quinta-feira, 31 de maio de 2012

Sinais de esperança em África

Já se escreveram bibliotecas inteiras para tentar responder à pergunta: por que será que umas economias se desenvolvem e outras não?

A verdade é que ainda não foi dada uma resposta satisfatória à questão. Por isso continuam a publicar-se livros procurando mostrar que o desenvolvimento económico depende deste ou daquele factor.

Quando a Revolução Industrial aconteceu na Grã-Bretanha, abrindo caminho a uma historicamente inédita aceleração do crescimento económico, era frequente explicar esta mudança radical pelo carvão que aquele país possuía em abundância. Essa fonte energética (ainda hoje importante, nomeadamente na China), aliada a descobertas como a da máquina a vapor, revolucionou a actividade fabril.

Mas no século XX o Japão industrializou-se, sem ter qualquer fonte própria de energia. Ao invés, a China tinha descoberto a imprensa, a pólvora, o papel, o compasso, etc., muitos séculos antes da Revolução Industrial britânica, mas nunca lhes deu aplicação prática. Hoje, por outro lado, a China surpreende os que ligam o crescimento económico à democracia, que ali não existe.

Há décadas salientava-se a importância do capital e da tecnologia para tirar do subdesenvolvimento o então chamado terceiro mundo. Mas as fortunas gastas em ajuda externa ao desenvolvimento não tiveram retorno à altura. E poderiam multiplicar-se os exemplos de explicações para o desenvolvimento ou para a falta dele, que afinal explicam pouco.

 Mas há coisas evidentes. Só por milagre conseguiria crescer economicamente um continente marcado por guerras constantes, por incapacidade e corrupção dos governantes, por doenças altamente mortíferas (malária, SIDA, etc.). Foi um pouco disto que aconteceu em grande parte de África depois da descolonização.

A boa notícia é que, hoje, África dá indícios de deixar de ser o continente onde o desenvolvimento económico parecia não querer chegar. Após décadas de fraco crescimento, nos últimos dez anos seis dos dez países que mais cresceram no mundo foram africanos. Em oito desses dez anos, África cresceu mais do que a Ásia oriental (incluindo o Japão). O FMI prevê que a economia africana cresça cerca de 6% este ano.

É verdade que estas taxas de crescimento partem de bases muito baixas. A maioria dos africanos ainda vive com menos de dois dólares por dia. E a produção alimentar por cabeça em África é agora inferior à registada na altura da independência da maioria dos países daquele continente. Ou seja, a fome continua a afligir grande parte da população africana. E continua a haver casos gritantes de destruição da economia por culpa dos governantes, como acontece no Zimbabué, com o ditador Mugabe.

Mas os sinais de mudança são significativos. A pobreza diminuiu em África após 2005. Segundo o Standard Bank, existem hoje 60 milhões de africanos com 3 mil dólares de rendimento anual; em 2015 deverão ser 100 milhões. Começa a haver classe média em África.

E não se trata só de explorar recursos naturais. Apenas um quarto do crescimento africano entre 2000 e 2008 resultou da subida do preço das matérias primas, como o petróleo. A indústria e os serviços começam a ter expressão.

Um continente que parecia alheio à globalização está agora, finalmente, a integrar-se nela. Desde 2000 o comércio de África com o resto do mundo subiu 200%. Também aumentaram as trocas entre países africanos. Assim como o investimento directo estrangeiro, atenuando a crónica falta de capitais. Para Teresa Pinto Coelho, do Fundo BPI África, este continente «tem vindo a criar condições para ser o principal destino do investimento a nível mundial».

A tecnologia também conta aqui: mais de 600 milhões de africanos utilizam o telemóvel, o que ajuda a melhorar a produtividade. Mas, sem pretender ter descoberto o ‘segredo’ do desenvolvimento económico, parece claro, como referiu recentemente The Economist, que boa parte das mudanças em África tem a ver com alguns passos positivos que ali foram dados no sentido da paz e de uma governação decente.

Francisco Sarsfield Cabral, 26 de Março, 2012

sábado, 26 de maio de 2012

Indignados propõem manifesto contra a apatia


Os franceses Edgar Morin, filósofo, e Stéphane Hessel, diplomata que inspirou os movimentos dos Indignados, propõem num manifesto conjunto de soluções contra a «apatia» e as «crises do século XXI» através de reformas e da responsabilização dos Estados.

