Meu artigo publicado pelo PÚBLICO
Nunca vi tantos professores desmotivados! Colegas com provas dadas como excelentes profissionais ao longo de dezenas de anos! Colegas que sempre investiram na escola, nos alunos, que mostraram inequivocamente esse trabalho, que investiram na actualização científica de qualidade (mesmo paga pelo seu próprio bolso!), na relação pedagógica motivadora através de uma prática lectiva dinâmica, ajustada à contemporaneidade de uma vida tão cheia de desafios e de mudanças, valorizando os conhecimentos e a sua aplicação sem perder de vista a formação do indivíduo como ser pensante, capaz de agir em consciência, com sentido crítico e espírito de cidadania.
Um ano depois da “nova” avaliação dos professores, vejo esses professores estoirados, cansados, asfixiados em reuniões e papéis tantas vezes desnecessários, desanimados, fartos de trabalhos administrativos que nada têm a ver com o seu métier, sem tempo para o que é essencial - a preparação científico-pedagógica das aulas -, fazendo-o nas suas casas, despendendo muitas e muitas horas, particularmente aqueles que continuam a querer que o seu trabalho seja bem feito mesmo que para isso roubem ao descanso (e muitos até à família!).
O trabalho do professor é muito mais do que estar na sala de aula! Muito mais do que isso! É preparar os conteúdos programáticos que vai abordar de acordo com os diferentes níveis de escolaridade que lecciona, é pensar em estratégias e defini-las, criar materiais de suporte adequados à realidade turma, facilitadores da comunicação mas também das aprendizagens, seleccionar bibliografia, fontes diversas adequadas à problemática em questão, propor tipologias de trabalho diferenciado para as quais traça, antecipadamente, orientações metodológicas bem definidas, indicação de fontes diversas para pesquisa, sugestão de temas e definição de objectivos específicos para cada um, de cada grupo, tendo em vista uma avaliação desejavelmente diferenciada que se traduza na obtenção de melhores resultados, com maior envolvimento do aluno e, por isso mesmo, mais gosto em saber, caso dos trabalhos de grupo, a pares, individuais, trabalhos de pesquisa (investigação), orientados em contexto de sala de aula ou fora dela, visionamento de filmes sobre os quais os alunos entregarão relatórios previamente definidos pelo professor, visitas de estudo com guiões feitos pelo mesmo e, naturalmente, a avaliação de tudo isto, com critérios de correcção feitos pelo docente para cada uma destas actividades que exemplifiquei.
A aula propriamente dita, para mim, é o resultado de tantas e tantas horas deste trabalho que a antecedeu. Mas não menos desgastante, pelo contrário, pois aí estaremos perante um colectivo, um grupo, uma turma, que é preciso orientar ao nível da aprendizagem e dos diferentes ritmos de aprendizagem, das atitudes, do cumprimento das regras e interiorização de boas práticas, das relações interpessoais exigindo, obviamente, a maior atenção, e constituindo todos os dias um sistemático desafio à nossa criatividade, aos nossos sentidos e capacidade de resistência física e psicológica.
Na aula, expomos e expomo-nos. Interagimos com a turma, abordamos os conteúdos programáticos e aplicamos as estratégias previamente delineadas, registamos a participação dos alunos (em documentos que criámos), orientamos trabalhos cooperativos, corrigimos esses trabalhos e, se for caso disso, também deveremos considerar aqueles que têm planos especiais de acompanhamento delineados em Conselho de Turma. E isto numa turma! Imaginem em várias turmas, ao longo do dia, da semana e, ao mesmo tempo, ser Director de Turma!
Estar na sala de aula é uma das variantes diárias do trabalho do professor, a única que é verdadeiramente visível aos olhos da comunidade, muito pouco reconhecida, infelizmente, pela maior parte das pessoas e até do Ministério, como aliás se tem visto pelas afirmações de responsáveis pela educação e membros de associações. Os próprios encarregados de educação, muitas vezes, assumem que não imaginavam que o trabalho do professor fosse assim!
Claro que há que ter em conta que, como em tudo, existe o bom e o mau. De qualquer forma, muito poucos nos levam a sério neste país, quando dizemos que nos fartamos de trabalhar em casa para a escola! Nem as Ministras da Educação que temos tido! E, a prová-lo, estão as exigências legislativas a que se obrigam os professores, cada vez mais desajustadas da realidade das nossas escolas e dos nossos alunos.
