sábado, 31 de março de 2012

Marcelo Rebelo de Sousa e as Mulheres

"Jovem Mulher de Olhos Azuis" - Modigliani (1917)



Um destes domingos, no seu costumeiro programa na TVI, Marcelo Rebelo de Sousa falou do papel da mulher.

Ou, mais precisamente, das mudanças verificadas nesse papel nas últimas décadas.

Segundo Marcelo, a situação da mulher tem melhorado bastante. Hoje as mulheres são mais independentes, têm maior presença no mercado de trabalho, formam-se em maior número do que os homens nas universidades e são melhores alunas, ascendem com mais frequência a lugares de administração, etc., etc.

Tudo isto é verdade e tudo isto é estatístico. E, além disso, é politicamente correcto dizê-lo. Da direita à esquerda não há político que não faça hoje este discurso sobre as mulheres. Mas este fenómeno só teve aspectos positivos? Não há rosa que não tenha espinhos. Todas as medalhas têm um verso e um reverso.

A progressiva emancipação da mulher na sociedade ocidental, sendo naturalmente reconfortante para as mulheres, tem – como tudo – os seus custos. As mulheres casam hoje muito mais tarde do que há 20 ou 30 anos e têm menos filhos, a família perdeu estabilidade, os divórcios aumentaram em flecha, há muitas crianças a sofrer com a separação dos pais, há menos recém-nascidos amamentados nos primeiros meses, os bebés passam os dias longe de casa metidos em depósitos – as creches – onde apanham imensas doenças, etc.

Tudo isto aconteceu em simultâneo com o processo de emancipação das mulheres – o que leva muita gente a desejar que a História volte para trás. Só que isso não acontece. O tempo que passou é passado – não volta. E quando volta é sempre sob outra forma.

 Em duas gerações, a família mudou radicalmente. Quando eu era criança, a maior parte dos meus amigos tinha a mãe em casa. As mães eram domésticas, donas de casa, como se dizia, e asseguravam a gestão familiar. Quando os meus amigos chegavam da escola, a presença das mães em casa para os receber dava-lhes conforto e segurança.

A minha família era diferente – e, por isso, às vezes, eu invejava-os. O meu pai vivia no estrangeiro e a minha mãe era professora, pelo que eu não tinha em casa a mãe à espera. Mas tínhamos empregada (na altura dizia-se ‘criada’) que me assegurava a mim e aos meus irmãos a retaguarda. Abria-nos a porta quando voltámos das aulas, fazia-nos as refeições, ia às compras. E isso dava-nos algum equilíbrio. A casa funcionava o dia todo, nós sabíamos que lá havia sempre gente.

Esse mundo acabou. As casas das famílias da classe média estão hoje vazias durante todo o dia. Os miúdos acabam a escola e não podem ir para casa porque não há lá ninguém. Têm de ir para actividades extra-escolares, onde os pais – exaustos e sem paciência – os vão buscar ao fim do dia, esperando que os filhos não exijam muito deles.

É evidente que esta família não interessa a ninguém. O pai não tem pachorra para tratar da casa nem dos filhos – na família tradicional também não tinha –, pelo que a mãe acaba quase sempre por ter de acumular o trabalho no emprego com o trabalho em casa, sentindo-se uma escrava do lar e apetecendo-lhe, por vezes, bater com a porta. E este modelo de família também não interessa aos filhos, que passam o dia todo fora de casa e, quando vêem os pais à noite, estes já estão sem paciência para os aturar.

Conheci pessoalmente Maria Lamas, que foi uma das grandes referências da luta das mulheres portuguesas pela igualdade. Ela defendia intransigentemente os direitos do seu género. E no final da vida dizia amargamente que era uma violência as mulheres trabalharem fora de casa – porque continuavam a trabalhar o mesmo em casa, acabando por trabalhar o dobro.

As mulheres, segundo ela, eram ‘exploradas a dobrar’.

