Parabéns pela lucidez e inteligência desta
intervenção, mas, sobretudo, obrigada, Ana Drago, pela forma absolutamente
realista, séria e digna com que o drama dos mais pobres é aqui tratado, drama
dos que já a custo sobrevivem.
Afinal, é e continua a ser o drama de todos os que,
como eu, fomos e continuamos a ser roubados indecente e injustamente nos nossos
direitos, liberdades e garantias fundamentais, constitucionalmente adquiridas,
em nome de interesses políticos que, seguramente, ao nosso país bem não trazem
nem paz social deixam antever.
Governa-se a pensar na troika, a pensar nos bancos,
para a troika e para os bancos.
Em jeito de homenagem às mulheres, ontem, hoje e sempre! Em todo o mundo!
MARIA DA FONTE
Mais do que uma revolta, MARIA DA FONTE significa e sempre significará a
revolta das mulheres contra a tirania e a injustiça.
Habitualmente ligada à revolta popular ocorrida no Minho e assim
chamada por ser oriunda de Fonte Arcada, dá-se na primavera de 1846 contra o
governo cartista presidido por Costa Cabral,
sobretudo, contra as leis da saúde de novembro de 1845 que, entre outras
disposições, proibiam os enterramentos nas igrejas como sempre se fizera até
aí, confinando-os aos cemitérios.
De facto, as mulheres minhotas protestaram pela
primeira vez em 19 de março na aldeia de Santo André de Frades, concelho de
Póvoa do Lanhoso, quando, após obrigarem o pároco a sepultar na igreja uma
mulher recentemente falecida, as autoridades decidiram exumar o corpo no
cumprimento da lei. Logo os sinos tocaram a rebate e um grupo de camponesas
obrigou à fuga das autoridades com risco das próprias vidas e, de uma forma
aparentemente espontânea e genuinamente popular, os protestos foram-se
repetindo até meados de abril quando passaram a ser direcionados para os
funcionários da Fazenda que faziam um levantamento de bens para efeitos do
lançamento de impostos.
Num misto de anarquia e defesa de dignidade, houve
em Vieira do Minho novos protestos mas assumindo já o carácter de uma revolta,
com mulheres a assaltarem a Administração e a destruírem os arquivos, depressa
se alastrando esta pelo resto do Minho e Trás-os-Montes.
Mas esta
revolta foi muito mais do que isto: foi o culminar das tensões sociais resultantes
das guerras liberais, exacerbadas pelo grande
descontentamento popular gerado, entre outros motivos, pelas novas leis que se
lhe seguiram de recrutamento militar e por alterações fiscais prejudiciais ao
povo.
A instigadora dos motins iniciais terá sido essa mulher do povo chamada
Maria, e que, por ser daquela freguesia de Fontarcada, ficou com a alcunha
de Maria da Fonte e, como a fase inicial do movimento insurrecional teve
uma forte componente feminina acabou por ser esse o nome dado à revolta. O
próprio Costa Cabral reconheceu que esta sublevação em curso no Minho foi uma revolução diferente de todas as
outras, porque todas as outras revoluções tinham tido, de alguma forma, um
princípio político, mas, esta, era feita por mulheres (e homens) de saco ao
ombro, foice na mão, ancinhos, paus, alavancas, chuços, espingardas e tudo o
que podiam apanharpara dar
cabo dos que os oprimiam.
Para ele, era uma revolta “sem chefe”, com duas mil e quatrocentas a três mil pessoas,
armadas daquele modo, mas foi muito mais do que isso: foi a voz do povo que se
fez ouvir através da voz de mulheres, centenas e centenas de mulheres que da
vida o duro trabalho sentiam mas também o da injustiça e da desigualdade
social.
Maria da Fonte representou e ainda representa a
Mulher Portuguesa simples, destemida, e que se for preciso em armas pegará
contra a injustiça e contra a opressão, assumindo com coragem e determinação o
confronto popular contra “os cabrais”.
Se nós temos um Orçamento e não o cumprimos, se dissemos que
a despesa devia ser de 100 e ela foi de 300, aqueles que são responsáveis pelo
resvalar da despesa também têm de ser civil e criminalmente responsáveis pelos
seus atos e pelas suas ações.
Não podemos permitir que todos aqueles que estão nas empresas
privadas ou que estão no Estado fixem objetivos e não os cumpram.
Sempre que se falham os objetivos, sempre que a execução do
Orçamento derrapa, sempre que arranjamos buracos financeiros onde devíamos
estar a criar excedentes de poupança, aquilo que se passa é que há mais pessoas
que vão para o desemprego e a economia afunda-se.
