sábado, 10 de março de 2018

Dia Internacional da Mulher



Dia 8 de Março, Dia Internacional da Mulher... Todos os dias deveriam ser uma celebração à VIDA, mesmo quando há desânimo, raiva, injustiça e sofrimento.
Saibamos honrar quem nunca desistiu de lutar pela igualdade de género, com coragem e determinação, até à morte.


Calçada de Carriche (poema de António Gedeão)

Luísa sobe, 
sobe a calçada, 
sobe e não pode 
que vai cansada. 
Sobe, Luísa, 
Luísa, sobe, 
sobe que sobe 
sobe a calçada. 

Saiu de casa 
de madrugada; 
regressa a casa 
é já noite fechada. 
Na mão grosseira, 
de pele queimada, 
leva a lancheira 
desengonçada. 
Anda, Luísa, 
Luísa, sobe, 
sobe que sobe, 
sobe a calçada. 

Luísa é nova, 
desenxovalhada, 
tem perna gorda, 
bem torneada. 
Ferve-lhe o sangue 
de afogueada; 
saltam-lhe os peitos 
na caminhada. 
Anda, Luísa. 
Luísa, sobe, 
sobe que sobe, 
sobe a calçada. 

Passam magalas, 
rapaziada, 
palpam-lhe as coxas, 
não dá por nada. 
Anda, Luísa, 
Luísa, sobe, 
sobe que sobe, 
sobe a calçada. 

Chegou a casa 
não disse nada. 
Pegou na filha, 
deu-lhe a mamada; 
bebeu da sopa 
numa golada; 
lavou a loiça, 
varreu a escada; 
deu jeito à casa 
desarranjada; 
coseu a roupa 
já remendada; 
despiu-se à pressa, 
desinteressada; 
caiu na cama 
de uma assentada; 
chegou o homem, 
viu-a deitada; 
serviu-se dela, 
não deu por nada. 
Anda, Luísa. 
Luísa, sobe, 
sobe que sobe, 
sobe a calçada. 

Na manhã débil, 
sem alvorada, 
salta da cama, 
desembestada; 
puxa da filha, 
dá-lhe a mamada; 
veste-se à pressa, 
desengonçada; 
anda, ciranda, 
desaustinada; 
range o soalho 
a cada passada; 
salta para a rua, 
corre açodada, 
galga o passeio, 
desce a calçada, 
desce a calçada, 
chega à oficina 
à hora marcada, 
puxa que puxa, 
larga que larga, 
puxa que puxa, 
larga que larga, 
puxa que puxa, 
larga que larga, 
puxa que puxa, 
larga que larga; 
toca a sineta 
na hora aprazada, 
corre à cantina, 
volta à toada, 
puxa que puxa, 
larga que larga, 
puxa que puxa, 
larga que larga, 
puxa que puxa, 
larga que larga. 
Regressa a casa 
é já noite fechada. 
Luísa arqueja 
pela calçada. 
Anda, Luísa, 
Luísa, sobe, 
sobe que sobe, 
sobe a calçada, 
sobe que sobe, 
sobe a calçada, 
sobe que sobe, 
sobe a calçada. 
Anda, Luísa, 
Luísa, sobe, 
sobe que sobe, 
sobe a calçada. 


in 'Teatro do Mundo'

sexta-feira, 2 de março de 2018

Com que direito negamos direitos aos animais?




Animais: com que direito lhes negamos direitos?


