domingo, 31 de julho de 2011

As crianças-soldados


A resolução 1998 das Nações Unidas é de extrema importância e, aqui, mais uma vez, o papel fundamental da ONU na defesa da dignidade, direitos humanos e justiça.


Ao ponto que se chega quando se aliciam, recrutam e treinam crianças para a guerra!

Injectam-lhes raiva e preparam-nos para destruir, matar, matar os outros e matarem-se a si próprias, em nome de um pretenso deus misericordioso que no céu os acolherá, esvaziados que foram de qualquer sentimento que não o ódio e a vingança. Completamente manipulados pelos que, em nome da fé, da intolerância e do egoísmo, os impelem para o encontro com a morte que deles fará mártires e heróis estupidamente desaparecidos.

Não olharam nem olham a meios para saciar a sua fome de poder e a sua sede de sangue, fazendo na terra o verdadeiro Inferno que a todos atormenta, obsessivamente impelidos pela cegueira do fundamentalismo religioso e escondidos no terrorismo com o qual roubam a vida de inocentes, a infância, paz e o direito que todos têm de ser felizes.  

Afeganistão, Birmânia, Burundi, Chade, República Centro-Africana, Colômbia, República Democrática do Congo, Filipinas, Nepal, Somália, Sudão, Sri Lanka e Uganda, são os países onde mais casos se verificam de crianças recrutadas para combater.
Além de recrutadas quase sempre pela força, são raptadas às suas famílias e à pobreza imensa das suas vidas, drogadas e psicologicamente instrumentalizadas para a espionagem, exploração sexual e, horror dos horrores, para servirem de escudos humanos.

Calcula-se que haja mais de 300 mil crianças envolvidas em conflitos armados por esse mundo fora. 
A Unicef refere que a maioria é adolescente e que até crianças com 7 anos estão nestas situações.
Quando os ”compromissos de Paris” em 2007 foram assumidos,  os países prometeram combater a “impunidade” dos que cometem estes recrutamentos e "investigar e perseguir” essas pessoas, opondo-se à amnistia destes crimes. Para pôr termo a este recurso inaceitável, a conferência de Paris também se propôs aprovar um acordo no sentido de se desenvolverem novos programas de libertação, de protecção e de reinserção social dessas crianças-soldados.
Estas, devem ser consideradas como vítimas e não apenas como presumíveis culpados.
O trabalho de Graça Machel   http://www.unicef.org/graca/ "O impacto dos conflitos armados sobre as crianças", the impact of conflict on children, trouxe uma maior visibilidade a estas crianças e jovens e aos horrores da sua condição de “soldados”, aprofundando o debate sobre matéria tão séria e tão urgente, quer  à luz dos Direitos Humanos/Direitos da Criança quer à luz do Direito Internacional, permitindo “o rápido entendimento de que crianças transformadas em combatentes são vítimas ou alvo fácil para manipulações por parte de organizações que aderem aos conflitos em busca de ganhos políticos”.
Leituras que sugiro:
Nazaré Oliveira
 

New York, 12 July 2011 - During the annual Security Council Open Debate on Children and Armed Conflict, the Security Council unanimously adopted a resolution expanding the criteria for listing parties to conflict in the Secretary-General's annual report. The criteria now include parties who attack schools and hospitals.
Additionally, the Security Council, under the German presidency, firmly reiterates its readiness to impose targeted measures against those who persistently violate children's rights in conflict. Read Full Press Release









PRESS STATEMENT: Statement by the Special Representative for Children and Armed Conflict on the protection of children in Libya (09 Mar)










The sharkman. O homem-tubarão.

sábado, 30 de julho de 2011

Dom Manuel Martins e as touradas





Li isto e partilhei no FB: "A NOBREZA do TOURO E A COBARDIA DO HOMEM. Um bispo contra as touradas-Cabe aqui referir a importante posição de D. Manuel Martins (Bispo de Emérito de Setúbal), quando gentilmente recebeu uma delegação do MATP - Movimento Anti-Touradas de Portugal e lhe questionamos se gostava de touradas: "Não gosto, nunca gostei. Brincar barbaramente com um animal, como na tourada, acho que é uma agressão à Ecologia, ao equilíbrio da natureza." Fonte: MATP - Movimento Anti-Touradas de Portugal”

Aqui reproduzo a troca de opiniões interessante que provocou, dia 24 de Julho, na minha página do FB. Da discussão nascerá a luz?

