos, por institutos estatísticos ou por empresas de sondagens mostram que a desconfiança nos partidos e nos políticos é galopante – “não acreditamos nestas políticas e nestes políticos” é a afirmação comum aos diferentes estudos.

Algo que está anunciado globalmente há mais de uma década não constitui uma novidade, mas as instituições e os actores políticos têm preferido manter-se em negação acreditando que o descontentamento passa - um erro crasso, como podemos hoje percepcionar pelo que assistimos.

2. Será que os governos reagem mal perante os protestos?

Não podemos generalizar quanto à reacção dos governos. É verdade que todos se sentem mal com a crítica e o desafio ao seu poder. É verdade que podemos agrupar os governos em termos de democracias e não democracias. É também verdade que quase todos, através de um qualquer nível de governo, acabam por colocar a polícia na rua. Mas também é verdade que as polícias não reagem sempre do mesmo modo e se há confronto e provocação em muitas situações, também há respeito mútuo e distância pacífica em muitas outras – aliás, o confronto desencadeado por poucos é a excepção que confirma a regra pacífica dos movimentos.

Provavelmente, o principal problema dos governos é a incapacidade comunicativa. Marcelo Branco, activista e analista social brasileiro, captou bem esse fenómeno quando afirmou que o Governo brasileiro não sabia comunicar nas redes sociais. E eu adicionaria que os governos não sabem nem comunicar nas redes sociais nem comunicar em rede - a subjectividade (isto é, o olhar sobre a realidade) dos governos está moldado pela comunicação de massa.

É muito difícil para qualquer governo assumir que governa mas perdeu a capacidade de falar com muitos dos seus cidadãos, porque deixou de conseguir pensar como eles e, consequentemente, não sabe comunicar em rede. A maioria dos governos contemporâneos ainda não compreendeu que vive na era em que "A mensagem são as pessoas" e já não naquela em que “A mensagem são as políticas”.

3. Será que os protestos não têm nem líderes nem cadeias de comando?

Quem olha para os protestos a partir do olhar das lutas de classe ou da oposição de interesses entre sindicatos e associações patronais vê protestos sem líderes e sem cadeias de comando. Logo, ou os descarta como protestos sem interesse ou, quando se vê empurrado para ter de lidar com eles, busca caras e nomes na tentativa de recuperar o modelo que lhe dá segurança, por ser aquele com que sabe lidar.

Essa lógica não é apenas aquela em que está imbuído o poder político, é também a do jornalismo tradicional na sua busca de rostos e pertenças ideológicas ou associativas.

Quem está na rua não representa ninguém excepto a si próprio - que é o belo ideal de pensamento e acção na base da democracia.

O que se pede ao jornalismo e aos que gerem instituições de poder hierárquicas é que sejam capazes de interpretar as críticas e as perguntas feitas nas ruas e, aos governantes no poder, que as traduzam em propostas e políticas de acção.
A quem está nos gabinetes das prefeituras, dos governos estaduais, das câmaras municipais ou nos governos nacionais ou federais cabe olhar para os que se representam a si próprios nas praças e saber ouvir.

É claro que o problema reside no facto de nesses gabinetes raras vezes se compreender a sociedade em rede, o seu funcionamento e que a autonomia do sujeito é a matriz de intervenção e de vivência da maior parte daqueles que tomam as ruas para protestar - e não se tem de ter um telemóvel com ligação à Internet para o fazer e pensar diferente.

O que assistimos é a um conflito cultural em que quem governa não compreende quem protesta e em que quem protesta espera que quem o representa tenha a mesma percepção cultural da realidade - algo que nada tem a ver com esquerda nem direita, mas sim, por um lado, com a busca do uso da autonomia pelos actores individuais e, por outro, com a tentativa de manter o controlo da acção por parte do poder político.

4. Não há com quem negociar nem quem encarcerar nestes protestos?

Há de certeza quem encarcerar, como se nota pelas imagens e descrições com que somos brindados a partir do teatro da acção nas ruas e praças. Já quanto a não haver com quem negociar essa é a pergunta errada, pois o que se deveria perguntar é o que é negociar na sociedade em rede?

Se entendermos a negociação como pessoas que se sentam à mesa para expor reivindicações e tentar atingir um ponto de entendimento, temos de assumir que os movimentos de protesto são na sua estrutura o oposto desse modelo.

Há de facto plataformas organizadas que podem negociar questões claramente identificadas, sejam elas o travar a destruição de um parque ou o aumento do preço dos transportes. Mas essa é apenas uma das partes do movimento e sempre minoritária. Sendo essa uma das características deste movimento, negociar implica também os poderes interpretarem as queixas dos milhões que autonomamente se representam a si mesmos.

Ou seja, implica compreender que o poder tem de agir politicamente tal como quando usamos um motor de busca na Internet. Perante uma questão posta na rua, cabe ao poder encontrar a resposta certa para essa questão. Ou seja, o poder político tem de interpretar, dar sentido ao que ouve e vê e apresentar possíveis listagens de resposta - entre essas possíveis respostas estarão as que servem as diferentes questões colocadas e a vontade das pessoas que as fizeram.

Neste modelo de negociação não há lugar à reunião à volta da mesa, pois a negociação só termina quando a potencial resposta à crítica se transforma em política e acção governativa concreta - entretanto, os governos têm de ser menos opacos e mostrar que estão a fazer algo no sentido que lhes é solicitado, pois só assim se cria confiança.

Na sociedade em rede não são só as sondagens que são permanentes no escrutínio das opiniões dos cidadãos sobre o que pensam sobre dado assunto e dado actor politico. São também os protestos e reivindicações que são permanentes e que necessitam de ser pensadas e trabalhadas por parte do poder do mesmo modo que permanentemente estão a inquirir a opinião pública - a comunicação é em rede, já não flui num só sentido.

