sexta-feira, 20 de maio de 2011

Menina dos Cravos (Amadeo Souza-Cardoso)

Menina dos Cravos
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Menina dos Cravos, 1913, figurou no London Salon deste ano.

Num espaço quase bidimensional, a realidade é decomposta em planos geométricos que se sobrepõem.


Pequena biografia:
Amadeo de Souza-Cardoso, nasceu em Manhufe, freguesia de Mancelos, Amarante, a 14 de Novembro de 1887 e morreu em Espinho, a 25 de Outubro de 1918. Foi um pintor português, precursor da arte moderna, prosseguindo o caminho traçado pelos artistas de vanguarda da sua época. Embora tendo tido uma vida curta, a sua obra tornou-se imortal. Frequentou o curso de Arquitectura na Academia de Belas Artes de Lisboa em 1905 que interrompeu para partir para Paris, em 1906, instalando-se em Montparnasse, tomando contacto primeiro com o Impressionismo e depois com o Expressionismo e o Cubismo, dedicando-se, assim, exclusivamente à pintura. As primeiras experiências deram-se no desenho, especialmente como caricaturista. Em 1908 instala-se no número catorze da Cité de Falguière. Em Paris, frequentou ateliers preparatórios para Academia de Beaux-Arts e a Academia Viti do pintor catalão Anglada Camarasa. Em 1910 fez uma estadia de alguns meses em Bruxelas e em 1911 expôs trabalhos no Salon des Indépendants, em Paris, havendo-se aproximado progressivamente das vanguardas e de artistas como Amedeo Modigliani, Constantin Brancusi, Alexander Archipenko, Juan Gris e Robert Delaunay. Em 1912 publicou um álbum com vinte desenhos e, em seguida, copiou o conto de Gustave Flaubert, "La Légende de Saint Julien l'Hospitalier", trabalhos ignorados pelos apreciadores de arte. Depois de participar em 1913 de uma exposição com oito trabalhos nos Estados Unidos da América, no Armory Show, voltou a Portugal, onde teve a ousadia de realizar duas exposições, respectivamente no Porto e em Lisboa. Nesse ano participou ainda no Herbstsalon da Galeria Der Sturm, em Berlim. Em 1914 encontrou-se em Barcelona com Antoni Gaudí, e parte para Madrid onde é surpreendido pelo início da I Guerra Mundial. Regressou então a Portugal, onde iniciou meteórica carreira na experimentação de novas formas de expressão, tendo pintado com grande constância ao ponto de, em 1916, expor no Porto 114 obras com o título "Abstraccionismo", que foram também expostas em Lisboa, num e noutro caso com novidade e algum escândalo. O cubismo em expansão por toda a Europa foram influências marcantes no seu cubismo analítico. Amadeo de Souza-Cardoso explora o expressionismo e nos seus últimos trabalhos experimenta novas formas e técnicas, como as colagens e outras formas de expressão plástica. Em 25 de Outubro de 1918, aos 31 anos de idade, morre prematuramente em Espinho, vítima da "pneumónica" que grassava em Portugal.
(Wikipédia)

Agrupamentos à força!

SEXTA-FEIRA, 25 DE JUNHO DE 2010

É um triste fim de ano lectivo. Pelo menos, confuso e irritante para os professores das escolas públicas. De repente, têm todos de agrupar, de escolher novas direcções provisórias, de se juntar. Ficava caro ter tantos directores e tantas direcções? Uma pena o Ministério da Educação ter descoberto isso tão tarde. Mas, por outro lado, uma pena as direcções terem-se formado, traçado planos e projectos para agora deitar tudo para o lixo, para começar de novo e com que motivação?
Resultarão os mega-agrupamentos? Ou as escolas ficarão ainda mais isoladas? Como gerir os egos dos ex-directores e futuros directores? E a mão de ferro de alguns?
É caso para dizer como costuma referir a Fenprof: é o "ataque à escola pública"!
Mas que não se fique a pensar que a escola privada também não é atacada, há uma crise, lembram-se? Há pais a tirar os filhos das privadas e, provavelmente, a dormir pouco de noite quando lêem as notícias, quando vêem que a escola pública vai de mal a pior porque não basta ter escolas bonitinhas, com quadros interactivos e corredores imaculados, é preciso um corpo docente estável e motivado, duas coisas que os professores do ensino público não sabem o que é, há muito tempo...
Bárbara Wong. Blogue EDUCAR EM PORTUGUÊS.