Não se pode permitir que os responsáveis pelos maus
resultados andem sempre de espinha direita, como se não fosse nada com eles.
Quem impõe tantos
sacrifícios às pessoas e não cumpre, merece ou não merece ser responsabilizado
civil e criminalmente pelos seus atos?
Pedro Passos Coelho
Excertos de discurso -
exigindo uma "nova cultura de responsabilidade" - proferido num jantar
do PSD/Barcelos (citado no Público de 06.11.2010 e nunca desmentido).
DOS ARTIGOS MAIS LÚCIDOS, MAIS REALISTAS E TAMBÉM MAIS DRAMÁTICOS QUE TENHO LIDO SOBRE A ATUALIDADE DO NOSSO PAÍS E DA ESMAGADORA MAIORIA DAS NOSSAS FAMÍLIAS! CUSTA LÊ-LO, SIM. CUSTA MUITO. Alguns dedicam-se obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas.
Recentemente, ficámos a saber, através do primeiro estudo epidemiológico nacional de Saúde Mental, que Portugal é o país da Europa com a maior prevalência de doenças mentais na população. No último ano, um em cada cinco portugueses sofreu de uma doença psiquiátrica (23%) e quase metade (43%) já teve uma destas perturbações durante a vida.
Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque assisto com impotência a uma sociedade perturbada e doente em que violência, urdida nos jogos e na televisão, faz parte da ração diária das crianças e adolescentes. Neste redil de insanidade, vejo jovens infantilizados incapazes de construírem um projecto de vida, escravos dos seus insaciáveis desejos e adulados por pais que satisfazem todos os seus caprichos, expiando uma culpa muitas vezes imaginária. Na escola, estes jovens adquiriram um estatuto de semideus, pois todos terão de fazer um esforço sobrenatural para lhes imprimirem a vontade de adquirir conhecimentos, ainda que estes não o desejem. É natural que assim seja, dado que a actual sociedade os inebria de direitos, criando-lhes a ilusão absurda de que podem ser mestres de si próprios.
Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque, nos últimos quinze anos, o divórcio quintuplicou, alcançando 60 divórcios por cada 100 casamentos (dados de 2008). As crises conjugais são também um reflexo das crises sociais.
Se não houver vínculos estáveis entre seres humanos não existe uma sociedade forte, capaz de criar empresas sólidas e fomentar a prosperidade.
Enquanto o legislador se entretém maquinalmente a produzir leis que entronizam o divórcio sem culpa, deparo-me com mulheres compungidas, reféns do estado de alma dos ex-cônjuges para lhes garantirem o pagamento da miserável pensão de alimentos. Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque se torna cada vez mais difícil, para quem tem filhos, conciliar o trabalho e a família.
Nas empresas, os directores insanos consideram que a presença prolongada no trabalho é sinónimo de maior compromisso e produtividade. Portanto é fácil perceber que, para quem perde cerca de três horas nas deslocações diárias entre o trabalho, a escola e a casa, seja difícil ter tempo para os filhos. Recordo o rosto de uma mãe marejado de lágrimas e com o coração dilacerado por andar tão cansada que quase se tornou impossível brincar com o seu filho de três anos.
Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque a taxa de desemprego em Portugal afecta mais de meio milhão de cidadãos. Tenho presenciado muitos casos de homens e mulheres que, humilhados pela falta de trabalho, se sentem rendidos e impotentes perante a maldição da pobreza. Observo as suas mãos, calejadas pelo trabalho manual, tornadas inúteis, segurando um papel encardido da Segurança Social. Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque é difícil aceitar que alguém sobreviva dignamente com pouco mais de 600 euros por mês, enquanto outros, sem mérito e trabalho, se dedicam impunemente à actividade da pilhagem do erário público.
Fito com assombro e complacência os olhos de revolta daqueles que estão cansados de escutar repetidamente que é necessário fazer mais sacrifícios quando já há muito foram dizimados pela praga da miséria.
Finalmente, interessa-me a saúde mental de alguns portugueses com responsabilidades governativas porque se dedicam obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas.
Entretanto, com a sua displicência e inépcia, construíram um mecanismo oleado que vai inexoravelmente triturando as mentes sãs de um povo, criando condições sociais que favorecem uma decadência neuronal colectiva, multiplicando, deste modo, as doenças mentais. E hesito em prescrever antidepressivos e ansiolíticos a quem tem o estômago vazio e a cabeça cheia de promessas de uma justiça que se há-de concretizar; e luto contra o demónio do desespero, mas sinto uma inquietação culposa diante destes rostos que me visitam diariamente.