RPS Nunca percebi a fobia actual destas "cruzadas" anti-taurinas. Em sua substitução é mais um modo de cultura que se destroi. E claro... já te disse anteriormente, em sua substituição caminharemos, a passos largos, na tão famigerada globalização e no vazio cultural. Com coisas tão importantes para se preocuparem, a burguesa essencia de certos intelectuais (ou armadados em tal) urbanos DESTROIEM pedra atrás de pedra da alma de um país!!! Mais uma vez reconheceremos que Hemingway e Picasso eram umas "bestas sanguinárias", assim como o são muitos mais. E até na Igreja, tal como como D. Januário Torgal Ferreira que por acaso até tem uma visão completamente oposta ao "Bispo Vermelho".
Luisa Correia‎"cruzadas" talvez por uma boa causa...No circo romano a multidão também se divertia...
Nazaré Oliveira R, gostaria que me respondesses, sinceramente, com sim ou não, às seg perguntas sobre esse "espectáculo"? 1- é feito com crueldade? 2- é sangrento? 3- é macabro? 4- é fonte de rendimento? 5- é um negócio? 6- serve a educação cívica? 7- promove boas práticas? 8- dá prazer? 9- tem utilidade? 10- faz sentido? 11- é desporto? POR FAVOR, AGRADECIA QUE FUNDAMENTASSES OS TEUS SIM OU NÃO, PARA QUE TODOS PERCEBAM, AFINAL, DE QUE É QUE TENS MEDO, OU MELHOR, QUAL É A TUA FOBIA. Vou ler atentamente as tuas fundamentações pois, as minhas, já as conhecem há muito, quer nas n conversas quer nos artigos q publico no meu blogue.
Nazaré Oliveira Já agora, eu sou contra a tourada do mesmo modo que sou contra a tortura, a crueldade, a pena de morte, a humilhação e a exploração do sofrimento dos outros, a ignorância e a estupidez. Quero lá saber se A ou B estão ou não "do meu lado"! O que me interessa é que EU ESTOU DO LADO DA VIDA. Vida com dignidade que reivindico para todos, até para os ignorantes e estúpidos.
RPS Nazaré. Sabes que o sentido da "tourada" é cultural, simbólico e até místico. É a representação do "triunfo da arte sobre a força bruta; da inteligencia sobre a bestialidade; da coragem sobre a adversidade do imprevisivel! E tudo isto se representa numa celebração, porque tudo isto existe na nossa própria vida. E, obviamente para os anti-tourada o resultado é fácil de prever: menos uma tradição e extinção completa dos touros bravos! Talvez isso satisfaça os relativistas culturais: Aqueles que em troca da destruição da essencia nacional o sustituem por culturas estrangeiras ou por sub-culturas mediocres...
Luisa Correia A tourada é uma arte que gera sangue e sofrimento.O Rui identifica o touro com a força bruta,a bestialidade, o imprevisível.Um touro picado é excitado, sofre e em desespero ataca...é condicionado para dar espetáculo!E o homem aí exercita a sua inteligência, a sua arte triunfal de coragem sobre a adversidade?? Não haverá outras formas mais construtivas de celebrar estas qualidades? A extinção da tourada como destruição de uma tradição e de uma cultura? Assim não se deveria ter acabado com a pena de morte!Era a celebração pública da justiça, o castigo exemplar perante a multidão!Além disso as culturas deverão supostamente evoluir num sentido mais humano que inclui o respeito pelos animais ( mesmo os selvagens)e pelo ambiente. Fique na sua Rui.Divirta-se com as touradas.Também lutarei pela " essência nacional" mas sem touradas!
