sábado, 12 de maio de 2012

Atualidade de Marx num mundo caótico à beira da barbárie

Independentemente de se concordar ou não com o marxismo, de se ser do partido x ou y ou de nenhum partido, sou sempre adepta da leitura deste tipo de artigos de opinião, pelo seu contributo para o estudo da História, da Política e da reflexão sobre a História da Sociedade em geral.
Afinal, este é um tema que continua sempre "em aberto" e a suscitar boas discussões.
Como "o saber não ocupa lugar", achei interessante publicar mais este artigo de opinião , justamente pelo seu contributo para essa reflexão.
Obrigada, Rui, que mo enviaste.
Nazaré Oliveira


Atualidade de Marx num mundo caótico à beira da barbárie (*)





11.Mai.12

No cerne do grande debate ideológico travado no âmbito do movimento comunista internacional uma questão continua a suscitar um interesse absorvente: a transição do capitalismo para o socialismo. Já Lenine dizia que ela seria infinitamente mais difícil do que a tomada do poder em Outubro de 17. E até hoje não encontrámos respostas satisfatórias.



Uma campanha de âmbito mundial desencadeada por intelectuais de grandes universidades dos Estados Unidos e da Europa, amplamente divulgada pelo sistema mediático controlado pelo imperialismo, proclamou desde a desagregação da URSS o fim do marxismo. Para esses epígonos do capitalismo, o neoliberalismo como ideologia definitiva assinalaria o fim da História; no marxismo identificavam um arcaísmo obsoleto.

Essas profecias não tardaram a ser desmentidas pelo caminhar da História. Em lugar da era de progresso, abundância e democracia, anunciada por George Bush (pai) após o desaparecimento da URSS, uma crise de civilização abateu-se sobre a humanidade. A concentração de riqueza foi acompanhada por um alastramento da pobreza. Fomes cíclicas assolaram e assolam países da África e da Ásia. No início do milénio o capitalismo entrou numa crise estrutural de proporções globais.

Pela primeira vez na História, o capitalismo está sendo abalado até aos alicerces - como sublinha István Meszaros - como sistema mundial «e a transcendência da autoalienação do trabalho» configura um desafio dramático. Sem soluções, porque a Acumulação não funciona mais de acordo com a lógica do capital, os EUA, apresentando-se como pólo da democracia e da liberdade, desencadearam agressões monstruosas contra povos do ex-Terceiro Mundo, alegando que defendem a humanidade contra o terrorismo.

UM DEBATE SEMPRE ACTUAL

O debate sobre o combate ao imperialismo como tarefa revolucionária prioritária deve ser acompanhado de outro complementar sobre as causas e consequências da derrota temporária do socialismo.

Os comunistas (quase todos) coincidem hoje na conclusão de que a transformação da Rússia num país capitalista foi uma tragédia para a humanidade.

Mas persistem no movimento comunista profundas divergências quando a discussão incide sobre o processo cujo desfecho foi o desaparecimento da União Soviética.

Segundo alguns partidos, a ofensiva imperialista foi determinante para contaminar a sociedade soviética, minar o PCUS, e provocar a implosão do regime. Para outros, uma minoria, as raízes da contra-revolução são fundamentalmente internas. A perestroika teria sido apenas a espoleta e o instrumento de um complexo processo contra revolucionário cuja evolução acompanhou a luta de classes na Rússia revolucionária.

No primeiro tomo da sua obra «A luta de classes da União Soviética», Charles Bethelheim chama a atenção para uma evidência ao lembrar que dentro do próprio partido comunista a luta interna foi permanente numa sucessão de «guerras civis» atípicas. Por outras palavras, a contra revolução principiou por cima, no coração do PCUS.

Mas três décadas transcorreram até que a relação de forças na direcção do PCUS se alterasse, permitindo que o XX Congresso assinalasse a viragem que criaria condições para a destruição gradual do chamado «socialismo real».

A vitória sobre as hordas hitlerianas, que salvou a humanidade do fascismo e os grandes êxitos económicos, científicos e sociais que catapultaram o país de Lenine para segunda potência mundial, e também a solidariedade internacionalista com povos em luta contra o imperialismo, tornaram quase invisível até à perestroika o fermentar da contra revolução.

Não cabe nesta intervenção a análise dos erros e desvios da construção do socialismo na URSS, o afastamento do PCUS da democracia leninista e as consequências negativas do voluntarismo e do dogmatismo subjectivista.

Mas a ausência de êxito no desafio da transição do capitalismo para o socialismo tal como Marx concebia este não impediu o surgimento na União Soviética de uma sociedade muito menos marcada pela desigualdade e pela injustiça social do que a de qualquer das falsas democracias representativas do Ocidente, que são, na realidade, ditaduras da burguesia de fachada democrática.

O IMPERIALISMO COLECTIVO

Não obstante a contradição de interesses entre os EUA e os outros países do ex-G7 persistirem, essas contradições não são como antes antagónicas pelo que é hoje mínima a probabilidade de guerras inter-imperialistas como aquelas que provocaram dezenas de milhões de mortos na primeira metade do século XX. Ao imperialismo clássico sucedeu aquilo a que o economista argentino Cláudio Kats chama o imperialismo colectivo.