Ainda há escolas e professores

Ainda há escolas e professores que se preocupam em dignificar a palavra democracia e que fazem a diferença pela sua postura cívica interventiva.
Escolas que, com toda a legitimidade, numa desejável colaboração institucional, não só criticam directrizes do Ministério da Educação (ME) como apontam caminhos que tragam urgentemente a harmonia e a motivação a uma classe docente cada vez mais violentada na essência do seu trabalho, com decretos, despachos e orientações absurdas sobre a avaliação do seu desempenho e a pretensa procura do mérito e competência. Mas o ME não as leva a sério e as respostas são sempre desfavoráveis, claramente evidenciadoras de um diálogo que nunca se pretendeu verdadeiramente e redundou em unilateralidade e imposições.
Num torpor e estranho aceitacionismo, há escolas e Direcções que executam apressadamente tudo o que lhes chega, como é o caso das últimas regulamentações sobre a avaliação dos professores, multiplicando-se em dezenas e dezenas de reuniões infindáveis nas quais pouco tem importado o que os professores pensam e dizem. Assustadoramente, invadem-nos com centenas de e-mails e páginas escritas para reflexão orientada superiormente, no entanto, quanto divisionismo e discussões estéreis provocam, quanto desânimo e frustração.
Apesar de legitimadas pelo voto dos seus pares e conhecedoras deste ambiente que tem vindo a degradar-se nas escolas, as Direcções quase nunca ou nunca convocam os professores para, legitimamente, em sede de Reunião Geral ou Conselho Pedagógico, tomarem uma posição de escola. Deveriam denunciar publicamente que o ME continua a não dar resposta aos pedidos das escolas sobre a dificuldade de operacionalização da avaliação docente e dos prejuízos que isso está já a provocar, inevitavelmente, no trabalho com os alunos. Tal como a atitude da maioria dos deputados, cujo servilismo partidário e ascensão social se sobrepõe aos interesses do país real, e até do Presidente da República. Aliás, dois dos candidatos às próximas eleições, que acabaram por pactuar com o governo, cada um à sua maneira, aquando da votação do Estatuto da Carreira Docente, aparecem-nos agora como arautos do Estado Social e Justiça Social! E quantos deputados visitam as escolas do seu círculo eleitoral para verificarem SERIAMENTE como é HOJE o trabalho dos professores e as condições em que o fazem?
Aprendamos com a experiência de 2008/2009 - avaliação de pares por pares -, que não resultou nem resultará se pretendemos qualidade e isenção, excepto para os “habilidosos”, cuja capacidade de encenação lhes permitiu, como sempre, aproveitarem-se do sistema.
Ainda agora, o ME só privilegia a “formação com créditos”, mesmo que essa formação, pedagógica e cientificamente administrada seja comprovadamente de pouco nível. No entanto, rejeita completamente formação acrescida, universitária, que o professor escolheu, pagou e consta do seu curriculum, mas da qual não tem “créditos”.
Este ME está completamente perdido no meio dos atropelos que causou. Demonstra falta de conhecimento da realidade, falta de liderança e honestidade.
É cada vez mais exigente e desgastante uma carreira no ensino que não se compadece da falta de rigor e da complexidade perversa de experiências legislativas. Nem pode continuar a ser um tubo de ensaio onde se doseia e mistura mérito com competência… a qualquer preço. Estão a destruir a paz nas escolas. Instalou-se o medo, a chantagem e a ameaça da estagnação na carreira, sobretudo para os contratados, caso não se cumpra o que sempre pretenderam e que sub-repticiamente acabaram por impor. Instalou-se o conflito de interesses inter-pares, gerador de confusão, parcialidade, grande desgaste psicológico e até físico, com avaliados e avaliadores a concorrerem às mesmas quotas (% de Muito Bons e Excelentes) por escola, e até elementos da Comissão de Avaliação e relatores a concorrem para o mesmo objectivo! Que nome dar a isto? Que legitimidade existe quando coordenadores são obrigados a assistir a aulas de relatores e o Director às dos coordenadores, não avaliando, obviamente, a qualidade científica do trabalho? Quando assistimos a uma aula, não podemos nem devemos separar a dimensão pedagógica da científica, logo, fica desde logo viciada a linha de partida e desacreditado um processo que deveria ser sério e transparente para ser correctamente aplicado. Um processo que tornasse a progressão na carreira justa e motivadora, da qual os alunos, a Escola e o país, naturalmente, sairiam a ganhar.
Não pode haver, outra vez, “acordos de princípios”que vão contra as legítimas aspirações dos milhares de professores que se manifestaram publicamente. «Quando não se aceita a prova da realidade entra-se no reino da irracionalidade». Foi e é o que continua a acontecer e os resultados estão à vista de todos.
Já não se aguenta tanta arrogância e pretensiosismo de um governo que se arvora em defensor do mérito e da competência mas cuja acção continua a envergonhar a democracia e o ideário da primeira República que diz ter comemorado.