Isto de ser humano

Sabia que existe uma declaração universal dos direitos dos animais? Sabia que há leis para definir as fórmulas correctas, éticas e “humanas” para criar, transportar e matar vitelos, porcos, galinhas e todos os outros animais usados na alimentação? Sabe distinguir a crueldade “necessária” da “desnecessária”? E o sofrimento “útil” do “inútil”? Já ouviu falar do “bem-estar animal”? Não? Então é provável que não faça a mais pequena ideia do que é o veganismo e que nunca tenha colocado em questão o supremo direito do Homem sobre os outros seres da Terra ou o seu lugar como centro do mundo, rei incontestado de tudo o que existe. É possível que nada o faça desistir de comer carne ou peixe, que ache perfeitamente admissíveis as experiências em animais, que não se incomode com o uso de peles ou com a caça, aplauda as touradas, não pestaneje com o tiro aos pombos, se entusiasme com as lutas de galos, adore levar as crianças ao Zoo e considere as feras o melhor do circo. É possível que encare algumas destas coisas como normais e necessárias e outras não e ache mal misturar tudo. É até possível que determine toda esta conversa como absolutamente ridícula. Em todo o caso, não tem nada a perder: pense nisso.
É difícil escolher por onde começar. Mas podia ser em números. Por exemplo, quantos animais morreram, morrem e morrerão, em média, para que um de nós, carnívoro, omnívoro, apreciador de calçado de pele genuína, cintos de couro, casacos de cabedal e abafos de pêlo, utilizador de cremes, perfumes e desodorizantes, antibióticos, antiestamínicos, antialérgicos e outras drogas corriqueiras, sujeito a uma ou outra cirurgia, transportado em automóveis, motos e demais veículos, alérgico a ratos, baratas, moscas e outras pragas, viva a sua vida normal? Milhões? Biliões? Triliões?
Entre vacas, ovelhas, cabras, porcos, galinhas, patos, perus, coelhos, perdizes, lebres, javalis, veados, peixes de todas as descrições, moluscos de variados calibres, crustáceos, crocodilos, avestruzes e tudo o que ocorra degustar, incluindo, se calhar em viagem ou em proveniência, macacos, cobras, cães, gatos, antílopes, tartarugas, golfinhos, gafanhotos, toupeiras e o que mais se use comer por esse mundo fora, uma hecatombe.
Só nos Estados Unidos, em cada ano, são 100 milhões de mamíferos e cinco biliões de aves. No mesmo espaço de tempo, a Grã-Bretanha consome 850 milhões de animais. Em média, um milhão e meio por pessoa.
Um oceano de cadáveres a perder de vista, esfaqueados, decapitados, electrocutados, asfixiados, baleados, armadilhados, arpoados, esmagados, espancados, sangrados, cozinhados vivos. Em agonia óbvia ou incerta, rápida ou lenta, necessária ou desnecessária. Quase sempre secreta, invisível na assepsia das prateleiras do supermercado, indeterminável no prato, mastigada com deleite, digerida com negligência. Quem é que já somou as vidas todas que vale, as vidas de que é feito? Quem é que já mediu as agonias, as dores, os sacrifícios que reclama? Quem é que vive com isso? E, deve também perguntar-se, quem é que pode viver sem isso?
É muito diferente quando se vê. Talvez, com o tempo, o hábito apague a náusea das imagens e dos sons e dos cheiros. É possível acreditar que é esta distância entre a vida nas cidades, longe dos ritmos essenciais do nascimento, do crescimento e da morte, longe do que se apelida de natural, que impede a convivência descontraída com o sangue e a carne e os ossos, com aquilo que se chama a inevitabilidade das coisas.



Marcar animais com um ferro em brasa configura um sofrimento útil ou inútil?
Mas essa ligação tão óbvia entre o lombo, a costeleta e o bife e a carnificina industrial que estremece os matadouros, essa relação de causa e efeito que conduz dos estábulos e das pocilgas e dos aviários estes cortejos de animais comprimidos em gaiolas, em camionetas e vagões, quilómetros de animais em quilómetros de estrada, o espaço útil preenchido ao limite, a utilidade como critério, o sacrifício como razão, essa imanente verdade é um prodígio de negação. É um suave milagre que a consciência dos homens os salve daquilo que não vêem e apenas sabem e mais milagre é ainda que os salve daquilo que vêem e ouvem e cheiram. E fazem, claro. Nos matadouros como nas criações, nas produções de leite como de ovos, nos laboratórios como nos biotérios.
Um passeio, chamemos-lhe assim, pelos arquivos audiovisuais das organizações que pugnam pelos direitos dos animais revela-se um desafio à infinita capacidade de obliteração da memória.
A começar, por exemplo, pelo espectáculo das descargas de gado nos centros de abate, efectuado à paulada, ao pontapé, com guindastes (usados para descarregar vacas vivas, suspensas por uma pata, de um navio para o cais), passando pelas pecuárias intensivas onde cada animal é imobilizado num espaço ínfimo, sem luz do dia, manjedoura à frente, entregue à tarefa única de engordar o mais depressa possível para dar lugar a outro.
Pelas produções de leite onde as vacas são mantidas em maternidade constante, retirando-se-lhes os vitelos mal nascem, úberes ulcerados, deformados, o tempo de vida estreitado na margem dos quatro anos mais lucrativos, despachadas para o matadouro mal o fluxo enfraquece; percorrendo as fábricas de ovos onde as poedeiras, às quatro dentro de uma estreita gaiola, se esgotam na vertigem de verter claras e gemas em sequência contínua, o espeto e o fricassé como recompensa final.
Atravessando os longos corredores dos pomposamente denominados biotérios onde em milhares de pequenas gaiolas, sob luzes fluorescentes, em ambiente rigorosamente asséptico, se criam os hamsteres e os ratos e os coelhos e os gatos e os macacos que nos laboratórios desenvolvem todas as doenças, experimentam todos os vírus, bactérias e vacinas, pomadas, gotas, comprimidos, cremes de beleza, desodorizantes, perfumes.



Quanto tempo leva um champô a destruir o globo ocular? Estes coelhos vão descobrir.