É claro que tal não se coaduna com a lentidão dos gabinetes, dos parlamentos ou senados, mas se há tantos a criticar essa lentidão e aparente ineficácia (quando não acção dolosa para impedir a resolução dos problemas) talvez valha pena os governos questionarem-se sobre se a negociação não passa também pela mudança estrutural do entendimento sobre o que é negociar e governar na sociedade em rede.

5. É impossível prognosticar as consequências dos protestos?

Não é impossível, pois todos nós, os que estudamos estes fenómenos, temos vindo a analisar que na sociedade em rede a máxima de que “onde há injustiça percebida há revolta” tem outras nuances e conotações quando à sua forma, o seu desencadeamento e a sua acção.

Sabemos que no contexto de abundância de informação e comunicação, a noção de injustiça está muito mais latente e é partilhada por muitos mais - mesmo que não seja experimentada na primeira pessoa, há a percepção de solidariedade face a algo que é percebido como errado.

Sabemos também que há sempre sinais fracos que antecedem os eventos e, em todas as situações até agora vividas, os mesmos foram perceptíveis para muitos dos que estudam movimentos sociais, só que políticos e governantes decidiram desvalorizar a probabilidade de os mesmos ocorrerem.

Quando hoje estudamos movimentos sociais sabemos que mal um sinal fraco de protesto é visível, deve ser percebido como potencialmente mobilizador. Sabemos que a probabilidade de se transformar em protesto efectivo é hoje muito maior. É uma forma diferente de lidar com a antecipação, mas também ela é produto da nossa sociedade em mudança.

No entanto, é verdade que os governos lidam mal com a leitura de sinais fracos, preferem quase sempre acreditar mais que estão certos do que assumir que podem estar errados e dar o benefício da dúvida aos cidadãos.

Quanto ao prognóstico sobre para onde nos levam os protestos, a prática diz-nos que há vários padrões.

Nos regimes democráticos, os partidos dos governos perdem sempre algo - esse algo vai da queda em sondagens à perda de eleições, dependendo da confluência do momento do protesto com o ciclo eleitoral.

As oposições tendem sempre a ganhar menos do que o que é perdido por quem está no poder e, por sua vez, muitos cidadãos retiram-se da participação eleitoral para a busca individual de soluções em rede com outros que partilham o mesmo problema ou visão - ou então colocam-se à espera de que a mudança se torne mais visível no seio da política tradicional e que nos aproximemos de uma democracia mais próxima do nosso tempo.

Nos regimes não democráticos ou demo-autoritários o resultado é o desgaste lento até à implosão violenta (ou não) e a chegada de novos actores governativos - mas sem certeza de mudança radical do que se buscava no protesto.

No cômputo geral, para os cidadãos há sempre um ganho, algo muda, algo é atendido. Mesmo que no processo algo que se dava por adquirido seja colocado em causa, percebe-se que o actor individual pode ter autonomia, que pode influenciar o rumo de algo e essa é uma dimensão iminentemente gratificante para o ser humano - uma vez experimentado o poder de contar para algo, o ser capaz de influenciar a prática passa também a moldar a nossa identidade.

6. Será verdade que a prosperidade não compra estabilidade?

A relação entre estabilidade e prosperidade não é causal. Ou seja, não se trata de quanto mais prosperidade mais reivindicação e, consequentemente, como os poderes não podem responder tão rápido quanto o desejado, daí resultar incompreensão entre eleitores e eleitos, o que, por sua vez, provoca protestos e quebras de estabilidade.

A relação é muito menos causal e muito mais assente na generalização de um menor grau de tolerância dos indivíduos face quer às assimetrias de poderes, que limitam a autonomia individual, quer quanto à desigualdade de rendimentos que alimenta as injustiças.

O que se passa, mas que escapa a muitos que não estejam directa ou indirectamente envolvidos na acção de rua ou empatia com os movimentos a partir de casa, é que aqueles que estão em protesto estão efectivamente em ruptura com as normas e instituições que temos. E estão-no, porque efectivamente estão a olhar o mundo de forma diferente e a dizer "estamos a afundar-nos, já todos vocês o viram, mas nós não iremos junto convosco, iremos lutar por algo diferente!".

Pela sua acção, pelo dizerem basta, estão também a mudar a nossa forma de pensar e a tornar-nos menos tolerantes e mais exigentes para com o (mau) funcionamento da democracia e para com os que não sabem governar em rede com os seus cidadãos.

É claro que o poder, seja ele de direita ou esquerda, não convive facilmente com a crítica mas tem de aprender rapidamente o que é a crítica em rede e é isso que lhe está a ser dito há três anos nas praças e avenidas por quem se junta pelas redes sociais, formando redes sociais nas ruas.

Não há surpresas nos protestos, há é cegueiras políticas e acima de tudo uma incapacidade comunicativa entre o poder e os cidadãos, porque estão a viver mundos diferentes.

Da Turquia ao Brasil (e outros) vivemos o nosso descontentamento com o que temos, mas estamos a demonstrar – a quem souber ouvir – que o mundo muda quando queremos que mude.

Para mudar não é preciso ter um programa de governo, basta saber o que é injusto. As medidas e os programas surgirão da experimentação. Pois, nem sempre é preciso saber que caminho seguir, basta saber para onde se quer ir.

