A Sorte de varas*
Mais um exemplo de terror e de horror sobre os pobres touros.
Mais um testemunho de quem sabe que assim é, neste caso, o médico veterinário José Enrique Zaldivar Laguia,
clínico e presidente da Associação de Veterinários Abolicionistas da
Tauromaquia e do Mau Trato Animal (AVATMA), que descreve, assim, a chamada
‘Sorte de Varas’:
“Durante a tourada (e durante um período de,
aproximadamente, 15 minutos), o touro é submetido à sorte de varas.
Assim que ele entra na arena, é
atraído através de uma série de passes com a capa e é submetido à sorte de
varas – o 'ato' da lança. Nesta parte, o picador (lanceiro) utiliza a ponta de
lança, 'puya', garrocha, que é um instrumento pontiagudo, com cerca de 9
centímetros de comprimento, dividido em duas secções: uma ponta em forma de
cone, de cerca de 3 centímetros, e uma outra de aço, em forma de corda, de 6
centímetros de comprimento. Este instrumento destina-se a ferir certos músculos
e ligamentos do cachaço, parte superior do pescoço do touro. O objetivo deste
ato é facilitar o trabalho do toureiro pois, uma vez que estas estruturas
anatómicas foram feridas, o touro não vai ser capaz de levantar a cabeça.
'Infelizmente', não é só isso que
acontece. É sabido que 90% das estocadas, com a lança, são feitas muito mais
para trás, onde as vértebras estão muito menos protegidas. Além disso, como resultado
de golpes ilegais (proibidos) dos picadores, tais como 'furar' (torcendo a
lança no pescoço do touro como um saca-rolhas) ou o 'entra e sai' (aprofundar e
aflorar a lança várias vezes, o que impede o touro de fugir quando sente a
dor), as feridas são muitas vezes terríveis.
A hemorragia causada por estes
métodos faz com que a perda de sangue possa ser de até 18%, enquanto a
quantidade ‘desejável’ (?) é de 10%. Devido a esses movimentos, uma lança pode
produzir feridas com mais de 20 centímetros de profundidade, e entrar no corpo
em até cinco sentidos diferentes, ferindo muitas estruturas, inclusive
quebrando estruturas ósseas.
Os taurinos argumentam que o uso da
'puya' serve para “aliviar” (?) o touro da sua bravura e excitação na lide. No
entanto, o que acontece com a tortura da 'puya' não é um descongestionamento
simples, porque o touro assim perde 10 litros de sangue, visto que ao
aprofundar-se e aflorar-se sucessivamente a 'puya', chega a provocar uma ferida
muito profunda.
Outra estatística é que apenas 4,7%
do cravar da 'puya' conseguiu cortar os músculos do pescoço e deixar o resto da
anatomia local intacta. O que geralmente se corta com má pontaria da 'puya' são
músculos dos membros anteriores e do tronco. Por isso, os touros tropeçam e caiem.
O touro tem cerca de 36 litros de
sangue. Com a sorte de varas, o animal perde cerca de um terço de sangue, a sua
força vital. São manobras ilegais do picador (o cravar e tirar, a ação de
saca-rolhas e a de perfuração), que fizeram a 'puya' penetrar mais do que esses
7,6-8,9 centímetros, sendo que em 70% dos casos, as lanças são cravadas por
detrás do andiron e da cruz e aí, sendo menos protegidas pelos grandes músculos
do pescoço, podem atingir e ferir estruturas ósseas”.
Para quem ainda tenha dúvidas:
“As ‘sortes de varas’ são actos
tauromáquicos extremamente violentos típicos das touradas em Espanha, estando
em crescendo o número de vozes e de movimentos que a contestam.
Nas ‘sortes de varas’, os touros
estão com os cornos inteiros e investem desesperadamente contra um cavalo – que
tem uma imensa e muito pesada armadura a toda a sua volta e que tem os olhos
tapados para não ter ainda mais medo do que aquele que já sente, enquanto, do
alto do cavalo, o “picador” espeta uma longa lança – a vara –, com um ferro
muito comprido e afiado na extremidade, no dorso do touro.
Quanto mais o touro faz força para se soltar e tentar defender, mais o
ferro comprido o perfura, rasgando-o e provocando-lhe um ferimento de
gravidade extrema.”