É preciso não esquecer, lembram os gratos cientistas, que é pelo holocausto destes animais e de todos os que os antecederam que tantos medicamentos foram lançados no mercado, tantas doenças incuráveis deixaram de o ser. É graças à morte atroz de milhares de cães, por exemplo, e é só um dos muitos exemplos possíveis, que os diabéticos dispõem hoje da insulina. Se não fossem os animais de laboratório, onde treinariam os cirurgiões as novas técnicas de cirurgia? Que seria dos transplantes? E, já agora, que seria da segurança automóvel não fora a insistência nos “crash-tests” com animais vivos?
Que seria do conhecimento dos danos cerebrais humanos se não fosse possível infligir, em circunstâncias rigorosamente controladas, pancadas brutais, com máquinas, martelos ou outros instrumentos menos sofisticados, na cabeça de babuínos supostamente anestesiados que, entre cada golpe, procuram fugir das amarras que os prendem?
Como se avançaria na psicologia humana e no estudo do autismo e outros fenómenos misteriosos da psique caso não fosse possível manter chimpanzés (animais muito inteligentes e sensíveis, tão parecidos connosco) em absoluta solidão, do nascimento à morte, para ver que tipo de loucura desenvolvem?

No fim da experiência, terminada a utilidade do sofrimento, este gato deverá ser morto. De forma humana, claro.
Depois, há outras necessidades, talvez menos vitais mas nem por isso menos evidentes. A utilização de produtos de origem animal no vestuário, quer implicando a morte dos animais quer não – é o caso da lã –, é tão antiga como o Homem. Como é antigo o uso de armadilhas, cada vez mais sofisticadas à medida que a tecnologia progride, cada vez mais perfeitas no seu cuidado de não danificar nenhuma parte relevante do animal.
Fotografias e filmes, mais uma vez, atestam a forma como as mandíbulas de aço das armadilhas modernas aprisionam os animais – raposas, arminhos, texugos – sem os matar, numa agonia de horas, dias, até que o caçador apareça para o golpe de misericórdia. Ou como nas quintas de criação de animais para aproveitamento de peles se electrocutam, gaseiam ou asfixiam os visons, chinchilas, etc, de modo a não arruinar nem um pêlo da preciosa mercadoria, a mesmíssima preocupação que obriga os caçadores de focas bebés a espancá-las até à morte. Podia pensar-se que o fazem por prazer; pois não, é mesmo necessário.
Mas, é claro, há também o divertimento. Os espectáculos com animais, da tradicional tourada ao tradicional circo, passando pelas tradicionais corridas de cavalos, cães, etc. Para não falar da luta de galos, dos duelos de cães, ou de certos costumes pouco compreendidos no Ocidente que consistem em torneios de cavaleiros a disputar um cabra, por exemplo, ou a ver qual é que consegue, passando a galope, arrancar a cabeça a um galo pendurado pelos pés. O espantoso arquivo das organizações internacionais de defesa dos animais não deixa nada em claro.
Eis a incursão nos bastidores do circo, por exemplo, para descobrir, do outro lado das habilidades demonstradas em palco, os imprescindíveis treinos à base de chicote, paulada e aguilhões. Mas como será que, a bem, se ensina um elefante a caminhar nas patas traseiras? Ou um tigre a saltar um arco em chamas? Com muito amor? Decerto. O mesmo amor aos animais que leva toda a gente a adorar uma ida ao Zoo, onde animais habituados a percorrer dezenas de quilómetros num dia se vêem confinados a algumas dezenas de metros (se tiverem sorte) ou a uma jaula de três por quatro, chão de cimento, paredes de azulejo, talvez mesmo sem luz natural.


Notícias Magazine, 12.Abril.1998 (excertos adaptados)

Texto de Fernanda Câncio

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Riscos que corre hoje a nossa liberdade





Três riscos corre hoje a nossa liberdade:

