domingo, 27 de outubro de 2013

País atrasado

 
 
 
 

Quando  olho para imagens como estas, concluo sempre que a distância que nos separa de um povo verdadeiramente desenvolvido é cada vez maior, pois essa distância em valores humanistas se medirá e num querer coletivo se afirmará, quer pela compaixão para com os mais vulneráveis quer por uma cultura de respeito pelo outro que, seguramente, pelo sangue e pelo sofrimento infligido jamais se concretizará.

Um país que isto ainda permite é um país de sadismo e crueldade, prisioneiro de um passado histórico bafiento e medonho que de falsas glórias se alimenta, estático, esclerosado, indiferente à mudança e ao progresso dos tempos.

Um país que isto ainda permite é um país onde a cultura de sangue permitida também é, miseravelmente escudado numa tradição histórica que pela sua crueldade banida foi mas que desumanamente continua a aceitar.

As tradições cruéis têm de ser banidas.
Banidas não por serem tradição mas por serem cruéis.

São contrárias ao progresso, à mudança, e fazem-se da dor que ao outro provocam e do seu sofrimento atroz.

País de cobardolas e de cínicos que bem cedo se iniciam nestas práticas desumanas de exploração e tortura dos mais vulneráveis!

País de merdosos que provam deste modo a existência de uma virilidade que provavelmente nunca terão!

País de gente ruim, perversa, baixa, muito baixa, que a estes tristes espetáculos acorre para exorcizar os seus medos, frustrações e recalcamentos.

País atrasado, sistematicamente adiado pela prática de uma cidadania cada vez mais ausente e de uma cultura cívica pouco ou mal interiorizada.

Que país!


Nazaré Oliveira



Já agora, visitem:

sábado, 19 de outubro de 2013

Mães heroínas



“Heroínas são as mães que acordam de madrugada, andam em transportes públicos durante horas e repetem tarefas sempre iguais até à exaustão para regressar de noite a casa e não parar. Cozinhar, passar a ferro, limpar e dormir poucas horas para recomeçar o ciclo na manhã seguinte.
Heroínas são as mães que contam cêntimos e fazem escolhas no supermercado para levar só o estritamente necessário, que não comem para que os filhos comam.
Heroínas são as mães com filhos doentes e que sofrem por os ver sofrer, mas que têm de manter a coragem.”
 
 
Bárbara Wong

A fome e os poderosos

(Clicar nos mapas p ampliar)



 

 


Dizem-me sempre que a fome no mundo sempre existirá. Mas eu não concordo. Não concordo porque sei que a fome no mundo, tal como as desigualdades sociais e o fosso cada vez maior entre os que têm tudo e até tudo esbanjam e os que nada têm ou que cada vez mais vão perdendo, depende seguramente dos poderosos, dos que através do poder do capital em tudo mandam e a todos condenam a uma sobrevivência cada vez mais penosa e humilhante.

Veja-se no mundo, no mundo e concretamente nos países de onde são originárias, os montantes e asfortunas multimilionárias que esta gente tem!