Eu própria, que já estive noutro sector profissional, sempre séria e responsável perante as minhas obrigações, nunca trabalhei tanto na minha vida!
Por muito que se diga que é na escola que devíamos fazer todo o nosso trabalho (e devia ser assim!), pessoalmente, apesar de passar quase o dia inteiro na mesma, e sendo a escola que sempre quis, bonita, organizada…atendendo à especificidade do meu trabalho e à necessidade de o fazer num ambiente com alguma serenidade e privacidade…mesmo com gabinete (muitas vezes ocupado com aulas!) penso que será sempre importante o trabalho fora da escola, e que este deveria ser mais valorizado na carga horária que nos é distribuída no início do ano lectivo.
É lamentável que esse tempo que os professores passam nas escolas não seja para estudar, investigar, preparar aulas e materiais… mas para irem a reuniões por tudo e por nada… para criar papéis por tudo e por nada… para preencher papéis por tudo e por nada… chamados a opinar por tudo e por nada… fazendo relatórios por tudo e por nada…avaliações de tudo e mais alguma coisa…
Tem valido a pena? Em quê? Melhorou o trabalho do professor? Tornou mais eficiente o funcionamento das escolas? Trouxe, verdadeiramente, melhores resultados para os nossos alunos? Sabem mais? Alcançámos mais qualidade e mais sucesso? Sentimo-nos melhores desde que tudo isto foi implementado? Alguém se preocupou, no Ministério da Educação, em auscultar as escolas para saber dos resultados obtidos e se essas medidas estão a cumprir os objectivos que o ME queria, melhor dizendo, que a Educação merece? Ninguém quer saber! Só se manda e só se quer que obedeçamos! Seja a que preço for! Nunca se viu tanta papelada e tantas reuniões nas escolas! Ora, isto desmotiva e arrasa qualquer um, particularmente aquele que sempre gostou do que faz e que o continua a fazer, com manifesto prejuízo da sua saúde e do seu tempo livre.
E tudo por causa da falta de rigor e até do absurdo que continua a esconder-se debaixo de tantas directrizes do Ministério e de tantas orientações institucionais! Porquê?
Porque o que anda a interessar é o “número”, “a estatística”, a imagem de um país europeu que, na realidade, ao nível da educação, engana, quando comparamos a educação desses países da UE com a nossa, incluindo a dos jovens países de leste. E por que é que se continua a insistir em medidas que já mostraram a sua ineficácia (aqui e não só!) em matéria de resultados sérios que todos pretendemos para a tão desejada modernização do país e a sua postura comunitária?
Falam da utilização das novas tecnologias como se elas fossem a grande solução para combater o insucesso escolar, mas chega-se a situações caricatas em que há dezenas de computadores desactivados nas escolas porque a carga eléctrica não os permite! Ou então, escolas com salas geladíssimas no Inverno, sem infra-estruturas de qualidade, sem o mínimo de auxiliares, sem verbas para as visitas de estudo…mas “tecnologicamente equipadas”!
Defendo as novas tecnologias nas salas de aula mas não a qualquer preço.
Está a secundarizar-se cada vez mais o ensino das Humanidades, verdadeiro suporte e força motora para o diálogo intercultural cada vez mais urgente na sociedade actual, tão desigualitária, tão vazia de valores e tão cheia de ameaças.
Quando se levará a sério a EDUCAÇÃO? Quanto mais tempo esperaremos por reformas realistas e exequíveis?
Desde a anterior Ministra da Educação, apesar de compreender algumas das suas medidas, tudo acabou por ser imposto! Sem diálogo. Quer do ME quer dos sindicatos. Falou-se do que não se sabia ou do que se sabia pouco. Legislou-se despoticamente. Sindicatos e ME foram irredutíveis nas suas posições e os professores uns joguetes nas suas mãos.
Concordei com a necessidade de uma avaliação mais rigorosa dos professores e há muito que a aguardava. Mas, o modelo que se seguiu, trouxe o que se pretendia e foi o melhor?
Ninguém se interessa, verdadeiramente, em encontrar um rumo sério e digno para a Educação no nosso país.