É verdade que, actualmente, os homens ajudam mais nas tarefas domésticas. Nem poderia ser de outra maneira. Mas, se não formos cínicos, temos de admitir que isso tem sido quase sempre mais um remendo do que uma solução. Nos primeiros tempos de casados alguns homens ajudam, mas com o passar do tempo regressa a divisão ancestral do trabalho doméstico – ou seja, a mulher a ocupar-se dos filhos e das tarefas caseiras tradicionais. E, quando isso não acontece – quando a mulher não aceita esse encargo –, o mais habitual é a separação do casal.

Quando as mulheres começam a olhar a vida em casa como uma escravatura, é natural que procurem alternativas fora da família. E elas agora existem. Antes, as mulheres casadas ficavam fechadas em casa e não conheciam ninguém. Mas hoje conhecem muita gente, privam no emprego com muitos homens, têm muitas oportunidades, têm mais independência financeira, têm termos de comparação em relação aos maridos – e, portanto, quando uma mulher começa a ver o marido como um chato, como um peso que não ajuda na lida da casa e a quem, ainda por cima, tem de lavar a roupa e fazer a comida, é fácil projectar os seus sonhos num companheiro de emprego.

E daí a tomá-lo como amante é um pequeno passo. A casa e o marido são o lado aborrecido da vida, o amante é uma fonte de prazer.

Partindo do princípio de que fora da família é fácil encontrar o prazer efémero mas muito difícil construir a felicidade, é então necessário procurar no Ocidente um novo equilíbrio da família.

Esta situação que agora se vive não é nada.

Não é bom as mulheres casarem mais tarde. Não é bom as mulheres terem cada vez menos filhos. Não é bom os bebés serem depositados em armazéns. Não é bom as crianças não terem ninguém em casa durante todo o dia e serem forçadas a andar de actividade em actividade para encher o tempo. Nada disto é bom.

É indispensável uma reequação da família que permita aos dois membros do casal (mulheres e homens) realizarem-se – mas que possibilite, também, que as mulheres tenham mais filhos (e os tenham mais cedo), que as crianças beneficiem de um maior apoio em casa, que os membros da família não andem cada um para seu lado.

Quando se fala no papel das mulheres na sociedade do futuro é preciso pensar nisto tudo. Não bastam juízos superficiais ou politicamente correctos. Enquanto não identificarmos bem os problemas nunca os solucionaremos.

Finalmente, é preciso pensar noutra coisa. A diminuição do ritmo de crescimento no Ocidente, que é irreversível porque a indústria e muitos serviços estão a transferir-se para outros lugares do Globo, vai levar a que nunca mais haja emprego para toda a gente.

É muito provável que, no futuro, em muitas famílias, só um dos membros do casal tenha emprego fixo fora de casa; o outro fará pequenos trabalhos por conta própria, deitará a mão a isto e àquilo, inventará negócios, mas não terá propriamente um emprego. E isso vai mudar muito o panorama das famílias.

A emancipação da mulher não é, pois, um tema do futuro – é já um tema do passado. A questão que hoje se coloca é saber como irá a sociedade ocidental resolver os problemas resultantes do ‘progresso’, de que a emancipação da mulher foi um dos aspectos marcantes.

No pressuposto de que, sem famílias equilibradas, será impossível construir sociedades estáveis.


26.Março.2012 - José António Saraiva - SOL

sexta-feira, 30 de março de 2012

Viva a República!



Quando relembro a 1ª República, relembro a luta e a força daqueles portugueses, homens e mulheres, que na madrugada de 4 de Outubro, animados pelo sonho de um país livre e justo, com coragem e abnegação, ousaram, heroicamente, tornar realidade a construção de um Portugal progressista e solidário.

