Com a devida vénia, aqui publico o
artigo do Sr. Professor Rui Baptista - Os exames nacionais do ensino básico na crista da onda - do DE RERUM NATURA (Blogue)
Não sou de mudar facilmente de opinião (embora sabendo a simpatia cómoda em alinhar com Maurice de Tayllerand-Perigord: “A oposição é a arte de estar contra, mas com uma habilidade tal que logo se possa estar a favor”) sem que me demonstrem por a + b estar errado na minha maneira de ver as coisas. Sem querer, de forma alguma, surfar na onda de outras opiniões de académicos que se têm debruçado ultimamente sobre o assunto, como o Desidério e a Helena Damião, não podia deixar de trazer a conhecimento de possíveis leitores, que me possam dispensar, porventura, a atenção da leitura dos meus posts, a minha contribuição, ainda que em simples dever de cidadania, em me debruçar sobre um tema tão polémico como os exames nacionais do ensino básico. De alguns anos para cá.
“Na
verdade, a pedagogia que nivela tudo por baixo no intuito de esbater as
diferenças tem como consequência tornar ignorantes milhões de pessoas e não
privilegiar aqueles que podiam ir para a universidade e para escolas de
excelência com professores respeitados e programas rigorosos; é por essa razão
que há cada vez mais pessoas a quererem uma escola séria, mais rigorosa, com
professores preparados e mais respeitados" (Francesco Alberoni, sociólogo italiano, em entrevista a um jornal
português em 2010).
Não sou de mudar facilmente de opinião (embora sabendo a simpatia cómoda em alinhar com Maurice de Tayllerand-Perigord: “A oposição é a arte de estar contra, mas com uma habilidade tal que logo se possa estar a favor”) sem que me demonstrem por a + b estar errado na minha maneira de ver as coisas. Sem querer, de forma alguma, surfar na onda de outras opiniões de académicos que se têm debruçado ultimamente sobre o assunto, como o Desidério e a Helena Damião, não podia deixar de trazer a conhecimento de possíveis leitores, que me possam dispensar, porventura, a atenção da leitura dos meus posts, a minha contribuição, ainda que em simples dever de cidadania, em me debruçar sobre um tema tão polémico como os exames nacionais do ensino básico. De alguns anos para cá.
Sabendo-se que no ensino superior universitário os
exames finais e testes intermédios são regra, razão encontro em Séneca: “Um atleta não pode chegar à competição
muito motivado se nunca foi posto à prova”. E não será a vida académica,
quer se queira ou não, um “corrida de obstáculos”, embora para uns tantos, mais
do que devia, demasiado plana por haver em alunos que chegam ao ensino
universitário com uma ignorância confrangedora que levou um notabilíssimo
catedrático de Letras da Universidade de Coimbra, Aníbal Pinto de Castro,
falecido poucos anos atrás, a lançar o alerta, em cerimónia académica pública:“Não destruam. Não cedam.
Não tenham medo porque a Universidade não pode ser uma instituição de caridade.
Para isso há os asilos e a Mitra. Não pode ser um hospital de alienados” ( “Diário de Coimbra”, 27/11/2005).
A propósito da minha posição pública sobre os exames
(não só aqui, mas igualmente em artigos de jornais), transcrevo, de um post do mês passado, aqui publicado,
os dois parágrafos iniciais:
“Numa altura em que se
continua a polemizar a medida do ministro da Educação, Nuno Crato, de
estabelecer exames nacionais para os diversos ciclos do ensino básico, não
confundindo eu a canção com os cantores, declaro, desde já, que excluindo à
partida exames mal feitos que examinam a ignorância dos directos responsáveis
pela sua elaboração, ser a favor desta forma de avaliação que coloca os alunos
em igualdade de circunstâncias.
Sem exames que avaliem
convenientemente o nível da aprendizagem dos alunos só tarde e a más horas se
virá a tomar o pulso à ignorância dos frequentadores do ensino superior em que
se substituiu uma cultura e um conhecimento científico, cimentados em estudos
aturados, pela pedagogia do facilitismo para não criar traumas nas crianças e
jovens”.( "A Polémica Sobre os Exames Nacionais", 26/04/2012).