Maria Nazaré Oliveira
Nunca vi tantos professores desmotivados! Colegas com provas dadas como excelentes profissionais ao longo de dezenas de anos! Colegas que sempre investiram na escola, nos alunos, que mostraram inequivocamente esse trabalho, que investiram na actualização científica de qualidade (mesmo paga pelo seu próprio bolso!), na relação pedagógica motivadora através de uma prática lectiva dinâmica, ajustada à contemporaneidade de uma vida tão cheia de desafios e de mudanças, valorizando os conhecimentos e a sua aplicação sem perder de vista a formação do indivíduo como ser pensante, capaz de agir em consciência, com sentido crítico e espírito de cidadania.
Um ano depois da “nova” avaliação dos professores, vejo esses professores estoirados, cansados, asfixiados em reuniões e papéis tantas vezes desnecessários, desanimados, fartos de trabalhos administrativos que nada têm a ver com o seu métier, sem tempo para o que é essencial - a preparação científico-pedagógica das aulas -, fazendo-o nas suas casas, despendendo muitas e muitas horas, particularmente aqueles que continuam a querer que o seu trabalho seja bem feito mesmo que para isso roubem ao descanso (e muitos até à família!).
O trabalho do professor é muito mais do que estar na sala de aula! Muito mais do que isso! É preparar os conteúdos programáticos que vai abordar de acordo com os diferentes níveis de escolaridade que lecciona, é pensar em estratégias e defini-las, criar materiais de suporte adequados à realidade turma, facilitadores da comunicação mas também das aprendizagens, seleccionar bibliografia, fontes diversas adequadas à problemática em questão, propor tipologias de trabalho diferenciado para as quais traça, antecipadamente, orientações metodológicas bem definidas, indicação de fontes diversas para pesquisa, sugestão de temas e definição de objectivos específicos para cada um, de cada grupo, tendo em vista uma avaliação desejavelmente diferenciada que se traduza na obtenção de melhores resultados, com maior envolvimento do aluno e, por isso mesmo, mais gosto em saber, caso dos trabalhos de grupo, a pares, individuais, trabalhos de pesquisa (investigação), orientados em contexto de sala de aula ou fora dela, visionamento de filmes sobre os quais os alunos entregarão relatórios previamente definidos pelo professor, visitas de estudo com guiões feitos pelo mesmo e, naturalmente, a avaliação de tudo isto, com critérios de correcção feitos pelo docente para cada uma destas actividades que exemplifiquei.
A aula propriamente dita, para mim, é o resultado de tantas e tantas horas deste trabalho que a antecedeu. Mas não menos desgastante, pelo contrário, pois aí estaremos perante um colectivo, um grupo, uma turma, que é preciso orientar ao nível da aprendizagem e dos diferentes ritmos de aprendizagem, das atitudes, do cumprimento das regras e interiorização de boas práticas, das relações interpessoais exigindo, obviamente, a maior atenção, e constituindo todos os dias um sistemático desafio à nossa criatividade, aos nossos sentidos e capacidade de resistência física e psicológica.
Na aula, expomos e expomo-nos. Interagimos com a turma, abordamos os conteúdos programáticos e aplicamos as estratégias previamente delineadas, registamos a participação dos alunos (em documentos que criámos), orientamos trabalhos cooperativos, corrigimos esses trabalhos e, se for caso disso, também deveremos considerar aqueles que têm planos especiais de acompanhamento delineados em Conselho de Turma. E isto numa turma! Imaginem em várias turmas, ao longo do dia, da semana e, ao mesmo tempo, ser Director de Turma!
Estar na sala de aula é uma das variantes diárias do trabalho do professor, a única que é verdadeiramente visível aos olhos da comunidade, muito pouco reconhecida, infelizmente, pela maior parte das pessoas e até do Ministério, como aliás se tem visto pelas afirmações de responsáveis pela educação e membros de associações. Os próprios encarregados de educação, muitas vezes, assumem que não imaginavam que o trabalho do professor fosse assim!
Claro que há que ter em conta que, como em tudo, existe o bom e o mau. De qualquer forma, muito poucos nos levam a sério neste país, quando dizemos que nos fartamos de trabalhar em casa para a escola! Nem as Ministras da Educação que temos tido! E, a prová-lo, estão as exigências legislativas a que se obrigam os professores, cada vez mais desajustadas da realidade das nossas escolas e dos nossos alunos.
