Em jeito de homenagem às mulheres, ontem, hoje e sempre! Em todo o mundo!
Mais do que uma revolta, MARIA DA FONTE significa e sempre significará a
revolta das mulheres contra a tirania e a injustiça.
Habitualmente ligada à revolta popular ocorrida no Minho e assim
chamada por ser oriunda de Fonte Arcada, dá-se na primavera de 1846 contra o
governo cartista presidido por Costa Cabral,
sobretudo, contra as leis da saúde de novembro de 1845 que, entre outras
disposições, proibiam os enterramentos nas igrejas como sempre se fizera até
aí, confinando-os aos cemitérios.
De facto, as mulheres minhotas protestaram pela
primeira vez em 19 de março na aldeia de Santo André de Frades, concelho de
Póvoa do Lanhoso, quando, após obrigarem o pároco a sepultar na igreja uma
mulher recentemente falecida, as autoridades decidiram exumar o corpo no
cumprimento da lei. Logo os sinos tocaram a rebate e um grupo de camponesas
obrigou à fuga das autoridades com risco das próprias vidas e, de uma forma
aparentemente espontânea e genuinamente popular, os protestos foram-se
repetindo até meados de abril quando passaram a ser direcionados para os
funcionários da Fazenda que faziam um levantamento de bens para efeitos do
lançamento de impostos.
Num misto de anarquia e defesa de dignidade, houve
em Vieira do Minho novos protestos mas assumindo já o carácter de uma revolta,
com mulheres a assaltarem a Administração e a destruírem os arquivos, depressa
se alastrando esta pelo resto do Minho e Trás-os-Montes.
Mas esta
revolta foi muito mais do que isto: foi o culminar das tensões sociais resultantes
das guerras liberais, exacerbadas pelo grande
descontentamento popular gerado, entre outros motivos, pelas novas leis que se
lhe seguiram de recrutamento militar e por alterações fiscais prejudiciais ao
povo.
A instigadora dos motins iniciais terá sido essa mulher do povo chamada Maria, e que, por ser
daquela freguesia de Fontarcada, ficou com a alcunha de Maria da Fonte e, como a fase inicial do movimento insurrecional teve uma forte componente feminina acabou por ser esse o nome dado à revolta. O próprio Costa Cabral reconheceu que esta sublevação em curso no Minho foi uma revolução diferente de todas as outras, porque todas as outras revoluções tinham tido, de alguma forma, um princípio político, mas, esta, era feita por mulheres (e homens) de saco ao ombro, foice na mão, ancinhos, paus, alavancas, chuços, espingardas e tudo o que podiam apanhar para dar cabo dos que os oprimiam.
Para ele, era uma revolta “sem chefe”, com duas mil e quatrocentas a três mil pessoas,
armadas daquele modo, mas foi muito mais do que isso: foi a voz do povo que se
fez ouvir através da voz de mulheres, centenas e centenas de mulheres que da
vida o duro trabalho sentiam mas também o da injustiça e da desigualdade
social.
Maria da Fonte representou e ainda representa a
Mulher Portuguesa simples, destemida, e que se for preciso em armas pegará
contra a injustiça e contra a opressão, assumindo com coragem e determinação o
confronto popular contra “os cabrais”.
Daquele e do nosso tempo.