quarta-feira, 22 de julho de 2015

O Norte, as raparigas do Norte, as mulheres do Norte...





O Norte

"Primeiro, as verdades. O Norte é mais Português que Portugal. As minhotas são as raparigas mais bonitas do País.
O Minho é a nossa província mais estragada e continua a ser a mais bela.
As festas da Nossa Senhora da Agonia são as maiores e mais impressionantes que já se viram. Viana do Castelo é uma cidade clara. Não esconde nada. Não há uma Viana secreta. Não há outra Viana do lado de lá. Em Viana do Castelo está tudo à vista. A luz mostra tudo o que há para ver. É uma cidade verde-branca. Verde-rio e verde-mar, mas branca. Em Agosto até o verde mais escuro, que se vê nas árvores antigas do Monte de Santa Luzia, parece tornar-se branco ao olhar. Até o granito das casas.
Mais verdades.
No Norte a comida é melhor. O vinho é melhor. O serviço é melhor. Os preços são mais baixos. Não é difícil entrar ao calhas numa taberna, comer muito bem e pagar uma ninharia. Estas são as verdades do Norte de Portugal.
Mas há uma verdade maior. É que só o Norte existe. O Sul não existe. As partes mais bonitas de Portugal, o Alentejo, os Açores, a Madeira, Lisboa, et caetera, existem sozinhas. O Sul é solto. Não se junta. Não se diz que se é do Sul como se diz que se é do Norte. No Norte dizem-se e orgulham-se de se dizer nortenhos. Quem é que se identifica como sulista? No Norte, as pessoas falam mais no Norte do que todos os portugueses juntos falam de Portugal inteiro. Os nortenhos não falam do Norte como se o Norte fosse um segundo país. Não haja enganos. Não falam do Norte para separá-lo de Portugal. Falam do Norte apenas para separá-lo do resto de Portugal. Para um nortenho, há o Norte e há o Resto. É a soma de um e de outro que constitui Portugal. Mas o Norte é onde Portugal começa. Depois do Norte, Portugal limita-se a continuar, a correr por ali abaixo. Deus nos livre, mas se se perdesse o resto do país e só ficasse o Norte, Portugal continuaria a existir. Como país inteiro. Pátria mesmo, por muito pequenina. No Norte. Em contrapartida, sem o Norte, Portugal seria uma mera região da Europa. Mais ou menos peninsular, ou insular.
É esta a verdade. Lisboa é bonita e estranha mas é apenas uma cidade. O Alentejo é especial mas ibérico, a Madeira é encantadora mas inglesa e os Açores são um caso à parte. Em qualquer caso, os lisboetas não falam nem no Centro nem no Sul - falam em Lisboa. Os alentejanos nem sequer falam do Algarve - falam do Alentejo. As ilhas falam em si mesmas e naquela entidade incompreensível a que chamam, qual hipermercado de mil misturadas, Continente.
No Norte, Portugal tira de si a sua ideia e ganha corpo. Está muito estragado, mas é um estragado português, semi-arrependido, como quem não quer a coisa. O Norte cheira a dinheiro e a alecrim. O asseio não é asséptico - cheira a cunhas, a conhecimentos e a arranjinho. Tem esse defeito e essa verdade. Em contrapartida, a conservação fantástica de (algum) Alentejo é impecável, porque os alentejanos são mais frios e conservadores (menos portugueses) nessas coisas.
O Norte é feminino. O Minho é uma menina. Tem a doçura agreste, a timidez insolente da mulher portuguesa. Como um brinco doirado que luz numa orelha pequenina, o Norte dá nas vistas sem se dar por isso. As raparigas do Norte têm belezas perigosas, olhos verdes-impossíveis, daqueles em que os versos, desde o dia em que nascem, se põem a escrever-se sozinhos. Têm o ar de quem pertence a si própria. Andam de mãos nas ancas. Olham de frente. Pensam em tudo e dizem tudo o que pensam. Confiam, mas não dão confiança. Olho para as raparigas do meu país e acho-as bonitas e honradas, graciosas sem estarem para brincadeiras, bonitas sem serem belas, erguidas pelo nariz, seguras pelo queixo, aprumadas, mas sem vaidade. Acho-as verdadeiras. Acredito nelas. Gosto da vergonha delas, da maneira como coram quando se lhes fala e da maneira como podem puxar de um estalo ou de uma panela, quando se lhes falta ao respeito. Gosto das pequeninas, com o cabelo puxado atrás das orelhas, e das velhas, de carrapito perfeito, que têm os olhos endurecidos de quem passou a vida a cuidar dos outros. Gosto dos brincos, dos sapatos, das saias. Gosto das burguesas, vestidas à maneira, de braço enlaçado nos homens. Fazem-me todas medo, na maneira calada como conduzem as cerimónias e os maridos, mas gosto delas. São mulheres que possuem; são mulheres que pertencem. As mulheres do Norte deveriam mandar neste país. Têm o ar de que sabem o que estão a fazer. Em Viana, durante as festas, são as senhoras em toda a parte. Numa procissão, numa barraca de feira, numa taberna, são elas que decidem silenciosamente. Trabalham três vezes mais que os homens e não lhes dão importância especial. Só descomposturas, e mimos, e carinhos.
O Norte é a nossa verdade. Ao princípio irritava-me que todos os nortenhos tivessem tanto orgulho no Norte, porque me parecia que o orgulho era aleatório. Gostavam do Norte só porque eram do Norte. Assim também eu. Ansiava por encontrar um nortenho que preferisse Coimbra ou o Algarve, da maneira que eu, lisboeta, prefiro o Norte. Afinal, Portugal é um caso muito sério e compete a cada português escolher, de cabeça fria e coração quente, os seus pedaços e pormenores. Depois percebi. Os nortenhos, antes de nascer, já escolheram. Já nascem escolhidos. Não escolhem a terra onde nascem, seja Ponte de Lima ou Amarante, e apesar de as defenderem acerrimamente, põem acima dessas terras a terra maior que é o "O Norte". Defendem o "Norte" em Portugal como os Portugueses haviam de defender Portugal no mundo. Este sacrifício colectivo, em que cada um adia a sua pertença particular - o nome da sua terrinha - para poder pertencer a uma terra maior, é comovente. No Porto, dizem que as pessoas de Viana são melhores do que as do Porto. Em Viana, dizem que as festas de Viana não são tão autênticas como as de Ponte de Lima. Em Ponte de Lima dizem que a vila de Amarante ainda é mais bonita.
O Norte não tem nome próprio. Se o tem não o diz. Quem sabe se é mais Minho ou Trás-os-Montes, se é litoral ou interior, português ou galego? Parece vago. Mas não é. Basta olhar para aquelas caras e para aquelas casas, para as árvores, para os muros, ouvir aquelas vozes, sentir aquelas mãos em cima de nós, com a terra a tremer de tanto tambor e o céu em fogo, para adivinhar.
O nome do Norte é Portugal. Portugal, como nome de terra, como nome de nós todos, é um nome do Norte. Não é só o nome do Porto. É a maneira que têm de dizer "Portugal" e "Portugueses". No Norte dizem-no a toda a hora, com a maior das naturalidades. Sem complexos e sem patrioteirismos. Como se fosse só um nome. Como "Norte". Como se fosse assim que chamassem uns pelos outros. Porque é que não é assim que nos chamamos todos?"