Lutaram contra os privilégios e contra o obscurantismo, contra a oligarquia reinante e as desigualdades, a favor dos humilhados e dos que, pela voz silenciada pela fome, miséria e ignorância, eram reprimidos pelos horrores de uma governação que voltara costas à liberdade, igualdade e fraternidade.
A República realizava em 5 de Outubro de 1910 os grandes ideais que, afinal, não puderam ser cumpridos em 1820 com a Revolução Liberal.

Joaquim de Carvalho, citado por Jesus Pábon na sua obra A Revolução Portuguesa, tinha inclusive afirmado que “quanto às origens ideológicas o republicanismo português procede da fonte viva do liberalismo”, e mesmo A.H. de Oliveira Marques refere a República envolvida numa certa mística e carisma, uma vez que se pensava que bastaria proclamá-la para libertar o país de injustiças e males que o assolavam. Exemplifica com a história de um soldado, implicado na Revolta de 31 de Janeiro, que em tribunal diz “Eu, meu senhor, não sei o que é a República, mas não pode deixar de ser uma coisa santa, pois nunca na igreja senti um calafrio assim”.

De facto, a República e o 5 de Outubro acabaram por ser aquela força há tanto esperada de um povo e de uma gente amordaçada pela Monarquia, uma força interior e uma vontade capaz de lhe devolver a esperança e a dignidade, imparável na sua marcha heróica para a libertação.

E toda aquela gente lutou e confraternizou, como referiu José Relvas, quando diz que o espectáculo nas ruas de Lisboa era maravilhoso, e que aquele dia glorioso que amanhecera em Portugal com a Monarquia terminava com o estabelecimento da República. Mas, interessante é também verificar que ele próprio não deixa de pensar nas incertezas das lutas que naturalmente poderiam acontecer (e aconteceram), embora se mantivessem íntegras todas as ilusões que acompanham a gestação de uma causa generosa e bela, daquela beleza que, em rigor, só existe na obra irrealizada. 

Quando falo da 1ª República, falo de revolução, sonhos, coragem, ousadia, justiça, lutas e vitórias, heroicidade e bravura, orgulho e determinação, esforço e vontade, inteligência, responsabilidade e amor pátrio.

Não foi fácil o caminho nem se esperava que assim fosse a seguir à queda da Monarquia:
A entrada de Portugal na 1ª Guerra Mundial, sobretudo por causa do medo de se perderem as colónias em África, e todas as consequências desastrosas económico-financeiras daí resultantes, adiaram e interferiram fatalmente no caminho do progresso almejado, designadamente, as que levaram à contestação e crispação social, visível na alta dos preços, nos milhares de jovens soldados portugueses mortos nas trincheiras, na falta de bens essenciais, no aumento dos impostos, na frequente violência pública, repressão e insegurança que motivava cada vez mais a intervenção militar e a instauração de uma ditadura, tal o caos e anarquia que então surgia a todos os níveis e até na base de apoio da República, que, agora, também a acusava de incumprimentos, caso da classe média urbana e do operariado, divorciados que estavam, agora, de quem os cativara com promessas que, afinal, se mostravam impossíveis de conciliar e realizar.

Os anarquistas (os anarco-sindicalistas), a força mais importante e numerosa do operariado, dominava os sindicatos e, inevitavelmente, surge o confronto político, social, agressivo, não só nas manifestações como nas e práticas que, compreensívelmente, produzirão choques, não só na Assembleia, entre as diversas forças partidárias, como, também, na imprensa e nas revoltas de rua, espontâneas, muitas delas com recurso à luta armada, a ataques bombistas e assassinatos.

Era difícil, à República, apesar das melhorias que trouxera, sobretudo no âmbito da Educação e, em geral, em matéria legislativa, travar este descontentamento. Um descontentamento que punha frente-a-frente frustrações e medos de um e outro lado: “o pequeno burguês da cidade, bem pensante e de chapéu, convencido de que tinha feito uma revolução para o bem da Pátria”, e o “operário de boné e calças amarrotadas” que ameaça sistematicamente com greves e bombas.

