sábado, 6 de outubro de 2012

De que lado está, Sr. Presidente?




O discurso do Presidente da República, no centenário da República, foi um dos melhores discursos de Cavaco Silva e uma excelente lição de Política e de Cidadania que todos deveriam interiorizar e levar à prática. No entanto, Cavaco Silva, precisamente pelo cargo que ocupa, tem responsabilidades acrescidas, quando fala ou escreve, mas, sobretudo, pelas intervenções que tem ou deveria ter junto dos outros órgãos de soberania nacional, particularmente, junto do Governo. Ele é e deverá sempre ser o garante da democracia e da unidade do Estado.

É a Constituição da República que a isso o obriga e é isso que o povo dele sempre espera. No entanto, infelizmente, não vejo que aquele excelente discurso tenha tido a aplicação prática que dele se esperava, tratando-se da figura do estado mais proeminente e com mais poderes para agir numa situação tão grave como a que vivemos, entregues que estamos ao desgoverno político e a uma situação social de trágica agonia.

É o garante do regular funcionamento das instituições democráticas e tem como especial incumbência, nos termos do juramento que presta no seu ato de posse, "defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa".

Por que não o faz, então, tendo a legitimidade democrática que lhe foi conferida através da eleição direta pelos portugueses?

Naquele discurso, referia (e bem) que era fundamental que a classe política, pela força do exemplo, desse aos portugueses motivos para acreditarem na sua República, mas na prática, vemos exatamente o contrário e, lamentavelmente, uma cumplicidade institucional com negativas e visíveis consequências que deriva dessa falta de intervenção oportuna que o mesmo deveria ter mas não está a ter. Há muito tempo.

Esta desacreditação da classe política e este desgoverno na ação governativa também deve ser assacada a Cavaco Silva.

Nada o desresponsabiliza perante o estado a que chegámos, particularmente, pelo estado degradante a que chegou a política portuguesa, minada de corrupção e compadrios, leis desajustadas e favorecimentos escandalosos, impunidades sacrossantas e crimes sem castigo a todos os níveis que têm tornado este país num terreno fértil para o enriquecimento rápido e ilícito de uma raça de gente sem valores e sem moral que da política e de certos políticos se tem servido para subir financeiramente na vida, fazendo destes últimos governos autênticas oligarquias reinantes e um país em decadência cívica e democrática.

E o Senhor Presidente sabe e sempre viu isto. Por que não atua? Por que não utiliza os poderes que a Constituição e a legitimidade do voto popular lhe delegaram?

O discurso de Cavaco Silva foi em 2010 e, em 2010, já há muito que a sua intervenção como PR se deveria ter feito sentir, dado que já havia matéria de facto e  emergências graves para a vida da República que assim o exigiam. Em 2010, já há muito que a tal cultura da responsabilidade, sobre a qual falou, não existia e ameaçava já o país. Naquele discurso, referia, a propósito, que o requisito cívico da responsabilidade se tornava mais intenso quanto maior fosse a capacidade de intervenção de cada um na vida coletiva. Certo, mas como intervir se tudo tem sido feito, imposto, de cima para baixo, ao arrepio das mais elementares regras democráticas, num jogo perverso e viciado onde o cidadão perde sempre, com o beneplácito da Presidência da República, do Tribunal Constitucional e até do Tribunal de Contas?

Isto é que é perturbador. Isto é que é inadmissível. Isto é que levará a convulsões sociais, que já se fazem sentir, porque de outra forma a voz do povo razão não será.

E o Presidente da República culpabilizado será pela hecatombe que se anuncia, arredado que se coloca de uma intervenção que, mais do que política cívica é, mandatado que foi para unir e servir os portugueses em nome do ideário e da ética republicana de que tanto fala.

Nos termos da Constituição, cabe-lhe, por exemplo, pronunciar-se sobre todas as emergências graves para a vida da República, dirigir mensagens à Assembleia da República sobre qualquer assunto ou ser informado pelo Primeiro-Ministro acerca dos assuntos respeitantes à condução da política interna e externa do país. Mas não chega só pronunciar-se, Senhor Presidente. Exija respeito pelo povo, pela Constituição, pelos direitos, liberdades e garantias consignadas na mesma.

