quinta-feira, 10 de maio de 2012

Exames Nacionais do Ensino Básico

Com a devida vénia, aqui publico o artigo do Sr. Professor Rui Baptista - Os exames nacionais do ensino básico na crista da onda - do DE RERUM NATURA (Blogue)




“Na verdade, a pedagogia que nivela tudo por baixo no intuito de esbater as diferenças tem como consequência tornar ignorantes milhões de pessoas e não privilegiar aqueles que podiam ir para a universidade e para escolas de excelência com professores respeitados e programas rigorosos; é por essa razão que há cada vez mais pessoas a quererem uma escola séria, mais rigorosa, com professores preparados e mais respeitados" (Francesco Alberoni, sociólogo italiano, em entrevista a um jornal português em 2010).


Não sou de mudar facilmente de opinião (embora sabendo a simpatia cómoda em alinhar com Maurice de Tayllerand-Perigord: “A oposição é a arte de estar contra, mas com uma habilidade tal que logo se possa estar a favor”) sem que me demonstrem por a + b estar errado na minha maneira de ver as coisas. Sem querer, de forma alguma, surfar na onda de outras opiniões de académicos que se têm debruçado ultimamente sobre o assunto, como o Desidério e a Helena Damião, não podia deixar de trazer a conhecimento de possíveis leitores, que me possam dispensar, porventura, a atenção da leitura dos meus posts, a minha contribuição, ainda que em simples dever de cidadania, em me debruçar sobre um tema tão polémico como os exames nacionais do ensino básico. De alguns anos para cá.



Sabendo-se que no ensino superior universitário os exames finais e testes intermédios são regra, razão encontro em Séneca: “Um atleta não pode chegar à competição muito motivado se nunca foi posto à prova”. E não será a vida académica, quer se queira ou não, um “corrida de obstáculos”, embora para uns tantos, mais do que devia, demasiado plana por haver em alunos que chegam ao ensino universitário com uma ignorância confrangedora que levou um notabilíssimo catedrático de Letras da Universidade de Coimbra, Aníbal Pinto de Castro, falecido poucos anos atrás, a lançar o alerta, em cerimónia académica pública:“Não destruam. Não cedam. Não tenham medo porque a Universidade não pode ser uma instituição de caridade. Para isso há os asilos e a Mitra. Não pode ser um hospital de alienados” ( “Diário de Coimbra”, 27/11/2005).



A propósito da minha posição pública sobre os exames (não só aqui, mas igualmente em artigos de jornais), transcrevo, de um post do mês passado, aqui publicado, os dois parágrafos iniciais:



“Numa altura em que se continua a polemizar a medida do ministro da Educação, Nuno Crato, de estabelecer exames nacionais para os diversos ciclos do ensino básico, não confundindo eu a canção com os cantores, declaro, desde já, que excluindo à partida exames mal feitos que examinam a ignorância dos directos responsáveis pela sua elaboração, ser a favor desta forma de avaliação que coloca os alunos em igualdade de circunstâncias.



Sem exames que avaliem convenientemente o nível da aprendizagem dos alunos só tarde e a más horas se virá a tomar o pulso à ignorância dos frequentadores do ensino superior em que se substituiu uma cultura e um conhecimento científico, cimentados em estudos aturados, pela pedagogia do facilitismo para não criar traumas nas crianças e jovens”.( "A Polémica Sobre os Exames Nacionais", 26/04/2012).



Mas para que se não pense que é só de hoje a minha tomada de posição sobre esta discutível temática, transcrevo excertos do meu post (aqui publicado), vai para meio decénio. Neles escrevi:



“Só por absurdo, pode passar pela cabeça de alguém conceber um treinador de atletismo a adestrar um atleta para uma maratona olímpica sem que o resultado dos treinos seja sujeito à avaliação de uma cronometragem rigorosa. Pois é precisamente isto que acontece no nosso sistema educativo em que o aluno, por vezes, sai mal preparado por não terem sido avaliadas, em exames nacionais, as suas “performances” que atestem os conhecimentos adquiridos nos diversos e sucessivos patamares até ao 9.º ano de escolaridade. Desta forma, e a partir daí, é o aluno lançado nas pistas da exigente competição do ensino secundário (antecâmara de acesso ao ensino superior) em que corre o risco de cortar a linha da meta nos últimos lugares com os bofes do desânimo a saltarem-lhe da boca para fora. Outras vezes, nem sequer termina a prova, desistindo a meio e engrossando, assim, as percentagens do insucesso escolar.

Ter a decantada avaliação contínua isenta de qualquer crítica, passando-lhe um cheque em branco em assunto tão sério, transforma a educação num embuste de proporções nacionais que pode servir para denegrir os que devem ser honrados e honrar os que devem ser denegridos”.
("A resistência do 'eduquês' aos exames nacionais", 10/08/2007).



Quanto a mim, tudo isto acontece num sistema educativo abrindo brechas por todos os lados por falta de alicerces de uma boa “instrução primária”, e em que o ensino secundário é, até ver, o único pilar sólido, e em que o próprio ensino superior não pode deixar de ser posto em causa ao dar acesso a ignorantes vítimas das muitas reformas no sector da Educação que, de há anos para cá, se tem sucedido em operações de simples cosmética, a exemplo do carmim para disfarçar a brancura doentia que empalidece a tez de anémica donzela. Claro que para um sistema educativo deste jaez, o segredo tem sido a alma do negócio, como soe dizer-se. Mas de que vale continuar a chorar sobre o leite derramado sem atormentar consciências de tutelas passadas de um sistema educativo prenhe de maleitas em que o simples termómetro dos exames foi dispensado para registar sinais febris?



Mas não serão os exames (os bons exames porque, como refere Jean Jaurés,“atingir o ideal é compreender o real”) uma forma de evitar que se habite um edifício em ruínas para que os seus inquilinos não entrem nele ignorantes e dele saiam ignorantes? Ou que, mesmo durante o seu arrendamento (em que as propinas tanto pesam nos magros bolsos das famílias), fiquem soterrados sob os escombros de uma permissividade criminosa de um ensino desaprumado de há anos para cá?



Para finalizar, e a bem da verdade, é da mais elementar justiça dar o destaque devido a um post de Carlos Fiolhais, aqui publicado, praticamente um mês antes do meu último aqui citado, sobre este temática, intitulado “Os Exames Prejudicam o Ensino da Matemática” (13/07/2007). Transcrevo o seu parágrafo derradeiro: “ Os alunos não sabem nada? Não estão preparados para a vida? Pois muito bem, a solução mais fácil - e também a pior - consiste em acabar com a maneira de se saber que eles não sabem. Se ignorarmos o problema, passa a não haver problema nenhum. Ah, como seria fácil o ensino em Portugal sem quaisquer exames…”



Pela sua contundência, entendo ser este um argumento essencial a ter em devida conta na defesa dos exames! Agora se persistirem na falácia de não diferenciarem os bons dos maus exames (como se ambos fossem coisas iguais) duvido que não venha a tornar-me personagem das palavras de Eça: “Não é um vencido que se retira; é um enfastiado que se safa”!