Título do artigo:
Os rankings escolares são como as
omeletes – Alexandre Henriques
Por Rui Cardoso in http://www.arlindovsky.net/2018/02/opiniao-os-rankings-escolares-sao-como-as-omeletes-alexandre-henriques/
Os rankings escolares são como as
omeletes
Em primeiro lugar, quero agradecer ao
jornal PÚBLICO este exercício de liberdade, em segundo lugar, reconhecer que os
seus profissionais passaram horas e horas a analisar resultados para que todos
nós conhecêssemos os rankings escolares.
Caros jornalistas e leitores,
permitam-me a provocação…
Qual é a diferença entre a escola 320
e a escola 381 (garanto-vos que nem fui ver quais são!)? Será que a escola 320
é melhor, efetivamente, do que a escola 381? Atenção que ao dizer escola não me
refiro a um dado momento cristalizado num exame mas sim a toda a comunidade
escolar feita de alunos, professores, pais, encarregados de educação,
funcionários e diretores. É que os rankings, direta ou indiretamente, passam
uma imagem simplista e extremamente redutora – a escola 320 é melhor do que a
escola 381.
Os rankings são imagem, os rankings
são ego, os rankings são humilhação, os rankings são uma parte ínfima da
realidade. Não acreditam?
Pois bem… os rankings mostram o aluno
que gastou centenas de euros em explicações?
Os rankings mostram o aluno que
esteve exposto ao frio e ao calor, quer na escola, quer em casa?
Os rankings mostram o aluno que
sofreu privações de todo o género?
Os rankings mostram o aluno que
assistiu ao pai bater na mãe, aos irmãos que teve de cuidar, enquanto abdicava
do seu tempo para se preparar devidamente para o exame?
Os rankings mostram o aluno que teve
como colegas alunos indisciplinados ou professores que não conseguiram dominar
a turma?
Os rankings mostram o aluno que
esteve inserido em turmas pequenas/grandes?
Os rankings mostram o aluno que não
teve professor durante semanas/meses?
Os rankings mostram o aluno que
anulou a matrícula?
Os rankings mostram o aluno retido?
E podia continuar…
Lembro-me, como se fosse hoje, de uma
conversa que tive com um diretor que, tendo visto a sua escola subir em flecha
nos rankings escolares, disse: “Alexandre, preferia mil vezes não ter uma taxa
de reprovação de 30% no secundário, do que estar aqui a ser contactado pela
comunicação social sobre o brilharete de ser subido umas centenas de lugares no
ranking”.
Este ponto é muito importante e seria
muito interessante colocar uma coluna com a percentagem de alunos retidos ou
mesmo a percentagem de alunos que concluíram a escolaridade obrigatória sem
qualquer reprovação.
E o que dizer da comparação,
incomparável, da classificação externa com a interna? Talvez a população em
geral desconheça, mas a classificação interna resulta do somatório de uma
parcela que avalia o conhecimento – 60, 70, 80 % da nota total – a uma parcela
que avalia atitudes e valores – 40, 30, 20% da classificação total. A
classificação externa, ou seja, os exames, avaliam somente o conhecimento que,
nessa situação, tem um peso de 100%. Então por que raio comparam as duas
avaliações? Se nem os critérios de avaliação interna são iguais entre escolas?!
Portanto, comparar o que não é
comparável é um absurdo total, uma falácia, ou como se costuma dizer na
política, uma não verdade.
A escola é muito mais, mas mesmo
muito mais do que uma pauta. Enquanto professor, valorizo tanto aquele aluno
que supera as suas dificuldades para atingir uma classificação positiva como
aquele que atinge uma classificação elevada. Tudo depende do ponto de partida,
mas ambos estarão de parabéns!
Os rankings tornaram a escola escrava
dos exames, tudo gira à sua volta. Os rankings e os exames deturpam aquilo que
é essencial e a verdadeira obrigação da escola, ensinar/aprender, formando,
indo ao encontro das caraterísticas individuais dos alunos, tornando-os
melhores e mais preparados para a sociedade em geral. Os rankings e os exames
tornaram-se um espetáculo mediático numa sociedade que transformou a Educação
num negócio, onde se compara aqueles que têm os melhores ovos com aqueles que
nem têm supermercado para os comprar…
Os rankings estão a mais, prejudicam
a escola, uma escola que é de todos e devia ser defendida por todos.