1.
Primeiro, o risco de perdermos o controlo democrático sobre o nosso país. O risco de que o nosso voto valha menos ou não valha nada. O risco de ter um parlamento que não pode cumprir a sua mais nobre função: decidir sobre o orçamento dos portugueses. O risco de termos também nós, como os colonos americanos no taxation without representation, e fizeram uma revolução por causa disso. O risco de sermos governados de fora, por instituições de dúbio carácter democrático, que decidem sobre matérias de governo, em função de interesses que não são os interesses nacionais, e cujos custos o povo português paga.
2.
Segundo, o risco de que o estado abuse dos seus poderes, como já o faz. Não só o estado tem hoje uma panóplia vastíssima de meios para nos controlar e vigiar, como os usa sem respeito pela autonomia, liberdade, identidade dos cidadãos. 
Há uns anos discutimos muito que dados diversos deveria ou não juntar o Cartão do Cidadão, dados pessoais, de identificação, médicos, número de eleitor, etc.  Limitámos os dados que lá podemos colocar e temos uma entidade que fiscaliza a utilização dos nossos dados pessoais e que é suposto “protegê-los”. Muito bem.
Mas já olharam para as facturas que estão disponíveis no sitedas Finanças? Já olharam com olhos de ver, a vossa vida diária espelhada em cada acto em que se compra uma coisa, se almoçaram sós ou acompanhados, onde e que tipo de refeição, onde atravessamos um portal da auto-estrada, onde ficamos a dormir, que viagens fizemos?
Em nenhum sítio o estado foi mais longe no escrutínio da nossa vida pessoal do que no fisco. Com a agravante de que nenhuma relação com o estado é hoje mais desigual, onde o cidadão comum tenha os seus direitos tão diminuídos, onde objectivamente se abandonou o princípio do ónus da prova, ou seja, somos todos culpados à partida.
Em nome de quê? De que eficácia? Perguntem aos donos de offshores, aos que tem dinheiro para pagar o segredo e a fuga ao fisco, para esconder o seu património do fisco, se eles se incomodam com o fisco. Incomodar, incomodam, mas podem pagar para deixarem de ser incomodados. Já viram algum offshore de uma cabeleireira, de um feirante, de um mecânico de automóveis, de um pequeno empresário que tem um café ou um restaurante, aqueles sobre os quais o fisco actua exemplarmente como se fossem esses os seus inimigos principais? 
É por isso que se hoje se existisse uma polícia como a PIDE não precisava de mais nada do que de aceder aos bancos de dados do fisco, do Multibanco, das câmaras de vigilância, do tráfego electrónico. Podia reconstituir a nossa vida usando o Google, o Facebook, o Twitter, o Instagram. Podia encontrar demasiadas coisas em linha, até porque uma geração de jovens está a ser mais educada pelas empresas de hardware e software de comunicações, do que pela escola ou pela família. Elas têm à sua disposição múltiplos meios para desenvolveram uma cultura de devassa da privacidade, pondo em causa séculos de luta pelo direito de cada um de ter um espaço íntimo e privado e uma educação do valor da privacidade. 
3.
Terceiro, o risco de que a pobreza impeça o exercício das liberdades. A miséria, a pobreza, a precariedade, o desemprego, são maus companheiros da liberdade. A pobreza ou qualquer forma de privação do mínimo necessário para uma vida com dignidade é uma forma de dar aos poderosos o direito natural à liberdade e a dela privar aos mais fracos.
Sim, porque ser pobre é ser mais fraco. É ter menos educação e menos oportunidades de a usar, é ter empregos piores e salários piores, ou não ter nem uma coisa nem outra. É falar português pior, com menos capacidade expressiva, logo com menos domínio sobre as coisas. É ter uma experiência limitada e menos qualificações. É depender mais dos outros. É não ter outro caminho que não seja o de reproduzir nas novas gerações, nos filhos, o mesmo ciclo de pobreza e exclusão dos pais. E a exclusão reproduz-se mesmo que se tenha telemóvel e Facebook, porque o acesso ao mundo virtual e a devicestecnológicos não significa sair do círculo infernal da pobreza. É apenas “modernizá-lo”.
O agravamento na sociedade portuguesa da desigualdade social, do fosso entre pobres e ricos, é uma ameaça à liberdade  
4.
Há um risco ainda maior do que qualquer destes: o de pensarmos que não podemos fazer nada face as estas ameaças à nossa liberdade e à nossa democracia. O risco de dizermos para nós próprios que haverá sempre pobres e ricos e que a pobreza é um inevitável efeito colateral de por a casa em ordem. Mas que ordem? O risco de pensarmos que não há nada a fazer com a Europa, que eles mandam e que nós temos que obedecer porque nos colocámos a jeito com a dívida. Sim, nós colocamos-nos a jeito, mas somos membros plenos da União, temos poderes próprios, e talvez não nos ficasse mal de vez em quando exercê-los. Para além disso não somos os únicos a pensar que a deriva europeia é perigosa para as democracias nacionais. E, surpresa, muitas das regras a que chamamos “europeias” não estão em nenhum tratado, são apenas maus costumes que se implantaram nos anos da crise.



(Da Sábado e uma adaptação da intervenção feita na sessão solene em Leiria organizada pela Câmara Municipal para comemorar o 25 de Abril.)



JPP in http://abrupto.blogspot.pt/2016/05/riscos-para-as-nossas-liberdades-tres.html



Igreja Católica, Moral, Sexualidade, Família...


Jesus Cristo, o jovem, o homem, cuja simplicidade e sabedoria se traduziu na constante reconciliação e socialização com todos os outros, não aceitaria, seguramente, orientações destas para a sua Igreja, a Igreja dos homens e não das pedras, como parece que andam ultimamente a fazer e a defender.
Leio estas palavras e, confesso, não entendo o temor, o clamor que propagam, o retrocesso sociológico e até civilizacional que auguram e prefiguram. Ou entendo?
Não se constrói nada de bom sem confiança, sem  liberdade responsável, sem alegria. Não se vive feliz a medo, do mesmo modo que não somos felizes só para nós mas para os outros, nos quais nos realizamos precisamente como seres capazes de amar, perdoar, dando e recebendo, aperfeiçoando-nos, nessa procura constante de um mundo melhor cuja construção em nós principia.
A ameaça do pecado, do "pecado institucionalizado" pela Igreja, volta novamente a pairar nas relações da mesma com os fíéis, como se a Contrarreforma e as disposições pós-tridentinas voltassem e a estagnação cultural que provocaram também.