Tenha um papel político ativo.

De que lado está da barricada?

 

Nazaré Oliveira

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Comemoro e sempre comemorarei a REPÚBLICA!

Hoje, dia 5 de Outubro de 2012, fui rever o discurso do atual Presidente da República, efetuado no centenário da mesma.
Sim, de Cavaco Silva! Em 2010!

 

 

Discurso do Presidente da República na Cerimónia de Comemoração dos 100 Anos da Proclamação da República

Câmara Municipal de Lisboa, 5 de Outubro de 2010

 

Cem anos passaram sobre o dia em que, neste mesmo local, foi proclamada a República.

O passar do tempo permite-nos hoje olhar para a Primeira República com serenidade e distanciamento, avaliando objectivamente o seu legado.

A revolução triunfante de 5 de Outubro de 1910 despertou um país adormecido. O regime anterior dava sinais de cansaço e mostrara-se incapaz de encontrar soluções viáveis para o impasse em que o País mergulhara. Assim o reconheceu, de algum modo, o chefe do governo caído a 5 de Outubro ao afirmar: «vi que a luta era impossível. A monarquia estava cercada de republicanos e indiferentes».

É a conjugação perversa dessas duas realidades que tantas vezes abala os alicerces de um regime: de um lado, a indiferença do povo; do outro, a incapacidade dos agentes políticos para encontrar soluções ajustadas às necessidades concretas do país.

Servir o país. Essa é a essência do patriotismo republicano. Por isso, diria que comemorar a República corresponde, acima de tudo, a saber servir Portugal.

Muito se exige dos que governam uma República democrática. Desde logo, é seu dever evitar que os cidadãos encarem com indiferença a acção dos agentes políticos ou se alheiem dos destinos do regime em que vivem. É fundamental que a classe política, pela força do exemplo, dê aos Portugueses motivos para acreditarem na sua República.

Ao comemorarmos o centenário da República, comemoramos uma nova cultura cívica para Portugal. No código genético do republicanismo encontra-se uma cultura marcada pela ética de serviço público, pela verdade e pela transparência no exercício da acção política. Um ideal de governo e de sociedade onde as pessoas ocupam cargos de relevo e posições de destaque pelo seu mérito e pelo seu valor, pelo contributo útil que podem dar ao país, e não por qualquer privilégio de nascimento ou pelas redes de influências onde se movem.


Portugueses,

Se o regime monárquico, como disse o seu último chefe de governo, suscitava a indiferença do povo, porque durou tão pouco tempo a Primeira República? Se tinham ideais tão elevados, porque se deixaram os políticos republicanos enredar em conflitos e divisões que acabaram por conduzir o país para uma ditadura?

A resposta terá de ser dada pelos historiadores. Mas é sabido que a instabilidade da Primeira República se ficou a dever, entre outros factores, à ausência de um elemento fundamental: a cultura da responsabilidade.

É pacífica a conclusão de que a República foi um regime atravessado por querelas e lutas que pouco diziam ao comum dos Portugueses. Lutas que eram perfeitamente secundárias face aos problemas que o País tinha de enfrentar: o analfabetismo e a pobreza, o atraso económico, as desigualdades, a dependência do exterior, a entrada na Grande Guerra, o desequilíbrio das contas públicas.

O essencial não é a discussão e a luta dos políticos. Há cem anos, como hoje, o essencial é a vida concreta das pessoas.

A responsabilidade constitui um dos alicerces básicos da vida colectiva de uma nação. Todos, sem excepção, somos chamados a agir com sentido de responsabilidade. Do mais humilde trabalhador ao empresário de maior projecção, dos jovens aos mais velhos, passando pelos que ocupam cargos públicos de relevo, cada um tem de actuar na sua vida pessoal, familiar e profissional de uma forma responsável.