3.000, possivelmente 4.000 a 5.000 portugueses, morreram em consequência de conflitos civis durante a 1ª República e milhares de outros ficaram feridos. Milhares de cidadãos monárquicos e republicanos foram presos e vários milhares foram deportados para as colónias africanas. Várias greves gerais foram reprimidas violentamente e a revolta de 14 de Maio de 1915, que se destinou a restabelecer a República (o Presidente Pimenta de Castro havia levado a cabo, quatro meses antes, um golpe de Estado "palaciano" para retirar o poder ao Partido Democrático), causara centenas de mortos e feridos.

Nem tudo correu bem, sobretudo o anticlericalismo particularmente obsessivo de Afonso Costa que ao considerar os sacerdotes "símbolos do obscurantismo e opositores ao uso da livre razão”, vai abrindo uma luta em duas frentes, cada vez mais agravada e demasido sensível num país como o Portugal de então: contra a Igreja como instituição e contra a classe operária organizada em sindicatos.
Atribuem-lhe, também a alcunha de racha-sindicalistas, instabilizando cada vez mais um país à beira de uma guerra civil, com greves e atentados bombistas, aos quais os (vários) governos vão respondendo com prisões e encerramento das sedes sindicais e jornais. Além disso, as ideias políticas do Integralismo Lusitano emergiam cada vez e, as forças tradicionais, monárquicas e católicas, vão igualmente reagir através de intentonas militares, chefiadas sobretudo por Paiva Couceiro, como as invasões do Norte de Portugal em 1911 e 1912.
As classes mais abastadas não confiavam na República e assiste-se a uma vasta fuga de capitais e, os 45 governos, 8 eleições gerais e 8 presidentes em quinze anos e oito meses, tornavam Portugal o país com o regime parlamentar mais problemático da Europa ocidental, com um Parlamento caótico, inoperante e um poder judicial claramente manipulado e comprometido com o poder executivo.

A irresponsabilidade e falta de sensibilidade política na tomada de decisões de muitos dirigentes republicanos torna ainda mais conflituoso o clima político-social, caso do  encerramento das sedes da União Operária Nacional, fundada em 1914 ou da Confederação da União Geral do Trabalho fundada em 1919, ambas de tendência anarquista, das suspensões de pessoas acusadas de apoiar a "monarquia do Norte" de 1919, como Salazar e o "grupo de Coimbra", acusados de apoiar a "monarquia do Norte" de 1919, e da libertação do assassino de Sidónio Pais durante a "noite sangrenta"( o promotor que deveria acusar os revolucionários de 1925 fez, ao invés, a sua defesa política,  e os réus foram todos absolvidos); as lutas políticas vão traduzir-se - entre muitos outros episódios - no assassinato do Presidente da República, Sidónio Pais, em Dezembro de 1918; nas greves de 1919 dos Caminhos-de-Ferro, que o Governo combateu obrigando a que o vagão que ia à cabeça das carruagens que circulavam fosse carregado de grevistas, guardados à vista por soldados armados, isto para evitar que estas sofressem atentados à bomba; na "noite sangrenta" de 19 de Outubro de 1921, em que vários dos fundadores da República foram fuzilados por soldados da Guarda Republicana e da Marinha, etc.

Estas e outras lutas políticas, o divisionismo, a desconfiança entre dirigentes republicanos (a “arena da República”) desacreditavam e fragilizavam cada vez mais o ideário republicano.

“Com uma direção corajosa e unida e umas bases disciplinadas, o PRP poderia ter sido capaz de lançar os fundamentos para as necessárias reformas, a fim de dar crédito ao sistema de partidos e desacreditar os extremistas da esquerda e da direita” mas, ao PRP ou àquilo que dele restava em 1926, faltaram esses requisitos que teriam proporcionado a tentativa de "metamorfosear o sistema político" do imobilismo, desbaratar os extremistas e impedir um golpe militar. Além disso, também a oposição não foi capaz de formar partidos estáveis que constituíssem uma alternativa ao PRP, pelo contrário, conspirou mais do que participou. Alguns deles em especial, mas não apenas partidos de direita, encorajaram a intervenção militar tendente a derrubar o PRP.