 

 

Gustavo Cardoso é Directeur D’études Assossiés na Maison des Sciences de L’Homme e docente do ISCTE-IUL

 

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Não, o povo não é uma massa brutal e ignorante (Jacques Ranciére)




Não passa um dia sem que alguém decida denunciar os riscos do populismo. Não é por isso fácil identificar aquilo que a palavra designa. O que é um populista? Atráves de todas as flutuações do termo, o discurso dominante parece caracterizá-lo a partir de três traços essenciais: um estilo de interlocução dirigido directamente ao povo por cima dos seus representantes e notáveis; a afirmação de que os governos e as elites dirigentes cuidam melhor dos seus interesses do que a coisa pública; uma retórica identitária que exprime o medo e a rejeição dos estrangeiros.

É por isso claro que nenhuma necessidade liga estes três traços. Que existe uma entidade chamada povo, que é a fonte de todo o poder e o interlocutor prioritário do discurso político, era a convicção profunda dos oradores republicanos e socialistas de outrora. Não lhe é associada qualquer forma de sentimento racista ou xenófobo. Que os nossos políticos pensam mais nas suas carreiras do que no futuro dos seus concidadãos e que os nossos governos vivem em simbiose com os representantes dos grandes interesse financeiros, pode ser proclamado sem se ser necessariamente um demagogo. A mesma imprensa que denuncia as derivas «populistas» oferece-nos quotidianamente os testemunhos mais detalhados. Por sua vez, certos chefes de Estado e de governo ditos «populistas», como Sílvio Berlusconi ou Nicolás Sarkozy, estão longe de propagar a ideia «populista» que elites são corruptas. O termo «populismo» não serve por isso para caracterizar uma força política concreta. Não designa uma ideologia nem sequer um estilo político coerente. Serve simplesmente para desenhar a imagem de um certo povo.

Porque «o povo» não existe. Aquilo que existe são imagens diferentes, por vezes antagónicas, do povo, imagens construídas privilegiando certas formas de pertença, certos traços distintivos, certas capacidades ou incapacidades. A noção de populismo constrói um povo caracterizado pela atroz aliança entre uma capacidade - a potência bruta do grande número - e de uma incapacidade - a ignorância atribuída a esse mesmo grande número. Por isso, o terceiro traço, o racismo, é essencial. Trata-se de mostrar aos democratas, sempre suspeitos de ingenuidade «angelical», o que é na verdade o povo profundo: uma turba habitada por uma pulsão primária de rejeição que visa simultaneamente os governantes que declara traidores, incapaz de compreender a complexidade dos mecanismos políticos, e os estrangeiros que receia devido ao seu apego atávico a um quadro de vida ameaçado pela evolução demográfica, económica e social. A noção de populismo recoloca em cena uma imagem do povo elaborada no final do século XIX por pensadores como Hyppolite Taine e Gustave Le Bon, aterrados pela Comuna de Paris e pelo crescimento do movimento operário: a das massas ignorantes impressionadas pelas palavras sonantes dos «agitadores» e dadas à violência extrema pela circulação de rumores incontroláveis e de pânicos contagiosos.

Esses tumultos epidémicos das massas cegas manipuladas pelos líderes carismáticos estarão verdadeiramente na ordem do dia entre nós? Quaisquer que sejam os preconceitos expressos todos os dias relativamente aos imigrantes, e nomeadamente aos «jovens da periferia», eles não se traduzem em manifestações populares de massa. Aquilo a que hoje em dia chamamos racismo no nosso pais é essencialmente a conjunção de duas coisas. Por um lado, as formas de discriminação no emprego ou no local de residência que se exercem na perfeição dentro de gabinetes assépticos. Por outro, medidas de Estado que não resultam de todo de movimentos de massa: restrição à entrada no território, recusa de conceder documentos a gente que trabalha e paga impostos em França há anos, recusa do direito de cidadania a quem nasce dentro do país, dupla penalização, leis contra o foulard e a burqa, metas obrigatórias de deportação ou o desmantelamento de acampamentos de nómadas. Essas medidas têm como principal objectivo precarizar uma parte da população quanto aos seus direitos de trabalhadores ou de cidadãos, constituir uma população de trabalhadores que podem a qualquer momento ser reenviados para o seu destino e de franceses que não têm a certeza de o continuar a ser.

Essas medidas são apoiadas por uma campanha ideológica, justificando essa diminuição de direitos pela evidência de uma não-pertença aos traços característicos da identidade nacional. Mas não foram os «populistas» da Frente Nacional que desencadearem essa campanha. Foram os intelectuais, de esquerda ao que se diz, que encontraram o argumento imparável: essas pessoas não são verdadeiramente francesas porque não são laicas.

A recente «derrapagem» de Marine Le Pen é instrutiva a esse respeito. Não faz efectivamente senão condensar numa imagem concreta uma sequência discursiva (muçulmano = islamita = nazi) que se insinua um pouco por toda a prosa dita republicana. A extrema-direita «populista» não exprime uma paixão xenófoba específica que emana das profundezas do corpo popular; ela é um satélite que utiliza a seu favor as estratégias do Estado e as campanhas intelectuais mais sofisticadas. O Estado alimenta um permanente sentimento de insegurança que funde os riscos da crise e do desemprego com os do gelo na estrada ou os do ácido fórmico, para fazê-los culminar a todos na suprema ameaça do terrorismo islamita. A extrema-direita coloca as cores da carne e do sangue sob o retrato robô delineado pelas medidas ministeriais e pela prosa dos ideólogos.

