domingo, 7 de dezembro de 2014

Extrema pobreza, pobreza, fome, subnutrição







O The Economist, dia 27.11 2014, publicou  na sua edição on-line este texto, acompanhado do vídeo que aqui também apresento:

“Since 1990, the number of people defined as the world’s poorest group – living on less than $1.25 per day – has halved. But hunger levels have only gone down by a fifth. The prevailing wisdom is that to eliminate nutrition problems we had to produce more food and facilitate access to it. So now that fewer people live in extreme poverty, why haven't malnutrition rates gone down accordingly?"

O gravíssimo problema da Pobreza, da Extrema Pobreza, persiste e persistirá,  enquanto as políticas continuarem a considerar o primado da Economia sobre tudo e sobre todos e não priorizarem os problemas pela sua dimensão ética e moral e enquanto continuarem a ver o ser humano integrado numa visão claramente tecnocrática, redutora, tantas vezes maniqueísta e trucidada  por uma estatística que não tem colaborado para a resolução dos problemas, antes, os tem iludido, adiado ou sinalizado como se de uma inevitabilidade a Pobreza se tratasse.

Na nossa sociedade, particularmente a sociedade pós industrial cujas penosas consequências continuam a verificar-se no eterno e terrível diálogo Norte-Sul e no constante neocolonialismo a que têm continuado sujeitos povos martirizados, quer por ditadores locais e aspetos culturais tradicionais opressivos que continuam a impôr, quer pela continuada posição do capitalismo selvagem que, com relações internacionais à sua medida e numa clara falta de rigor e de ética política, insistem na delapidação das riquezas naturais dos que as têm mas não as conseguem rentabilizar, continuando-se o eterno problema dos países cuja população morre de fome à espera de investimentos locais e ajudas que privilegiem a sustentabilidade dos seus recursos e não o aumento da dívida externa que os consome e os destrói e a isso os obriga.

Por isso é que os números da pobreza não param de crescer ou se disfarçam em atraentes análises numérico-estatísticas que tantas vezes "separam a fome da subnutrição".
Mas o drama da fome é também o da subnutrição. Infelizmente.
Gente incompetente e insensível, esta, que tem governado quase por todo o mundo ao arrepio dos mais elementares Direitos Humanos, fingindo que isto assim não vê ou vendo mal que isto existe.

Gente cínica, políticos cínicos e cínicas políticas que continuam a não querer ver o óbvio quando o óbvio é a dor a fome e a pobreza e se arrasta dolorosamente e até silenciosamente por corpos que já não falam não gritam não mentem nem sequer já vivem.
Querer acabar com a pobreza não pode ser somente, como tem sido até aqui, pedir e recolher alimentos e distribuí-los.
Querer acabar com a pobreza é, antes de mais, querer evitá-la. Através de políticas que pugnem pela defesa inequívoca da dignidade do ser humano através do Trabalho, da Educação e da Justiça Social.
Não podemos continuar pelo mundo fora a planear sistematicamente um combate que todos conhecem mas que só alguns enfrentam com seriedade como alguns voluntários, missionários, ONGs.

Os  que mais precisam, famintos, doentes, desempregados, os sacrificados de sempre, continuarão à nossa espera nesse vasto e terrível campo de batalha que é a Pobreza. E continuarão a morrer, lentamente, até ao dia em que cairão de vez no sono eterno de uma morte injusta.



Nazaré Oliveira

sábado, 6 de dezembro de 2014

Tenho saudades tuas, Porto!


Sou e sempre serei anti-touradas


Vídeo




Subscrevo tudo o que ouvi e li!

Muito obrigada por terem colocado aqui este magnífico trabalho, este magnífico testemunho com o qual me identifico completamente.
Também sou anti touradas. Amo os animais. Sou contra a tortura, a crueldade, a pena de morte.
Magníficos seres, inocentes seres, como os touros, perversa e cinicamente  criados em liberdade para um fim de terror monstruosamente planeado  como só os sádicos e os carrascos sabem planear e fazer, loucos, embriagados ao som de olés e bravos que também nos ferem, enquanto o sangue do animal jorra, quente, ainda a fervilhar de vida, vindo das entranhas barbaramente despedaçadas pelos ferros da morte e pela arrogância do assassino que dele se abeira a sorrir.