A insurreição armada tornou-se, assim, um substituto da procura de mudanças de governo por meios constitucionais.

Não se concretizaram todos os sonhos mas nem tudo foi decepção.

A Primeira República Portuguesa (1910-26) constituiu a primeira tentativa persistente de estabelecer e manter uma democracia parlamentar.

Lançou-se a semente do ideário republicano e é legítimo nunca esquecê-lo. Com a 1ª República começou a transformação das mentalidades num país espartilhado pela ruralidade e obscurantismo, controlado pelas oligarquias dominantes e esvaziado de consciência nacional e internacional.

Além disso, trouxe a necessidade e legitimidade de uma intervenção política e cívicas até então roubadas ao povo humilde e trabalhador, desencadeando a alegria da partilha e a vontade de caminhar em frente, com determinação e ousadia.
Procurou, como alguém disse em 1911, formar um povo moderno com uma mentalidade nova e aberta capaz de uma efectiva integração europeia assente no diálogo e cooperação entre países igualmente empenhados nos valores democráticos e, sobretudo, na defesa da justiça social.

Ninguém pode deixar de admirar e louvar, nesse sentido, o esforço legislativo da 1ª República especialmente em 1910-1911 e 1923-192525, com um programa de reformas notáveis no sector da Educação e na sociedade em geral, com clara preocupação pelos até aí mais desfavorecidos.

A 1ª República atribulada constituiu o prólogo do «Estado Novo», uma ditadura duradoura que, no momento do seu colapso, em 1974, representava o regime autoritário de mais longa persistência na Europa ocidental mas, desencadeou também, sem dúvida, uma explosão de energias que, embora tivessem levado a conflitos e tensões sem precedentes, deram igualmente lugar a uma mobilização ímpar da sociedade, fundamental para o processo geral de modernização e mudança.

Arrastou consigo todo um povo que via no movimento republicano o derrube dos monárquicos, do poder da Igreja, da corrupção, animando-o para a “causa sagrada da independência e da dignidade da pátria”, tal como fora dito pelo Directório do P.R.P. em 26 de Janeiro de 1908.
A 1ª República recuperou o orgulho nacional e mostrou que era possível e desejável aproximar os cidadãos da Política, humanizando-a, e mostrou que outro país era possível (e foi) apesar das dificuldades sentidas e vividas.

Infelizmente, nem sempre o QUERER é PODER e, a 26 de Maio de 1926, tombava o governo da 1ª República mas não os seus ideais.


A queda da Primeira República consumou-se entre 28 e 31 de Maio de 1926 pela mão do general Gomes da Costa que se revoltara em Braga no dia 28 e marchou para Lisboa com a adesão do exército.
O Governo demitiu-se a 30 de Maio e no dia seguinte o presidente da República, fazendo com que a (contra) revolução saísse vitoriosa.

Felizmente, reergueram-se os ideais republicanos no dia 25 de Abril de 1974, dia em que aquele QUERER, finalmente, PODER se tornava.

Reergueram-na, e nós não vamos deixá-la cair!  


Nazaré Oliveira

domingo, 18 de março de 2012

A Internet = arma contra as ditaduras

 



A Internet, hoje em dia, é a melhor arma contra as ditaduras e um dos meios mais rápidos e mais eficazes para o exercício de uma cidadania ativa!

Sem dúvida, se tivermos em conta, por exemplo, o passado recente da já considerada Primavera Árabe, particularmente, dos movimentos espontâneos de rua, com milhares e milhares de cidadãos, muitos e muitos jovens a aderirem à mobilização e às convocatórias feitas pela Internet e que, indiscutivelmente, têm abalado o mundo de hoje e continuarão a abalar, em defesa da democracia e dos valores da liberdade e da justiça social.