Assim, nem os «populistas» nem o povo projectado pelas denunciações rituais do populismo correspondem verdadeiramente à sua definição. Mas isso pouco interessa aos que agitam o seu fantasma. O essencial, para esses, é amalgamar a própria ideia do povo democrático à imagem da turba perigosa. E de retirar daí a conclusão que todos nos devemos entregar a quem nos governa e que qualquer contestação da sua legitimidade e da sua integridade é a porta aberta ao totalitarismo. «Antes uma república das bananas do que uma França fascista», dizia um dos mais sinistros slogans anti-Le Pen em Abril de 2002. A actual campanha em torno dos perigos mortais do populismo procura converter em teoria a ideia de que não temos outra escolha.

 
 
Tirado daqui e traduzido por Ricardo Noronha in Unipoppers.
Uma versão inglesa para consultar sempre que houver dúvidas está disponível aqui.
 
 

domingo, 21 de julho de 2013

Mundial 2014 no Brasil

Uma jovem brasileira fez o vídeo que abaixo publico, no qual expõe as razões pelas quais considera que o MUNDIAL A REALIZAR NO SEU PAÍS EM 2014 não deveria ser feito.

É muito interessante esta análise: lúcida, pertinente, pragmática, realista, que pretende pôr as pessoas a refletir sobre o que é ou deve ser prioritário para um governo, para um país, quando se depara com a situação atual e que todos nós conhecemos.

Mas não é só ao governo que ela apela, claro, mas também e sobretudo à população e ao mundo.

De facto, quando  há milhares de cidadãos a necessitar de comida, cuidados de saúde primários, instrução básica, habitação digna, quando se assiste ao fosso cada vez maior entre ricos e pobres, entre os que sempre tudo tiveram e os que sempre trabalharam para assegurar uma subsistência de clara servidão e desumanidade, sem falar dos milhares de desempregados e famintos que caem nas malhas da criminalidade e do abandono porque negadas lhe continuam a ser sempre direitos fundamentais, eu também estou com esta jovem.

Há prioridades e, a principal, é combater a pobreza, seja ela qual for ou onde for, sem falar da maldita corrupção.

Não podemos aceitar que se mascare a realidade em nome de uma projeção turística feita à custa da mentira, da hipocrisia política e do sofrimento dos que há muito clamam por justiça social.

Nós, portugueses, bem a compreendemos, ou será que também já se esqueceram?



 

sábado, 20 de julho de 2013

Mensagem à Sr.ª Presidente da Assembleia da República



 
Sr.ª Presidente,

De facto os Senhores não foram “eleitos para ter medo”, para serem “coagidos”, e “provavelmente também” não foram “eleitos para não serem respeitados”. Foram eleitos para defenderem a Constituição, para que não volte a haver medo, para que ninguém se sinta coagido e para que haja respeito por todos. Infelizmente os Deputados da Assembleia da República não têm trabalhado pela população que os elegeu.
Gritar palavras como “Fascismo nunca mais!” não é desrespeitar, não é uma coacção e se a faz ter medo, é a Senhora que me está a amedrontar!
As galerias são de acesso público e os Senhores Deputados não podem esconder-se atrás de um edifício estatal, que é de todos e não de meia dúzia. Não é propriedade privada! É inadmissível a Senhora dizer que têm de se repensar as regras de acesso às galerias. O seu cargo não lhe dá o direito de instaurar este tipo de decisões completamente anti-democráticas.
Também a afirmação de Simone de Beauvoir SOBRE NAZIS é inadmissível nesta situação! “Não podemos permitir que os nossos carrascos nos criem maus costumes” nada tem a ver com os portugueses que protestam, longe dos verdugos nazis a quem se referia Beauvoir! É um escândalo!
Fascismo nunca mais! A Senhora não pode dizer o que disse, é muito grave, é abuso de poder e por isso respondo-lhe com as suas palavras: Faça o favor de sair! Como infelizmente a população portuguesa não a pode demitir, tenha a Senhora a decência de o fazer! Demita-se!
FASCISMO NUNCA MAIS!

 in http://5dias.wordpress.com/2013/07/11/mensagem-a-sr-a-presidente-da-assembleia-da-republica/



 De facto, ao ponto que se chega e o que se chega a dizer, Sra. Presidente da Assembleia da República!

Despedimentos na Função Pública...

Uma lição bem simples para os que ainda não compreenderam e viram a dura realidade em que nos meteram!
Política, económica e socialmente.





 

Sobre as recentes manifestações de rua no Brasil




Um artigo muito interessante sobre o que se passou e tem passado no Brasil. Texto integral retirado do blogue http://fabiopestanaramos.blogspot.pt/ (clicar nas fotos para as ampliar)






A mídia, os políticos, o Estado e as elites não entenderam ou fingem não entender o real significado das recentes manifestações iniciadas pelo estopim representado pelo aumento no valor das passagens púbicas.

Alguns sociólogos, a todo momento apresentados pelos meios de comunicação de massa como especialistas, ratificaram esta postura, afirmando que as manifestações foram motivadas pela melhoria no padrão de vida da população mais pobre e o surgimento de uma nova classe média.

Dentro desta concepção, o governo teria propiciado a ascensão de milhares de indivíduos a um novo patamar de consumo e, então, agora esta seria uma nova etapa pedindo mais (escola, saúde, etc).

Outros, ainda no dia de hoje, dizem que tudo acabou, pois as reivindicações do “movimento passe livre” já foram atendidas, sendo revogado o aumento no valor das passagens nos transportes públicos.

Algumas emissoras de TV continuam a alardear que os casos de violência foram apenas atos de vandalismo.

O mesmo tipo de discurso construído durante outros momentos históricos em outros espaços, tal como pelo Antigo Regime (a nobreza) quando aconteceu a Revolução Francesa.