A responsabilidade, obviamente, não é sinónimo de unanimidade. Num país livre, cada um pode escolher o seu caminho. Numa sociedade aberta e plural, há espaço para diversas concepções do mundo, para diferentes doutrinas e crenças, porque a República é um lugar de liberdade.

Ser responsável não significa abdicar da liberdade. Pelo contrário: só sendo responsáveis poderemos ser verdadeiramente livres.

Temos responsabilidades colectivas, enquanto Estado que convive com outros Estados e faz parte de organizações internacionais.

Enquanto cidadãos da República, temos deveres de cidadania para com os outros. Na exigência de civismo que devemos interiorizar, por exemplo, na circulação rodoviária, no respeito pela autoridade legítima ou na defesa do nosso património histórico.

No nosso tempo, sublinha-se cada vez mais a responsabilidade social das empresas. Uma empresa é uma união de esforços e de vontades. Aos agentes económicos é, por isso, exigido um particular cuidado na gestão das suas empresas, pois daí depende, em larga medida, o futuro do País e o futuro de muitos trabalhadores.

Os trabalhadores e os seus representantes, por sua vez, também devem partilhar desta atitude cívica republicana. Da sua responsabilidade depende uma desejável concertação com os empregadores, de modo a que sejam encontradas as melhores soluções para todos.

O requisito cívico da responsabilidade torna-se mais intenso quanto maior for a capacidade de intervenção de cada um na vida colectiva. Saliento as exigências especiais que recaem sobre os profissionais da comunicação social, por um lado, e sobre os titulares de cargos públicos, por outro.

A comunicação social desempenha um papel de relevo nas sociedades contemporâneas. Informa os cidadãos mas, além disso, forma a sua opinião. Para ser responsável, tem de ser livre. Mas, sendo livre e plural, tem o especial dever de informar com isenção, com objectividade e com rigor.

Contudo, é dos titulares de cargos públicos que mais se exige quanto a uma ética de responsabilidade.

Os titulares de cargos públicos, como é o caso dos agentes políticos, dos altos dirigentes ou dos magistrados, têm de pautar a sua acção por critérios muito rigorosos. Antes de mais, devem conhecer as realidades, estudar os assuntos com que têm de lidar, possuir um conhecimento adequado dos problemas. Além disso, devem estar conscientes de que são referências para a sociedade. O seus actos, e até as suas palavras, tanto podem gerar confiança e ânimo como podem contribuir para o descrédito das instituições.
A cultura republicana de responsabilidade exige rigor, bom senso, ponderação e contenção verbal, não se compadecendo com intervenções arrebatadas na praça pública, com palavras que são ditas sem se pensar nas consequências que têm para a dignidade das instituições.

O Presidente da República, em particular, deve manter um especial cuidado no uso da palavra. A coesão nacional, como referi na minha intervenção do passado dia 10 de Junho, é um dos bens mais preciosos que Portugal possui.

Um Presidente da República não pode alimentar divisões. A responsabilidade primordial de um Presidente da República é unir os Portugueses, em vez de impor a sua visão do mundo a uma parcela do País.

Da República centenária poderemos extrair vários ensinamentos. Entre eles, destaca-se um: não é da crispação que nascem as soluções para os problemas. Impõe-se, pois, que exista um compromisso político de coesão nacional.

Um compromisso firme e sério, através do qual as diversas forças partidárias, sem abandonarem as suas diferentes perspectivas, compreendam a gravidade do tempo presente e saibam estar à altura da confiança que o povo lhes concedeu.

Tudo farei para que prevaleça uma cultura de diálogo e de responsabilidade que permita alcançar os entendimentos necessários à resolução dos problemas do País.


Portugueses,

Neste ano de 2010, além do Centenário da República, comemoramos os 25 anos de adesão de Portugal às Comunidades Europeias.

O País mudou muito e mudou para melhor. Os Portugueses vivem hoje incomparavelmente melhor do que viviam há cem anos. E também vivem melhor do que antes de aderirmos às Comunidades Europeias.

