quinta-feira, 7 de junho de 2012

Futebol, Seleção,Portugal



 
(A propósito de um post que li)

Como é que este país anda para a frente assim?

Embriagados com o futebol (não o futebol-desporto mas o futebol dos "mafiosos do desporto" por eles controlado), muitos, mas muitos portugueses, olham e vêem os jogadores da seleção como seres superiores, intocáveis, aos quais tudo lhes é permitido, desde mordomias que nem na corte de um qualquer rei do petróleo lhes seriam permitidas, até à forma estupidificante como ocupam horários nobres nas TVs e primeiras páginas dos jornais, sem falar, claro, dos ordenados que recebem e das fugas aos impostos que alguém os ajuda a cometer!

Não. Que horror, tudo isto!

Passam nos autocarros, sorridentes, fazendo jus aos implantes ou tratamentos dentários gratuitos que recebem, sem falar do acompanhamento sofisticadíssimo que têm em matéria de preparação física, médica, psicológica e outras, como vi há dias, na TV, chocante, sabendo eu que há gente sem dinheiro para ir ao médico, sem dinheiro para ir à farmácia, sem dinheiro para ir à mercearia, sem dinheiro para “arrancar um dente”, sem dinheiro para a oficina, sem dinheiro para o passe, sem dinheiro para a continuação do curso dos filhos, sem dinheiro para comer minimamente em condições, pagar a hipoteca, pagar a renda…

Num país onde a taxa de desemprego assustadoramente explode cada vez mais, eu até compreendo que alguns portugueses afoguem as suas penas e angústias numas cervejolas que compraram para ver certos jogos e que momentaneamente e lentamente se queiram livrar ou fugir de um destino cruel que até a casa e o plasma lhes roubará se o governo do seu país nada fizer para travar esta brutal exigência de austeridade, pedida à grande maioria do povo português de forma cada vez mais avassaladora e humilhante, mas desculpada (indireta e obscenamente desculpada) a outros, caso destes jogadores (não todos, claro!) que em tudo ostentam as marcas de um país e de uma nação que vive, realmente, acima das suas possibilidades. Eles (e outros do género) mas não o povo, o povão!

Se o país está assim também a esta forma de estar dos portugueses o devemos.

Nem fatalismos nem pessimismos desnecessários mas, por favor, realismo e bom senso! JUSTIÇA IGUAL E TRANPARÊNCIA EM TUDO!

Continuo a considerar inaceitável a arrogância que elementos das grandes equipas de futebol (jogadores, treinadores, diretores…) têm mostrado perante o povo que lhes bate palmas ao ritmo da fome que têm, das batatas de pacote que vão ratando ou das cervejolas que vão emborcando, à frente de um plasma cujas prestações atrasadas vão estando, enquanto vêem aquela boçalidade e aquela altivez de quem na terra Deus será enquanto vivermos num país de cegos onde quem tem um olho será e continuará a ser rei!

Claro que não andaremos para a frente! Jamais!

Adoro ver a seleção. Adoro desporto. Adoro ver um bom jogo de futebol. Adoro o meu país.

ODEIO e REJEITO é esta postura dos portugueses, quase de servilismo, perante estes lordes do futebol dito profissional!

É inadmissível esta bajulação de que são alvo, este endeusamento que me dá náuseas quando vejo o grotesco deste quadro deprimente de um país e de uma Política que bem podia começar, também por aqui, a dar o exemplo de austeridade. Aqui, nas equipas e SADs que até o poder político compram e corrompem, incluindo governo e Presidente da República, sobretudo certos jogadores que mal dizem duas frases corretas e que pouca ou nenhum respeito têm para com quem os ajuda a receber prémios escandalosos e salários astronómicos (bem escondidos num tráfico de influências que continua cada vez mais bem montado).

Parecem a rainha de Inglaterra, dentro dos autocarros, a acenar ao povo!

E quando os jornalistas os abordam, a correr atrás deles, para perguntas perfeitamente estúpidas como estúpidas são as celebrações em torno desta gente, que, sem mostrar ainda trabalho são já olhados como vencedores e que, mesmo que o tivessem sido, nada disto justificariam?

Do alto do seu pedestal sorriem e acenam ao povinho!

Nem todos, claro, mas muitos de forma bem cínica e com tiques de superioridade.

Alguns, esbanjam obscenamente milhares e milhares de euros que espatifam "na boa" em comezainas e outras "prioridades afins”, numa ou duas horas, numa ou duas noite, enquanto nós, muito dificilmente vamos contando os tostões para sobreviver à crise e à troika. Melhor dizendo, para sobreviver à mediocridade de uma quanta gentinha que se excita com isto e se endivida por causa disto, para engordar cada vez mais quem, por acaso, teve a sorte de ter jeito para dar uns chutos na bola!

E os que “têm jeito para salvar vidas” (leia-se médicos), os que “têm jeito para ensinar” (leia-se professores), e os que “têm jeito para investigar as malditas doenças que nos vão matando” (leia-se investigadores)? Também têm merecido a mesma atenção e RESPEITO que estes “lordes do futebol”?

É por estas e por outras…



Nazaré Oliveira