RPS Luisa. O problema é que as culturas "não estão a evoluir" mas sim a regredir! Tudo se destroi e tudo se apaga e NADA RESTA para além da sub-cultura de mediocridade ou dos estrangeirismos por complexo. É isso que essencialmente condeno, da mesma forma que digo NÃO ao paternalismo por decreto! Se há liberdade para umas coisas, então deverá haver para todas.
Nazaré Oliveira Pagam um dinheirão para ver este HORROR e TERROR e dizem, depois, não ter dinheiro para comprar os manuais para os filhos ou, então, andam "à mama" a pedinchar subsídios e a fazerem-se de pobrezinhos! Este país está cheio de merdosos!
RPS Luisa. Essa do Circo Romano já não pega. Por paralelismo, é a mesma coisa que estar a querer condenar o cristinismo e só falar da Inquisição!
Nazaré Oliveira RPS, não conseguiste fundamentar o que te pedi nas perguntas aqui colocadas no domingo às 18.34h. Obrigada. Essa é a melhor prova que me/nos podias dar para justificar o que NEM TU PRÓPRIO CONSEGUES.
Aliás, estás mesmo bem "nesse clube": usas os chavões habituais dessa gente que só se excita na arena e com os touros, com o sangue a jorrar do corpo desses seres inocentes e indefesos.
Essa gentinha, incluindo os forcados) cheios de paranóias, frustrações, machões a tresandar a marialvismo, vivem do sadismo e do gozo que lhes dá o cheiro do sangue quente e o som da carne a rasgar-se pela força bruta e impiedosa das bandarilhas traiçoeiras que os vão enfraquecendo e matando lentamente ao som das palmas criminosas de gente perversa que assiste e vibra com raiva, com ódio e estupidez, a cenário tão macabro.
A pé ou a cavalo, escondem a sua pequenez (interior e exterior) debaixo das ridículas e efeminadas vestimentas que os espartilham até ao cérebro.
Mentalmente entorpecidos, nunca sabem responder às minhas perguntas, quero dizer, FUNDAMENTAR O SEU “SIM” OU O SEU “NÃO”, como acabaste de provar, desde domingo às 18.34h!
Agarram em meia dúzia de palavras sonantes pseudo-intelectualmente brilhantes e espetam-nos com elas como se “do lado de cá” embrutecidos também houvesse.
Palavras vazias de sentido e de humanidade, pretensiosamente e incorrectamente utilizadas para transmitirem uma postura cultural e moral que nunca terão (e demonstram sempre nunca ter), pavoneando-se como heróis que são da verborreia fácil perante aquela plateia de criaturas horrendas à espera do sofrimento e da morte que aplaudem até de pé.
RPS Detesto paternalismos...

