domingo, 8 de julho de 2012

Planeta não é sustentável sem controle do consumo e população

Níveis de consumo em países ricos são motivo de preocupação


O consumo excessivo em países ricos e o rápido crescimento populacional nos países mais pobres precisam ser controlados para que a humanidade possa viver de forma sustentável.

A conclusão é de um estudo de dois anos de um grupo de especialistas coordenados pela Royal Society (associação britânica de cientistas).

Entre as recomendações dos cientistas estão dar a todas as mulheres o acesso a planejamento familiar, deixar de usar o Produto Interno Bruto (PIB) como um indicativo de saúde econômica e reduzir o desperdício de comida.

O relatório da Royal Society será um dos referenciais para as discussões da Rio+20, cúpula que acontecerá na capital fluminense em junho próximo.

"Este é um período de extrema importância para a população e para o planeta, com mudanças profundas na saúde humana e na natureza", disse John Sulston, presidente do grupo responsável pelo relatório.

"Para onde vamos depende da vontade humana - não é algo predestinado, não é um ato de qualquer coisa fora (do controle) da humanidade, está em nossas mãos".

John Sulston ganhou renome internacional ao liderar a equipe britânica que participou do Human Genome Project, projeto responsável pelo mapeamento do genoma humano.

Em 2002, ele foi ganhador, junto com outro cientista, de um prêmio Nobel de Medicina, e hoje é diretor do Institute for Science Ethics and Innovation, na Manchester University, em Manchester.


Discussão retomada

Embora o tamanho da população humana da Terra fosse no passado um importante ponto de discussão em debates sobre o meio ambiente, o assunto saiu da pauta de discussões recentemente.


A expansão populacional ameaça a espécie das abelhas, fator não computado no cálculo do PIB

Em parte, isso aconteceu porque alguns cientistas chegaram à conclusão de que a Terra seria capaz de suportar mais pessoas do que o imaginado. Além disso, países em desenvolvimento passaram a considerar a questão como uma cortina de fumaça criada por nações ocidentais para mascarar o problema do excesso de consumo.

Entretanto, o tema voltou à pauta de discussões após novos estudos terem mostrado que mulheres em países mais pobres, de maneira geral, desejam ter acesso ao planejamento familiar, o que traria benefícios à suas comunidades.

Segundo a projeção "média" da ONU, a população do planeta, atualmente com 7 bilhões de pessoas, atingiria um pico de pouco mais de 10 bilhões no final do século e depois começaria a cair.

"Dos três bilhões extra de pessoas que esperamos ter, a maioria virá dos países menos desenvolvidos", disse Eliya Zulu, diretora execuriva do African Institute for Development Policy, em Nairóbi, no Quênia. "Só na África, a população deve aumentar em 2 bilhões".

"Temos de investir em planejamento familiar nesses países - (desta forma,) damos poder às mulheres, melhoramos a saúde da criança e da mãe e damos maior oportunidade aos países mais pobres de investir em educação".

O relatório recomenda que nações desenvolvidas apoiem o acesso universal ao planejamento familiar - o que, o estudo calcula, custaria US$ 6 bilhões por ano.

Se o índice de fertilidade nos países menos desenvolvidos não cair para os níveis observados no resto do mundo - alerta o documento - a população do planeta em 2100 pode chegar a 22 bilhões, dos quais 17 bilhões seriam africanos.


Ultrapassando Fronteiras

O relatório é da opinião de que a humanidade já ultrapassou as fronteiras planetárias "seguras" em termos de perda de biodiversidade, mudança climática e ciclo do nitrogênio, sob risco de sérios impactos futuros.


Pesquisadores recomendam o controle de natalidade em países em desenvolvimento
Segundo a Royal Society, além do planejamento familiar e da educação universal, a prioridade deve ser também retirar da pobreza extrema 1,3 bilhão de pessoas.

E se isso significa um aumento no consumo de alimentos, água e outros recursos, é isso mesmo o que deve ser feito, dizem os autores do relatório.

Nesse meio tempo, os mais ricos precisam diminuir a quantidade de recursos materiais que consomem, embora isso talvez não afete o padrão de vida.