Porque vivemos melhor, somos mais exigentes. É legítimo que o sejamos. Estamos insatisfeitos, o que não deve ser motivo para baixar os braços. Pelo contrário: se estamos insatisfeitos, temos de nos empenhar mais, de ser mais responsáveis nas nossas profissões, na defesa dos bens colectivos, nos deveres que temos para com a comunidade.

Somos hoje uma terra livre, um país que faz parte de pleno direito da comunidade internacional.

O balanço da República e o balanço da nossa participação no projecto europeu são claramente positivos. Soubemos fazer as escolhas certas nos momentos decisivos. Não esperámos que fossem outros a resolver os nossos problemas.

É esta a atitude que temos de cultivar no tempo presente. Um tempo adverso, sem dúvida, mas, por isso mesmo, uma altura que põe à prova a nossa vontade de vencer.

Estou certo de que, com a força inspiradora deste Centenário, iremos triunfar. Portugal sempre foi maior quanto maiores foram os desafios que teve de enfrentar. Com ânimo patriótico, com orgulho em sermos Portugueses, iremos conseguir!

Em nome de Portugal, celebremos os cem anos da República. A festa é do povo, porque a República é de todos.

Obrigado.


terça-feira, 2 de outubro de 2012

Cortar em tratamentos para o cancro e a sida?


Ministério "pode e deve" cortar em tratamentos para cancro e sida.
Quando vi este título e li este artigo... Que revolta!
Um misto de nojo e de revolta! Uma infâmia! Uma enorme e profunda constatação da injustiça e da desumanidade que por este país vai alastrando! 
Como é possível? Ainda por cima, "segundo um parecer do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida"?
 
O racionamento é aconselhado em exames e meios complementares de diagnóstico
 
O Ministério da Saúde "pode e deve racionar" o acesso a tratamentos mais caros para pessoas com cancro, sida e doenças reumáticas, segundo um parecer do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida.

"É uma luta contra o desperdício e a ineficiência, que enorme na Saúde", explicou o presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, Miguel Oliveira da Silva, em entrevista à Antena 1.
Segundo o parecer, a que a Antena 1 teve acesso, o racionamento é aconselhado em exames e meios complementares de diagnóstico, como TACs, ecografias e ressonâncias magnéticas, depois de ouvidos médicos, gestores e doentes.
Os cortes dependerão do custo dos tratamentos e do facto de os tratamentos prolongarem a vida durante tempo suficiente para justificar os gastos.

domingo, 30 de setembro de 2012

Portugal tem o melhor filme de turismo do mundo

 
(in EXPRESSO de 24.09.2012)
O filme promocional de Portugal intitulado "A Beleza da Simplicidade" foi premiado com medalha de ouro no Festival Internacional de Filmes de Turismo e Ecologia da Sérvia -"SILAFEST 2012", na categoria Melhor Filme de Turismo.

"A Beleza da Simplicidade" foi também um dos quatro filmes premiados no Festival Cannes Corporate Media & TV Awards 2012, o maior evento a nível europeu de filmes corporativos.

A cor do troféu (branco, ouro, prata ou preto) será conhecida a 18 de outubro, em Cannes. Aos prémios deste festival concorreram 666 participantes de 35 países. Esta produção do Turismo de Portugal também já tinha sido este ano premiada com uma medalha de ouro no "Tourfilm Riga" 2012, na categoria Filme Comercial, na Letónia, e com medalha de prata no "World Best Films Awards", na categoria Curta-Metragem, em Nova Iorque.

O filme "A Beleza da Simplicidade" mostra um país que se distingue pela diversidade paisagística e monumental, pela cultura, pela modernidade e pelas inúmeras experiências que proporciona.

A música é da responsabilidade de Nuno Maló, músico português radicado em Los Angeles, com uma carreira internacional na área publicitária e na indústria cinematográfica de Hollywood.
  