Sob a hegemonia dos EUA, cuja superioridade militar é esmagadora, países como o Reino Unido, a França, a Alemanha, o Japão e outros aliados menores (Itália, Espanha, Canadá, Austrália, etc.) tornaram-se cúmplices de uma estratégia de dominação planetária. Invocando pretextos falsos como a existência de armas de extermínio massivo ou a luta contra a fantasmática Al Qaeda, os EUA invadiram, vandalizaram e ocuparam o Iraque e o Afeganistão e as suas forças armadas praticaram ali crimes contra humanidade que somente encontram precedente no Reich nazi.

Goebels dizia que uma mentira muito repetida aparece como verdade. Não podia imaginar que a perversa propaganda hitleriana surge hoje como jogo quase inofensivo comparada com a sinistra engrenagem de desinformação montada pelo imperialismo para servir a sua estratégia. Nesta era da informação instantânea, uma gigantesca máquina, cientificamente montada e controlada pelos laboratórios ideológicos do imperialismo, bombardeia os povos com um discurso e imagens que distorcem a realidade.

Promover a alienação das massas e manipular a consciência social é um objectivo permanente do imperialismo. Essa ofensiva mediática visa anular a combatividade dos povos mediante a robotização progressiva do homem, meta facilitada pela contracultura alienante exportada pelos EUA.

Nesse contexto, as actuais guerras coloniais são precedidas de um massacre das consciências concebido para neutralizar eventuais reacções às agressões militares, apresentadas como iniciativas imprescindíveis à defesa da democracia e da paz.

As modernas guerras imperiais não seriam entretanto possíveis sem a cumplicidade do Conselho de Segurança da ONU, transformado em instrumento dessa estratégia.

A satanização de líderes transformados em verdugos dos seus povos tornou-se rotina nessas campanhas. Aconteceu isso com Khadaffi. O dirigente líbio, que há dois anos era recebido com abraços por Sarkozy, Cameron, Berlusconi e Obama passou, de repente, a ser qualificado de monstro e acusado de crimes contra a humanidade. Para se apoderarem do petróleo e do gás do país os novos cruzados do Ocidente fabricaram uma rebelião em Benghasi e fizeram aprovar pelo Conselho de Segurança da ONU uma Resolução sobre a «exclusão aérea» - com a cumplicidade, após vacilações, da Rússia e da China – resolução aliás logo desrespeitada quando começaram a explodir bombas e mísseis em Tripoli.
Seguiram-se seis meses de uma guerra repugnante, na qual a NATO funcionou como instrumento de uma agressão definida pela ONU como «intervenção humanitária».

Expulsar a China da África foi um dos objectivos dessa agressão, concluída com o assassínio de Muamar Khadaffi. Mais de 35 000 chineses, técnicos e trabalhadores, foram retirados da Líbia, onde trabalhavam. A China tinha ali, como noutros países do Continente, importantes investimentos. Cabe lembrar que Angola é actualmente o segundo fornecedor de petróleo africano à China.

A criação de um exército permanente dos EUA na África foi preparada com anos de antecedência. A recente intervenção militar no Uganda, anunciada por Obama com o pretexto de combater uma minúscula seita religiosa subitamente qualificada de «terrorista», foi uma etapa desse ambicioso projecto. O presidente norte-americano já informou, entretanto, que os EUA enviarão tropas para «combater o terrorismo» no Congo, Sudão do Sul e República Centro Africana, se os governos desses países pedirem «ajuda».

No âmbito dessa escalada, ignorada pelos media internacionais, aviões da USAF, a partir da sofisticada base instalada em Djibuti, bombardeiam periodicamente a Somália e o Iémen, para - segundo afirma Washington - «combater movimentos tribais aliados da Al Qaeda».

IRÃO E CHINA

Qual será a próxima vitima do sistema de poder hegemonizado pelos EUA?
O comportamento dos EUA traz à memória o do Reich nazi. Primeiro foi a anexação da Áustria; depois Munique e a posterior destruição da Checoeslováquia; finalmente a exigência da entrega de Dantzig, a invasão da Polónia, a guerra mundial.

Não pretendo estabelecer analogias. Mas o desprezo pelos povos e pelo seu direito à independência é o mesmo, tal como o cinismo e a hipocrisia do discurso.

Primeiro foi o Afeganistão, depois o Iraque, em seguida a Líbia, agora foi o Uganda. Nos intervalos, Israel, com o apoio de Washington, invadiu o Líbano e promoveu o massacre de Gaza.

A Síria está na linha de mira. O Irão é, na aparência, o grande «inimigo da democracia ocidental» a derrotar. Mas o inimigo real é a China. No seu discurso sobre o Estado da União, Obama não escondeu que na estratégia americana as prioridades se deslocaram do Médio Oriente para a Ásia Oriental. Hillary Clinton foi mais longe no final de Fevereiro. Ao qualificar o governo da China como «ilegítimo» (sic) assumiu uma posição desafiadora. James Petras viu nela uma «declaração de guerra» a prazo.

A gula imperial é insaciável. Nestes dias, é imprevisível o rumo dos acontecimentos no Golfo.

A decisão de atacar o Irão tem esbarrado com forte resistência no Pentágono. Os estrategos do sistema não têm a certeza de que as mais potentes bombas convencionais possam destruir em Natanz as instalações nucleares subterrâneas do país. Israel não pode intervir sem o aval de Washington e teme o poder de retaliação iraniano. A hipótese do recurso a armas nucleares tácticas tem sido tema de especulação. Mas os custos de uma tal opção seriam devastadores no plano político.

