sexta-feira, 24 de junho de 2011

Um comentário sobre a Ordem dos Professores


“A profissão docente é a corporação mais necessária, mais esforçada e generosa, mais civilizadora de quantos trabalham para satisfazer as exigências de um Estado democrático” (Fernando Savater, catedrático de Ética da Universidade do País Basco).


A necessidade da criação de uma Ordem dos Professores era, até há pouco, apenas sussurrada entre uns tantos elementos da classe docente. Nos dias de hoje, em que os professores passaram a ter constante acesso à Internet avolumam-se os comentários favoráveis à respectiva criação.

A prova disso está na transcrição parcial que aqui faço - como uma ponta de orgulho que uns compreenderão e outros não, mas pouco me importam estes - de um comentário (23. Junho 10:27), publicado no meu post “A formação de professores nos ensinos universitário e politécnico” (21/06/2011). Escreveu o seu autor:

“Se quer que lhe diga, até tenho medo do meu optimismo, quanto maior o voo maior a queda. Mas é esta a minha natureza e estou optimista. Se um dia as gerações futuras tiverem o privilégio de, no final de uma licenciatura de qualidade, inscreverem-se na Ordem para depois exercerem funções docentes, e outras, se esse dia chegar em nossas vidas - teria o maior prazer em o comemorar consigo. Aliás, seria uma honra!"

Em balanço de memória, perdi a conta de posts e artigos de opinião de jornais que escrevi em defesa da criação da Ordem dos Professores (OP), de palestras que proferi, de deslocações à Assembleia da República com esse destino, de conversas amenas que tive com crentes e polémicas com infiéis para que, entre outras coisas, os docentes deixassem de ser servos em mãos governamentais ou títeres de palcos sindicais, uma espécie de mercenários preocupados apenas com questões salariais e horários de trabalho, como só de pão vivesse o homem.

Aliás, é esta a perspectiva defendida por professores que fizeram de um sindicalismo puro e duro do século XIX a sua profissão, depois de terem vendido escassos meses ou parcos anos de aulas. Esta uma das muitas causas, como é fácil depreender, da guerra sem quartel, e usando todos os meios, desencadeada contra a criação da OP. A título de mero exemplo, a Fenprof, anos atrás, defendia que “o campo de intervenção de uma ordem restringe-se ao plano das questões éticas e deontológicas que não são, para já, questões centrais das preocupações dos professores”. E para fundamentar aquilo que dizia ser (mas não é) um arrabalde das preocupações dos professores, acrescentava em ocupação abusiva da finalidade de um OP, por si "decretada" acima: ”Os Sindicatos dos Professores têm sido e continuarão a ser espaços de análise e discussão das questões da Ética e Deontologia da profissão”. Mas esta espécie de sindicalismo que diz e se desdiz já teve melhor dias de cofres cheios quando, por exemplo, aceitavam quotas de curiosos sem qualquer curso ou em vias de o terminar que viam na docência uma forma de ganhar a vida enquanto lhes não aparecia nada mais rendoso.

Do que me lembro, a luta que tenho mantido em prol dessa criação ascende, talvez, a mais de três ou quatro décadas. Hoje aposentado, depois de mais de 40 anos de serviço, tenho a meu favor o facto de nunca, por nunca, me moveram interesses pessoais ou de simples penacho. No dia (um dia apenas adiado) em que for criada a OP, a honra é de todos nós que nos fizemos seus defensores intransigentes, rejubilarei pela sua criação e sentir-me-ei recompensado pela companhia daqueles professores que sempre defenderam o interesse público de uma das mais nobres, exigentes e prestigiadas profissões.

Obrigado, meu caro HR, pelo seu comentário. Ele, quase por si só, salda as horas por mim consumidas em madrugadas insones e sem fim, por exemplo, na elaboração dos respectivos estatutos e de um livro sobre esta temática. Sem o cunho pós-revolucionário que lhe foi dado décadas atrás: A LUTA CONTINUA!


Na imagem: Capa do meu livro "Do Caos à Ordem dos Professores", edição do SNPL, Lisboa - Janeiro/2004.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Mas que fresca mondadeira...


Das composições mais lindas da música portuguesa! Numa das vozes mais lindas que existem - Teresa Silva Carvalho.
Para ouvir SEMPRE!

Por quem os sinos dobram

Obra-prima!
Em 1937, Ernest Hemingway decidiu ir para Madrid, a fim de aí realizar algumas reportagens sobre a resistência do governo legítimo de Espanha ao avanço dos revoltosos fascistas. Três anos mais tarde, concluiria a elaboração do mais famoso romance sobre a guerra civil de Espanha, Por Quem os Sinos Dobram. A história de Robert Jordan, um jovem americano das Brigadas Internacionais, membro de uma unidade guerrilheira que combate algures numa zona montanhosa, é uma história de coragem e lealdade, de amor e derrota, que acabou por constituir um dos mais belos romances de guerra do século XX.
«Se a função de um escritor é revelar a realidade», escreveria o editor Maxwell Perkins em carta dirigida a Hemingway após ter concluído a leitura do seu manuscrito, «nunca ninguém o fez melhor do que você.»