 

Que paisagens! Que música!
PARABÉNS!

sábado, 29 de setembro de 2012

Mais quatro anos para Obama

 
 
 
Tal como a Convenção Republicana em Tampa alterou o programa por causa da tempestade Isaac, a sessão final da Convenção do Partido Democrático teve de ser mudada, devido às previsões meteorológicas, de um estádio para a Arena coberta de Charlotte, que deixou de fora cerca de 20.000 pessoas. S. Pedro terá querido dar uma mão a Obama, para desmentir os "spinners" republicanos que já tinham posto a circular nas TVs que era por não haver gente para encher o estádio... O episódio é ilustrativo da crispação malsã em que decorre esta campanha eleitoral.

Em 2008 a disputa ideológica não foi menos acesa, mas os ataques pessoais cuidavam de não exibir preconceitos raciais. Nesta campanha a propaganda negativa paga pelo campo anti-Obama não olha a meios, sobretudo depois do Supremo Tribunal permitir às companhias gastar sem limites, por ou contra qualquer candidatura. O desbragamento reflete também o impacto no Partido Republicano da intolerância e agressividade do seu aliado "Tea Party".

A Convenção em Charlotte, Carolina do Norte, cumpriu os objectivos: o Partido Democrático mostrou estar unido, mobilizado para encorajar eleitores a registarem-se e votarem por Obama. E projectou para todo o país a imagem do equilíbrio de género e da pluralidade étnica, religiosa, social, etária, etc. dos seus activistas, reflectindo a diversidade do "melting pot" americano. Na Convenção de Tampa, em contraste, o Partido Republicano não conseguiu esconder uma audiência dominada por homens brancos, nem as contradições entre os interesses que alberga.

Para Republicanos e Democratas o desafio é mobilizar a faixa dos indecisos e reduzir em seu favor a dos abstencionistas. Os marqueteiros identificam os jovens e, sobretudo, as mulheres, e em particular o segmento das brancas com filhos em casa, solteiras ou casadas, como os grupos que podem decidir a corrida: não admira, assim, que os dois Partidos tivessem investido em intervenções de figuras de proa femininas, incluindo as mulheres dos candidatos.

O campo Obama conta com o apoio da minoria afro-americana, embora ela integre os cidadãos mais desfavorecidos e também mais atingidos pela crise; e da comunidade hispânica, cada vez mais relevante politicamente; políticas facilitando a legalização dos emigrantes são determinantes para os "latinos", ofendidos pela xenofobia do campo republicano.

A Convenção de Charlotte realçou o fosso ideológico que separa Democratas dos Republicanos e as politicas de Obama para melhorar a vida da maioria dos americanos: a legislação que obriga a pagar salário igual a trabalho igual para homens e mulheres, a universalidade dos sistemas de saúde e segurança social, aumento dos empréstimos para estudantes e outros incentivos à educação, defesa da liberdade individual de abortar e de homosexuais poderem casar e servir nas Forças Armadas, etc.

A politica externa e de segurança de Obama apenas aflorou em algumas intervenções, com destaque para a do Vice Presidente Joe Biden, sublinhando a promessa cumprida de retirar as tropas do Iraque e a em curso quanto ao Afeganistão, a eliminação de Bin Laden, o apoio à Primavera Arabe, a redução da dependência do exterior pelo investimento nas energias renováveis e no gás de xisto e a melhoria da imagem dos EUA globalmente. A impreparação de Romney, ilustrada em sucessivas gafes, prestava-se para o desqualificar. John Kerry (dado como sucessor de Hillary Clinton no Departamento de Estado) referiu-se a Romney como "campeão do 'outsourcing', notando: "estes não são tempos de 'outsource' o Comandante-chefe".

Mas o tema dominante - e determinante para a reeleição - centra-se na avaliação feita pela classe média sobre as políticas para o país sair da crise e voltar a criar emprego. E foi para as classes médias que a Convenção Democrata martelou que Obama herdou o país no pico de uma crise financeira global sem precedentes, em resultado da viciação das regras do mercado pela desregulação desenfreada. E martelou as medidas tomadas por Obama contra o regabofe da financeirização da economia e os gangsters instalados na banca e no "big business".