No livro “O caminho da esperança – Um apelo à mobilização cívica”, que foi publicado esta semana em Portugal, os dois pensadores denunciam «a política cega» que «conduz ao desastre» e sugerem soluções que pretendem acabar com a «apatia e a resignação fatais».
«A humanidade, que suportou a barbárie dos totalitarismos do século XX, vê agora cair sobre si a hidra do capitalismo financeiro e, ao mesmo tempo, toda a espécie de fanatismos e maniqueísmos étnicos, nacionalistas, religiosos» escrevem os dois autores que foram membros da Resistência Francesa contra a ocupação nazi e o regime de Vichy (colaboracionista) durante a Segunda Guerra Mundial.

Os autores socorrem-se da Declaração dos Direitos do Homem de que Hessel foi redator, mas sobretudo do Programa do Conselho Nacional da Resistência Francesa, e apontam saídas para a crise, tendo como referência o continente europeu e em particular a situação política, económica e social em França.

«A França republicana e social parecia afirmar-se definitivamente, mas eis que se assiste ao renascimento de um vichismo servil, que não pode imputar-se a qualquer desastre militar, a nenhum colaboracionismo, a nenhum ocupante», sublinham os autores do manifesto de 66 páginas, em que abordam questões relacionadas com a educação, política de consumo, trabalho e emprego, política do bem-estar, políticas de consumo, e reforma política.
Os dois franceses defendem ainda que a «economia pluralista» deve, neste caso, atuar contra o capitalismo «porque a social-democracia calou-se face ao seu principal inimigo».

«Temos de instaurar o nosso próprio New Deal (série de programas implementados pelo Governo dos Estados Unidos, entre 1933 e 1937, para reformar a economia norte-americana), lançando grandes obras de infraestruturas que criem empregos, reduzam de forma acentuada o desemprego e relancem a economia, já que a política de rigor, supostamente destinada a reduzir a crise económica, conduz a uma recessão cada vez maior, a um maior desemprego, a salários e retribuições mais baixos e a uma diminuição do consumo», escrevem.

«O Estado-providência está cada vez mais minado pela globalização» e por isso, afirmam, os Estados devem investir na sociedade e «conceder crédito (reembolsável em caso de êxito) a todas as pequenas e médias empresas, assim como se deve reprimir a especulação financeira através de um controlo efetivo dos bancos, da vigilância das agências de notação e de impostos sobre transações diretas», referem Edgar Morin e Stéphane Hessel.

«Não queremos fundar um partido novo nem aderir a um antigo, desejamos apenas que se opere uma regeneração a partir das quatro fontes que alimentam a esquerda: a fonte libertária, baseada na liberdade dos indivíduos; a fonte socialista, baseada na melhoria da sociedade; a fonte comunista, baseada na fraternidade comunitária, e a fonte ecológica», propõem os pensadores, que consideram acabados os recursos dos partidos.
Neste sentido, defendem «a formação de um poderoso movimento de cidadania, de uma insurreição de consciências que possa delinear uma política à altura das exigências».

Stéphane Hessel, 95 anos, diplomata de origem alemã, foi membro da Resistência Francesa, torturado pela Gestapo e preso num campo de concentração durante a Segunda Guerra Mundial e é autor dos livros Indignai-vos! (2010) e Empenhai-vos! (2011) que venderam milhões de exemplares em todo o mundo e que inspiraram os movimentos dos 'Indignados' em vários países, sobretudo no Sul da Europa.

Edgar Morin, 91 anos, sociólogo e filósofo francês foi também membro da Resistência contra a ocupação alemã nos anos 1940.
Lusa/SOL, 22 de Maio, 2012

Quando a injustiça se torna lei



Vergonha nacional


Este é o País das Exceções. Afinal, o pagamento da crise não é igual para todos. Os cortes são só para alguns. Os senhores que comem caviar, que se banham em perfumes, que se passeiam de Bentley e jogam golfe não podem ser prejudicados nas suas vidinhas. Era descaramento a mais do Governo tratar todos de forma igual.