Valha-nos Deus?


Nazaré Oliveira


06 de Fevereiro de 2018

Nota para a receção do capítulo VIII da exortação apostólica 'Amoris Laetitia'

1. Na exortação apostólica pós-sinodal Amoris Laetitia sobre o amor na família (AL), publicada a 19 de março de 2016, o Papa Francisco dá-nos o quadro geral da compreensão cristã do matrimónio e da família e oportunas indicações sobre a respetiva formação e acompanhamento. No capítulo VIII – Acompanhar, discernir e integrar a fragilidade - não esquece as situações de fragilidade, especialmente as assim chamadas “irregulares”, em que ao matrimónio sucedeu a rutura e um casamento civil. Também estas deverão ser acompanhadas: «Os sacerdotes têm o dever de acompanhar as pessoas interessadas pelo caminho do discernimento segundo a doutrina da Igreja e as orientações do bispo» (AL, 300).

É o que pretendo fazer com esta Nota, aludindo diretamente a três documentos autorizados: a Amoris Laetitia, a correspondência entre os Bispos da Região Pastoral de Buenos Aires e o Papa Francisco e as indicações dadas aos sacerdotes da Diocese do Papa (Roma) pelo seu cardeal-vigário. Naturalmente, devem ler-se estes documentos na íntegra.

Além do mais que se pode e deve fazer no âmbito eclesial, incluindo o tribunal diocesano, atenda-se ao seguinte: «O diálogo com o sacerdote, no foro interno, concorre para a formação de um juízo correto sobre aquilo que dificulta a possibilidade duma participação mais plena na vida da Igreja e sobre os passos que a podem favorecer e fazer crescer. Uma vez que na própria lei não há gradualidade (cf. Familiaris Consortio, 34), este discernimento não poderá jamais prescindir das exigências evangélicas de verdade e caridade propostas pela Igreja. Para que isto aconteça, devem garantir-se as necessárias condições de humildade, privacidade, amor à Igreja e à sua doutrina, na busca da vontade de Deus e no desejo de chegar a uma resposta mais perfeita à mesma» (AL, 300).

E ainda, no que à formação da consciência respeita: «É claro que devemos incentivar o amadurecimento de uma consciência esclarecida, formada e acompanhada pelo discernimento responsável e sério do pastor, e propor uma confiança cada vez maior na graça. Mas esta consciência pode reconhecer não só que uma situação não corresponde objetivamente à proposta geral do Evangelho, mas reconhecer também, com sinceridade e honestidade, aquilo que, por agora, é a resposta generosa que se pode oferecer a Deus e descobrir com certa segurança moral que esta é a doação que o próprio Deus está a pedir no meio da complexidade concreta dos limites, embora não seja ainda plenamente o ideal objetivo. Em todo o caso, lembremo-nos que este discernimento é dinâmico e deve permanecer sempre aberto para novas etapas de crescimento e novas decisões que permitam realizar o ideal de forma mais plena» (AL, 303).

É nesta linha que o Papa considera: «Por causa dos condicionalismos ou dos fatores atenuantes, é possível que uma pessoa, no meio duma situação objetiva de pecado – mas subjetivamente não seja culpável ou não o seja plenamente -, possa viver em graça de Deus, possa amar e possa também crescer na vida de graça e de caridade, recebendo para isso a ajuda da Igreja» (AL, 305). Este trecho segue na nota de rodapé 351: «Em certos casos, poderia haver também a ajuda dos sacramentos.»

Reparemos no caráter restrito (em certos casos) e condicional (poderia) da frase. E o Papa ainda insiste: «Para evitar qualquer interpretação tendenciosa, lembro que, de modo algum, deve a Igreja renunciar a propor o ideal pleno do matrimónio, o projeto de Deus em toda a sua grandeza. […] Hoje, mais importante do que uma pastoral dos falhanços é o esforço pastoral para consolidar os matrimónios e assim evitar as ruturas»» (AL, 307).               


2. A 5 de setembro de 2016 os Bispos da Região Pastoral de Buenos Aires publicaram uma Nota com Critérios básicos para a aplicação do capítulo VIII da Amoris Laetitia. Em Carta desse mesmo dia o Papa agradeceu o documento, nestes termos: «O texto é muito bom e explicita cabalmente o sentido do capítulo VIII da Amoris Laetitia. Não há outras interpretações». A recente publicação oficial destes documentos em Acta Apostolicae Sedis, CVIII/10 (2017) p. 1071 ss, requer-nos a indispensável receção. Os textos foram publicados em português em Lumen, setembro/outubro de 2016. p. 73 ss.