Têm derrubado os ditadores e os seus acólitos, as suas políticas repressivas e despóticas e têm, embora com muita dificuldade, restituído alguma dignidade aos povos que há muito clamavam contra regimes autocráticos que do povo sempre se serviram mas que ao povo jamais serviriam.

E essa onda vinda da Net teve uma grande visibilidade, sobretudo, dese a Praça Tahir, o Egito, sendo até agora imparável e indiscutíveis os seus efeitos, quer no Médio Oriente quer mesmo na Europa.
E isso é fantástico!

Em segundos, contatamos com dezenas, centenas, milhares, convocamos amigos, amigos de amigos, divulgamos notícias, alertas, passamos informação e pedimos colaboração, enviamos imagens, entrevistas, vídeos, no Facebook, blogues, por e-mails... É fantástico o papel da Internet na defesa dos Direitos Humanos e até na Defesa dos Direitos dos Não Humanos (os nossos amigos animais).

À distância de um click, falamos uns com os outros, pedimos ajuda, abrimo-nos ao Mundo e dele sabemos muito mais e muito mais depressa o sabemos.

Não há desculpa para não se saber que todos estamos, agora, muito mais perto de ser atores da mudança que há muito clamamos.

Não há desculpa para se dizer que não se sabia aquilo que, simplesmente, não se quis saber ou não se quis ver ou ouvir, ou, até, que se fingiu não ter sido visto quando afinal visto foi.

Não há desculpa para a nossa inação nem para a nossa acomodação quando o que está em causa é a manutenção de governos com ditadores, corruptos, ladrões … leis e gente sem o mínimo de respeito por nada nem ninguém.

Um relatório dos Repórteres sem Fronteiras referia que o papel da Internet na luta contra os regimes não democráticos crescera em 2011 mas que também haviam crescido as tentativas de controlar a mesma, obviamente, por parte dos governos contestados, que não se inibem, agora, de tomar medidas ainda mais repressivas para combater os cibernautas que conseguem apanhar. Há casos de perseguições ferozes, mortos, prisões e até o estabelecimento de ciber-censura nesses países!

O número de presos aumentou 30% em relação a 2010, sendo que 120 dos detidos, considerados «ciber-dissidentes», continuam presos.

Mas nem só as ditaduras estão debaixo de fogo neste relatório. Também os países ditos democráticos não ficam bem na fotografia, devido, principalmente, às medidas tomadas para proteger os direitos de autor, que são consideradas «desproporcionadas».
Como países inimigos da Internet contam-se a Arábia Saudita, Bahrein, Bielorrússia, Birmânia, Coreia do Norte, Cuba, Irão, Uzbequistão, Síria, Turquemenistão e Vietname.

E muitos mais, certamente, se acrescentarão, porque o papel da Net neste combate urgente e imparável contra estes ditadores continuará a ser cada vez mais preciso.

E nós continuaremos a ter de travá-lo, não é verdade?

Sob vigilância, e em vias de entrar para esta lista, estão, segundo os Repórteres sem Fronteiras, vários países, entre eles alguns dos considerados mais democráticos do Mundo, como a Austrália e a França. Desta lista fazem ainda parte a Coreia do Sul, os Emiratos Árabes Unidos, o Egipto, a Eritreia, a Malásia, a Rússia, o Sri Lanka, a Turquia, a Índia e o Cazaquistão.

Não há desculpa para o que desculpa nunca terá: a cumplicidade com os usurpadores do poder e para com a barbárie.

Nazaré Oliveira

sexta-feira, 16 de março de 2012

Há homens lindos...



... homens lindos mas não só "por fora"!