A situação caótica criada no Afeganistão após a queima do Corão numa base norte-americana veio alias confirmar o fracasso da estratégia americana na Ásia Central. Que credibilidade merecem as forças de segurança» do Afeganistão criadas pelos EUA e a NATO se os soldados afegãos matam com frequência os oficiais americanos e europeus que os treinam.

A escalada de leis reaccionárias nos EUA assinala o fim do regime «democrático» na República. A chamada Lei da Autorização da Segurança Nacional, promulgada por Obama, revogou na prática a Constituição bicentenária do país. A partir de agora, qualquer cidadão suspeito de ligações com supostos terroristas pode ser preso por tempo indeterminado e eventualmente submetido a tortura no âmbito de outra lei aprovada pelo Congresso.

A fascistização das Forças Armadas nas guerras asiáticas é já inocultável. No Afeganistao, elementos do corpo de Marines exibiram publicamente a bandeira das SS nazis e não foram punidos.

Comentando a promulgação por Obama da lei de Autorização da Segurança Nacional, Michel Chossudovsky, definiu os EUA como «um Estado totalitário com traje civil».

Não exagera. Os EUA estão a assumir o perfil de um IV Reich.

QUE FAZER?

Perante a estratégia imperial que ameaça a humanidade, a pergunta de Lenine QUE FAZER? adquire uma dramática actualidade.
A recusa da «nova ordem mundial» que o imperialismo pretende impor assumiu nos últimos anos proporções planetárias.

Seattle foi um marco na rejeição do sistema de dominação que utiliza o FMI, o Banco Mundial e a OMC como instrumentos da política do grande capital. De repente, milhões de homens e mulheres começaram a sair às ruas em gigantescos protestos contra a religião do dinheiro e as guerras imperiais.

O lema do primeiro Foro Social Mundial - «outro mundo é possível» - traduziu esse descontentamento e a esperança de uma mudança radical. Mas, transcorrida mais de uma década, o próprio Foro transformou-se numa caixa-de-ressonância de discursos inofensivos.

No ano passado, o Movimento dos Indignados, em Espanha, e o Ocupem Wall Street, nos EUA, mobilizaram multidões, expressando o desespero das massas oprimidas. Mas esses protestos, positivos, e outros, promovidos por diferentes movimentos sociais, não ameaçam seriamente o poder do capital. Os jovens sabem o que rejeitam, mas esbarram com um muro intransponível na formulação de uma alternativa. Que querem, afinal?

O espontaneísmo é como a maré oceânica; assim como sobe, desce.

O capitalismo está condenado a desaparecer. Mas o seu fim não tem data e a agonia pode ser muito prolongada.

Que fazer então?-repito

Não serei eu, nem outros comunistas a tirar do bolso a receita mágica.

É minha convicção que Lenine enunciou uma evidência ao lembrar que não há revolução durável sem um partido revolucionário que a promova e lidere as massas. Para mal da humanidade, a destruição da URSS e a implantação na Rússia do capitalismo permitiu ao imperialismo desencadear uma tempestade contra revolucionária que atingiu os partidos comunistas, semeando a confusão ideológica. Alguns com grandes tradições, como o italiano, desapareceram após várias metamorfoses; outros, como o francês e o espanhol, social democratizaram-se, assumindo linhas reformistas.

A criação do Partido da Esquerda Europeia contribuiu para aumentar a confusão. Não obstante a maioria dos partidos que a ele aderiram serem nominalmente comunistas, defendem estratégias reformistas. Actuam sobretudo dentro do sistema parlamentar, concentrando a sua luta em reivindicações sobre problemas imediatos, sem dúvida importantes, mas secundarizam a luta pelo socialismo como objectivo principal. Neutralizar a combatividade das massas, orientando as lutas no quadro institucional, é o objectivo inconfessado do Partido da Esquerda Europeia. Batem-se, na prática, pelo «aperfeiçoamento» do sistema.

No panorama europeu, o Partido Comunista da Grécia, o KKE, surge hoje como a grande excepção à tendência maioritária que privilegia a linha reformista. A sua contribuição - mais de uma dezena de greves gerais num ano - para a luta dos trabalhadores gregos contra as políticas impostas pelos governantes dos grandes países da zona euro, a Alemanha e a França, tem sido decisiva.

Julgo útil afirmar neste Congresso marxista que acompanhar os acontecimentos da Grécia, reflectir sobre eles e apoiar o combate dos comunistas gregos se tornou hoje um dever revolucionário.

O KKE defende a criação e o fortalecimento de uma Frente democrática anti-imperialista e anti-monopolista, uma aliança entre trabalhadores e pequenos e médios agricultores.

Permitam-me que cite um parágrafo do artigo da secretária geral do KKE, a camarada Aleka Papariga, publicado no número 2 da Revista Comunista Internacional:
Desenvolvimento desigual quer dizer desenvolvimento político e social desigual, o que significa que as condições prévias para o início da situação revolucionária podem surgir mais cedo num pais ou num grupo de países que, sob condições especificas, pode constituir «o elo mais fraco» do sistema imperialista. Isto é particularmente importante hoje, quando o desenvolvimento e as remodelações ocorrem no sistema imperialista e se intensificam as contradições tanto no âmbito dos países como no sistema imperialista. Entendemos, portanto, que cada partido comunista, tal como os trabalhadores de cada país, tem o dever internacionalista de contribuir para a luta de classes ao nível internacional, mobilizando e organizando a luta contra as consequências das crises nacionais, com vista ao derrubamento do poder burguês, à conquista do poder pelos trabalhadores e à construção do socialismo.