O terrorista de Oslo está a servir-se de nós



Estes tipos, que fazem do Mein Kampft o seu livro de cabeceira, claro que planeiam tudo! Claro que são inteligentes nessa planificação do terror e da monstruosidade!
Estúpidos e nojentos são os que lhes arranjam sempre patologias mentais para os safarem ou branquearem a sua imagem, como se um monstro destes alguma vez tivesse um pingo de dignidade!
Com brandos costumes, aqui ou na Noruega, aumentarão certamente os perigos para as sociedades democráticas, irremediavelmente condenadas pela ignorância dos que não vêem ou não querem ver a diferença.
É verdade, sim, chega a causar asco o tempo de antena que esses tipos têm e a arrogância com que dele se servem!



UMA MONSTRUOSIDADE!

terça-feira, 26 de julho de 2011

União Europeia - Os apelos ao “federalismo”


Os apelos ao “federalismo” mostram uma vontade: a vontade de não cumprir o programa assinado entre Portugal, a União Europeia e o FMI.
Passaram dois meses desde a assinatura do acordo, este mal começou a ser implementado, e já há quem tenha assumido uma das atitudes favoritas dos portugueses: vamos arranjar uma maneira de nos safar sem ter que fazer o trabalho difícil. A atitude do "esquema" vestiu a roupa do federalismo europeu. Claro que ao fazê-lo, assume uma posição moral, aparentemente desinteressada, e até para o bem da própria "Europa".
O que significa então esta nova versão de "federalismo"? Basicamente, federar a dívida portuguesa (mais a grega, a irlandesa e, talvez, a espanhola, a italiana e a belga).
Em traços gerais, seria este o resultado dos ‘eurobonds'. É por isso que a Alemanha e os seus aliados da zona Euro têm rejeitado as soluções que visam "europeizar" as dívidas. Além de não quererem transferir dinheiro para os países endividados, desconfiam que a solução "fácil" iria adiar, mais uma vez, a necessidade de reformas estruturais. E vendo as resistências às reformas que começam a aparecer, têm alguma razão.
Até pode acontecer que para salvar o Euro seja necessário aprofundar a construção europeia e encontrar-se uma fórmula para os países mais ricos se responsabilizarem pelas dívidas dos mais endividados. Mas ninguém julgue que isso resolve o problema e que poderíamos, então, voltar à vida do costume. A federação da dívida teria um outro lado: a federação da autoridade e do poder. E quem pagar, vai mandar ainda mais.
Ao contrário do que pensam os seus defensores, o "federalismo" pode salvar o Euro, mas não resolve o essencial. Isto não é uma crise do Euro. O problema de fundo da crise europeia é que chegámos ao fim de um modelo económico e social e de um certo modo de vida. Não é possível continuar a aumentar o consumo, a reforçar os privilégios sociais, sem produzir a riqueza suficiente e a viver de crédito. Só há duas soluções: ou produzimos mais, e continuamos a ser prósperos; ou não produzimos, e perdemos privilégios. Mesmo que haja mais "federalismo", teremos que fazer reformas ou alterar o modo como vivemos.
De resto, só mudaria a autoridade que nos obrigaria a fazê-lo. Seria alguém em nome da "federação". Esta é a última hipótese de sermos nós portugueses, através das instituições nacionais e após um processo de legitimização democrática, a fazê-lo. Se ainda há orgulho e dignidade no nosso país, vamos cumprir as nossas obrigações sem ficar à espera que nos salvem.
No fundo, nesta narrativa ilusória, a "federação europeia" substituiria o Estado português. Se este já não pode pagar, que pague aquela. Mudar de vida é que não. Eis, o verdadeiro problema: há muita gente que ainda não consegue imaginar um futuro diferente e melhor que o passado.

João Marques de Almeida, Professor universitário http://economico.sapo.pt/noticias/federalismo_122790.html

Africa famine experts: 800,000 children may die


Por que é que os países que podem ajudar esta gente não o fazem? Depressa! 

Estraga-se tanta água, alimentos, medicamentos...Consome-se tanta porcaria! Vive-se de uma forma tão egoísta, tão desumana, tão indiferente ao OUTRO!
Acentua-se o abismo entre quem tem tudo e quem não tem nada.
Mas o que revolta e enoja é que são sempre os mesmos a pagar com a vida as consequências da aplicação de políticas económicas e ambientais que os mais poderosos teimam em prosseguir!
Até quando? Até quando esta realidade tragicamente documentada nas fotos anexas? Até quando estes massacres, estes rostos, estes olhos, esta DOR?
Até quando relações políticas e internacionais de hipocrisia feitas e falsas promessas? Até quando?

July 26, 2011 11:01 AM
Mihag Gedi Farah, a seven-month-old child with a weight of 3.4kg, is held by his mother in a field hospital of the International Rescue Committee, IRC, in the town of Dadaab, Kenya, Tuesday, July 26, 2011. (AP Photo/Schalk van Zuydam) (AP) 


DADAAB, Kenya - Mihag Gedi Farah is 7 months old, and weighs as little as a newborn with the weathered skin of an old man.

His mother managed to get him to a field hospital in a Kenyan refugee camp after a weeklong odyssey, but the baby's anguished eyes, hollow cheeks and fragile limbs show just how severe Somalia's famine is becoming.

Officials have warned that 800,000 children could die across the Horn of Africa, and aid workers are rushing to bring help to dangerous and previously unreached regions of drought-ravaged Somalia.




Mihag's sunken face brings new urgency to their efforts and raises concerns about how many children like him remain in Somalia, far from the feeding tubes and doctors at this Kenyan refugee camp.

His fragile skin crumples like thin leather under the pressure of his mother's hands, as she touches the hollows where a baby's chubby cheeks should be.


Sirat Amine, a nurse nutritionist with the International Rescue Committee, puts the little boy's odds of survival at just 50-50. Mihag weighs just 7 pounds, 8 ounces when a boy his age should weigh nearly three times that.

"We never tell the mother, of course, that their baby might not make it," the nurse says. "We try to give them hope."