A Nota, assim autorizada, dá-nos uma sequência de aplicação do capítulo de que sublinho as seguintes passagens:

a) Quanto à finalidade: «Em primeiro lugar, recordamos que não convém falar de “autorizações” para aceder aos sacramentos, mas de um processo de discernimento acompanhado por um pastor. É um discernimento “pessoal e pastoral” (AL, 300)». E ainda: «Este caminho não acaba necessariamente nos sacramentos, mas pode orientar-se para outras formas de uma maior integração na vida da Igreja: uma maior presença na comunidade, a participação em grupos de oração ou reflexão, o compromisso nos diversos serviços eclesiais, etc. (cf. AL 299).»

b) Quanto ao processo: «… pode-se propor o compromisso em viver em continência. A Amoris laetitia não ignora as dificuldades desta opção (cf. nota 329) e deixa aberta a possibilidade de aceder ao sacramento da Reconciliação, quando se falhe nesse propósito (cf. nota 364, segundo o ensinamento de S. João Paulo II ao Cardeal W. Baum, de 22/03/1996)». Continuando: «Noutras circunstâncias mais complexas, e quando não se pôde obter uma declaração de nulidade, a opção mencionada pode não ser de facto fatível. Não obstante, é igualmente possível um caminho de discernimento. Quando se chega a reconhecer que, num caso concreto, há limitações que atenuam a responsabilidade e a culpabilidade (cf. 301-302), particularmente quando uma pessoa considere que cairia numa ulterior falta, prejudicando os filhos da nova união, a Amoris Laetitia abre a possibilidade do acesso aos sacramentos da Reconciliação e da Eucaristia (cf. notas 336 e 351). Estes sacramentos, por sua vez, dispõem a pessoa a prosseguir amadurecendo e crescendo com a força da graça.»

c) Entretanto, a Nota prossegue: «Todavia, há que evitar entender esta possibilidade como um acesso não restrito aos sacramentos, ou como se qualquer situação o justificasse. O que se propõe é um discernimento que distinga adequadamente cada caso. Por exemplo, requer especial cuidado “uma nova união que vem de um recente divórcio”, ou “a situação de alguém que reiteradamente falhou nos seus compromissos familiares” (AL, 298). Também quando há uma espécie de apologia ou de ostentação da própria situação “como se fizesse parte do ideal cristão” (AL, 297). Nestes casos mais difíceis, os pastores devem acompanhar com paciência, procurando algum caminho de integração (cf. AL, 297, 299). […] Quando houve injustiças não resolvidas, o acesso aos sacramentos é particularmente escandaloso.»

d) A estas observações, juntam-se as seguintes: «Pode ser conveniente que um eventual acesso aos sacramentos se realize de modo reservado, sobretudo quando se prevejam situações conflituosas. Todavia, simultaneamente, não se deve deixar de acompanhar a comunidade para que cresça no espírito de compreensão e de acolhimento, sem que isso implique criar confusões no ensino da Igreja sobre o matrimónio indissolúvel.»

e) O discernimento continuará ainda, sem desistir da proposta matrimonial cristã na sua inteireza: «O discernimento não se fecha, porque “é dinâmico e deve permanecer sempre aberto a novas etapas de crescimento e novas decisões, que permitam realizar o ideal cristão de modo mais pleno” (AL, 303), segundo a “lei da gradualidade” (AL, 295) e confiando na ajuda da graça.»

Podemos concluir que, também para os Bispos signatários desta Nota, o discernimento não se deterá no que aconteceu ou ainda acontece, devendo caminhar para a adequação plena à verdade evangélica sobre o matrimónio: cf. Mt 5, 31-32; 19, 3-9; Mc 10, 2-12; Lc 16, 18.


3. Logo de seguida, a 19 de setembro de 2016, o então Cardeal Vigário do Papa para a Diocese de Roma, Agostino Vallini, dissertou sobre o tema no respetivo Congresso Pastoral. Sobre estes casos e o papel dos sacerdotes, que não substituem nem desacompanham as consciências, dispôs o seguinte: «Como deve ser entendida esta abertura? Certamente não no sentido de um acesso indiscriminado aos sacramentos, como por vezes acontece, mas de um discernimento que distinga adequadamente caso por caso. Quem pode decidir? Do teor do texto e da mens do seu Autor, não me parece que haja outra solução a não ser a do foro interno. De facto, o foro interno é o caminho favorável para abrir o coração às confidências mais íntimas e, se se tiver estabelecido no tempo uma relação de confiança com um confessor ou com um guia espiritual, é possível iniciar e desenvolver com ele um itinerário de conversão longo, paciente, feito de pequenos passos e de verificações progressivas. Portanto, não pode ser senão o confessor, a certa altura, na sua consciência, depois de muita reflexão e oração, a ter de assumir a responsabilidade perante Deus e o penitente, e pedir que o acesso aos sacramentos se faça de forma reservada. Nestes casos, não termina o caminho de discernimento (cf. AL, 303: discernimento dinâmico) para se alcançarem novas etapas em ordem ao ideal cristão pleno.» E acrescentou: «Precisamente a delicadeza de saber discernir, caso por caso, a vontade de Deus sobre essas pessoas, pede-nos a nós, sacerdotes, que nos preparemos bem para sermos capazes de tomar essas graves decisões». Esta preparação é extensiva a «agentes pastorais leigos» (cf. citado número de Lumen, p. 93-94).