Vãs tentativas de ludibriar a população, as manifestações não tem liderança, representam um sentimento popular de revolta contra as mazelas brasileiras, por isto estão ganhando cada vez mais força e mais adeptos pelo Brasil inteiro, tornando-se mais violentas.

 As reais causas dos protestos.

Vivemos em um país onde a desigualdade social é histórica e perdura há séculos, onde as elites ludibriam as massas com circo e nem sempre pão, contemporaneamente manipulando a opinião publica através do controle dos meios de comunicação.

Por esta razão, as elites e seus representantes, ainda não entenderam ou fingem não entender que o aumento no valor da passagem nos transportes públicos foi só o estopim, a gota da água que faltava para a passividade do brasileiro transbordar.

A despeito das manifestações serem compostas principalmente por jovens, o motivo da revolta envolve as mazelas que indignaram a população de todas as faixas etárias e segmentos sociais, excetuando é claro os beneficiados pelas falcatruas.

As elites pensaram que oferecendo o circo simbolizado por copa do mundo e olimpíadas a massa iria se conformar com a pobreza e a exploração.

Foram os romanos que inventaram a clássica formula: basta oferecer aos plebeus pão, o mínimo necessário para que não morram de fome, e circo, a luta de gladiadores onde o povo podia extravasar e canalizar a agressividade causada pela revolta de ser miserável; para controlar e manobrar a população para que as elites continuem no poder se beneficiando deste poder para ficar mais ricas.

A formula é antiga e, no Brasil, a massa parece que finalmente entendeu que estava sendo manipulada, ludibriada na cara dura.

Esta manipulação deslavada é uma das causas que geraram as manifestações e que, a medida que sofrem a repressão do braço armado do Estado e das elites (a policia) tendem a se intensificar e tornarem-se mais violentas.

Também é muito antigo a máxima que diz que violência gera violência, o que vale também para a repressão policial violenta do Estado perante manifestações que reivindicam causas justas e acumuladas durante séculos no Brasil.

Desde o inicio deste país o contraste social é um problema, existe um imenso abismo entre pobres e ricos, mesmo a classe média na realidade também esta inserida neste contexto.

Qual outro país do mundo divide a classe média entre baixa, média e alta?

Somente no Brasil, justamente por que o que existe aqui é uma maioria absoluta de pobres contraposta a uma minoria de ricos que só são ricos porque tiram do resto da população a parcela que lhes cabe da riqueza nacional.

Este abismo entre ricos e pobres é que tem motivado os saques durante as manifestações, visto que miseráveis, que não tem condições de consumir eletrodomésticos e outros bens de consumo, percebem no tumulto a oportunidade de ter aquele objeto do desejo tão almejado de forma rápida e fácil.

Na mente destes a ocasião faz o ladrão, diante de um contexto em que a justiça, o poder público, não pune aqueles que roubaram milhões ou bilhões do próprio povo.

Mesmo quando a justiça condena estes corruptos e corruptores, mediante a pressão popular, a punição é branda ou nunca chega, muitos são até mesmo reconduzidos ao poder para continuar praticando as mesmas mazelas pelas quais foram condenados.

As leis são feitas pelas elites para elites, com brechas que somente podem ser exploradas por aqueles que controlam a máquina judiciária.

Ocorre que os valores roubados pelos corruptos fazem parte do dinheiro publico, originado a partir dos elevados impostos.

Estes impostos que extorquem a população são um dos mais elevados do mundo se não os mais elevados.

No entanto, muito pouco do dinheiro pago em impostos retorna em benefícios para quem pagou, escorre quase tudo pelos diversos buracos representados pela corrupção e elevados gastos do poder publico para manter a própria máquina do Estado, principalmente com salários de marajá.

Gerando mais cobranças indevidas que extorquem o povo e reduzem o poder de consumo, empobrecendo ainda mais os pobres.

No sistema Ecovias, por exemplo, formado pela Anchieta e Imigrantes, o usuário, o trabalhador que já paga IPVA e outros impostos que deveriam ser dirigidos à manutenção de um sistema viário de primeiro mundo, são obrigados a pagar 21,20 reais para transitar por uma via pública.

O trabalhador que mora na Grande São Paulo e trabalha no litoral, é forçado a gastar 42,40 reis diariamente, ao passo que já paga impostos justamente para poder ter seu direito de ir e vir do trabalho garantido.

Durante o período eleitoral, todos os partidos políticos sem exceção se valem de discursos demagógicos e inflamados a fim de captar atenção, argumentam a respeito das varias soluções para os problemas que envolvem a sociedade, tais como educação, saúde, segurança, habitação e tantos outros.

O fato é que, depois que ocupam as posições almejadas, tornam-se negligentes a respeito das necessidades de quem os elegeu, necessidades essas que os fez chegar ao poder, e dessa forma começam a praticar um tipo de violência, uma violência que explora, que oprime e que nega direitos.

Os movimentos sociais sempre atuaram de forma fragmentada para a cobrança e respostas de suas reinvindicações, ou seja, cada um defendendo a sua causa estando alheio a tantas outras. O que possibilita a classe politica se valer do artificio de não atender a todos os setores da sociedade, fingindo atender, satisfazendo apenas os interesses das elites.

Podemos dizer então que a massa popular, que sai às ruas, trata-se da unificação destes vários movimentos sociais, que saíram do discurso e da diplomacia para uma ação mais objetiva?

Não, a massa que protesta não representa nenhum partido, nem no sentido de senso comum, tampouco no weberiano.

A massa não tem cara, faz-se notar por constituir um aglomerado de indivíduos encurralando pelo Estado e pelas elites contra a parede, que passou a exigir o que lhe é de direito.