Insistindo na denúncia do oportunismo, a camarada Aleka Papariga lembra também que as reformas, por mais importantes que sejam, não podem conduzir ao socialismo sem uma confrontação final com a burguesia cujo desfecho seria a destruição das instituições do Estado capitalista.

A questão é fundamental. A chamada via pacífica para o socialismo foi ensaiada no Chile com o desfecho que conhecemos. Hoje a tese é retomada na América Latina pelos teóricos do Socialismo do Século XXI, nomeadamente na Venezuela Bolivariana e na Bolívia.

Em textos que publiquei no ano passado após participar no Foro Internacional de Maracaibo, critiquei essas posições, reafirmando a convicção de que a destruição do estado capitalista, em choque com o poder burguês, terá de preceder a construção de um poder popular estável.
Trata-se, insisto, de uma questão fundamental para o movimento comunista internacional.

Obviamente que a Europa não é a América Latina. E devemos sempre ter presente que a Europa é uma diversidade.

Mas no cerne do grande debate ideológico travado no âmbito do movimento comunista internacional uma questão continua a suscitar um interesse absorvente: a transição do capitalismo para o socialismo. Já Lenine dizia que ela seria infinitamente mais difícil do que a tomada do poder em Outubro de 17. E até hoje não encontrámos respostas satisfatórias. (**)

O que é valido para a Grécia não é obviamente transponível para outros países da zona euro. Às condições objectivas peculiares somam-se ali condições subjectivas inexistentes noutros países. A disponibilidade para a luta dos trabalhadores gregos é inseparável de uma herança histórica de sofrimento acumulado desde as lutas contra a ocupação turca no século XIX. Em 1945 a insurreição grega, após a expulsão dos alemães, quase levou ao poder os trabalhadores. Foi a bárbara repressão do exército britânico que restabeleceu a monarquia e impediu há mais de sessenta anos a construção na Grécia de um Poder .

PORTUGAL

País periférico, subdesenvolvido, semi-colonizado, Portugal está há muito desgovernado por forças políticas que se submetem docilmente às imposições do imperialismo e as aplaudem.

As sanguessugas do capital, actuando nem nome da Comissão Europeia e do FMI, proclamam que os trabalhadores devem sacrificar-se, ser compreensivos, apertar o cinto e cumprir todas as exigências da troika para recuperar a confiança dos «mercados». Um sistema mediático perverso e corrupto participa no jogo da mentira. Emite críticas irrelevantes ao funcionamento da engrenagem, mas não contesta o diktat do capital.

O coro dos epígonos, perante o avolumar da indignação popular, teme que ela assuma proporções torrenciais e repete que somos um povo de «brandos costumes», diferente do grego, um povo que compreende a necessidade da «austeridade», consciente de que a superação da crise depende dela.

Incutir nas massas um sentimento de fatalismo é objectivo permanente no massacre mediático. Arrogantes, os sacerdotes do capital bradam que não há alternativa à sua política.

Só pelos caminhos da luta pode ser encontrada a solução para os problemas do nosso povo.

É necessário combater com firmeza a alienação que atinge grande parte da população. É indispensável combater a falsa ideia de que vivemos numa sociedade democrática, porque o regime parlamentar foi legitimado pelo voto popular. É necessário desmontar as campanhas que condenam as greves como anti-patrióticas e as manifestações de protesto como iniciativas românticas, inúteis.

É importante ajudar milhões de portugueses a compreender como foi possível que 38 anos após uma Revolução tão bela como a nossa, o país tenha voltado a ser dominado pela classe que o oprimia na época do fascismo.

Como foi possível o refluxo? A correlação de forças que permitiu as grandes conquistas revolucionárias durante os governos do general Vasco Gonçalves não se alterou de um dia para o outro.

A base social do PS não é mesma do PSD. Mas a direcção do PS tem actuado colectivamente ao serviço do grande capital. Na quase glorificação de Sócrates no Congresso daquele partido, o PS projectou bem a sua imagem. O secretário-geral tinha conduzido o país à beira do abismo com a sua politica neoliberal, mas foi ali aclamado com o herói e salvador. Renovaram-lhe a confiança e ele afundou mais Portugal. Depois ocorreu o esperado. O funcionamento dos mecanismos da ditadura da burguesia de fachada democrática colocou a aliança PSD-CDS de novo no governo. Uma parcela ponderável do eleitorado acreditou que votava por uma mudança. Na realidade limitou-se a accionar o rodízio da alternância no governo de partidos que competem na tarefa de servir os interesses do capital.

Hoje, cabe perguntar: como pode ter chegado a Primeiro-ministro uma criatura como Passos Coelho? O homem é um ser de indigência mental tão transparente que até intelectuais de direita como Pacheco Pereira reconhecem o óbvio.

A maioria do povo acompanha com angústia as cenas da farsa dramática. A contestação á política que está a destruir o país não pára de crescer. Mas é ainda muito insuficiente. As grandes manifestações de protesto e as greves nacionais e sectoriais somente podem abalar o sistema se a luta de massas adquirir um carácter permanente, intenso e diversificado. Nas fábricas, nos transportes, nos portos, nas escolas, na Administração, em múltiplos locais de trabalho, nas ruas.

