Já se escreveram
bibliotecas inteiras para tentar responder à pergunta: por que será que umas
economias se desenvolvem e outras não?
Mas há coisas evidentes.
Só por milagre conseguiria crescer economicamente um continente marcado por
guerras constantes, por incapacidade e corrupção dos governantes, por doenças
altamente mortíferas (malária, SIDA, etc.). Foi um pouco disto que aconteceu em
grande parte de África depois da descolonização.
A boa notícia é que,
hoje, África dá indícios de deixar de ser o continente onde o desenvolvimento
económico parecia não querer chegar. Após décadas de fraco crescimento, nos
últimos dez anos seis dos dez países que mais cresceram no mundo foram
africanos. Em oito desses dez anos, África cresceu mais do que a Ásia oriental
(incluindo o Japão). O FMI prevê que a economia africana cresça cerca de 6%
este ano.
Francisco Sarsfield Cabral, 26 de Março, 2012
A verdade é que ainda não
foi dada uma resposta satisfatória à questão. Por isso continuam a publicar-se
livros procurando mostrar que o desenvolvimento económico depende deste ou
daquele factor.
Quando a Revolução
Industrial aconteceu na Grã-Bretanha, abrindo caminho a uma historicamente
inédita aceleração do crescimento económico, era frequente explicar esta
mudança radical pelo carvão que aquele país possuía em abundância. Essa fonte
energética (ainda hoje importante, nomeadamente na China), aliada a descobertas
como a da máquina a vapor, revolucionou a actividade fabril.
Mas no século XX o Japão
industrializou-se, sem ter qualquer fonte própria de energia. Ao invés, a China
tinha descoberto a imprensa, a pólvora, o papel, o compasso, etc., muitos séculos
antes da Revolução Industrial britânica, mas nunca lhes deu aplicação prática.
Hoje, por outro lado, a China surpreende os que ligam o crescimento económico à
democracia, que ali não existe.
Há décadas salientava-se
a importância do capital e da tecnologia para tirar do subdesenvolvimento o
então chamado terceiro mundo. Mas as fortunas gastas em ajuda externa ao
desenvolvimento não tiveram retorno à altura. E poderiam multiplicar-se os
exemplos de explicações para o desenvolvimento ou para a falta dele, que afinal
explicam pouco.
É verdade que estas taxas
de crescimento partem de bases muito baixas. A maioria dos africanos ainda vive
com menos de dois dólares por dia. E a produção alimentar por cabeça em África
é agora inferior à registada na altura da independência da maioria dos países
daquele continente. Ou seja, a fome continua a afligir grande parte da
população africana. E continua a haver casos gritantes de destruição da
economia por culpa dos governantes, como acontece no Zimbabué, com o ditador
Mugabe.
Mas os sinais de mudança
são significativos. A pobreza diminuiu em África após 2005. Segundo o Standard
Bank, existem hoje 60 milhões de africanos com 3 mil dólares de rendimento
anual; em 2015 deverão ser 100 milhões. Começa a haver classe média em África.
E não se trata só de
explorar recursos naturais. Apenas um quarto do crescimento africano entre 2000
e 2008 resultou da subida do preço das matérias primas, como o petróleo. A
indústria e os serviços começam a ter expressão.
Um continente que parecia
alheio à globalização está agora, finalmente, a integrar-se nela. Desde 2000 o
comércio de África com o resto do mundo subiu 200%. Também aumentaram as trocas
entre países africanos. Assim como o investimento directo estrangeiro,
atenuando a crónica falta de capitais. Para Teresa Pinto Coelho, do Fundo BPI
África, este continente «tem vindo a criar condições para ser o principal
destino do investimento a nível mundial».
A tecnologia também conta
aqui: mais de 600 milhões de africanos utilizam o telemóvel, o que ajuda a
melhorar a produtividade. Mas, sem pretender ter descoberto o ‘segredo’ do
desenvolvimento económico, parece claro, como referiu recentemente The
Economist, que boa parte das mudanças em África tem a ver com alguns passos
positivos que ali foram dados no sentido da paz e de uma governação decente.