As cenas de vandalismo, tão enfatizadas pela mídia elitista, nada mais são que a violência retribuída, ou melhor, devolvida para os símbolos de poder opressor, prefeituras, câmaras, congresso nacional e até mesmo bancos e tudo aquilo que representa a exclusão social.

Em suma, o Estado e as demais formas de poder e opressão se acostumaram a violentar o povo todos os dias durante anos, logo é totalmente plausível o descontrole e a fúria do povo, que tem sede de destruição de tudo aquilo que nunca os representou.

Quem são os manifestantes.

Observando a massa de manifestantes em todos os pontos do país, salta aos olhos a quantidade expressiva de jovens, estudantes e trabalhadores na faixa dos 16 aos 20 e poucos anos.

Mas porque os jovens, justamente aqueles com perspectivas de futuro mais nebuloso e mais distante, iniciaram as manifestações?

O inconformismo é natural da idade, mas é a ausência da possibilidade de um futuro melhor em longo prazo a motivação principal.

Ao mesmo tempo, a juventude está há alguns anos diante de novos valores éticos cultivados por um grupo pequeno e heroico de professores, que continuam na profissão por puro idealismo, visto a desvalorização e desrespeito para com a categoria por parte do Estado.

As elites sempre manipularam a educação para deixar a população alienada, sucateando a educação publica básica e confundindo os pais, forçando a procurarem o ensino privado pensando falsamente em oferecer aos filhos conteúdo de qualidade, quando na realidade também este setor foi segmentado para atender de forma dualista ricos e pobres através da legislação educacional.

Althusser ressaltou que existem mecanismo de controle social desenvolvidos pelas elites capitalistas para ludibriar as massas, dentre os quais os Aparelhos de Ideológicos de Estado, tal como a escola, montada para convencer as pessoas de que a culpa pela pobreza é delas próprias.

Apesar disto, lutando contra as engrenagens da máquina do Estado elitista neoliberal, professores tomaram como sua missão de vida abrir os olhos das gerações futuras, fazendo um trabalho de formiguinha que agora aparece, depois de anos, materializado na figura dos jovens que manifestam a insatisfação apartidária.

A ideologia destes jovens é simplesmente o ideal ético de busca da felicidade coletiva, de ver a verdadeira justiça acontecer, aquela que faz um sujeito querer para os demais o que quer para si mesmo.

Não são desocupados, vagabundos ou baderneiros que estão se manifestando, são sim jovens trabalhadores que buscam um futuro melhor para todos, pois os atos começam apenas depois do expediente de trabalho.

Tantas manifestações realizadas durantes mais de cinco horas cada uma, exige muita disposição física e mental, o que não significa que somente os jovens são aptos a elas, mesmo por que a classe trabalhadora mais madura se faz presente e de forma igualmente eficiente. O que explica os horários de encontro das manifestações que começa variavelmente às 17 horas.

O papel das redes sociais provou ser uma das principais ferramentas de mobilização e alcance social da juventude, refletindo um pouco mais a utilização da internet tornou-se mais legitimo e digno do que a comunicação das outras mídias de massa, sejam elas televisiva, impressa ou radialista, que em grande parte trata os protesto como uma espécie de “doença civil” ou estado de anomia, conforme o modelo teórico de Durkheim.

A doença esta presente entre as elites e segmentos que continuam sendo manipulados, dentre os quais aquele que em nome da religião e de um Deus de amor, pregam a intolerância a orientação sexual.

A massa que manifesta é contra, justamente, os rótulos colocados pelas elites nas pessoas, rótulos que desrespeitam a vontade de cada um e o que faz cada individuo feliz sem ferir de forma alguma o espaço ou a busca da felicidade do outro.

A juventude respeita a diversidade e entende que é salutar a convivência entre diferentes, caso contrário caminharíamos novamente para trás, veríamos Estados totalitários de direita renascendo, tal como o nazismo hitlerista.

Concluindo.

Em meio às manifestações as autoridades se calam, nada dizem e somente jogam a policia, a tropa de choque com balas de borracha e bombas de gás lacrimogênio, para reprimir a massa.

Os meios de comunicação de massa fingem não entender o que acontece ou usam de sensacionalismo, gerando a irá de manifestantes que queimam automóveis de emissoras de TV em demonstração da insatisfação com a maquiagem fantasiosa que marra os fatos de forma distorcida.

Esperemos que a juventude que tomou a frente nas recentes manifestações contra as mazelas do Brasil mude a cara deste país.

A massa amorfa finalmente acordou e ganhou vida como um corpo único e orgânico, apartidário e sem liderança, mas com uma ideologia que prima pela ética e representa todo o povo brasileiro.

Para saber mais sobre o assunto.
 
Saia às ruas, acompanhe as manifestações e participe.

Ajude a mudar o Brasil.




Nota:
texto integral da autoria de Fábio Pestana e Eliane Santos Moreira, no blogue supracitado.


 

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Recados para o governo enviados por Boaventura Sousa Santos



5 postais (recados) para o governo, de um homem que não precisa de apresentação!
Completamente de acordo, e vocês?
Aqui ficam, porque a memória e a vista de muitos... é curta!






 
 

sábado, 13 de julho de 2013

Malala Yousafzai




A jovem paquistanesa que foi atacada pelos taliban fez nesta sexta-feira na sede da ONU um discurso apelando ao acesso à educação para todas as crianças.

A jovem paquistanesa Malala Yousafzai - que se tornou um símbolo da resistência contra os taliban após sobreviver a um ataque em Outubro do ano passado, quando foi baleada na cabeça no regresso da escola - fez um vibrante apelo na sede da ONU à educação para todos e à tolerância.
 