É evidente que as condições subjectivas não são em Portugal as da Grécia, cujos trabalhadores, caluniados se batem hoje pela humanidade.
O esforço do PCP na luta contra o imobilismo e a alienação tem sido importante como contributo para o aprofundamento da consciência de classe e do nível ideológico da classe trabalhadora. Essa é uma tarefa revolucionária.

Não se deve ceder ao pessimismo. Não se combate a pobreza, o desemprego, a supressão de conquistas sociais baixando os braços.
A luta do povo português é inseparável da luta de outros povos, vítimas de políticas ainda mais cruéis.

É tarefa prioritária desmascarar a monstruosidade das agressões imperiais a países da Ásia e de África, lembrar que nas condições mais adversas, os povos do Iraque, do Afeganistão, da Palestina, da Líbia, entre outros, resistem e se batem contra a barbárie imperialista. A luta dos povos é hoje planetária.

É útil lembrar que o povo cubano, hostilizado pela mais poderosa potência do mundo, defende há mais de meio século a sua revolução com coragem espartana.

É útil lembrar que na América Latina os trabalhadores da Venezuela bolivariana, da Bolívia e do Equador apontam àquele Continente o caminho da luta contra o imperialismo predador.

É oportuno recordar que foram as grandes revoluções que contribuíram decisivamente para o progresso da humanidade. A burguesia francesa apunhalou em 1792 a Revolução por ela concebida e dirigida. Uma lenda negra foi forjada para a satanizar e lhe colar a imagem de um tempo de horrores. Mas, transcorridos mais de dois séculos, é impossível negar que a Revolução Francesa ficou a assinalar uma viragem maravilhosa na caminhada da Humanidade para o futuro.

É também oportuno lembrar que o mesmo ocorreu com a Revolução Russa de Outubro de 1917.O imperialismo festejou como vitória memorável a reimplantação do capitalismo na pátria de Lenine. Falsifica a História. Não há calúnia que possa inverter a realidade; as grandes conquistas dos trabalhadores europeus no século XX surgiram como herança indirecta da Revolução Socialista Russa, a mais progressista da história da Humanidade. Foi o medo do socialismo e do comunismo que forçou as burguesias europeias a conformar-se com conquistas como a jornada das oito horas, as férias pagas, o 13º salário.

Em Portugal é preciso reassumir a esperança que empurra para o combate e a vitória.

Em 1383 e 1640, quando o país estava de rastos e tudo parecia afundar-se, o povo português desafiou o impossível aparente e venceu.
É oportuno não esquecer que, após quase meio século de fascismo, o povo português foi sujeito de uma grande revolução que na Europa Ocidental realizou conquistas mais profundas do que qualquer outra desde a Comuna de Paris.

Vivemos um tempo de pesadelo, com os inimigos do povo novamente encastelados no poder. Mas as sementes de Abril sobreviveram à contra-revolução e depende da nossa gente que elas voltem a germinar nos campos e cidades de Portugal.

O horizonte apresenta-se sombrio. Mas sou optimista. As condições subjectivas para a luta estão a amadurecer embora lentamente.
Karl Marx é, a cada dia, mais actual para a compreensão do choque com a engrenagem trituradora do capital. A alternativa é entre Socialismo ou Barbárie. E o socialismo vencerá!

Obrigado por me ouvirem.
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(*) Comunicação apresentada no Congresso “Marx em Maio”.
(**) A minha concordância com as posições do KKK perante a crise estrutural do capitalismo e concretamente com a estratégia adoptada na luta em curso na Grécia contra a submissão dos governos da burguesia helénica às políticas neoliberais impostas pelo imperialismo não significa que me identifique com algumas das análises e conclusões da Resolução Politica aprovada em 2008 pelo XVIII Congresso daquele Partido.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Exames Nacionais do Ensino Básico

Com a devida vénia, aqui publico o artigo do Sr. Professor Rui Baptista - Os exames nacionais do ensino básico na crista da onda - do DE RERUM NATURA (Blogue)




“Na verdade, a pedagogia que nivela tudo por baixo no intuito de esbater as diferenças tem como consequência tornar ignorantes milhões de pessoas e não privilegiar aqueles que podiam ir para a universidade e para escolas de excelência com professores respeitados e programas rigorosos; é por essa razão que há cada vez mais pessoas a quererem uma escola séria, mais rigorosa, com professores preparados e mais respeitados" (Francesco Alberoni, sociólogo italiano, em entrevista a um jornal português em 2010).


Não sou de mudar facilmente de opinião (embora sabendo a simpatia cómoda em alinhar com Maurice de Tayllerand-Perigord: “A oposição é a arte de estar contra, mas com uma habilidade tal que logo se possa estar a favor”) sem que me demonstrem por a + b estar errado na minha maneira de ver as coisas. Sem querer, de forma alguma, surfar na onda de outras opiniões de académicos que se têm debruçado ultimamente sobre o assunto, como o Desidério e a Helena Damião, não podia deixar de trazer a conhecimento de possíveis leitores, que me possam dispensar, porventura, a atenção da leitura dos meus posts, a minha contribuição, ainda que em simples dever de cidadania, em me debruçar sobre um tema tão polémico como os exames nacionais do ensino básico. De alguns anos para cá.