– por Miguel Esteves Cardoso

terça-feira, 21 de julho de 2015

Desumanidade e crueldade no transporte de animais

Vejam este vídeo, meus amigos! Vejam em que condições se transportam estes pobres animais! Abençoada gente que, mesmo por momentos, fez tudo para os tratar com respeito e dignidade!

Pigs Get Final Taste of Water During Heat Wave
It’s 110 degrees.These overheated pigs get a final moment of compassion.[via Toronto Pig Save]
Posted by PETA (People for the Ethical Treatment of Animals) on Segunda-feira, 20 de Julho de 2015
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Como sofre um cão fechado num carro! Tyrann Mathieu passou pela experiência (vídeo)


Tyrann Mathieu submeteu-se à experiência para alertar os donos de cães. A mensagem é para não deixarem os seus animais dentro dos carros.
Ele próprio fechou-se dentro de um automóvel com uma temperatura exterior de 32 graus e filmou o processo pelo qual o seu corpo passou.
Em apenas oito minutos, o interior do carro chegou aos 48 graus e nesse momento o jogador não suportou mais o mal-estar e teve de sair.

"Se você vai trazer um cão para a sua família, trate-o como parte da sua família ", disse Mathieu. Não lhe faça algo que não faria a alguém com quem se preocupa e ama”.





Resistindo ao calor


Clicar nas fotos





 







sábado, 11 de julho de 2015

SOS Natureza

 


SOS Natureza.

Basta apenas dois cliques para fazer chegar a nossa mensagem aos líderes europeus. 
Salva a Natureza em https://www.naturealert.eu/pt

Lavradores da minha alma


Chega a ser emocionante, quando vou para a aldeia, ver passar ao pé de casa os velhos lavradores, homens e mulheres já curvados, com um sorriso no rosto, tirando o chapéu para me cumprimentarem, de sacho ao ombro, passo tranquilo, muito tranquilo, arrastado, ora pela frescura das manhãs de Verão, bem cedo, ora pelo final da tarde, quando o cheiro a terra molhada sobe no ar e as aves voltam aos seus ninhos, quando as cores do anoitecer, cautelosamente caídas do céu, anunciam a hora  do regresso a casa.

Voltam a passar por mim e a saudar-me com a mesma alegria, a mesma satisfação, mostrando-me sempre o fruto do seu trabalho que tanto gostam de repartir comigo.

