quinta-feira, 11 de julho de 2013

Ser professor não é só um emprego




A avaliação de um professor deve ter em conta a evolução dos resultados alcançados pelos seus alunos, a forma como se empenhou, demonstrativa do seu nível de conhecimentos científicos mas, sobretudo, a orientação pedagógica que adotou para organizar o processo de ensino-aprendizagem com vista ao sucesso dos seus alunos.

Nem sempre vemos isto, claro, espartilhados que estão os professores por uma dinâmica avaliativa muito agarrada ao tradicional, relegando para segundo plano ou nem sequer utilizando práticas pedagógicas muito mais ativas e desejáveis que, em muitos casos, seguramente, conduziriam a um menor abandono escolar e a uma maior valorização do estudo, sobretudo em áreas disciplinares habitualmente mais teóricas.

No entanto, para que tal aconteça, e porque a escolaridade é obrigatória, as escolas, os grupos disciplinares, deviam fomentar cada vez mais a diversidade de atividades formativas que criatividade exigirão na sua conceção, pois será fundamentalmente do professor da disciplina que partirão as propostas de trabalho mais adequadas aos alunos e turmas que delas mais careçam e/ou aos conteúdos mais problemáticos.
Veja-se o caso, por exemplo, de certos professores, que nada mais fazem ou têm feito para além dos testes habituais, mesmo sabendo que deles têm resultado más classificações e até a desmotivação dos alunos e a desistência à sua disciplina!

Um trabalho cooperativo temático (trabalho de grupo, trabalho a pares), um relatório de um filme, de uma visita de estudo, da ida a uma exposição, conferência, desde que bem concebidos pelo professor, são muitas vezes mais interessantes para o aluno e ao mesmo tempo igualmente evidenciadores para o professor do conhecimento, sensibilidade e perspetiva crítica do mesmo, sem que daí se exclua, claro, a importância e relevância dos testes escritos, até porque nas atividades acima referidas também estarão presentes itens que permitirão avaliar os alunos na sua capacidade de interpretação e de análise crítica, bem como, na forma como se exprimem, quer ao nível da escrita quer na oralidade, dado que todos esses trabalhos, para mim, devem incluir obrigatoriamente essas duas vertentes.
Mas estas metodologias são tão ou mais difíceis de criar do que as tradicionais, exigindo do professor uma forte capacidade de adaptação dos conteúdos às mesmas mas delas retirando, seguramente, e com a mesma exigência avaliativa, melhores resultados e alunos com maior autoestima.

Afinal, queremos manter o aluno na escola, sim, mas queremos instruí-lo, ensiná-lo e não só obrigá-lo a cumprir, à força, com as implicações que todos nós conhecemos de uma escolaridade obrigatória que em muitos casos se arrasta por longos anos, traduzida por resmas e resmas de papel e reuniões estéreis, nas quais se discute sempre o mesmo, se preenchem planos de recuperação ou de apoio ou de outra coisa qualquer, esquecendo-se sempre que o aluno tem de ser motivado para as aprendizagens através de estratégias mais adequadas que, claro, com turmas de 30 alunos jamais frutificarão em pleno!
Daí a importância das estratégias a implementar desde o início, sem esquecer, claro, a responsabilidade do encarregado de educação neste processo e que ao longo dos anos demasiado protegido tem sido por branda legislação.

Este trabalho importantíssimo que o professor concebe, planeia e executa com os seus alunos, é quase sempre esquecido pelos avaliadores (pelos maus avaliadores) que, praticamente, só verificam o trabalho do professor através da observação dos testes que ele faz (e nem sempre são bons exemplos nem os avaliadores são do mesmo grupo disciplinar), muitos deles tecnicamente mal feitos, ou, então, em duas aulas assistidas (quando solicitadas pelo avaliado), calendarizadas ao gosto dos intervenientes e nem sempre observadas pelos melhores profissionais do grupo disciplinar, continuando-se a assistir a situações bizarras de avaliados que o são por colegas de outros grupos disciplinares que nada sabem, claro, do trabalho a que os obrigam ou dos que de imparcialidade fingem não saber.
E os avaliadores nomeados “à força”, como por exemplo, um professor de Educação Visual avaliar um de Educação Física? Ou mesmo um Diretor que é licenciado em Matemática avaliar um professor de Português?

Continua a exigir-se às escolas procedimentos desajustados para uma avaliação dos professores credível mas simplificada, tal como vinha sendo reivindicada, continuando este governo a insistir na avaliação de pares por pares completamente alheado da realidade e do ambiente de desagrado que se vive e até das medidas antidemocráticas e das boas práticas que dele se exigiriam a uma classe profissional há muito humilhada e explorada por todos, desde Belém a S. Bento sem esquecer o Tribunal Constitucional.
Apesar da paz que muitos julgam existir graças a uma estranha serenidade que o ministro atual faz questão de passar para quem o ouve e vê mas, também, graças a um certo aceitacionismo da parte de muitos docentes para um combate que não se compadece com atitudes contemplativas quando as respostas expetáveis são, o ministério tem abusado dos professores e feito o que deles muito bem entende, desde a precariedade com que os ameaça até ao salário de miséria que lhes dá, sem falar dos direitos adquiridos que descaradamente lhes rouba, utilizando-os como meros objetos de uma política de educação que cada vez mais despreza o capital humano se comparada com a atenção que à banca dispensa.

É pena, muita pena, que a dita avaliação do desempenho dos professores que tanta divisão já gerou nas escolas, continue a não fazer-se de forma mais clara, mais justa e até mais séria para todos, sem que isto signifique, claro, mais papelada e mais burocracia!
 
Afinal, mais do que um emprego, ser professor é um trabalho muito especial que forma cidadãos, constrói futuro e projeta a modernidade de um país.

Um trabalho que, por isso mesmo, exige também uma avaliação muito especial de quem o faz!

 

Maria Nazaré Oliveira