Desfilaram oradores a falar dos valores da classe média, que não é quem "acumula dinheiro em contas nas Ilhas Caimão para evitar pagar impostos", como disse Elizabeth Warren, a professora de direito financeiro de Harvard, agora candidata ao Senado, que também denunciou as propostas de Romney de mais cortes nos impostos "para os bilionários já taxados abaixo do que pagam as suas secretárias".

Numa intervenção que muitos consideraram o mais notável de todos os seus discursos, Bill Clinton recordou o impacto devastador das guerras e da crise financeira global deixadas por George W. Bush e as medidas tomadas por Obama para por o país a recuperar, num processo que, sublinhou, ninguém poderia ter acelerado.

Clinton e Biden testemunharam sobre o carácter e as qualidades de liderança demonstradas por Barak Obama ao longo deste mandato. Permitiram, assim, a Obama encerrar a Convenção com um discurso voltado para o futuro, pedindo mais quatro anos para completar a mudança que prometera, sem esconder que a recuperação da crise seria lenta e dificil. Obama apelou à responsabilidade, resiliência e esperança do povo americano: "Como cidadãos, percebemos que a América não é o que pode ser feito para nós. É sobre o que pode ser feito por nós".

Depois das Convenções, as sondagens continuaram a dar os dois candidatos muito a par e ambos se fizeram imediatamente à estrada para cativar os Estados cujos votos podem determinar o desfecho, os chamados "swing states": o Ohio, a Florida e a Virginia. Apesar das sondagens, vários indicadores apontam a vantagem do incumbente Obama sobre Romney. Se o factor financiamento pode desfavorecer o campo democrata, Obama deverá tirar partido dos debates televisionados. Mas há outros imponderáveis que podem influenciar a campanha, nomeadamente aumentando o desemprego ou os preços dos combustíveis.

E é aqui que entra a Europa, ironicamente. A UE que conduz as conversações sobre o programa nuclear iraniano e que pode ser importante para inviabilizar quaisquer tentativas de extremar tensões que se repercutiriam no preço do petróleo. É a UE que tem de tomar medidas para travar a escalada depressiva e começar a recuperar da crise. Em contactos informais com políticos europeus convidados para a Convenção, responsáveis do Partido frisaram a responsabilidade que os europeus também tinham em viabilizar a vitória de Obama, "getting their act together" contra a crise.

O "sonho americano" que Obama e o Partido Democrático se propõem reinventar contra a crise pressupõe liderança estratégica, governação, regulação, justiça, diplomacia e instituições democráticas a funcionar - nos EUA e a nível global. Por muitas críticas que se possam fazer a promessas por cumprir e a politicas de Obama (e eu faço), é cristalino que os interesses de Portugal, da Europa e do mundo passam pela reeleição de Barak Obama.

[Publicado por AG] [26.9.12] [Permanent Link]

País de brincalhões

Quadro de Pieter Brueghel, "O Velho"

 
Dizem-se coisas que bradam aos céus! Aos céus mas sobretudo na terra, como é o caso de um dos iluminados deste país, o economista António Borges, que, como costumo dizer, fala de barriga cheia.

Referindo-se ao programa de assistência financeira que, na realidade, ao descalabro tem levado mas que ao descalabro não deveria continuar a levar, este senhor afirmou que o nosso país tinha capital suficiente para pôr os bancos numa «base sólida, defendendo que era «melhor» que acionistas privados tomassem conta de instituições financeiras.

Base sólida para reforçar quem? Empresários? Acionistas sem escrúpulos? As famigeradas ppps? A manutenção dos salários de sempre de gestores e políticos que da crise pouco ou mal sentem? A "bancocracia"?
Com um país à beira da falência (em todos os sentidos) ouvimos estas barbaridades. Provocações ou exibicionismo?