Fazem parte dos meus dias, dos meus pensamentos.
E as histórias que me contam? Histórias da vida, nem sempre vida, histórias de solidão, abandono, dor, tristeza, humildade.

Perdem-se nas palavras sentidas que todos os anos me repetem, como se de mim à espera estivessem para desabafar, para se fazerem ouvir, mesmo quando a emoção em lágrimas vertidas desce os sulcos do seu rosto e me chegam ao coração.

No silêncio do campo também sinto a minha alma a querer falar.




Nazaré  Oliveira


sexta-feira, 10 de julho de 2015

A SORTE DE VARAS - O testemunho de um médico veterinário




 


A Sorte de varas*
Mais um exemplo de terror e de horror sobre os pobres touros.

Mais um testemunho de quem sabe que assim é, neste caso, o médico veterinário José Enrique Zaldivar Laguia, clínico e presidente da Associação de Veterinários Abolicionistas da Tauromaquia e do Mau Trato Animal (AVATMA), que descreve, assim, a chamada ‘Sorte de Varas’:


 “Durante a tourada (e durante um período de, aproximadamente, 15 minutos), o touro é submetido à sorte de varas.
Assim que ele entra na arena, é atraído através de uma série de passes com a capa e é submetido à sorte de varas – o 'ato' da lança. Nesta parte, o picador (lanceiro) utiliza a ponta de lança, 'puya', garrocha, que é um instrumento pontiagudo, com cerca de 9 centímetros de comprimento, dividido em duas secções: uma ponta em forma de cone, de cerca de 3 centímetros, e uma outra de aço, em forma de corda, de 6 centímetros de comprimento. Este instrumento destina-se a ferir certos músculos e ligamentos do cachaço, parte superior do pescoço do touro. O objetivo deste ato é facilitar o trabalho do toureiro pois, uma vez que estas estruturas anatómicas foram feridas, o touro não vai ser capaz de levantar a cabeça.
'Infelizmente', não é só isso que acontece. É sabido que 90% das estocadas, com a lança, são feitas muito mais para trás, onde as vértebras estão muito menos protegidas. Além disso, como resultado de golpes ilegais (proibidos) dos picadores, tais como 'furar' (torcendo a lança no pescoço do touro como um saca-rolhas) ou o 'entra e sai' (aprofundar e aflorar a lança várias vezes, o que impede o touro de fugir quando sente a dor), as feridas são muitas vezes terríveis.
A hemorragia causada por estes métodos faz com que a perda de sangue possa ser de até 18%, enquanto a quantidade ‘desejável’ (?) é de 10%. Devido a esses movimentos, uma lança pode produzir feridas com mais de 20 centímetros de profundidade, e entrar no corpo em até cinco sentidos diferentes, ferindo muitas estruturas, inclusive quebrando estruturas ósseas.
Os taurinos argumentam que o uso da 'puya' serve para “aliviar” (?) o touro da sua bravura e excitação na lide. No entanto, o que acontece com a tortura da 'puya' não é um descongestionamento simples, porque o touro assim perde 10 litros de sangue, visto que ao aprofundar-se e aflorar-se sucessivamente a 'puya', chega a provocar uma ferida muito profunda.
Outra estatística é que apenas 4,7% do cravar da 'puya' conseguiu cortar os músculos do pescoço e deixar o resto da anatomia local intacta. O que geralmente se corta com má pontaria da 'puya' são músculos dos membros anteriores e do tronco. Por isso, os touros tropeçam e caiem.
O touro tem cerca de 36 litros de sangue. Com a sorte de varas, o animal perde cerca de um terço de sangue, a sua força vital. São manobras ilegais do picador (o cravar e tirar, a ação de saca-rolhas e a de perfuração), que fizeram a 'puya' penetrar mais do que esses 7,6-8,9 centímetros, sendo que em 70% dos casos, as lanças são cravadas por detrás do andiron e da cruz e aí, sendo menos protegidas pelos grandes músculos do pescoço, podem atingir e ferir estruturas ósseas”.





Para quem ainda tenha dúvidas:

“As ‘sortes de varas’ são actos tauromáquicos extremamente violentos típicos das touradas em Espanha, estando em crescendo o número de vozes e de movimentos que a contestam.
Nas ‘sortes de varas’, os touros estão com os cornos inteiros e investem desesperadamente contra um cavalo – que tem uma imensa e muito pesada armadura a toda a sua volta e que tem os olhos tapados para não ter ainda mais medo do que aquele que já sente, enquanto, do alto do cavalo, o “picador” espeta uma longa lança – a vara –, com um ferro muito comprido e afiado na extremidade, no dorso do touro.
Quanto mais o touro faz força para se soltar e tentar defender, mais o ferro comprido o perfura, rasgando-o e provocando-lhe um ferimento de gravidade extrema.”