Eliminar o desperdício de comida, diminuir a queima de combustíveis fósseis e substituir economias de produtos por serviços são algumas das medidas simples que os cientistas recomendam para reduzir os gastos de recursos naturais sem diminuir a prosperidade de seus cidadãos.

"Uma criança no mundo desenvolvido consome entre 30 e 50 vezes mais água do que as do mundo em desenvolvimento", disse Sulston. "A produção de gás carbônico, um indicador do uso de energia, também pode ser 50 vezes maior".

"Não podemos conceber um mundo que continue sendo tão desigual, ou que se torne ainda mais desigual".

Países em desenvolvimento, assim como nações de renda média, começam a sentir o impacto do excesso de consumo observado no Ocidente. Um dos sintomas disso é a obesidade.


PIB

A Royal Society diz que é fundamental abandonar o uso do PIB como único indicador da saúde de uma economia.

Em seu lugar, países precisam adotar um medidor que avalie o "capital natural", ou seja, os produtos e serviços que a natureza oferece gratuitamente.

"Temos que ir além do PIB. Ou fazemos isso voluntariamente ou pressionados por um planeta finito", diz Jules Pretty, professor de meio ambiente e sociedade na universidade de Essex.

"O meio ambiente é de certa forma a economia... e você pode discutir gerenciamentos econômicos para melhorar as vidas de pessoas que não prejudique o capital natural, mas sim o melhore", completa.

O encontro do Rio+20 em junho deve gerar um acordo com uma série de "metas de desenvolvimento sustentável", para substituir as atuais metas de desenvolvimento do milênio, que vem ajudando na redução da pobreza e melhoria da saúde e educação em países em desenvolvimento.

Não está claro se as novas metas vão pedir o compromisso de que os países ricos diminuam seus níveis de consumo.

Governos podem ainda concordar durante o encontro no Rio a usar outros indicadores econômicos além do PIB.


Richard Black, da BBC News, atualizado em 26 de abril, 2012 - 13:45 (Brasília) 16:45 GMT

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Starry starry night

Das composições mais lindas - de Don McLean - que tenho escutado e que continuo a escutar sempre, com muito prazer.
Foi-me dada a conhecer pelo meu querido amigo Nílton, que a tocava e cantava maravilhosamente!
Pena é que não consiga encontrar uma gravação deste tema com melhor qualidade técnica!



Neste vídeo, como fundo musical de trabalhos de Van Gogh, a qualidade da gravação é muito melhor, permitindo, ao mesmo tempo, apreciar trabalhos fabulosos deste genial pintor.


O nascimento do Homem



Atualizadíssimo e rigorosíssimo, proporcionando uma informação completa, apoiada numa vasta e muito bem selecionada bibliografia, suscitador de outras reflexões e aprofundamentos, este livro é, teria de ser por isto mesmo, tão bem escrito, tão fluente, o autor tão entusiasmado com o seu tema, que se lê com o interesse, com o prazer dum romance.
A partir das mais recentes descobertas dos especialistas, Robert Clarke traça a história, admirável, e não raro comovente, do desenvolvimento da Humanidade.
A emergência da linguagem, a invenção dos utensílios, a criação de culturas, fundam esse desenvolvimento pautado pelo advento do fogo, da arte, da agricultura, da metalurgia, da arquitectura e da escrita.

Ed. Gradiva

A liberdade de expressão na Internet

Numa altura em que cada vez mais se reconhece a importância que as redes sociais têm tido na tomada de poder dos povos, dos trabalhadores, dos jovens, das mulheres... junto dos governos opressivos, dos regimes ditatoriais e da luta pelos Direitos Humanos (e Direitos dos Animais não humanos!), é de louvar e era de esperar que a ONU tomasse a posição de defender a liberdade no mundo digital, imprescindível, nos dias de hoje, para a cidadania ativa tão necessária e tão urgente seja em que parte do mundo for.