Quem assim fala e assim pensa não está a considerar o drama que isto tem acarretado para os milhares de portugueses que já mal sobrevivem, sem dinheiro para despesas mínimas fundamentais, caso do pagamento das hipotecas ao banco, mensalidade das creches e escolas dos seus filhos, pagamento dos medicamentos nas farmácias, particularmente, caso de doentes crónicos, consultas e tratamentos médicos indispensáveis, caso da quimioterapia, fisioterapia, estomatologia, reumatologia, neurologia, entre tantos outros, que implicam visitas, consultas, tratamentos mais frequentes, caros, sem falar dos que, envergonhadamente, a cair aos poucos, se fingem bem quando o mal já trazem mas dele não falam ou nem sequer dele se apercebem.

Há muito que não há, para muitos desses milhares, um prato de comida digno nem uma noite descansada.

Escondem da família e dos filhos uma normalidade assustadoramente fingida e desesperadamente escondida.

Vão aos bancos, aos centros de emprego, às páginas dos classificados, e procuram uma réstia de luz que em dinheiro se transforme.

Já não aguentam ou já mal se aguentam.

Aquele indivíduo falava, este ano, no encerramento da conferência dos antigos alunos da escola de gestão INSEAD, que decorreu no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.

Segundo ele, há capital suficiente para pôr os bancos outra vez em base sólida. Há capital. Está no programa de assistência financeira a Portugal. Há dinheiro mais do que suficiente para recapitalizar os bancos mesmo sem acionistas privados, acrescentando que era muito melhor que houvesse acionistas privados que tomassem conta destes bancos, até estrangeiros.

E mais disse: que o Banco Central Europeu (BCE) está a ajudar e não pode fazer mais do que está a fazer. Valha-nos Deus!

Para o antigo diretor do departamento europeu do Fundo Monetário Internacional (FMI), «há uma constelação de fatores que nos vão permitir, a um prazo relativamente curto, ultrapassar as dificuldades de crédito». Relativamente curto?

Brincamos, certamente! Melhor dizendo: brincam os de barriga cheia com as barrigas vazias do costume.

A recapitalização dos bancos ao serviço das elites e do capitalismo selvagem continua: reforçar os rácios de capital para agradar aos poderosos que no âmbito do pacote de ajuda financeira a Portugal continuam a ser os grandes beneficiados. Duvidam? Os milhões que têm vindo destinados à recapitalização dos bancos portugueses que disso necessitam, deveriam também contemplar e prever o drama dos que as suas casas vão perdendo sem que os bancos ajuda lhes prestem, renegociando as suas dívidas, ajustando prazos, revendo as situações, ouvindo-os humanamente.

Casas e casas à venda… casa e casas a esconderem entre paredes a miséria e o drama de tudo estarem a perder, até a vida, por causa de erros e desgovernos, uns atrás dos outros, por gente que estrategicamente se pôs em fuga ou bem instalada ficou, sorrateiramente calados, com a ajuda das impunidades e da cegueira da justiça que finge não os ver ou mal lhes toca, apoiados que continuam a estar por cúmplices e cobardes institucional e politicamente bem colocados ou socialmente influentes.

Isto tem sido o pão-nosso de cada dia.

Isto também tem contribuído para a desgraça da nossa democracia pela qual temo.

Nazaré Oliveira



quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Desemprego e paraísos fiscais

Recuo TSU e derrapagens OE, metas e...decência
No Conselho Superior da Antena 1 de ontem http://www.rtp.pt/play/p296/e93654/conselho-superior
comentei uma e outra.
E insurgi-me contra a perigosa injustiça de termos mais de metade dos desempregados já sem receber subsídio de desemprego, logo empurrados a "ir roubar para a estrada"... Enquanto são protegidos de investigações judiciais e poupados nos impostos banqueiros como Ricardo Salgado e Ricciardi, do BES, apesar de identificados como responsáveis pela transferência de capitais para paraísos fiscais envolvendo, pelo menos, o crime de evasão fiscal.
Publicado por Ana Gomes, dia 25 deste mês, no seu blogue CAUSA NOSSA.


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E já agora, aproveito para esclarecer quem não sabe: Paraísos fiscais são...