É triste mas não me surpreendeu nem
surpreende o artigo que li no EXPRESSO de 5 deste mês.
Concordo
absolutamente com o mesmo, sobretudo, com a falta de vontade política e de um
maior empenhamento dos governos que deveriam considerar este combate como
prioritário. Dos governos, das instituições e das pessoas que lá colocam, e que
tantas vezes fecham os olhos a uma matéria que cada vez mais corrompe o sistema
judicial e a Economia, as Finanças Públicas, e que cada vez mais mina a
equidade social e os valores do Estado de Direito que queremos ver na prática
defendidos.
A corrupção
existe e sempre existiu mas não tem de existir como (mais uma) inevitabilidade
"do sistema".
É verdade:
somos muito permissivos, pouco atuantes relativamente às incompetências que
grassam por aí e aos incompetentes que continuam a singrar na vida à custa da
nossa inação e do nosso silêncio, embora revoltados, mas que, desse modo, diferença não
fará ou mudanças não trará.
Na corrupção
como noutras áreas que da nossa intervenção cívica carecem, mesmo com a
facilidade que a Internet nos coloca... os portugueses queixam-se, vociferam,
acusam mas nada ou quase nada fazem. Nem sequer utilizam os "livros de
reclamações", sempre ao seu dispor em todos os locais de atendimento,
público, privado...
Temos muito parlapié,
sim, mas quando chega a hora da verdade, de testemunhar (por exemplo) ou de
denunciar algo que a nossos olhos é, claramente, danoso quer para o país quer para a comunidade na qual estamos integrados, parece que fugimos quando é
necessário "dar a cara", marcar a diferença pelas palavras e pelos
atos.
E enquanto
isso, os corruptos vão-se enchendo e vivendo, "cantando e rindo" ao
ritmo da nossa estúpida e natural aceitação de que a corrupção, tal como outras
pragas sociais, é horrível, mas que, claro, alguém tratará dela.
É a velha
máxima sobre a acomodação do nosso povo: alguém fará, alguém virá, alguém
telefonará... É sempre mais fácil criticar ou mandar fazer, ainda que
tardiamente, do que agir prontamente e tentar fazer parte da solução para
resolver o problema.
De tão
entranhadas que estão na nossa prática cívica, tão acomodada, ainda não nos
apercebemos que tudo isto continuará enquanto todos não assumirem que a
responsabilidade do Estado da Nação a todos compete. Sobretudo, do roubo da
Nação.
Luís Sousa,
investigador do Instituto de Ciências Sociais e politólogo, responsável pela
primeira radiografia nacional feita aos mecanismos de combate à corrupção
existentes em Portugal - seguindo o modelo de investigação aplicado em mais 25
países e cujos resultados podem servir de comparação, este investigador, no seu
estudo "Sistema Nacional de Integridade", parte da análise de
"13 pilares da sociedade com responsabilidades diretas ou indiretas no
combate à corrupção" e avalia os resultados do seu trabalho. Do Parlamento
ao Governo, passando pelos tribunais e sistema judicial, Administração Pública,
partidos políticos ou empresas, tudo foi analisado. Mas a lista fica completa
com a Comissão Nacional de Eleições, o provedor de Justiça, Tribunal de Contas,
Organismos especializados de combate à corrupção, comunicação social e
sociedade civil.
Sim, a
Sociedade Civil. Nós. E, lamentavelmente, refere que "com mais ou menos
variações conforme a estrutura analisada (as conclusões) apontam para uma
generalizada falha dos mecanismos de prevenção e combate à corrupção no país.
Isto apesar de os portugueses terem uma forte perceção do fenómeno (97% acha
que esse é um problema grave) e de o assunto ter ganho relevância no discurso
político dos últimos anos, integrando programas eleitorais e motivando
iniciativas legislativas no Parlamento. Tanta relevância que foram criados
novos mecanismos de controlo - desde as alterações da lei de financiamento
político à criação do Conselho de Prevenção da Corrupção."
Caramba, já
estava na hora de dar prioridade aquilo que de facto merece prioridade, neste
caso, o combate aos corruptos e à corrupção!
Um combate
que, garantidamente , bem travado, teria evitado o descalabro que aconteceu
quando, criminosamente, o governo decide roubar os míseros euros dos míseros
salários dos coitados do costume, argumentando ora com troika ora com défice, e
isto sem falar do que não tiram nunca a quem sempre em dinheiro nadou!