Lembrando o ataque que sofreu - os taliban “pensavam que uma bala nos reduziria ao silêncio mas falharam”, e “do silêncio saíram milhares de vozes” -, Malala fez um discurso vibrante.

“Hoje não é o dia de Malala, é o dia de todas as mulheres, de todos os rapazes e de todas as raparigas que levantaram a voz para defender os seus direitos”, disse ela perante centenas de estudantes de muitas origens numa Assembleia de Jovens e no mesmo dia em que celebrou o 16.º aniversário.

“Não estou aqui para falar de vingança pessoal contra os taliban, (...) estou aqui para defender o direito à educação para todas as crianças”, disse.
“Um aluno, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo. A educação é a única solução. Educação primeiro.”

Reclamando a herança de Gandhi, Nelson Mandela e de Martin Luther King, afirmou ainda que os “extremistas fazem um mau uso do islão (...) para seu benefício pessoal, ao passo que o islão é uma religião de paz e de fraternidade”.

Malala falou ainda da importância de se combater o analfabetismo, pobreza e o terrorismo, acrescentando que “os nossos livros e os nossos lápis são as nossas [das crianças] melhores armas”, apelando ainda aos “dirigentes mundiais para mudarem de estratégia política, para promoverem a paz e a prosperidade”.

No final foi longamente aplaudida pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pelo antigo primeiro-ministro britânico Gordon Brown, enviado especial da ONU para a educação, e pelas centenas de jovens presentes na sala.

Brown considerou-a “a rapariga mais corajosa do mundo”, enquanto Ban Ki-moon a apelidou de “nossa heroína, nossa campeã”.

O secretário-geral da ONU felicitou-a pela sua “mensagem forte de esperança e de dignidade” e lembrou que mais de 57 milhões de crianças em todo o mundo não tinham acesso à escola primária.

“A maior parte são raparigas e a maioria vive em país em conflito.”




 

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Ser professor não é só um emprego




A avaliação de um professor deve ter em conta a evolução dos resultados alcançados pelos seus alunos, a forma como se empenhou, demonstrativa do seu nível de conhecimentos científicos mas, sobretudo, a orientação pedagógica que adotou para organizar o processo de ensino-aprendizagem com vista ao sucesso dos seus alunos.

Nem sempre vemos isto, claro, espartilhados que estão os professores por uma dinâmica avaliativa muito agarrada ao tradicional, relegando para segundo plano ou nem sequer utilizando práticas pedagógicas muito mais ativas e desejáveis que, em muitos casos, seguramente, conduziriam a um menor abandono escolar e a uma maior valorização do estudo, sobretudo em áreas disciplinares habitualmente mais teóricas.

No entanto, para que tal aconteça, e porque a escolaridade é obrigatória, as escolas, os grupos disciplinares, deviam fomentar cada vez mais a diversidade de atividades formativas que criatividade exigirão na sua conceção, pois será fundamentalmente do professor da disciplina que partirão as propostas de trabalho mais adequadas aos alunos e turmas que delas mais careçam e/ou aos conteúdos mais problemáticos.
Veja-se o caso, por exemplo, de certos professores, que nada mais fazem ou têm feito para além dos testes habituais, mesmo sabendo que deles têm resultado más classificações e até a desmotivação dos alunos e a desistência à sua disciplina!

Um trabalho cooperativo temático (trabalho de grupo, trabalho a pares), um relatório de um filme, de uma visita de estudo, da ida a uma exposição, conferência, desde que bem concebidos pelo professor, são muitas vezes mais interessantes para o aluno e ao mesmo tempo igualmente evidenciadores para o professor do conhecimento, sensibilidade e perspetiva crítica do mesmo, sem que daí se exclua, claro, a importância e relevância dos testes escritos, até porque nas atividades acima referidas também estarão presentes itens que permitirão avaliar os alunos na sua capacidade de interpretação e de análise crítica, bem como, na forma como se exprimem, quer ao nível da escrita quer na oralidade, dado que todos esses trabalhos, para mim, devem incluir obrigatoriamente essas duas vertentes.
Mas estas metodologias são tão ou mais difíceis de criar do que as tradicionais, exigindo do professor uma forte capacidade de adaptação dos conteúdos às mesmas mas delas retirando, seguramente, e com a mesma exigência avaliativa, melhores resultados e alunos com maior autoestima.

Afinal, queremos manter o aluno na escola, sim, mas queremos instruí-lo, ensiná-lo e não só obrigá-lo a cumprir, à força, com as implicações que todos nós conhecemos de uma escolaridade obrigatória que em muitos casos se arrasta por longos anos, traduzida por resmas e resmas de papel e reuniões estéreis, nas quais se discute sempre o mesmo, se preenchem planos de recuperação ou de apoio ou de outra coisa qualquer, esquecendo-se sempre que o aluno tem de ser motivado para as aprendizagens através de estratégias mais adequadas que, claro, com turmas de 30 alunos jamais frutificarão em pleno!
Daí a importância das estratégias a implementar desde o início, sem esquecer, claro, a responsabilidade do encarregado de educação neste processo e que ao longo dos anos demasiado protegido tem sido por branda legislação.