Eu própria, que já estive noutro sector profissional, sempre séria e responsável perante as minhas obrigações, nunca trabalhei tanto na minha vida!
Por muito que se diga que é na escola que devíamos fazer todo o nosso trabalho (e devia ser assim!), pessoalmente, apesar de passar quase o dia inteiro na mesma, e sendo a escola que sempre quis, bonita, organizada…atendendo à especificidade do meu trabalho e à necessidade de o fazer num ambiente com alguma serenidade e privacidade…mesmo com gabinete (muitas vezes ocupado com aulas!) penso que será sempre importante o trabalho fora da escola, e que este deveria ser mais valorizado na carga horária que nos é distribuída no início do ano lectivo.
É lamentável que esse tempo que os professores passam nas escolas não seja para estudar, investigar, preparar aulas e materiais… mas para irem a reuniões por tudo e por nada… para criar papéis por tudo e por nada… para preencher papéis por tudo e por nada… chamados a opinar por tudo e por nada… fazendo relatórios por tudo e por nada…avaliações de tudo e mais alguma coisa…
Tem valido a pena? Em quê? Melhorou o trabalho do professor? Tornou mais eficiente o funcionamento das escolas? Trouxe, verdadeiramente, melhores resultados para os nossos alunos? Sabem mais? Alcançámos mais qualidade e mais sucesso? Sentimo-nos melhores desde que tudo isto foi implementado? Alguém se preocupou, no Ministério da Educação, em auscultar as escolas para saber dos resultados obtidos e se essas medidas estão a cumprir os objectivos que o ME queria, melhor dizendo, que a Educação merece? Ninguém quer saber! Só se manda e só se quer que obedeçamos! Seja a que preço for! Nunca se viu tanta papelada e tantas reuniões nas escolas! Ora, isto desmotiva e arrasa qualquer um, particularmente aquele que sempre gostou do que faz e que o continua a fazer, com manifesto prejuízo da sua saúde e do seu tempo livre.
E tudo por causa da falta de rigor e até do absurdo que continua a esconder-se debaixo de tantas directrizes do Ministério e de tantas orientações institucionais! Porquê?
Porque o que anda a interessar é o “número”, “a estatística”, a imagem de um país europeu que, na realidade, ao nível da educação, engana, quando comparamos a educação desses países da UE com a nossa, incluindo a dos jovens países de leste. E por que é que se continua a insistir em medidas que já mostraram a sua ineficácia (aqui e não só!) em matéria de resultados sérios que todos pretendemos para a tão desejada modernização do país e a sua postura comunitária?
Falam da utilização das novas tecnologias como se elas fossem a grande solução para combater o insucesso escolar, mas chega-se a situações caricatas em que há dezenas de computadores desactivados nas escolas porque a carga eléctrica não os permite! Ou então, escolas com salas geladíssimas no Inverno, sem infra-estruturas de qualidade, sem o mínimo de auxiliares, sem verbas para as visitas de estudo…mas “tecnologicamente equipadas”!
Defendo as novas tecnologias nas salas de aula mas não a qualquer preço.
Está a secundarizar-se cada vez mais o ensino das Humanidades, verdadeiro suporte e força motora para o diálogo intercultural cada vez mais urgente na sociedade actual, tão desigualitária, tão vazia de valores e tão cheia de ameaças.
Quando se levará a sério a EDUCAÇÃO? Quanto mais tempo esperaremos por reformas realistas e exequíveis?
Desde a anterior Ministra da Educação, apesar de compreender algumas das suas medidas, tudo acabou por ser imposto! Sem diálogo. Quer do ME quer dos sindicatos. Falou-se do que não se sabia ou do que se sabia pouco. Legislou-se despoticamente. Sindicatos e ME foram irredutíveis nas suas posições e os professores uns joguetes nas suas mãos.
Concordei com a necessidade de uma avaliação mais rigorosa dos professores e há muito que a aguardava. Mas, o modelo que se seguiu, trouxe o que se pretendia e foi o melhor?
Ninguém se interessa, verdadeiramente, em encontrar um rumo sério e digno para a Educação no nosso país.
Maria Nazaré Oliveira