Na página do seu F. Book, a jornalista Clara de Sousa publicou hoje que o actor George Clooney e o seu pai, o jornalista Nick Clooney, de 78 anos, acabavam de ser detidos num protesto à porta da embaixada do Sudão, em Washington.
Estavam entre os manifestantes que acusam o presidente sudanês de estar a provocar uma tragédia humanitária ao bloquear a entrada de comida e ajuda às populações.
O ano passado, apresentei aos meus alunos um trabalho sobre o Darfur e, praticamente, há sempre conteúdos programáticos que permitem abordagens  neste âmbito, quer seja os desastres humanitários e a vergonha que é continuarmos a assistir a genocídios, à fome de milhares e milhares de pessoas, à falta de água potável e até para rega, de medicamentos tão simples quanto um simples analgésico, um antipirético, soro, desinfetantes, vacinas, enfim, o horror dos campos de refugiados, sem falar da morte lenta dos que esperam ajuda que tarda e que muitas vezes chega tarde demais.
Como lhes digo sempre, considero que os Professores e os Jornalistas são cada vez mais as peças importantes para a informação séria e a tomada de consciência que à tomada de posição levará, e que, certamente, contribuirá para MUDAR O MUNDO, este mundo de vergonha, de injustiça social, de desigualdades e contrastes gritantes, mas também de gente abnegada que se dedica a ajudar e a gritar bem alto que ISTO NÃO PODE CONTINUAR.
Sim, é urgente uma nova ordem internacional, um novo paradigma!
Uma nova forma de pensar o mundo em matéria de Direitos Humanos, com SERIEDADE e EXIGÊNCIA, de igual para igual, seja onde for.
Defender VERDADEIRAMENTE quem indefeso sempre esteve e estará, abandonado (s) à (maldita) sorte de uma vida que mais morte parece, entregues a um destino traçado às mãos de ditadores que impunemente sorvem o sangue de corações inocentes, tal a sua sede de poder e a sua fome de glória.
Como digo tantas vezes, a indiferença também mata. Sobretudo, a indiferença daqueles que até podiam marcar a diferença, quer pelo poder económico que têm, quer, também, pelo destaque mediático que o público e a imprensa sempre lhes deu, como é o caso de atores, futebolistas, entre outros.
Felizmente, temos mais um ator, desta vez, George Clooney, um homem com uma enorme visibilidade internacional.
Felizmente que não é só um homem lindo "por fora". É um ativista dos Direitos Humanos e faz o que muitos podiam fazer mas não querem: DAR A CARA!
É um grande exemplo.
Cheios de fúteis e de teóricos estamos nós!
Bem hajas, G. Clooney, tu e milhares de pessoas anónimas por esse mundo fora que nunca se esquecem que há quem sofre e de ajuda precisa. E que ajudam, mesmo que essa ajuda se traduza, pura e simplesmente, na divulgação destes horrores nas redes sociais, redes indispensáveis para o esclarecimento e tomada de posição de todos nós.
Em matéria de Direitos Humanos, isto é, a na defesa da dignidade humana, não há lugar para a neutralidade, quer se trate de países, pessoas ou organizações.
A neutralidade, meus amigos, ao longo da História, tem servido os ditadores.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Hoje - DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Para todas as Mulheres, o primeiro lírio que nasceu este ano no meu jardim.


Muitas mulheres e muitos homens "não aprovam" este DIA COMEMORATIVO.

Pela minha parte, faço dele o que fiz sempre: um dia de trabalho, de estudo, de reflexão e até de luta EM NOME DAS MULHERES. UMA HOMENAGEM.

Mulheres-mães, mulheres-tias, mulheres-irmãs, mulheres-amigas, solteiras, casadas, divorciadas, juristas, professoras, médicas, domésticas, empregadas, desempregadas, sós ou acompanhadas, a sorrir, a chorar, felizes, infelizes… Parabéns, MULHERES!

Um abraço fraterno para todas aquelas que, diariamente, com convicção, força, coragem, muito trabalho, muitas privações e até muita humildade, sentem e sabem que o seu papel na sociedade e na família, por muito discreto que seja, É FUNDAMENTAL para o mundo actual.

YES, WE CAN!