Este trabalho importantíssimo que o professor concebe, planeia e executa com os seus alunos, é quase sempre esquecido pelos avaliadores (pelos maus avaliadores) que, praticamente, só verificam o trabalho do professor através da observação dos testes que ele faz (e nem sempre são bons exemplos nem os avaliadores são do mesmo grupo disciplinar), muitos deles tecnicamente mal feitos, ou, então, em duas aulas assistidas (quando solicitadas pelo avaliado), calendarizadas ao gosto dos intervenientes e nem sempre observadas pelos melhores profissionais do grupo disciplinar, continuando-se a assistir a situações bizarras de avaliados que o são por colegas de outros grupos disciplinares que nada sabem, claro, do trabalho a que os obrigam ou dos que de imparcialidade fingem não saber.
E os avaliadores nomeados “à força”, como por exemplo, um professor de Educação Visual avaliar um de Educação Física? Ou mesmo um Diretor que é licenciado em Matemática avaliar um professor de Português?

Continua a exigir-se às escolas procedimentos desajustados para uma avaliação dos professores credível mas simplificada, tal como vinha sendo reivindicada, continuando este governo a insistir na avaliação de pares por pares completamente alheado da realidade e do ambiente de desagrado que se vive e até das medidas antidemocráticas e das boas práticas que dele se exigiriam a uma classe profissional há muito humilhada e explorada por todos, desde Belém a S. Bento sem esquecer o Tribunal Constitucional.
Apesar da paz que muitos julgam existir graças a uma estranha serenidade que o ministro atual faz questão de passar para quem o ouve e vê mas, também, graças a um certo aceitacionismo da parte de muitos docentes para um combate que não se compadece com atitudes contemplativas quando as respostas expetáveis são, o ministério tem abusado dos professores e feito o que deles muito bem entende, desde a precariedade com que os ameaça até ao salário de miséria que lhes dá, sem falar dos direitos adquiridos que descaradamente lhes rouba, utilizando-os como meros objetos de uma política de educação que cada vez mais despreza o capital humano se comparada com a atenção que à banca dispensa.

É pena, muita pena, que a dita avaliação do desempenho dos professores que tanta divisão já gerou nas escolas, continue a não fazer-se de forma mais clara, mais justa e até mais séria para todos, sem que isto signifique, claro, mais papelada e mais burocracia!
 
Afinal, mais do que um emprego, ser professor é um trabalho muito especial que forma cidadãos, constrói futuro e projeta a modernidade de um país.

Um trabalho que, por isso mesmo, exige também uma avaliação muito especial de quem o faz!

 

Maria Nazaré Oliveira

 

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Redes sociais, emoções...



Comunicação nos nossos dias, sobretudo através das redes sociais, é imprescindível e considero-a um dos suportes da sociedade atual cujo quotidiano cada vez mais nela assenta, como fonte de fonte de emoções que causa mas, também, de sentimentos que desencadeia, como referiu António Damásio citado no trabalho de Guilhermina Lobato Miranda na sua obra Emoções e Comunicação Mediada por Computador.
Inclusivamente, aquele cientista chega a falar de emoções “publicamente observáveis”, com as quais concordo absolutamente, numa dialética Homem-Mundo cada vez mais presente e mais estudada, não só pela Psicologia Comportamental e Social, como, também, pela Sociologia do Trabalho e até pela História, “a mestra da Vida”.

Os resultados da investigação de Zembylas. M, em 2008 (Adultlearners’ emotionsinonline learning - DistanceEducation, 29 (1), 71-87), acabam por reforçar também este meu ponto de vista, uma vez que se lhes refere dizendo-as geralmente concetualizadas como componentes privadas da estrutura da personalidade. Este, embora reduzindo a expressão das emoções à dinâmica interna da personalidade do sujeito, também acrescenta que a perspetiva sociológica as conceptualiza como construções sociais e culturais, bem como, Leavit, em 1996, que as considera determinantes pessoais e sociais e construções resultantes da interação/transação do individual e do social, do privado vs público.

 De facto, o Homem vive em sociedade e é no seio da mesma que luta pela sua existência, implicando, tudo isto, um sistema complexo de relações com os seus semelhantes e consigo próprio, nem sempre fácil mas sempre presente, na Era da Globalização e de uma Humanidade cada vez mais à procura de igualdade, justiça e paz.

Ora, isto é causa mas também consequência de um campo vastíssimo de emoções incontornáveis que fazem com que cada vez mais um se aproxime do outro, à distância de um “clique”, de um “like”, de algo que em segundos se escreve, envia, comenta ou partilha, e que de outra forma não o faria, tal o chamamento desta relação comunicacional tão especial que a Internet sobre nós exerce. Efetivamente, a realidade tantas vezes apelidada de virtual acaba por ser a mola real de uma tomada de posição que de outra forma não faríamos ou que muitos não fariam.

E é nesta interação apaixonante que o mundo da Comunicação, por exemplo, a mim, me leva a intervir e a responder, a aceitar o outro mesmo não o conhecendo “na realidade”, mas porque dele tenho um perfil motivacional e psicossocial que a ele me liga e ao qual resposta sempre darei.

Interessante, por exemplo, a este propósito, recordar o que nos move quando aceitamos um amigo no Facebook, quando descobrimos mais seguidores do nosso blogue, quando recebemos petições e causas para abraçar e partilhar, quando através de uma simples resposta encorajamos, sensibilizamos e construímos tantas Praças Tahrir por esse mundo fora.

E é nestas realidades, na resposta a estas realidades, que o meu Querer se descobre e descoberto vai sendo, tornando-se num Ser desejavelmente orientado para o caminho certo, que junto partilho e que em conjunto ajudo a fortalecer.

Henri Laborit dizia que a infelicidade é a inibição da ação e, de facto, neste mundo imenso das emoções e comunicação mediada por computador, é evidente que devemos intervir, quase como um imperativo em nome do Homem, da Vida, quando vemos que dessa intervenção parte de nós feliz alguém fará, porque parte de nós ao outro demos e ao outro sempre nos ligará.

 

Nazaré Oliveira