Maria Nazaré Oliveira

A propósito dos Professores II

Meu artigo publicado pelo PÚBLICO
Os responsáveis políticos esquecem-se que sem verdadeiro investimento na EDUCAÇÃO e nos PROFESSORES nada vingará nem tão cedo sairemos do marasmo, mediania e cauda da UE.
Porque esse investimento, que se pretende de qualidade, se traduzirá, por isso mesmo, na melhoria do ensino e na preparação dos nossos jovens para o assumir de responsabilidades profissionais mas, também, cívicas, lamentavelmente tão pouco visíveis num país que já tem mais de três décadas de democracia!
Nada se poderá fazer de autêntico e credível sem se valorizar a Educação e os Professores, os grandes agentes da mudança. Mudança que já tarda e que já preocupa, quando olhamos para outros parceiros comunitários e para os resultados do investimento que fizeram na Educação.
Vim para o ensino por opção e gosto muito do que faço. Nunca temi a sua avaliação nem a dos seus encarregados de educação! Mas, ao fim destes anos, de facto, não há grandes compensações, a não ser a satisfação e motivação desses jovens perante o trabalho que desenvolvo, o seu sucesso e o afecto que a eles sempre me liga e ligará.
Estamos num país onde todos buscam protagonismo a qualquer preço! Todos querem mandar! Todos querem ser chefes, dar ordens… todos querem opinar sobre a educação e os professores, todos se acham uns “iluminados”, até mesmo os que há anos têm estado afastados do ensino e das escolas, das salas de aula, essas, sim, o verdadeiro terreno de quem trabalha ensinando.
E nunca me assustou ser avaliada, como aliás sempre fui, apesar de considerar que o antigo modelo de avaliação também não me agradava, por ser, justamente, muito nivelador “por baixo”, pouco ou nada exigente na averiguação do trabalho desempenhado pelos professores e, por isso mesmo, injusto e rejeitável.
No entanto, há qualquer coisa que continua a falhar na avaliação dos professores! Neste novo modelo que o Ministério começou por impor e nas posições dos sindicatos!
Neste governo, cada vez mais preocupado com a imagem e não com a realidade. Com um discurso estéril e repetitivo, escandalosamente demagógico, irónico e falsamente optimista, animado pelo clientelismo político que cada vez mais toma conta da governação, da Assembleia da República e até dos sindicatos!
Que negociações têm sido estas? Que raio de mudanças positivas e de propostas credíveis saíram dessas reuniões com os sindicatos e o Ministério da Educação? Alguns chegaram a cantar vitória perante as palavras sorridentes de uma nova ministra, nada convincente e muito pouco segura do que diz! Vitória? Porquê? Que reivindicações foram satisfeitas? Foram as que verdadeiramente nos preocupavam? Aquelas que são fundamentais para a nossa carreira e lhe dão a dignidade e reconhecimento merecidos? Aquelas que o país e os nossos jovens necessitam para sair da mediocridade e do baixo nível que atingimos no seio da Europa comunitária?
Os problemas continuam, pior, há novos problemas e agravaram-se os que já existiam! Reina o desalento, a confusão derivada da ineficácia e do absurdo de certas decisões “vindas de cima”, por exemplo, o estatuto do aluno, a forma como “vê” a sua assiduidade, a forma contemplativa, permissiva e até irresponsável com que a trata… não penalizando verdadeiramente quem não vai às aulas, nem os seus pais tantas vezes coniventes, banalizando e desautorizando o papel do professor, uma vez que, por exemplo, o obriga a fazer provas de recuperação sabendo de antemão que, assim, “ tapa o sol com a peneira”, mascara a realidade e contribui para a cada vez maior desresponsabilização dos alunos! E estes, já se aperceberam do esquema. Já viram que a falta de assiduidade não é grave… que há sempre uma justificaçãozinha ou uma provazinha à sua espera! Continuam a faltar! Sem vergonha nenhuma. Tantas vezes apoiados por encarregados de educação que justificam tudo e mais alguma coisa, muitos deles prontos a criticar os professores mas aceitando tudo dos seus educandos!
As pessoas não imaginam o tempo que o professor Director de Turma perde com estas situações criadas pelos alunos que faltam frequentemente, que são indisciplinados… o tempo que perde em contactos inglórios com os encarregados de educação, quer pelo telefone quer por carta! E muitos nem sequer respondem! E o dinheiro que as escolas gastam semanalmente com coisas destas!