Assim, o Conselho de Direitos Humanos da ONU aprovou ontem uma resolução em defesa da liberdade de expressão na Internet, uma decisão que já foi considerada histórica e que surge numa altura em que vários países têm aumentado esforços para limitar o acesso à informação e fechar os meios de comunicação de ativistas contrários aos seus regimes políticos.
Esta é a primeira vez que o Conselho aprova uma resolução na qual os direitos humanos no mundo digital devem ser protegidos e promovidos na mesma extensão e com o mesmo empenho que no mundo físico, embora a União Internacional das Telecomunicações – outro organismo da ONU – já defenda o princípio desde 2003.
O papel que as redes sociais tiveram na chamada Primavera Árabe, mobilizando a população e disseminando informação que outros meios de comunicação tradicional ocultavam, foi uma das bases para o debate, mas outros exemplos, como China e Cuba foram utilizados.
A decisão de proteger a liberdade de expressão foi consensual, assim como a proteção do acesso à Internet. A declaração do conselho reconhece que “a natureza global e aberta da Internet é uma força motriz que acelera o progresso e o desenvolvimento”.
Já no início do ano alguns membros do conselho tinham sugerido, na primeira sessão dedicada ao tema na ONU, que o Conselho adotasse uma resolução no sentido de defender a liberdade de expressão na Internet, lembrando que mais de 40 países têm em vigor sanções, um número que aumentou consideravelmente face aos últimos anos.

Se não fossem as redes sociais, sobretudo, a facilidade que os blogues e o facebook nos têm dado para partilhar informação, esclarecer, ensinar, alertar... muita da realidade e da verdade jamais chegaria a todos, destacando-se aqui a importância das mesmas para o esclarecimento da Política, da Economia e da forma como os governates agem, tantas vezes ao arrepio das decisões constitucionalmete adquiridas e legitimadas pelo sufrágio popular e pela decisão soberana da maioria.

Mesmo sabendo que o que sabemos constitui a ponta do iceberg, é inegável o contributo da Internet para o derrube dos ditadores e para a tomada de posição popular face às injustiças e face aos atentados contra a democracia e os Direitos Humanos.

A luta continua mas, com a liberdade que a Internet nos dá de mobilizar e esclarecer, seguramente, tornar-se-á e tem-se tornado muito mais fácil agir e, sobretudo, agir prontamente e com conhecimento de causa.

Excelente notícia, esta, pela manhã!

Nazaré Oliveira

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Vale tudo em nome da troika

Famílias sobre-endividadas recorrem cada vez mais à DECO



Segundo o Diário Digital de hoje, 86 pessoas por dia pedem ajuda à DECO por não conseguirem pagar contas. Esta organização foi contatada por cerca de 15.700 portugueses no primeiro semestre deste ano, muitos dos quais funcionários públicos e reformados que não conseguem pagar as suas contas.

E se pensarmos nos pobres e aflitos que, envergonhados, não dizem nada a ninguém e até fingem que mal não estão, escondendo o drama terrível em que se encontram, sem dinheiro que chegue para pagar dívidas  que, naturalmente, esperavam poder atenuar com o subsídio de férias, escandalosamente retirado sem dó nem piedade?

Escondem dos filhos, da família, dos amigos e dos colegas mais próximos, a falta de bens essenciais e a sua incapacidade para fazer face ao dia-a-dia. Sorriem para não chorar e passam uma imagem que publicamente os proteja de um sofrimento que, solitariamente, arrastam pelos quatro cantos da casa ou, quando ganham coragem, levam até à DECO ou até um qualquer amigo a quem confidenciam a sua angústia, amargura e desespero. 

Mas a vida é cruel, muito cruel, tendo sido aos mais pobres e de mais parcos recursos que as medidas de austeridade mais dramaticamente sorveram alguma da sua pouca tranquilidade, levando-lhes subsídios e direitos legitimamente e constitucionalmente adquiridos, com os quais contavam, não para férias nas Caraíbas ou afins, carros ou carrões, roupas ou SPAs mas, simplesmente, para reorganizar e tentar equilibrar orçamentos familiares já de si tão apertados, particularmente entre os funcionários públicos e reformados, cujos rendimentos diminuíram substancialmente devido a esses cortes, a esses roubos legalizados.