Rapazes bens cheirosos, charmosos e de porte elegante merecem o estatuto de exceção. É justo. Os que vieram ao mundo para sofrer e suportar a canga dos sacrifícios é que devem pagar a crise. Pensar de outra forma é revelador de inveja, sentimento mais mesquinho do indivíduo. E se refilarem, porrada neles.

Com o fim do colonialismo, em que tínhamos brancos e negros, agora temos brancos de primeira, segunda e terceira categorias. É a estratificação social mais adequada e proporcional à importância do custo e do cheiro do perfume de cada um. É assim que está o País, cheio de gente que luta sem esperança. Tiram-lhes tudo sem sequer pedir licença. E todos consentem no silêncio do sofrimento.

Para além do estatuto de exceção, o Governo criou uma espécie de apartheid social. Obrigar os homens do caviar a conviver, no mesmo espaço social, com gente que nada tem, mal nutrida e que não é solidária com o estatuto de exceção é de uma violência sem limites e piedade. Só a razão pública pode potenciar a criação de sociedades menos injustas.

Governar é fazer escolhas. As escolhas foram feitas e a lista dos privilegiados, que gozam deste estatuto de exceção, tem crescido.

No Orçamento para a Assembleia da República, aprovado por todos os partidos, os deputados e os funcionários da AR mantêm os subsídios de férias e de Natal em 2012; à semelhança do que se passa na TAP Portugal, para a SATA, para a CGD e para o Banco de Portugal.

Reparem bem: este ano, o Governo autorizou vinte e três empresas e institutos públicos a terem regras mais abertas e flexíveis no que toca às reduções salariais, quer dos trabalhadores, quer dos gestores. Os principais beneficiários das exceções são os administradores de empresas públicas, que levaram muitas delas à ruína financeira.

A lista está a crescer não na medida das necessidades, mas da ganância: CTT, NAV, ANA, Parque Expo, Instituto Nacional de Estatística e Infarmed…

Haja decoro! Nenhuma razão pública justifica esta afronta de exceção na não partilha dos sacrifícios.

É muito injusta a sociedade que estamos a criar.

Rui Rangel, Juiz Desembargador, in http://www.cmjornal.xl.pt/

domingo, 20 de maio de 2012

Queridos deputados


OGE para 2012...

Que queridos deputados nós temos!

Deputados, deputadas, primeiro-ministro, ministros, secretários de estado, presidente da República, Tribunal Constitucional...

Até dói ler quanto mais saber que é verdade!

De facto, ISTO não pode continuar ASSIM! A luta contra ISTO também tem de ser muito mais dura!

Que gente esta, que nos (des) governa?

Que gente esta que prega mas não cumpre, fala mas não sente, e se aproveita, descarada e despudoradamente da palavra democracia e (mais grave ainda!) se aproveitou do voto popular e das promessas (que mais uma vez não cumpriu!), roubando sem castigo e agindo ao arrepio da Moral e Ética Política, arredadas que estão, há anos, das boas práticas de uma Governação Democrática que, deste modo, cada vez nos envergonha mais?

Outra política é possível, sim. Com gente séria.

Estou farta destes oportunistas e deste linguarejar!

Quem os ouve, quem os vê… “Cantam de galo” e “pregam de barriga cheia”.

Estou farta! Revolução? Venha ela!

Portugal não pode andar para trás!

O primeiro-ministro continua a ser um primeiro-ministro sem vergonha e sem um pingo de respeito pelo povo português quando, por exemplo, considera que a poupança e o investimento são indispensáveis para Portugal sair da crise e que pobres já nós estamos.

Claro! Como não havíamos de estar, nós, que do corte dos nossos salários e do nosso subsídio de férias e de Natal engordamos esta gente!

Depois ainda reforça a sua estúpida análise política e económica e a sua estúpida fundamentação para a saída da crise dizendo que “há é pessoas que ainda não se deram conta disso e continuam a viver como se não fossem pobres”. Pessoas? Quem? Eles, claro!


Há dias, publicamente, com aquele arzinho de quem é o dono da verdade e paizinho de nós todos, reafirma, também, a preservação do estado social europeu, mas defende que isso não deve impedir poupança e crescimento. Que a falta de competitividade é um problema de todo o ‘velho continente’.


Que nome dar a esta criatura, aos seus acólitos e aos que o continuam a defender?



Nazaré Oliveira