4. Insistindo no acolhimento cordial e respeitoso de todas as pessoas, especialmente nos casos referidos, o Papa Francisco pretende sobretudo ressaltar o valor do matrimónio cristão e a necessidade de o preparar e acompanhar. É uma insistência retomada ao longo de toda a Amoris laetitia, como se lê em trechos tão claros como este: «Como cristãos, não podemos renunciar a propor o matrimónio, para não contradizer a sensibilidade atual, para estar na moda, ou por sentimentos de inferioridade face ao descalabro moral e humano; estaríamos a privar o mundo dos valores que podemos e devemos oferecer» (AL, 35).

Quer antes quer depois da celebração do matrimónio, o Papa Francisco refere o seu caráter vinculativo: «Tanto a pastoral pré-matrimonial como a matrimonial devem ser, antes de mais nada, uma pastoral do vínculo, na qual se ofereçam elementos que ajudem quer a amadurecer o amor quer a superar os momentos duros» (AL, 211). E quase concluindo: «Em suma, a espiritualidade matrimonial é uma espiritualidade do vínculo habitado pelo amor divino» (AL, 315).

Quem seguir o magistério do Papa Francisco sobre o matrimónio dar-se-á conta de tal insistência. Insistência que devemos compartilhar, para sermos fiéis à sua intenção. Ainda muito recentemente: «É sabido como a família, sobretudo no Ocidente, é considerada, infelizmente, uma instituição superada. Em vez da estabilidade de um projeto definitivo, preferem-se ligações fugazes. Ora não se mantém de pé uma casa construída sobre a areia de relacionamentos frágeis e volúveis; mas é preciso a rocha, sobre a qual assentar bases sólidas. E a rocha é precisamente aquela comunhão de amor, fiel e indissolúvel, que une o homem e a mulher, comunhão essa que tem uma beleza austera, um caráter sacro e inviolável e uma função natural na ordem social» (Discurso ao corpo diplomático, in L’Osservatore Romano, ed. port., 11 de janeiro de 2018, p. 10).        


5. Com tudo isto presente, indico algumas alíneas operativas: a) Acompanhar e integrar as pessoas na vida comunitária, na sequência das exortações apostólicas pós-sinodais Familiaris Consortio, 84, Sacramentum Caritatis, 29 e Amoris Laetitia, 299 (cf. apêndice). b) Verificar atentamente a especificidade de cada caso. c) Não omitir a apresentação ao tribunal diocesano, quando haja dúvida sobre a validade do matrimónio. d) Quando a validade se confirma, não deixar de propor a vida em continência na nova situação. e) Atender às circunstâncias excecionais e à possibilidade sacramental, em conformidade com a exortação apostólica e os documentos acima citados. f) Continuar o discernimento, adequando sempre mais a prática ao ideal matrimonial cristão e à maior coerência sacramental.


Reunião de Vigários, 6 de fevereiro de 2018

+ Manuel, Cardeal-Patriarca



Apêndice:
·         S. João Paulo II, Familiaris Consortio, 84: «Juntamente com o Sínodo exorto vivamente os pastores e a inteira comunidade dos féis a ajudar os divorciados, promovendo com caridade solícita que eles não se considerem separados da Igreja, podendo, e melhor devendo, enquanto batizados, participar na sua vida. Sejam exortados a ouvir a Palavra de Deus, a frequentar o Sacrifício da Missa, a perseverar na oração, a incrementar as obras de caridade e as iniciativas da comunidade em favor da justiça, a educar os filhos na fé cristã, a cultivar o espírito e as obras de penitência para assim implorarem, dia a dia, a graça de Deus. Reze por eles a Igreja, encoraje-os, mostre-se mãe misericordiosa e sustente-os na fé e na esperança.»


·         Bento XVI, Sacramentum Caritatis, 29: «… os divorciados recasados, não obstante a sua situação, continuam a pertencer à Igreja, que os acompanha com especial solicitude na esperança de que cultivem, quanto possível, um estilo cristão de vida, através da participação na Santa Missa ainda que sem receber a comunhão, da escuta da Palavra de Deus, da adoração eucarística, da oração, da cooperação na vida comunitária, do diálogo franco com um sacerdote ou um mestre de vida espiritual, da dedicação ao serviço da caridade, das obras de penitência, do empenho na educação dos filhos.»