Segundo a coordenadora do Gabinete de Apoio aos Sobreendividados (GAS), Natália Nunes, em declarações à RR, o número de sobreendividados aumentou 50% em relação a igual período do ano passado, salientando que cada vez mais é o crédito pessoal que contribui para desestabilizar as contas: «45% de todo o crédito que renegociamos é crédito pessoal, daí o peso que este tem no seio do orçamento das famílias», afirmou.

Em dois anos, mais do que duplicaram os pedidos de ajuda. No entanto, numa ofensiva cada vez mais imoral e sem limites, o governo fala de austeridade, de necessidade de austeridade, de valores a atingir, de metas da troika para cumprir, cada vez mais de austeridade, de pesada e discutível austeridade, "sem limites", "a torto e a direito", esquecendo que aos poucos vai matando quem a custo sempre sobreviveu e que, agora, inevitavelmente, sucumbirá face às investidas de políticos e de políticas desumanas e de um capitalismo selvagem que tem feito das nossas vidas um inferno mas das vidas de certos lordes um paraíso.

Há quem mate sem parecer que o faz. Há quem viva morrendo.


Nazaré Oliveira

quarta-feira, 4 de julho de 2012

O Regime pós-democrático que se avizinha: a Indiferenciatura


Achei que este artigo levava (e leva!) a uma séria reflexão.
Aqui fica.

 Manuel Villaverde Cabral (http://historico.ensino.eu)

Manuel Villaverde Cabral (http://historico.ensino.eu)

Num dos debates organizados pelo MIL e pela PODe o sociólogo Manuel Villaverde Cabral defendeu a tese de que “a economia funcional é incompatível com a democracia”. Isso explicaria porque é que alguns dos países que exibem hoje condições económicas mais prósperas são precisamente aqueles onde o sistema democrático é mais aparente ou disfuncional: China, Vietname, Angola, Rússia, entre outros… Tudo se passa como se fosse impossível viver em democracia, ter direitos cívicos e sociais e conciliar tal liberdade com o desenvolvimento económico.

Esta aparente incompatibilidade resultaria da “necessidade” de conceder direitos cívicos, democráticos e laborais aos cidadãos e de manter os custos de produção baixos, os níveis de contestação social e laboral residuais.

A interpretação pessimista de Villaverde pode levar-nos a crer de que a curto prazo os poderes económicos haverão de levar as democracias ocidentais à extinção e irão impor sistemas ditatoriais, um pouco como a resposta de muitos países europeus à “Grande Depressão” da década de 20 e 30 foi precisamente a vaga de ditaduras e regimes autoritários que então se impuseram na Europa de Leste e do Sul. Aplicando desta forma redutora este paralelismo, poderíamos ser levados a crer na repetição desta resposta. Mas a História nunca se repete de forma literal… As condições hoje não são propicias a um regresso puro e duro do mesmo tipo de regimes que se estenderam por boa parte da Europa nessa época: as populações dispõem do conhecimento dos excessos que esses regimes trouxeram ao globo e as democracias estão demasiado amadurecidas para que possam subitamente degenerar em ditaduras.

Mas o processo de transformação das democracias “noutra coisa” está em marcha. Não serão as ditaduras racistas e de Extrema-direita de antanho, mas observamos já uma virtualização, uma ritualização vazia, um esvaziamento efetivo da ação e capacidade dos órgãos eletivos para representarem os seus cidadãos. No atual contexto, é possível exprimir livremente todas as opiniões, manifestarmo-nos e publicar praticamente tudo. Mas tudo isso é cada vez mais irrelevante.

O Ocidente não caminha para uma nova vaga de ditaduras. Caminha – e a passos largos – para uma Indeferênciatura, a ditadura da indiferença, em que continuará a ser possível votar e exprimir livremente as suas opiniões, mas que o controlo dos meios de comunicação pelos interesses económicos, pelas multinacionais e seus agente, é tão absoluto que apenas os “candidatos do sistema” estão autorizados a alternarem no poder, e onde sátrapas desses interesses são instalados remotamente nas democracias em dificuldades financeiras como a Itália ou a Grécia.

Publicado em 2012/06/30 por Clavis Prophetarum
Retirado do http://movv.org/