Incrível! Tanto dinheiro, tanto poder, tanta falta de vontade para erradicar a pobreza e a fome do mundo! Tanta falta de humanidade, de sensibilidade! Tanta hipocrisia e falsidade! Quanta injustiça!
De acordo com o Índice de Bilionários da Bloomberg, a fortuna somada dos sete mais ricos “imperadores do dinheiro do mundo” chega a 259,9 biliões de Dólares.
Sete!
Com 17% da fortuna destes 7 bilionários, ou seja, 44 biliões de dólares, resolver-se-ia o problema da fome espalhada pelo mundo. Duvidam?
A cada minuto que passa morre uma criança com menos de 5 anos por subnutrição, sem falar da falta de medicamentos básicos.
Que realidade tão cruel, esta, e que horror continuar a assistir a este massacre, a esta tragédia que nos dilacera a alma e o coração e nos faz chorar, gritar, de raiva, de impotência, mas sobretudo de indignação, por sabermos que outra vida seria possível para estes povos, estas crianças, estes inocentes, se vontade houvesse da parte de quem o capital possui mas dele não abdica a favor do outro e da sua condição humana.
14% da população mundial, um em cada seis habitantes, passa fome. Nada come.
Vivemos cada vez mais com os contrastes sociais violentíssimos, com as desigualdades, mas não tem que ser assim. Não tem.
As decisões políticas, a vontade política, os grandes centros de decisão política e financeira têm que agir (deviam agir) prontamente,  em todos os países e lugares da terra onde esta afronta aos mais elementares Direitos Humanos se vai agigantando, olhada como se de uma inevitabilidade se tratasse.
A fome e a pobreza não podem ser olhadas numa perspetiva economicista como se de um negócio ou contrato se trate e dele ganhos se tenham de obter ou lucros não se percam. Não. Tem de haver compaixão, solidariedade, exigência e transparência na Justiça, Relações Internacionais humanizadas e sérias e afastamento dos tiranos que persistem, seja onde for, como ladrões à solta e assassinos sem escrúpulos a mando de um capitalismo selvagem que da globalização se tem servido para nela se engrandecer.
Envergonha-me saber que há milhões e milhões de pessoas que morrem de fome e centenas de pessoas que espatifam numa noite, numa festa, milhares e milhares de dólares ou euros para futilidades, luxúria, mordomias e outras afrontas à pobreza.
Envergonha-me saber que tudo isto podia não acontecer mas acontece.
Sofro com tudo isto mas anima-me a esperança de uma mudança que surgirá e pela qual luto.
De uma mudança e de um novo paradigma para a Humanidade.









Nazaré Oliveira




Em Portugal há salários que aumentaram 65%





 
Conforme noticia hoje o Correio da Manhã, com o País a braços com uma crise, o Governo deu aumentos milionários às administrações de três empresas estatais, todas elas com prejuízos.
Os presidentes e os vogais da Carris e da CP viram os respetivos vencimentos aumentados em mais de 50%, enquanto no porto de Lisboa as atualizações rondaram os 30%. A situação foi denunciada ontem por Marques Mendes, ex-líder do PSD.
José Manuel Rodrigues, presidente da Carris, foi quem teve o maior aumento salarial, 65%, passando a receber 6.923,26 euros.
A mesma percentagem de subida teve os vogais da empresa de transportes públicos que ficaram a auferir 6.028,52 euros.
Em 2008, a Carris apresentou um prejuízo de 17 milhões de euros e em 2009 esse montante ascendeu aos 41 milhões de euros. Na CP, os prejuízos ascenderam em 2008 aos 190 milhões de euros, mas isso não impediu a atualização do vencimento de José Benoliel em 52%, para 7.225,60 euros.
Os vogais da administração viram os seus salários aumentados em quase 60% para 6719,81 euros.
A atualização ocorreu em Julho de 2009, tendo, no final desse ano, a CP apresentado prejuízos de 217 milhões de euros.
Na Administração do Porto de Lisboa, os aumentos foram menores, mas igualmente milionários: Natércia Cabral, a presidente, passou a ganhar 6.357,48 euros e os vogais 5438,52 euros, uma subida de 34% e de 29%, respetivamente.


Incrível este descalabro e esta roubalheira! Estes crimes sistematicamente cometidos e impunes, a maioria deles escondidos do povo e bem guardados nos bolsos dos que sorrindo nos exploram e humilham, desde governantes e deputados que isto permitem, passando pelo Tribunal Constitucional, Tribunal de Contas, Presidente da República e outros que tais, que calando consentem ou com mão branda justiça julgam fazer.

Como é que o povo não se há-de revoltar!

Pena é que não se revolte a sério nas ruas, na Assembleia da República, tirando do poder e das empresas do Estado quem do poder se tem aproveitado para as suas clientelas partidárias e clubes de amigos.

Isto não pode continuar porque já é a grande criminalidade a controlar o nosso país, criminalidade que já não é só a dos colarinhos brancos mas também a dos que sedentos de poder tudo fazem para o ter, estejam onde estiverem, matando, roubando, violando as mais elementares regras do Estado de Direito e destruindo de forma vil e inadmissível a Constituição Portuguesa.
 
Quais Máfias  instaladas, ameaçadoras e intimidatórias, cruéis e desumanas,  esta gente que ainda está nas empresas do estado, no governo, e mesmo os que já lá estiveram e dele continuam injustamente a comer cada vez mais e de forma cada vez mais contrastante com o comum dos cidadãos, absolutamente atentatória aos direitos humanos e, neste caso, às desigualdades sociais que se acentuam de forma assustadora e preocupante, esta gente tem de ser combatida.
 