Sabendo-se que no ensino superior universitário os exames finais e testes intermédios são regra, razão encontro em Séneca: “Um atleta não pode chegar à competição muito motivado se nunca foi posto à prova”. E não será a vida académica, quer se queira ou não, um “corrida de obstáculos”, embora para uns tantos, mais do que devia, demasiado plana por haver em alunos que chegam ao ensino universitário com uma ignorância confrangedora que levou um notabilíssimo catedrático de Letras da Universidade de Coimbra, Aníbal Pinto de Castro, falecido poucos anos atrás, a lançar o alerta, em cerimónia académica pública:“Não destruam. Não cedam. Não tenham medo porque a Universidade não pode ser uma instituição de caridade. Para isso há os asilos e a Mitra. Não pode ser um hospital de alienados” ( “Diário de Coimbra”, 27/11/2005).



A propósito da minha posição pública sobre os exames (não só aqui, mas igualmente em artigos de jornais), transcrevo, de um post do mês passado, aqui publicado, os dois parágrafos iniciais:



“Numa altura em que se continua a polemizar a medida do ministro da Educação, Nuno Crato, de estabelecer exames nacionais para os diversos ciclos do ensino básico, não confundindo eu a canção com os cantores, declaro, desde já, que excluindo à partida exames mal feitos que examinam a ignorância dos directos responsáveis pela sua elaboração, ser a favor desta forma de avaliação que coloca os alunos em igualdade de circunstâncias.



Sem exames que avaliem convenientemente o nível da aprendizagem dos alunos só tarde e a más horas se virá a tomar o pulso à ignorância dos frequentadores do ensino superior em que se substituiu uma cultura e um conhecimento científico, cimentados em estudos aturados, pela pedagogia do facilitismo para não criar traumas nas crianças e jovens”.( "A Polémica Sobre os Exames Nacionais", 26/04/2012).



Mas para que se não pense que é só de hoje a minha tomada de posição sobre esta discutível temática, transcrevo excertos do meu post (aqui publicado), vai para meio decénio. Neles escrevi:



“Só por absurdo, pode passar pela cabeça de alguém conceber um treinador de atletismo a adestrar um atleta para uma maratona olímpica sem que o resultado dos treinos seja sujeito à avaliação de uma cronometragem rigorosa. Pois é precisamente isto que acontece no nosso sistema educativo em que o aluno, por vezes, sai mal preparado por não terem sido avaliadas, em exames nacionais, as suas “performances” que atestem os conhecimentos adquiridos nos diversos e sucessivos patamares até ao 9.º ano de escolaridade. Desta forma, e a partir daí, é o aluno lançado nas pistas da exigente competição do ensino secundário (antecâmara de acesso ao ensino superior) em que corre o risco de cortar a linha da meta nos últimos lugares com os bofes do desânimo a saltarem-lhe da boca para fora. Outras vezes, nem sequer termina a prova, desistindo a meio e engrossando, assim, as percentagens do insucesso escolar.

Ter a decantada avaliação contínua isenta de qualquer crítica, passando-lhe um cheque em branco em assunto tão sério, transforma a educação num embuste de proporções nacionais que pode servir para denegrir os que devem ser honrados e honrar os que devem ser denegridos”.
("A resistência do 'eduquês' aos exames nacionais", 10/08/2007).



Quanto a mim, tudo isto acontece num sistema educativo abrindo brechas por todos os lados por falta de alicerces de uma boa “instrução primária”, e em que o ensino secundário é, até ver, o único pilar sólido, e em que o próprio ensino superior não pode deixar de ser posto em causa ao dar acesso a ignorantes vítimas das muitas reformas no sector da Educação que, de há anos para cá, se tem sucedido em operações de simples cosmética, a exemplo do carmim para disfarçar a brancura doentia que empalidece a tez de anémica donzela. Claro que para um sistema educativo deste jaez, o segredo tem sido a alma do negócio, como soe dizer-se. Mas de que vale continuar a chorar sobre o leite derramado sem atormentar consciências de tutelas passadas de um sistema educativo prenhe de maleitas em que o simples termómetro dos exames foi dispensado para registar sinais febris?



Mas não serão os exames (os bons exames porque, como refere Jean Jaurés,“atingir o ideal é compreender o real”) uma forma de evitar que se habite um edifício em ruínas para que os seus inquilinos não entrem nele ignorantes e dele saiam ignorantes? Ou que, mesmo durante o seu arrendamento (em que as propinas tanto pesam nos magros bolsos das famílias), fiquem soterrados sob os escombros de uma permissividade criminosa de um ensino desaprumado de há anos para cá?



Para finalizar, e a bem da verdade, é da mais elementar justiça dar o destaque devido a um post de Carlos Fiolhais, aqui publicado, praticamente um mês antes do meu último aqui citado, sobre este temática, intitulado “Os Exames Prejudicam o Ensino da Matemática” (13/07/2007). Transcrevo o seu parágrafo derradeiro: “ Os alunos não sabem nada? Não estão preparados para a vida? Pois muito bem, a solução mais fácil - e também a pior - consiste em acabar com a maneira de se saber que eles não sabem. Se ignorarmos o problema, passa a não haver problema nenhum. Ah, como seria fácil o ensino em Portugal sem quaisquer exames…”



Pela sua contundência, entendo ser este um argumento essencial a ter em devida conta na defesa dos exames! Agora se persistirem na falácia de não diferenciarem os bons dos maus exames (como se ambos fossem coisas iguais) duvido que não venha a tornar-me personagem das palavras de Eça: “Não é um vencido que se retira; é um enfastiado que se safa”!







segunda-feira, 7 de maio de 2012

Portugal chumba no combate à corrupção





É triste mas não me surpreendeu nem surpreende o artigo que li no EXPRESSO de 5 deste mês.