Mihag is the youngest of seven children in his family. His mother brought him along with four of his siblings on the journey from Kismayo to northern Kenya after all their sheep and cattle died because of drought.

Like the tens of thousands of other Somalis fleeing starvation, the family traveled by foot, other times catching rides with passing trucks, cars or buses.

His mother, Asiah Dagane, isn't sure of her age but appears in her mid-30s. She sits at her baby's bedside with little to say: "In my mind I'm not well. My baby is sick. In my head I am also sick," she says softly.

The United Nations estimates that more 11 million people in East Africa are affected by the drought, with 3.7 million in Somalia among the worst-hit because of the ongoing civil war in the country.


Somalia's prolonged drought devolved into famine in part because neither the Somali government nor many aid agencies can fully operate in areas controlled by al Qaeda-linked militants, and the U.N. is set to declare all of southern Somalia a famine zone as of Aug. 1.

Aid organizations including the U.N. World Food Program have not been able to access areas under the control of the al-Shabab militants, who have killed humanitarian workers and banned the WFP.

The U.N. has said it will airlift emergency rations later this week in an effort to try and reach at least 175,000 of the 2.2 million Somalis who have not been helped yet.

The new feeding efforts in the four districts of southern Somalia near the border with Kenya and Ethiopia could begin by Thursday, slowing the flow of tens of thousands of people who have fled their homes in hope of reaching aid.

But the WFP hasn't operated there for more than two years, and must find and rehire former employees to help with distribution. Transportation is also a substantial obstacle, as land mines have severed key roads and a landing strip has fallen into disrepair.

Donations are also desperately needed to sustain the aid effort in the Horn of Africa: The U.N. wants to gather $1.6 billion in the next 12 months, with $300 million of that coming in the next three months.

On Wednesday, the U.N. Food and Agriculture Organization said a coordination conference is due to be held Wednesday in the Kenyan capital.

O problema mais importante e urgente


É à Escola e aos professores que, desde a Antiguidade, muitas sociedades, com destaque para as sociedades ocidentais, têm confiado a educação formal de crianças e jovens.

E porque é que o têm feito? Entendo que há uma razão fundamental que, curiosamente, vejo escapar em muitas discussões actuais sobre a função de tal educação e na qual vislumbro três pólos: o desenvolvimento de certas capacidades cognitivas, afectivas e motoras dos sujeitos; o funcionamento a níveis aceitáveis de comunidades e estados; e a transmissão e ampliação da herança civilizacional.

Na verdade, como humanos, cedo percebemos que a educação formal nos permite vir a desfrutar de capacidades que trazemos em potência ao nascer e que tal se faz com base em conhecimentos acumulados ao longo do tempo, conhecimentos que valorizamos e, nessa medida, transformamos em memória funcional.

Assim, transmitir conhecimentos, técnicas, valores, instruir, preparar para a cidadania, para a consciência do mundo, para o progresso, para o bem, para o belo, para a liberdade, até para a felicidade, são alguns dos grandes propósitos que têm conduzido o sonho e a acção educativa.

É certo que há muitos momentos em que a tais propósitos têm dado lugar aos seus contrários: regimes aberta ou disfarçadamente totalitários encarregam-se disso nas suas primeiras medidas.

Porém, desde os esboços de democracia grega até ao presente, temos conseguido fazer face a esses regimes bem como a crises de toda a ordem. Por isso, a escola e os ideais que persegue, ainda que com inúmeras variantes, sobreviveram, o mesmo se pode dizer do ensino, a profissão que os concretiza. Mas isto não constitui qualquer garantia de que assim continue a acontecer.

Efectivamente, a educação é uma tarefa interminável, que requer, a cada momento, reconstituições com cada sujeito e para cada sujeito, de modo que este se aproprie de uma parte do humano, se conduza por ele e, eventualmente, o transmita a outros. Percebe-se que qualquer falha menor nessa tarefa, acarreta prejuízos incalculáveis: debilita-se a vocação e o entendimento que temos de “pessoa”; perece o passado e compromete-se o futuro.