A propósito dos professores I

Meu artigo publicado pelo PÚBLICO

Nunca vi tantos professores desmotivados! Colegas com provas dadas como excelentes profissionais ao longo de dezenas de anos! Colegas que sempre investiram na escola, nos alunos, que mostraram inequivocamente esse trabalho, que investiram na actualização científica de qualidade (mesmo paga pelo seu próprio bolso!), na relação pedagógica motivadora através de uma prática lectiva dinâmica, ajustada à contemporaneidade de uma vida tão cheia de desafios e de mudanças, valorizando os conhecimentos e a sua aplicação sem perder de vista a formação do indivíduo como ser pensante, capaz de agir em consciência, com sentido crítico e espírito de cidadania.
Um ano depois da “nova” avaliação dos professores, vejo esses professores estoirados, cansados, asfixiados em reuniões e papéis tantas vezes desnecessários, desanimados, fartos de trabalhos administrativos que nada têm a ver com o seu métier, sem tempo para o que é essencial - a preparação científico-pedagógica das aulas -, fazendo-o nas suas casas, despendendo muitas e muitas horas, particularmente aqueles que continuam a querer que o seu trabalho seja bem feito mesmo que para isso roubem ao descanso (e muitos até à família!).
O trabalho do professor é muito mais do que estar na sala de aula! Muito mais do que isso! É preparar os conteúdos programáticos que vai abordar de acordo com os diferentes níveis de escolaridade que lecciona, é pensar em estratégias e defini-las, criar materiais de suporte adequados à realidade turma, facilitadores da comunicação mas também das aprendizagens, seleccionar bibliografia, fontes diversas adequadas à problemática em questão, propor tipologias de trabalho diferenciado para as quais traça, antecipadamente, orientações metodológicas bem definidas, indicação de fontes diversas para pesquisa, sugestão de temas e definição de objectivos específicos para cada um, de cada grupo, tendo em vista uma avaliação desejavelmente diferenciada que se traduza na obtenção de melhores resultados, com maior envolvimento do aluno e, por isso mesmo, mais gosto em saber, caso dos trabalhos de grupo, a pares, individuais, trabalhos de pesquisa (investigação), orientados em contexto de sala de aula ou fora dela, visionamento de filmes sobre os quais os alunos entregarão relatórios previamente definidos pelo professor, visitas de estudo com guiões feitos pelo mesmo e, naturalmente, a avaliação de tudo isto, com critérios de correcção feitos pelo docente para cada uma destas actividades que exemplifiquei.
A aula propriamente dita, para mim, é o resultado de tantas e tantas horas deste trabalho que a antecedeu. Mas não menos desgastante, pelo contrário, pois aí estaremos perante um colectivo, um grupo, uma turma, que é preciso orientar ao nível da aprendizagem e dos diferentes ritmos de aprendizagem, das atitudes, do cumprimento das regras e interiorização de boas práticas, das relações interpessoais exigindo, obviamente, a maior atenção, e constituindo todos os dias um sistemático desafio à nossa criatividade, aos nossos sentidos e capacidade de resistência física e psicológica.

EU SEI



Contra a desumanidade! Pela dignidade!