Mas para que se não pense que é só de hoje a minha
tomada de posição sobre esta discutível temática, transcrevo excertos do meu
post (aqui publicado), vai para meio decénio. Neles escrevi:
“Só por
absurdo, pode passar pela cabeça de alguém conceber um treinador de atletismo a
adestrar um atleta para uma maratona olímpica sem que o resultado dos treinos
seja sujeito à avaliação de uma cronometragem rigorosa. Pois é precisamente
isto que acontece no nosso sistema educativo em que o aluno, por vezes, sai mal
preparado por não terem sido avaliadas, em exames nacionais, as suas
“performances” que atestem os conhecimentos adquiridos nos diversos e
sucessivos patamares até ao 9.º ano de escolaridade. Desta forma, e a partir
daí, é o aluno lançado nas pistas da exigente competição do ensino secundário
(antecâmara de acesso ao ensino superior) em que corre o risco de cortar a
linha da meta nos últimos lugares com os bofes do desânimo a saltarem-lhe da
boca para fora. Outras vezes, nem sequer termina a prova, desistindo a meio e
engrossando, assim, as percentagens do insucesso escolar.
Ter a decantada avaliação contínua isenta de qualquer crítica, passando-lhe um cheque em branco em assunto tão sério, transforma a educação num embuste de proporções nacionais que pode servir para denegrir os que devem ser honrados e honrar os que devem ser denegridos”.("A resistência do 'eduquês' aos exames nacionais", 10/08/2007).
Ter a decantada avaliação contínua isenta de qualquer crítica, passando-lhe um cheque em branco em assunto tão sério, transforma a educação num embuste de proporções nacionais que pode servir para denegrir os que devem ser honrados e honrar os que devem ser denegridos”.("A resistência do 'eduquês' aos exames nacionais", 10/08/2007).
Quanto a mim, tudo isto acontece num
sistema educativo abrindo brechas por todos os lados por falta de alicerces de
uma boa “instrução primária”, e em que o ensino secundário é, até ver, o único
pilar sólido, e em que o próprio ensino superior não pode deixar de ser posto
em causa ao dar acesso a ignorantes vítimas das muitas reformas no sector da
Educação que, de há anos para cá, se tem sucedido em operações de simples cosmética,
a exemplo do carmim para disfarçar a brancura doentia que empalidece a tez de
anémica donzela. Claro que para um sistema educativo deste jaez, o segredo tem
sido a alma do negócio, como soe dizer-se. Mas de que vale continuar a chorar
sobre o leite derramado sem atormentar consciências de tutelas passadas de um
sistema educativo prenhe de maleitas em que o simples termómetro dos exames foi
dispensado para registar sinais febris?
Mas não serão os exames (os bons
exames porque, como refere Jean Jaurés,“atingir
o ideal é compreender o real”) uma forma de evitar que se habite um
edifício em ruínas para que os seus inquilinos não entrem nele ignorantes e
dele saiam ignorantes? Ou que, mesmo durante o seu arrendamento (em que as
propinas tanto pesam nos magros bolsos das famílias), fiquem soterrados sob os
escombros de uma permissividade criminosa de um ensino desaprumado de há anos
para cá?
Para finalizar, e a bem da verdade, é
da mais elementar justiça dar o destaque devido a um post de Carlos Fiolhais, aqui publicado, praticamente um mês
antes do meu último aqui citado, sobre este temática, intitulado “Os Exames
Prejudicam o Ensino da Matemática” (13/07/2007). Transcrevo o seu parágrafo
derradeiro: “ Os alunos não sabem
nada? Não estão preparados para a vida? Pois muito bem, a solução mais fácil -
e também a pior - consiste em acabar com a maneira de se saber que eles não
sabem. Se ignorarmos o problema, passa a não haver problema nenhum. Ah, como
seria fácil o ensino em Portugal sem quaisquer exames…”
Pela sua contundência, entendo ser
este um argumento essencial a ter em devida conta na defesa dos exames! Agora
se persistirem na falácia de não diferenciarem os bons dos maus exames (como se
ambos fossem coisas iguais) duvido que não venha a tornar-me personagem das
palavras de Eça: “Não é um vencido que
se retira; é um enfastiado que se safa”!