Inquieta-me
viver num país em que as touradas, e tudo o que de profundamente repugnante e
desumano a elas está associado, são um tema ainda visto com relativa
neutralidade por grande parte da população. Uns são claramente contra, outros
tentam justificar a sua continuidade, ignorando a questão principal - o
sofrimento causado nos animais -, mas a maioria mantém-se neutra e
equidistante. No meio da polaridade fica a indiferença, a maior aliada da
crueldade e a pior inimiga da humanidade.
Essa
maioria, que opta convenientemente por viver de olhos fechados, permite que uma
minoria perpetue a barbárie nas praças espalhadas por este país fora. A maioria
indiferente, a do "tanto me faz" e do "é-me igual", acaba
por dar luz verde a que milhões de euros sejam anualmente gastos pelo
Estado, dinheiro de todos nós, promovendo e patrocinando o sofrimento de
animais, através do financiamento da tauromaquia. Actividade que alguns,
estranhamente, apelidam de "arte" (!). "Cerca de 16 milhões
de euros em fundos comunitários, públicos e, sobretudo, locais, é o valor
estimado de apoios às atividades taurinas."
Inês
Real, responsável pelo movimento de cidadãos "Fim dos Dinheiros
Públicos para as Touradas", vencedor da segunda edição de "O
Meu Movimento" no Portal do Governo (o vencedor do ano passado foi o
movimento "pela abolição das touradas), manifestou o repúdio pelo dinheiro
gasto e teve oportunidade de dizer ontem ao primeiro-ministro que "a
tauromaquia é uma actividade vegetativa que não gera riqueza e é incapaz de
subsistir por si própria. Não faz sentido que continue a ser
beneficiada uma minoria e meia dúzia de famílias em detrimento de outras áreas
carenciadas como a educação ou a saúde".
É, de
facto, uma vergonha o massacre de animais em praça pública para gáudio e
regozijo de meia dúzia. E os milhões não me impressionam. A questão não é só
essa. Um cêntimo que fosse gasto em touradas continuaria a ser errado. Os
tempos mudam e os maus hábitos deviam perder-se. Por exemplo, a mutilação
genital feminina, em alguns países africanos, é (ainda) hoje uma realidade. As
tradições não justificam tudo. Imputar um sofrimento brutal, excruciante, a
animais que, infelizmente neste país, não estão devidamente protegidos pela
lei não pode, nem deve, continuar. O fim das touradas é um sinal de avanço
da civilização, basta olhar para os poucos países que mantém esta actividade...
É um acto de inteligência e de humanidade.
Tiago
Mesquita, in Expresso, 20 de fevereiro de 2013
Foi uma "lufada de ar fresco", diz o deputado João Semedo, referindo-se à música "Grândola Vila Morena" cantada nas galerias da Assembleia da República, ontem, 15 de fevereiro.
No confronto com o primeiro-ministro, João Semedo questionava Passos Coelho, no sentido de saber se vai devolver os subsídios de desemprego e se finalmente "vai dizer onde vai cortar os 4 mil milhões de euros".
Pouca vergonha, digo eu.
Este primeiro ministro, este governo, a maioria da Assembleia da República, tem-se preocupado é com a troika e não com o país!
Sempre e cada vez mais de forma acrítica, vil, democraticamente inadmissível e judicialmente penalizável.
Sim, o que lhes tem importado é o que a troika diz seja sobre que assunto for ou como for e o que a troika manda, mesmo com o país à beira do abismo social e, não se admirem, de uma guerra civil, tal a promiscuidade política, económica e financeira que alastra por todo o lado e a podridão das instituições democráticas infestadas de corruptos, ladrões institucionalizados com o beneplácito do governo e Presidente da República que, de assalto, tomaram o nosso país e a sua direção, desde a mais pequena secretaria de estado até aos "servidores leais da coisa pública" que a prometeram respeitar.
Cambada de hipócritas! Medíocres!
Cambada de vendilhões! Déspotas! Lambe-botas! Carreiristas!
A maioria dos deputados também há muito que envergonha aquela casa, uma casa que devia ser o exemplo de cidadania e de democracia.
O governo já passou os limites da decência e da sensatez, se é que alguma vez a teve.
O que merece este PM que, com acrobacias verbais mas rascas e sorrisinhos prenhes de sarcasmo, vai tratando de forma grosseira os trabalhadores deste país, os trabalhadores pobres, claro, e os desempregados e famintos, ofendendo-os e roubando-lhes diariamente os mais elementares direitos humanos que a 25 de abril conquistaram?