Combatida e punida. Exemplarmente.
 
E assim se vai afundando Portugal mas não eles.

E assim se destroem vidas e se rouba quem pobre sempre foi.

E assim se mata e se fere um país, lentamente, com a crueldade e o cinismo de quem insensível sempre foi à dor alheia e  indiferente aos compromissos com o povo se mantém.
 
 
Nazaré Oliveira
 
 


sábado, 12 de outubro de 2013

Malala




O recente discurso de Malala nas Nações Unidas tem um enorme significado. Malala era já um símbolo da luta pelo direito à educação. Desde os 11 anos que escrevia diariamente um blog e passou a ser muito conhecida como ativista, desde que a BBC lhe deu divulgação. O atentado que sofreu, em Outubro de 2012, dirigiu-se às suas ideias e à sua luta, pois que entre 2003 e 2009, na Região onde vivia, no Paquistão, as meninas haviam sido proibidas de frequentar a escola. Malala nunca se conformou com essa proibição e utilizou um meio poderoso para combatê-la: o seu pensamento e a sua palavra. Foi por isso que foi baleada. Sobreviveu e mantém a mesma vontade inabalável. A iniciativa das Nações Unidas de convidar Malala a discursar na Assembleia da Juventude no dia dos seus 16 anos é de saudar. As suas palavras ecoaram pelo mundo e revelam bem como é sentida a sua determinação e como é profundo o seu pensamento. Todos sabem da força da educação e da cultura, como sabem da força da palavra. Por isso é que tem sido tão frequente nas ditaduras a decisão de proibir a educação e a liberdade de expressão. E Malala mostrou saber isto quando disse que os extremistas têm medo dos livros e têm medo também das mulheres, fazendo um apelo aos dirigentes dos Países para garantirem às crianças o seu dierito à educação. Estima-se que haja 57 milhões de crianças e 69 milhões de adolescentes do sexo feminino, privados de frequentar a escola. Claro que o facto de ser uma rapariga a protagonizar esta luta é ainda mais notável. É um chamamento dirigido aos poderes constituídos, com repercussões ainda mais fortes porque os excluídos se identificam com a autora dos escritos e das comunicações. E Malala, que é já uma heroína, apela a valores nobres, da não-discriminação, mas também da tolerância, como fez Mandela, outro grande herói do nosso tempo. A sua frase “uma criança, um professor, um livro, uma caneta, podem mudar o mundo!” percorreu as rádios, as televisões e as redes sociais. Corre agora na Internet uma petição para que Malala seja candidata ao Prémio Nobel da Paz. Creio que será de inteira Justiça! Bem-hajas Malala pela tua energia, pelo teu entusiasmo e pelo teu exemplo!

 
Um artigo da Dra. Dulce Rocha


Discurso de Malala na ONU:

 
 

Hannah Arendt


 
Hannah Arendt, de Margarethe von Trotta, estreou na quinta-feira – o filme retrata uma das filósofas mais importantes do século XX, defensora da liberdade de pensamento e que cunhou o conceito da banalidade do mal, a propósito de Adolf Eichmann, oficial nazi julgado e executado em Israel.

A cena poderia passar-se em qualquer redacção do mundo. Neste caso, aconteceu na da célebre revista New Yorker. O director, William Shawn, sabe que está perante um momento histórico, o julgamento de Adolf Eichmann, oficial nazi célebre por ser um dos rostos da ‘solução final’ desenhada por Hitler, o do extermínio dos judeus. E tem à sua frente, caída do céu, uma proposta para a cobertura desse julgamento – que, se não foi o ‘do século’, na época, andou lá perto – por parte de Hannah Arendt, filósofa judia alemã exilada nos EUA e ela própria com uma passagem por um campo de concentração enquanto fugia do holocausto nazi.
A chefe de redacção, céptica, pergunta-lhe: “É mais uma filósofa europeia? Sabes que eles não têm limites para escrever e não são conhecidos por cumprirem prazos”. Shawn defende Arendt e segue com a aposta: “É um privilégio”.