Jackson Pollock



Abstracção

"Nós somos um"

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Exames nacionais 2011



Ansiedade, nervosismo, confiança, medo do fracasso, expectativas... o momento esperado já chegou. Os nossos jovens iniciaram os exames nacionais.
Numa prova, num teste, verter-se-á o trabalho do professor, mas, principalmente, a forma como o aluno o recebeu, o aplicou, o levou a sério.
Compreendo que os resultados dos alunos possam ser, também, evidências do trabalho do professor. No entanto, para que isso seja levado a sério e seja justo considerá-lo, é necessário que os estudantes também levem a sério a sua participação no mesmo, a forma como correspondem ou não às orientações do professor, as suas atitudes face ao trabalho e à escola, responsabilizando-se pelo que fazem, não fazem ou não deixam os outros fazer. Além disso, não podemos continuar a exigir só aos professores quando se não exige praticamente nada aos pais e encarregados de educação.
É uma vergonha a forma como se tem tido em conta a falta de assiduidade dos alunos e até a sua falta de pontualidade! A permissividade da lei e quem disso beneficia!
A pouca autoridade do professor e a falta de autonomia das escolas face a problemas desta natureza, resultará sempre no reforço da sua gravidade, como, aliás, temos visto e, enquanto as penalizações dos alunos não forem, também, penalizações para os seus encarregados de educação, poucos ou nenhuns resultados positivos veremos.  
As estratégias que se têm implementadas para resolver o grave problema da assiduidade  e mesmo a falta de estudo e de empenho dos alunos, têm sido um constante e mau experimentalismo. Um facilitismo perverso e um incentivo à desonestidade, salvo raríssimas excepções.
Planos de Recuperação, Planos de Apoio, Planos Individuais de Trabalho... Na prática, que interesse têm tido? Qual tem sido a sua contribuição para melhorar a educação e o ensino? E a postura cívica? E a coerência profissional?
Justificam tantas vezes o impensável!
Certos comentadores, cronistas, políticos, deviam olhar mais para dentro das escolas e ver o espartilho com que sempre estiveram. Não imaginam a batalha travada contra tudo isto e como isso tem afectado o trabalho dos  professores, dos alunos trabalhadores e dos seus encarregados de educação!
Uma batalha travada até aos exames, contra a ignorância mas, também, contra a estupidez dos que acham sempre que o trabalho é para uns e os louros para todos.

Nazaré Oliveira

terça-feira, 21 de junho de 2011

Ensinar bem é um processo extremamente complexo...

"Mais de trinta anos de ideologia dos direitos adquiridos e uma propaganda sindical falsamente naïve, alicerçada em visões patetas sobre a distribuição da igualdade entre os seres humanos, conduziu a uma defesa irracional da ideia de que todos os professores são bons – quando não são,
nem serão, porque ensinar bem é um processo extremamente complexo, amplo e difícil, acessível apenas a alguns e totalmente dependente daquele factor, indeterminado e potente, que se chama vocação – conduziram, a meu ver, a um sistema de quotização deficiente e injusto.

Tenho visitado muitas escolas e parece-me evidente que, no nosso país, a distribuição da competência educativa é muito pouco normativa. De facto, há escolas que, mesmo operando em zonas socialmente complexas e, por vezes, explosivas, beneficiam de um corpo docente estável em que a maioria dos professores é muito competente e, por isso, um grande número merece ser avaliado como muito bom ou excelente.
De um modo geral, esse grupo exerce uma influência positiva e estruturante nos colegas mais jovens, nos “flutuantes” e naqueles que já estão a perder a pedalada, equilibrando competências e vigiando os processos mais decisivos, reproduzindo, pois, a competência e o empenho. Recentemente aplicaram o novo sistema de escolha dos seus actores e não se terão arriscado a escolhê-los mal.
Em contrapartida, tenho visto escolas que, independentemente de trabalharem em circunstâncias adversas como favoráveis, fazem, na generalidade, um trabalho perfeitamente medíocre. Nestes casos, a própria liderança não só é absolutamente desprovida de critério, método e reflexão, como muitas vezes é refém de um grupo de docentes que controla metodicamente os privilégios disponíveis, como os horários e as turmas especiais, fazendo dos professores mais inexperientes uma carne para canhão que roda continuamente à procura de melhores condições. É evidente que, nestas escolas, quase nenhum professor merece chegar aos escalões mais elevados. (…) escolas repentinamente esvaziadas pela reforma súbita de muitos dos seus melhores só querem paz e um projecto de futuro que lhes devolva alguma autoridade e espaço de maneio suficiente para resolverem os problemas quotidianos. (…) falta, mesmo, não ter receio de pagar melhor a quem é mesmo bom e de penalizar aqueles que não são capazes de avançar para além dos mesmos mínimos que propõem, com grande desrespeito, aos seus próprios alunos.
Já agora, também não se deveria perder a oportunidade de rever os vários sistemas de formação inicial e contínua de professores."
Cristina Sá Carvalho in Página 1 de 26.1.2010, Rádio Renascença