Concordo absolutamente com o mesmo, sobretudo, com a falta de vontade política e de um maior empenhamento dos governos que deveriam considerar este combate como prioritário. Dos governos, das instituições e das pessoas que lá colocam, e que tantas vezes fecham os olhos a uma matéria que cada vez mais corrompe o sistema judicial e a Economia, as Finanças Públicas, e que cada vez mais mina a equidade social e os valores do Estado de Direito que queremos ver na prática defendidos.



A corrupção existe e sempre existiu mas não tem de existir como (mais uma) inevitabilidade "do sistema".

É verdade: somos muito permissivos, pouco atuantes relativamente às incompetências que grassam por aí e aos incompetentes que continuam a singrar na vida à custa da nossa inação e do nosso silêncio, embora revoltados, mas que, desse modo, diferença não fará ou mudanças não trará.

Na corrupção como noutras áreas que da nossa intervenção cívica carecem, mesmo com a facilidade que a Internet nos coloca... os portugueses queixam-se, vociferam, acusam mas nada ou quase nada fazem. Nem sequer utilizam os "livros de reclamações", sempre ao seu dispor em todos os locais de atendimento, público, privado...

Temos muito parlapié, sim, mas quando chega a hora da verdade, de testemunhar (por exemplo) ou de denunciar algo que a nossos olhos é, claramente, danoso quer para o país quer para a comunidade na qual estamos integrados, parece que fugimos quando é necessário "dar a cara", marcar a diferença pelas palavras e pelos atos.

E enquanto isso, os corruptos vão-se enchendo e vivendo, "cantando e rindo" ao ritmo da nossa estúpida e natural aceitação de que a corrupção, tal como outras pragas sociais, é horrível, mas que, claro, alguém tratará dela.

É a velha máxima sobre a acomodação do nosso povo: alguém fará, alguém virá, alguém telefonará... É sempre mais fácil criticar ou mandar fazer, ainda que tardiamente, do que agir prontamente e tentar fazer parte da solução para resolver o problema.

De tão entranhadas que estão na nossa prática cívica, tão acomodada, ainda não nos apercebemos que tudo isto continuará enquanto todos não assumirem que a responsabilidade do Estado da Nação a todos compete. Sobretudo, do roubo da Nação.

Luís Sousa, investigador do Instituto de Ciências Sociais e politólogo, responsável pela primeira radiografia nacional feita aos mecanismos de combate à corrupção existentes em Portugal - seguindo o modelo de investigação aplicado em mais 25 países e cujos resultados podem servir de comparação, este investigador, no seu estudo "Sistema Nacional de Integridade", parte da análise de "13 pilares da sociedade com responsabilidades diretas ou indiretas no combate à corrupção" e avalia os resultados do seu trabalho. Do Parlamento ao Governo, passando pelos tribunais e sistema judicial, Administração Pública, partidos políticos ou empresas, tudo foi analisado. Mas a lista fica completa com a Comissão Nacional de Eleições, o provedor de Justiça, Tribunal de Contas, Organismos especializados de combate à corrupção, comunicação social e sociedade civil.

Sim, a Sociedade Civil. Nós. E, lamentavelmente, refere que "com mais ou menos variações conforme a estrutura analisada (as conclusões) apontam para uma generalizada falha dos mecanismos de prevenção e combate à corrupção no país. Isto apesar de os portugueses terem uma forte perceção do fenómeno (97% acha que esse é um problema grave) e de o assunto ter ganho relevância no discurso político dos últimos anos, integrando programas eleitorais e motivando iniciativas legislativas no Parlamento. Tanta relevância que foram criados novos mecanismos de controlo - desde as alterações da lei de financiamento político à criação do Conselho de Prevenção da Corrupção."

 Mas, digo eu, de que vale criar organismos cuja prática não tem sido a mais eficaz? E por que é que o não tem sido? Por que é que os resultados a isso nos levam?

 Olhe-se para a lei do financiamento dos partidos! Ou até para o que (não) tem sido feito relativamente à evasão fiscal, ao enriquecimento ilícito e ao branqueamento de capitais...

Caramba, já estava na hora de dar prioridade aquilo que de facto merece prioridade, neste caso, o combate aos corruptos e à corrupção!

Um combate que, garantidamente , bem travado, teria evitado o descalabro que aconteceu quando, criminosamente, o governo decide roubar os míseros euros dos míseros salários dos coitados do costume, argumentando ora com troika ora com défice, e isto sem falar do que não tiram nunca a quem sempre em dinheiro nadou!

 nazaré oliveira

As touradas de certos autarcas

Li estas notícias: http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=549375&tm=8&layout=121&visual=49


 Mas quem é que delegou nestes “senhores” autoridade moral e cultural para decidir isto?

Uma questão tão séria e tão importante não pode “entregar-se”, assim, a “políticos” que fizeram dos lobbys e organizações ligadas à tauromaquia a sua rampa de lançamento na “política”, sobretudo a autárquica, e graças às quais se conseguiram fazer eleger nas suas santas terrinhas, com campanhas escandalosamente apoiadas por dinheiros que das touradas e dos velhos e retrógrados caciques vinham.