O diálogo terá acontecido assim naquela redacção, em 1961, ano do julgamento de Eichmann em Jerusalém, onde estava detido depois de ser raptado pelos serviços secretos israelitas na Argentina. E foi reproduzido no mais recente filme de Margarethe von Trotta, estreado o ano passado na Europa e que só agora (na próxima quinta-feira) chega às salas portuguesas. A produção leva o nome da filósofa, uma das pensadoras mais marcantes do século XX pela originalidade e independência, interpretada pela actriz e cantora lírica Barbara Sukowa, outra referência do cinema alemão contemporâneo, como von Trotta.

Mas, ao contrário do que seria de esperar dos ditames da indústria cinematográfica, Margarethe von Trotta não se perde a fazer um filme biográfico e encerrar em duas horas estandardizadas uma vida tão complexa.

O filme centra-se nos anos entre a ida de Arendt a Israel para a cobertura do tal julgamento e a polémica que se seguiu à publicação do seu artigo na New Yorker. É que a ‘filósofa europeia’ não só cumpriu os prazos de entrega, desfazendo o medo dos responsáveis da redacção da revista, como partiu a loiça. Ao contrário do que seria de esperar, Hannah Arendt não descreve um monstro, nem sequer alguém mentalmente perturbado no julgamento. Ela tem pela frente um homem de uma banalidade desconcertante.

Se os actos praticados por Eichmann não encaixam na figura, então como foi possível este homem, que alega em sua defesa limitar-se a cumprir ordens, ser capaz de chefiar a temida Unidade IV D 4/4 e IV B 4 do exército nazi e ser pessoalmente responsável pela organização geral da deportação dos judeus da Alemanha e dos países europeus deportados? Longe de o desculpar, Hannah Arendt quer compreender. E é daí que lhe surge o conceito da banalidade do mal, um dos mais conhecidos do seu pensamento. Nesta altura, Arendt já tinha escrito duas obras de referência para a compreensão da génese dos regimes autoritários que floresceram na Europa no tempo da Segunda Guerra: As Origens do Totalitarismo (1951), em que denuncia a origem do nazismo e do estalinismo, e A Condição Humana (1958), na qual descreve a sua teoria política.

Qualquer um pode ser Eichmann?
A partir daí, entramos no clímax do filme. A dimensão humana de Arendt, que von Trotta retrata, dizem os entendidos, fielmente, é posta à prova logo após a publicação do artigo. A comunidade judia reprova-lhe a classificação de um criminoso de guerra nazi como um homem banal, mas não lhe perdoa de todo a denúncia que faz, no mesmo artigo, da inépcia dos líderes judeus da época, que viram a catástrofe a acontecer quase impavidamente.

A coragem custou-lhe até amizades de uma vida. Mais uma vez, interessava-lhe não perdoar, mas compreender sem crucificar previamente: “A banalidade do mal foi, no fundo, uma resposta à questão: ‘como foi possível acontecer?”, diz Sofia Roque, que está a trabalhar Numa tese de doutoramento sobre Arendt, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Se hoje aceitamos com alguma facilidade que qualquer pessoa, em qualquer época, pode ser um Eichmann ou um Hitler em potência, nos anos 60 isso não era assim. Quando Arendt formula a ideia, os acontecimentos ainda eram analisados muito a quente. No fundo, a ideia é coerente com o mais profundo dos pensamentos da filósofa: “A compreensão é o modo da política, sem ela não nos podemos situar no mundo”, acrescenta Sofia Roque, citando a autora. Arendt nem sequer parece à vontade, no filme, com o facto de se estar a fazer do nazi uma figura exemplar. Para ela, se uma pessoa abdicar, devido a determinadas circunstâncias históricas, de fazer o que a torna verdadeiramente humana – pensar – pode transformar-se num monstro.
Sofia, que viu o filme na única apresentação que teve em Portugal, a 25 de Maio no São Jorge (Lisboa), no âmbito da Judaica – 1.ª Mostra de Cinema e Cultura, recorda ainda o humanismo da personagem construída por von Trotta, que nem se esqueceu de pequenas conversas da filósofa com os muitos amigos que cultivou ou até o modo como Arendt se deitava no sofá, a fumar – era uma fumadora inveterada –, de olhos fechados, a organizar pensamentos.