Nazaré Oliveira

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Um abraço, José António Pinto!

José António Pinto



José António Pinto, assistente social da Junta de Freguesia de Campanhã, no Porto, recebeu, esta terça-feira, uma medalha de ouro comemorativa do 50.º aniversário da Declaração Universal dos Direitos do Homem. Propôes trocá-la por políticas que não causem mais estrago na vida dos que deixaram de dar lucro.

«Eu não quero receber medalhas, quero justiça na economia, justiça na repartição da riqueza criada, quero emprego com direitos para gerar essa riqueza, quero que a dignidade do homem seja mais valorizada que os mercados, quero que o interesse coletivo e o bem comum tenham mais força que os interesses de meia dúzia de privilegiados», disse José António Pinto, após receber a medalha no Salão Nobre da Assembleia da República.

Num recado à presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, o assistente social disse ambicionar «que os cidadãos deste País protestem livremente e de forma legítima dentro desta casa e que ao reivindicarem os seus direitos por uma vida melhor não sejam expulsos pela polícia das galerias deste Parlamento». 
Insistiu várias vezes que trocava a medalha por «um outro modelo de desenvolvimento económico» que dê igualdade de oportunidades a todos.
Subscrevo todas as palavras de José António Pinto. 
Ainda há gente em condições neste país. Gente que diz mas que também faz o que diz.

Ouvir aqui  http://tiny.cc/2izv7w

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

No Convento de S. Paulo



  





Sócrates político vs Sócrates filósofo

Sócrates




Sócrates vs. Sócrates 

Há 2500 anos, na Grécia antiga, viveu em Atenas um filósofo de nome Sócrates que foi imortalizado por alguns dos seus discípulos, de entre os quais se destacou Platão, que nos livros que escreveu deu a conhecer o pensamento do grande filósofo. A frase lapidar de Sócrates, "só sei que nada sei", simboliza a sua incessante procura da Verdade e revela a humildade de quem reconhece a dificuldade - ou a impossibilidade! - em atingir o verdadeiro conhecimento, o espistemé. Por amor à Verdade e à Justiça, Sócrates aceitou o veredito de quem o acusava de não obedecer aos deuses e de, com as suas ideias, perverter os jovens. Bebeu voluntariamente, até à última gota, a cicuta letal para cumprir a sentença à pena capital a que fora condenado pelos juízes de Atenas.

Na atualidade portuguesa, suspeito de enriquecimento ilícito, um outro Sócrates enche os noticiários das televisões e as páginas dos jornais. A suspeição, que recai sobre este ex-governante, liberta incontidas emoções nos espíritos, causa polémica nos debates e incendeia paixões. A opinião sobre a sua pessoa e os factos que levaram à sua detenção - raramente vista com indiferença -, é o assunto mais fraturante da sociedade portuguesa nos dias que correm.

Estas duas personagens parecem ter em comum apenas o nome. O ateniense valoriza a verdade, está desapegado do poder e das riquezas materiais. Ele sabe que só o verdadeiro conhecimento lhe traz a sabedoria. O lusitano mostra acreditar que só tem certezas: "sabe que tudo sabe". Neste aspeto, estará próximo dos sofistas gregos que usavam a retórica para convencer o povo e para quem a doxa importava mais do que o epistemê. O português faz lembrar os príncipes da renascença ciosos dos seus séquitos e amantes da envolvência perfumada do poder. E traz-nos à memória O Príncipe de Nicolau Maquiavel, a cartilha para conquistar e preservar o poder e que, neste domínio, defende o princípio de que os fins justificam os meios.

Na Europa Medieval e nos anos que precederam a Revolução Francesa e a independência da América, o poder era considerado como tendo origem divina. O soberano administrava a justiça e só prestava contas a Deus ou à igreja que o representava. De tal modo, que na Inglaterra de Henrique VIII a igreja incómoda foi subjugada ao poder do soberano. Mas, em última análise e na ausência de uma moderação acima dos homens, só a força das armas ou os jogos de poder asseguravam a sua manutenção.