·         Francisco, Amoris Laetitia, 299: «Acolho as considerações de muitos Padres sinodais que quiseram afirmar que “os batizados que se divorciaram e voltaram a casar civilmente devem ser mais integrados na comunidade cristã sob as diferentes formas possíveis, evitando toda a ocasião de escândalo. A lógica da integração é a chave do seu acompanhamento pastoral, para saberem que não só pertencem ao Corpo de Cristo que é a Igreja, mas podem ter disso mesmo uma experiência feliz e fecunda. São batizados, são irmãos e irmãs, o Espírito Santo derrama neles dons e carismas para o bem de todos. A sua participação pode exprimir-se em diferentes serviços eclesiais, sendo necessário, por isso, discernir quais das diferentes formas de exclusão atualmente praticadas em âmbito litúrgico, pastoral, educativo e institucional possam ser superadas. Não só não devem sentir-se excomungados, mas podem viver e maturar como membros vivos da Igreja, sentindo-a como uma mãe que sempre os acolhe, cuida afetuosamente deles e encoraja-os no caminho da vida e do Evangelho. Esta integração é necessária também para o cuidado e a educação cristã dos seus filhos, que devem ser considerados o elemento mais importante”.»


in http://www.patriarcado-lisboa.pt/site/index.php?id=8626~


domingo, 4 de fevereiro de 2018

Ranking das escolas portuguesas



Título do artigo: 
Os rankings escolares são como as omeletes – Alexandre Henriques

Por Rui Cardoso in http://www.arlindovsky.net/2018/02/opiniao-os-rankings-escolares-sao-como-as-omeletes-alexandre-henriques/



Os rankings escolares são como as omeletes
Em primeiro lugar, quero agradecer ao jornal PÚBLICO este exercício de liberdade, em segundo lugar, reconhecer que os seus profissionais passaram horas e horas a analisar resultados para que todos nós conhecêssemos os rankings escolares.

Caros jornalistas e leitores, permitam-me a provocação…

Qual é a diferença entre a escola 320 e a escola 381 (garanto-vos que nem fui ver quais são!)? Será que a escola 320 é melhor, efetivamente, do que a escola 381? Atenção que ao dizer escola não me refiro a um dado momento cristalizado num exame mas sim a toda a comunidade escolar feita de alunos, professores, pais, encarregados de educação, funcionários e diretores. É que os rankings, direta ou indiretamente, passam uma imagem simplista e extremamente redutora – a escola 320 é melhor do que a escola 381.

Os rankings são imagem, os rankings são ego, os rankings são humilhação, os rankings são uma parte ínfima da realidade. Não acreditam?

Pois bem… os rankings mostram o aluno que gastou centenas de euros em explicações?

Os rankings mostram o aluno que esteve exposto ao frio e ao calor, quer na escola, quer em casa?

Os rankings mostram o aluno que sofreu privações de todo o género?

Os rankings mostram o aluno que assistiu ao pai bater na mãe, aos irmãos que teve de cuidar, enquanto abdicava do seu tempo para se preparar devidamente para o exame?

Os rankings mostram o aluno que teve como colegas alunos indisciplinados ou professores que não conseguiram dominar a turma?

Os rankings mostram o aluno que esteve inserido em turmas pequenas/grandes?

Os rankings mostram o aluno que não teve professor durante semanas/meses?

Os rankings mostram o aluno que anulou a matrícula?

Os rankings mostram o aluno retido?

E podia continuar…

Lembro-me, como se fosse hoje, de uma conversa que tive com um diretor que, tendo visto a sua escola subir em flecha nos rankings escolares, disse: “Alexandre, preferia mil vezes não ter uma taxa de reprovação de 30% no secundário, do que estar aqui a ser contactado pela comunicação social sobre o brilharete de ser subido umas centenas de lugares no ranking”.

Este ponto é muito importante e seria muito interessante colocar uma coluna com a percentagem de alunos retidos ou mesmo a percentagem de alunos que concluíram a escolaridade obrigatória sem qualquer reprovação.

E o que dizer da comparação, incomparável, da classificação externa com a interna? Talvez a população em geral desconheça, mas a classificação interna resulta do somatório de uma parcela que avalia o conhecimento – 60, 70, 80 % da nota total – a uma parcela que avalia atitudes e valores – 40, 30, 20% da classificação total. A classificação externa, ou seja, os exames, avaliam somente o conhecimento que, nessa situação, tem um peso de 100%. Então por que raio comparam as duas avaliações? Se nem os critérios de avaliação interna são iguais entre escolas?!

Portanto, comparar o que não é comparável é um absurdo total, uma falácia, ou como se costuma dizer na política, uma não verdade.

A escola é muito mais, mas mesmo muito mais do que uma pauta. Enquanto professor, valorizo tanto aquele aluno que supera as suas dificuldades para atingir uma classificação positiva como aquele que atinge uma classificação elevada. Tudo depende do ponto de partida, mas ambos estarão de parabéns!

Os rankings tornaram a escola escrava dos exames, tudo gira à sua volta. Os rankings e os exames deturpam aquilo que é essencial e a verdadeira obrigação da escola, ensinar/aprender, formando, indo ao encontro das caraterísticas individuais dos alunos, tornando-os melhores e mais preparados para a sociedade em geral. Os rankings e os exames tornaram-se um espetáculo mediático numa sociedade que transformou a Educação num negócio, onde se compara aqueles que têm os melhores ovos com aqueles que nem têm supermercado para os comprar…


Os rankings estão a mais, prejudicam a escola, uma escola que é de todos e devia ser defendida por todos.