Mas recorda-se do modo como Barbara Sukowa incarna a coragem da filósofa perante as críticas. Arendt chegou a receber um bilhete de um vizinho do próprio prédio onde morava em Nova Iorque, anónimo, que a chamava de ‘puta nazi’. Um dos seus amigos mais próximas, Hans Jonas, também exilado em Nova Iorque, diz-lhe que ela se tornou uma “intelectual arrogante alemã”. Mais tarde, seria convidada pelo departamento da universidade onde leccionava a não dar mais aulas. Resistiu sempre: “Ela procurou uma objectividade, distanciou-se da sua condição de judia e de um modo absolutamente corajoso tenta encontrar uma verdade num comportamento e enfrenta a comunidade judaica e os leitores da New Yorker”.

Pelo filme passam também duas histórias de amor. A relação de Arendt com o seu segundo marido, Heinrich Blücher, um filósofo autodidacta alemão, que fugiu com ela da França ocupada para os EUA através de Espanha e de Portugal, é apresentada nos pequenos gestos. Blücher nunca deixa de estar do seu lado.
Paixão impossível

Mas há uma outra, dada em flashbacks, quando a jovem Arendt, ainda estudante de filosofia na Alemanha, frequenta as aulas de Martin Heidegger, um dos maiores filósofos do século XX.

O fascínio da jovem Arendt transforma-se numa paixão ardente pelo professor, vários anos mais velho. Mas a história não ficaria completa sem polémica – Heidegger aderiu ao partido nazi em 1933 e estaria implicado no afastamento de académicos judeus da sua universidade, como se passou, de resto, em todas as áreas do conhecimento por toda a Alemanha e a Áustria.
Os dois separaram-se, Arendt conheceria Blücher já no exílio, e passaria pelo campo de concentração de Gurs, em França, perto dos Pirinéus, antes do ‘salto’ definitivo para os EUA. Mas a memória ficou. Hannah reataria a amizade entre ambos em 1950 e seria até responsável pela readmissão de Heidegger no meio universitário. O filme aborda a questão de leve, sem revelar a justificação do filósofo a Hannah, que lhe pede uma explicação. Mistérios insondáveis da alma humana? A explicação é quase impossível, mas Sofia Roque não vê aí mais do que algo privado, que a filósofa nunca chegaria a partilhar por completo: “Heidegger não era um cidadão comum, ele tinha os instrumentos suficientes para saber o que se estava a passar. Será que Hannah Arendt o perdoou? Não nos diz respeito”.

E qual será o lugar do pensamento de Hannah Arendt na actualidade?

São poucos hoje os que reclamam o modo como a filósofa pensa a tolerância, a humanidade, e sobretudo a acção política.

“Ela não define os objectivos da acção política, nunca se assumiu em nenhum ‘ismo’ ou disse se era de esquerda ou de direita”, esclarece Sofia Roque. Antes defende “a ideia de um sistema de pequenos conselhos, de órgãos cuja dimensão permitisse a participação directa” dos cidadãos nas decisões, um pouco como o espaço público da polis na democracia ateniense da Antiguidade. Para Arendt, a política é antes de tudo um espaço de liberdade entre plurais que podem discutir, a partir do momento em que são cidadãos livres, “o sistema social, de justiça e de igualdade”.

Se estivesse hoje entre nós, Hannah Arendt ficaria por certo agradada com os movimentos que saíram à rua um pouco por todo o mundo, a reclamar mais liberdade ou melhores condições sociais, fosse contra ditaduras – como no mundo árabe, num processo que ainda não acabou –, fosse contra políticas de austeridade, na Europa e nos EUA.
A filósofa de figura frágil e afável poderia ser uma indignada do século XXI?

Arendt analisou as revoluções, da americana à francesa, passando pela dos sovietes. Hoje, talvez estaria preocupada em “ligar estes fenómenos aos movimentos occupy”, aposta Sofia Roque.



Ricardo Nabais, Jornal Sol

Claudio Cavalcanti


 
 
Emociona ver esta foto, sim, esta homenagem.
Ser humano de excelência, Claudio Cavalcanti defendeu sempre os animais até ao fim dos seus dias. Lutou por eles.
Precisamos cada vez mais de pessoas que deem a cara por eles. Por eles e por todos os que como eles estão sujeitos às maiores humilhações e prepotência de certos "humanos"!

Ler notícia aqui.