Nos modernos estados ocidentais laicos a religião - mais propriamente a igreja - já tem pouca influência. O poder democrático emana do povo e são as leis produzidas pelos seus representantes que o regulam e limitam. Mas a democracia tem-se revelado imperfeita: após a revolução industrial a economia e a sua exigência em fortalecer o poder industrial e financeiro sobrepuseram-se e condicionaram o poder político. No nosso tempo a globalização - afinal a economia! -, impondo a submissão dos governos aos mercados, é um outro forte condicionante do poder. Não esquecendo o poder dos media que, quando manipulados fazem opinião, constroem e destroem a imagem dos políticos e, deste modo, interferem com o sentido do voto.

No plano das leis e dos princípios - se quisermos até no plano moral, pois legal e moral tendem a confundir-se-, o poder da Justiça acaba por ser a única limitação ao poder político e económico. Por isso, nos estados democráticos o poder judicial independente adquire uma nova força. O caso do impeachment do presidente Nixon ocorrido nos EUA, depois de um complexo e prolongado processo judicial, ficará para a história como um caso exemplar. No Portugal recente temos tido exemplos desta situação, veja-se, por exemplo, a atuação do Tribunal Constitucional. E não existe alternativa nem proposta para outro poder moderador que não seja o judicial.

Sócrates está, assim, nas antípodas de Sócrates. Nas encruzilhadas da vida que, a cada momento, surgem na nossa frente uma escolha exclui a outra. E não se trata apenas de escolher entre pessoas, mas entre arquétipos subjacentes a valores éticos. A opção, que fizermos, irá condicionar o nosso futuro.


Avante!


Grande senhor! Tem sido e certamente continuará a ser um grande exemplo para o mundo, particularmente o mundo da Política e da governação.

"Não, o poder não muda as pessoas; apenas revela quem elas são na realidade."

Uma frase simples que encerra exatamente o que é fundamental dizer-se, particularmente nestes tempos em que a Política e a ação governativa tão ofendida tem sido por quem dela se tem aproveitado para singrar na vida. Na sua vida, claro, e não na vida do povo, na vida democrática.

Esta frase de José Mujica deveria ser traduzida e colocada em todos os cruzamentos de todas as vilas, cidades e aldeias do nosso país! Afinal, em todo o mundo, porque, infelizmente, em todo o mundo cresce o polvo da corrupção, do compadrio, dos eternamente candidatos a políticos mas dos eternamente aproveitadores da Política para fins pessoais, familiares e corporativos.

Se houvesse Ética e uma Justiça mais atenta e mais atuante, os políticos que nos representam seriam escolhidos de forma muito mais verdadeira e coerente e, se mais tarde revelassem que na Política não estão para servir, antes, para servir-se, seriam imediatamente presos e exemplarmente julgados para nunca mais dela se abeirarem.

Eu acredito na Política, sim, e na força do povo como único fator de mudança para uma sociedade justa.

Em Portugal, volvidos 40 anos pós 25 de Abril, é com muita revolta e muita tristeza que vejo ao ponto a que chegámos em matéria de Estado Social e de democraticidade nas nossas instituições!

Mas ninguém está inocente neste processo dramático de assistirmos ao delapidar dos valores e direitos conquistados no dia 25 de Abril de 1974!

Quem cala consente, e a infelicidade tem sido, também, resultante de uma inação quase letárgica e fatal que vai permitindo cá como noutras paragens, políticas corruptas, fascizantes, até cruéis nas medidas que adotam, tal a insensibilidade com que decidem e impõem legislação, não para eles mas sim para nós, não para os seus mas sim para os nossos.

Todos temos tido culpa pelo estado a que chegou a nossa democracia. Uns mais do que outros. 
Todos, sobretudo os que, como eu, sentem a angústia de um povo à deriva que não se une e não se mobiliza, apesar das diferenças, apesar das sensibilidades, mesmo quando em causa está a manutenção do regime democrático e os valores consignados na nossa Constituição.

Avante!



É urgente o amor
É urgente um barco no mar

É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos, muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer. 



(poema de Eugénio de Andrade)



Nazaré Oliveira