Pela permanência e urgência de tal tarefa, muitos assemelham-na à de Sísifo, mas também pelo esforço que é preciso despender e pela vontade de a empreender, tendo por certo que nunca ela se concretiza por inteiro, que é sempre preciso recomeçar do nada ou de próximo do nada…

Esta é a consciência que acompanha os verdadeiros professores, aqueles que apreenderam o sentido de educar e que sabem que está nas suas mãos e só nas suas mãos cumprir tal desígnio.

São estes professores do Ensino Básico, Secundário e Superior, jovens e experientes, que eu vejo todos os dias desistir. Nas suas palavras, nem sempre explícitas, frequentemente sussurradas, percebo:

- Fadiga extrema, pelas inúmeras tarefas burocráticas que têm de concretizar sem falta ou falha e em tempo limitado mas nas quais não percebem qualquer sentido a não ser impedi-los de estudar, preparar aulas, dar atenção aos seus alunos.
- Desorientação absoluta, face aos discursos da tutela e de especialistas em educação, a que são continuamente expostos. Discursos que são, as mais das vezes, incompreensíveis e contraditórios, mas onde, no entanto, se vêem desapossados da sua função de ensinar e reduzidos a “meros” orientadores, acompanhantes das aprendizagens.
- Desencanto inquieto, por terem tentado tudo o que estava ao seu alcance para compreenderem esses discursos e, quando perceberam o seu alcance lesivo, para o filtrarem de modo que nas suas sala de aula causassem o menor impacto possível. Porém, não obstante os seus esforços, não podem negar que eles invadem, de modo incontrolável, as suas práticas, que sabem tornar-se erradas por não conduzirem a aprendizagens válidas.
- Apresentação insustentável de uma imagem socialmente favorável, pela necessidade de reproduzirem esses mesmos discursos, sob pena de serem mal interpretados, avaliados, julgados pelos seus pares ou outros. Assim, escondem a sua voz, sabendo que estão a atraiçoá-la e a atraiçoar os que dela podiam beneficiar.

Sublinhei as palavras extrema, absoluta e inquieto e insustentável para que se perceba o estado limite a que os bons professores, os professores que se interessam, chegaram: sabem bem que não fazem o que devem, e que é ensinar, ou seja, sabem bem que muito dificilmente conseguem levar o conhecimento que importa aos alunos, de modo que estes o amem e desenvolvam a sua inteligência. Em alguns percebo que esse estado é próximo do vegetativo, arrastam-se e cumprem, numa tentativa de sobrevivência pessoal, até terem coragem de mudar de profissão ou de pedir a reforma antecipada.

Infelizmente, a investigação que se faz na área pedagógica corrobora o que acabo de afirmar: o mal-estar dos professores vai além da mera insatisfação, torna-se num abandono incontornável ainda que indesejado.

Termino este texto com as palavras de Eric Weil (1904-1977), na esperança de que elas sirvam para despertar a necessidade de se repensar a importância e urgência da educação para todos neste início século.
"O perigo futuro poderá traduzir-se numa ameaça muito maior: o perigo de uma humanidade liberta da necessidade e do constrangimento exterior mas impreparada para dar conteúdo à sua liberdade. Neste sentido, não seria exagerado afirmar que não existe nenhum problema mais importante, mais urgente, que o da educação. E os nossos sucessores podem vir a ser incapazes de o resolver se demorarmos demasiado tempo e se, desde já, não reflectirmos suficientemente sobre esse problema. Podem mesmo vir a ser incapazes de ver o problema e de tomar consciência daquilo que já vem mal de trás - exactamente da mesma maneira que a filosofia grega, nos seus últimos momentos, deixou de procurar uma resposta válida para todos os homens livres e para toda a comunidade de homens livres e apenas procurou encontrar consolação para os raros indivíduos que continuavam a pensar que tudo tinha acabado mal. Ela renunciou assim a perceber que era possível, ou teria sido possível, encontrar um remédio.”
Referência bibliográfica: Weil, E. (s.d). A educação enquanto problema do nosso tempo. Pombo, O. (2000) Quatro textos excêntricos. Lisboa: Relógio D´Água, páginas 70-71.
Imagem: Sísifo, por Max Klinger (1914).

Foi escrito dia 7 de Fevereiro de 2010! (Dra. Helena Damião in De Rerum Natura)