Qual servo perante o seu senhor, de forma rastejante, asquerosa, perigosamente acéfala e vergonhosamente imoral, retribuem as benesses recebidas nas campanhas eleitorais com estas decisões que enojam, tanto pela apropriação gratuita, indevida e obscena que fazem da expressão PATRIMÓNIO CULTURAL, como pela forma como, de uma violência psicológica sem limites, utilizam a expressão INTERESSE MUNICIPAL!

Mas o que é isto, meus senhores?

Isto é mais um exemplo, triste, muito triste, da nossa Política! Da nossa Política e do atraso do nosso país! Atraso mental, moral, ético… Conservadorismo e fascismo encapotados, sobretudo nas terras “pequenas” onde meia dúzia de caciques e meia dúzia de “jagunços” controlam tudo e todos, como no tempo da PIDE, agora com outros nomes, sim, mas com os mesmos objetivos: zelar “pela ordem da terra”, “pelos valores da terra”, “pela tradição”, “a bem da Nação”.

O fascismo em Portugal continua à espreita! O fascismo encapotado continua à espreita, sobretudo em terras pequenas como aquelas onde as relações de proximidade e de vizinhança, infelizmente, acabam por levar muitos dos que são contra a calar bem fundo a sua posição e a sua revolta com medo de represálias por parte dos “detentores do poder” mas, sobretudo, dos "padrinhos do poder".

Isto não pode continuar assim! Que raio de país, este, que permite estas aberrações, estes atropelos à democracia, estas exceções à lei?

Mesmo a vergonha e o “crime autorizado” cometido com “a decisão de Barrancos” tem que ser revisto! Não pode ser! Não podemos continuar a assistir passivamente a crimes sem castigo – caso da tortura de animais nas touradas (touros e cavalos) - e à apropriação da palavra TRADIÇÃO e PATRIMÓNIO CULTURAL E LOCAL como se isso bastasse para justificar e fundamentar a violência, crueldade e horrores cometidos contra quem quer que seja, muito menos, contra seres indefesos barbaramente assassinados e barbara e longamente preparados para o “espetáculo”.

“Espetáculo” para gáudio de uma multidão sádica que enche cada vez menos as bancadas das arenas mas cada vez mais os bolsos daqueles lobbys, contribuindo  para o gozo de gente perversa (toureiros, ex-toureiros, ganadeiros, forcados e outros), claramente demonstrativo de evidentes perturbações de personalidade e de afirmação familiar e social.

Trata-se, sem dúvida, de comportamentos desviantes, potencialmente perigosos e cada vez mais notórios, quer pelo semblante que apresentam, boçais, prepotentes, machistas, olhando-nos do alto da sua pequenez (física e intelectual), quer pelas entrevistas que dão “no aconchego do seu lar”, nas TVs, revistazecas, rodeados das suas famílias estrategicamente sentadas em torno “do artista”, com poses ensaiadas de “gente cristã, benta e santa”, como se um serviço a Deus fizessem e o bem no Mundo espalhassem!

Tenham vergonha! Peguem numa enxada e trabalhem a terra que durante 48 anos muitos dos vossos avós, bisavós e trisavós roubaram aos trabalhadores esfomeados das suas herdades (caso do Ribatejo) a troco de humilhações, medo e repressão!

Tenham vergonha, toureiros e afins, e façam verdadeiramente um trabalho digno desse nome!

Tenham vergonha também vocês, povo dessas terras que apoia estes espetáculos cruéis de sangue e dor!

Tenham vergonha da vossa memória curta e do quanto sofreram os vossos familiares às mãos dos grandes latifundiários que, agora, através da geração de abutres que deixaram, continuam a perpetuar essas “boas prática democráticas” e a roubar-vos, no mínimo, o direito à livre expressão do pensamento!

 Há Presidentes de Câmara que metem nojo pela prepotência que têm demostrado ao longo do(s) seu(s) mandato(s) em tudo quanto decidem ou obrigam a decidir, mas, também há autarcas medíocres nas Assembleias Municipais, completamente vendidos a esses lobbys, cujo poder temem, ou não estejam eles lá à sua custa!

Nessas, como em muitas terras, cada vez impera mais o caciquismo na compra dos votos e até na elaboração das listas partidárias e da feitura dos programas!

Numa posição de claro desrespeito para com os eleitores e a Ética e Moral Política, esconderam propositadamente dos seus conteúdos programáticos a sua posição face às touradas e face à proteção dos animais.

URGENTE:

UM REFERENDO EM PORTUGAL SOBRE ESTA VERGONHA QUE NOS ENVERGONHA!

O povo é quem mais ordena!


Nazaré Oliveira

domingo, 6 de maio de 2012

Nova esperança na luta contra o cancro

Esta semana a Ciência trouxe-nos nova esperança na luta contra o cancro. Um importante estudo liderado por dois investigadores portugueses foi publicado na revista Nature.Trata-se do maior estudo global de genes de amostras de cancro já feito!

Obrigada, Professor Hélio Dias, pela partilha!

















Mãe todos os dias

Um poema de Manuel Bandeira que musiquei e cantei tantas vezes para o meu filho, quando o embalava, serena e docemente, com amor, muito amor.
Amor para sempre. Todos os dias.

Dorme, meu filhinho,
Dorme sossegado.
Dorme, que a teu lado
Cantarei baixinho.
O dia não tarda...
Vai amanhecer:
Como é frio o ar!
O anjinho da guarda
Que o Senhor te deu,
Pode adormecer,
Pode descansar,
Que te guardo eu.


Maternidade (quadro de Pablo Picasso)